terça-feira, 10 de maio de 2016

10 de Maio, Dia da Cavalaria...."Haverá sempre uma Cavalaria"


Por: Anderson Gabino
O surgimento da guerra como choque de vontades determinou aos homens incansável busca por lutar com superioridade. Os guerreiros de outrora perceberam, enfim, a importância da situação em que se devia combater: criaram-se plataformas móveis e foram feitas associações aos animais de maior porte, obtendo-se, desse modo, decisiva vantagem em mobilidade e poder de choque. Tal avanço, em sânscrito, foi denominado “akva”, origem da palavra “cavalaria”. O Cavalo ou Caballus em latim, foi o animal que melhor encarnou essa forma de combater. Inicialmente empregado em carros de guerra ou bigas no Egito, Suméria e Roma, somente com sua montaria, em simbiose única na Natureza, gerou-se o mais formidável conjunto da História, sob o comando do Cavaleiro, monarca dos horizontes largos e desconhecidos.A velocidade dos corcéis transformou a percepção humana do tempo e do espaço, expandiu consciências e, sob a égide equestre, uma plêiade de chefes militares fez impérios florescerem e ruírem: Alexandre Magno, Aníbal, Júlio César, Átila, Gengis Khan, Carlos Magno, Frederico II e Napoleão, estes últimos dois de modo especial, empregaram magistralmente a Cavalaria, modulando suas missões clássicas de “reconhecer, cobrir, retardar, envolver e perseguir” consolidando-a, assim, como a Arma da Decisão.


No Brasil, as origens da Cavalaria ligam-se à organização do Regimento de Dragões Auxiliares, em Pernambuco, ao término da resistência contra os holandeses em Pernambuco, em meados do século XVII.  No decorrer do ano de 1808, a invasão de Portugal pelas forças napoleônicas motivou a vinda da família real portuguesa para o Brasil. Nesse ano decisivo para o progresso de nossa Pátria, nascia, a 10 de maio, na Vila de Nossa Senhora da Conceição do Arroio (hoje município de Tramandaí-RS), aquele que seria o Patrono da Arma de Cavalaria, Manoel Luis Osório. Em 01 de maio de 1823, com 15 anos incompletos, assentou praça na Cavalaria da Legião de São Paulo e acompanhou o Regimento de seu pai na luta contra as tropas portuguesas do Brigadeiro Dom Álvaro da Costa, estacionadas na Cisplatina, que não aceitavam a independência do Brasil.
Seu batismo de fogo ocorreu às margens do arroio Miguelete, em 13 de maio daquele ano, nas proximidades de Montevidéu, em um combate contra a cavalaria portuguesa. Como Alferes, participou, aos 17 anos, da Campanha da Cisplatina, na qual se distinguiu por sua bravura, patrocinando atos de puro heroísmo, particularmente nos combates do Passo do Rosário e de Sarandi. Neste último, por ter salvo a vida de seu comandante, o General Bento Manuel Ribeiro, dele recebeu Lança de Guerra como presente. Tal peça serviu de inspiração para a adoção do símbolo da Cavalaria do Exército Brasileiro - as lanças cruzadas.
A partir daí, fez-se presente em todas as campanhas travadas pela manutenção e configuração de nossas fronteiras sul e oeste. Mas foi na Campanha da Tríplice Aliança que Osório se destacou como chefe militar de prestígio. No Passo da Pátria, lançou em sua Ordem do Dia uma de suas frases mais célebres – “É fácil a missão de comandar homens livres, basta mostrar-lhes o caminho do dever. Camaradas, vosso caminho está aí à frente”. Em seu regresso à Pátria, após participar da Guerra da Tríplice Aliança, recebeu do povo do Rio de Janeiro a Lança de Honra. De inestimável valor histórico, suas duas lanças compõem o acervo do Exército Brasileiro, sob a guarda do 3º Regimento de Cavalaria de Guardas (3º RCGd), “Regimento Osório”.

Plena de contínuos êxitos, a notável carreira militar de Osório teve sua consagração na Batalha de Tuiuti, na qual, firmando-se em conhecimentos táticos e inigualável bravura, demonstrou ser um perfeito comandante de batalha. Em sua obra Os Patronos das Forças Armadas, o General Olyntho Pillar registra: “se os feitos anteriores de Osório não o imortalizassem, a célebre batalha de Tuiuti haveria de inscrever seu nome nos fastos de nossa História com os inapagáveis caracteres áureos que a gratidão nacional sabe fundir”. Não houve soldado brasileiro que combatesse nesse dia que não o tenha visto passar como um raio, entre os maiores perigos da batalha e que, no exemplo sublime que dava o chefe, não sentisse o coração pulsar de entusiasmo e de valor invencível.
Estadista de excelsas virtudes, exerceu mandato de Senador do Império, sempre cerrando fileiras em prol das mais justas causas. Ministro da Guerra, deparou-se com um quadro de extrema restrição orçamentária. Mercê de seu decantado senso prático, soube superá-lo e manteve as forças de terra aptas a respaldar os interesses nacionais. Se muito dele foi dito, mais ainda ele nos disse. Legou-nos ensinamentos que subsistem no tempo, geração após geração, como a frase lida no Senado: “A farda não abafa o cidadão no peito do soldado”. O apreço da população, o reconhecimento do Império e a estima dos irmãos-de-armas ornavam sua existência quando esta chegou ao fim, no dia 4 de outubro de 1879, na cidade do Rio de Janeiro.
Gravemente enfermo, sentindo aproximar-se a hora fatal, despediu-se da família. Deu um derradeiro conselho: “quem escreve deve fazê-lo pela Pátria”... Mandou que os seus agradecessem “aos médicos, aos homens de letras, à imprensa... o bom tratamento que lhe deram...” E balbuciou vocábulos soltos: “ Tranquilo... Independente... Pátria... Sacrifício... Último infelizmente...” Perdia o Brasil, naquele momento, um soldado de trajetória cívico militar exemplar. Extinguia-se uma das mais valiosas existências, símbolo de um povo, síntese de uma época, o Marquês do Herval,” O Legendário”, Patrono da Arma de Cavalaria. Os cavalarianos de hoje rapidamente se adaptam às novas tecnologias de defesa, inseridas nos seus blindados e modernos equipamentos de guerra, tendo sempre como lema: “Mecanizado, sem perder a tradição...”. Neste dia 10 de maio, gerações de seus discípulos cultuam seu legado simplesmente por devoção, respeito e motivação, cientes de que “Haverá sempre uma Cavalaria”.

Se ao teu corcel não sedes o lugar
Para de ti depois então cuidar
Embora te domine o sofrimento
Se não te agradas ao menos o momento
Das tradições heráldicas premir
Das cargas que deixaram de existir
Se não te orgulhas de empunhar a lança
Que Osório fez, credora da esperança
Nas conquistas supremas da vitória
Se não te queres embriagada glória
Diante de todos ir para o inimigo
Infiltrarte isolado no perigo
Reconhecer para informar, cobrir
Retardar, envolver, perseguir
Se por estaires num motor montado
Julgas a ver o velho ardor quebrado
Se rei não és no campo da amplidão
E se te faltas a coragem do leão
E o penetrante olhar da aguia não tens
Quando a caminho para a luta vens
Digo-te então
Erraste a vocação
Para trás
Chore em vão teu desengano
Não serás nunca
Um CAVALARIANO

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