Por: Anderson Gabino
O surgimento da guerra
como choque de vontades determinou aos homens incansável busca por lutar com
superioridade. Os guerreiros de outrora perceberam, enfim, a importância da
situação em que se devia combater: criaram-se plataformas móveis e foram feitas
associações aos animais de maior porte, obtendo-se, desse modo, decisiva
vantagem em mobilidade e poder de choque. Tal avanço, em sânscrito, foi
denominado “akva”, origem da palavra “cavalaria”. O Cavalo ou Caballus em
latim, foi o animal que melhor encarnou essa forma de combater. Inicialmente
empregado em carros de guerra ou bigas no Egito, Suméria e Roma, somente com
sua montaria, em simbiose única na Natureza, gerou-se o mais formidável
conjunto da História, sob o comando do Cavaleiro, monarca dos horizontes largos
e desconhecidos.A velocidade dos corcéis
transformou a percepção humana do tempo e do espaço, expandiu consciências e,
sob a égide equestre, uma plêiade de chefes militares fez impérios florescerem
e ruírem: Alexandre Magno, Aníbal, Júlio César, Átila, Gengis Khan, Carlos
Magno, Frederico II e Napoleão, estes últimos dois de modo especial, empregaram
magistralmente a Cavalaria, modulando suas missões clássicas de “reconhecer,
cobrir, retardar, envolver e perseguir” consolidando-a, assim, como a Arma da
Decisão.
No Brasil, as origens da
Cavalaria ligam-se à organização do Regimento de Dragões Auxiliares, em
Pernambuco, ao término da resistência contra os holandeses em Pernambuco, em
meados do século XVII. No decorrer do ano de 1808, a invasão de
Portugal pelas forças napoleônicas motivou a vinda da família real portuguesa
para o Brasil. Nesse ano decisivo para o progresso de nossa Pátria, nascia, a
10 de maio, na Vila de Nossa Senhora da Conceição do Arroio (hoje município de
Tramandaí-RS), aquele que seria o Patrono da Arma de Cavalaria, Manoel Luis
Osório. Em 01 de maio de 1823, com 15 anos incompletos, assentou praça na
Cavalaria da Legião de São Paulo e acompanhou o Regimento de seu pai na luta
contra as tropas portuguesas do Brigadeiro Dom Álvaro da Costa, estacionadas na
Cisplatina, que não aceitavam a independência do Brasil.
Seu batismo de fogo ocorreu às margens
do arroio Miguelete, em 13 de maio daquele ano, nas proximidades de Montevidéu,
em um combate contra a cavalaria portuguesa. Como Alferes, participou, aos 17
anos, da Campanha da Cisplatina, na qual se distinguiu por sua bravura,
patrocinando atos de puro heroísmo, particularmente nos combates do Passo do
Rosário e de Sarandi. Neste último, por ter salvo a vida de seu comandante, o
General Bento Manuel Ribeiro, dele recebeu Lança de Guerra como presente. Tal
peça serviu de inspiração para a adoção do símbolo da Cavalaria do Exército
Brasileiro - as lanças cruzadas.
A partir daí, fez-se presente em todas
as campanhas travadas pela manutenção e configuração de nossas fronteiras sul e
oeste. Mas foi na Campanha da Tríplice Aliança que Osório se destacou como
chefe militar de prestígio. No Passo da Pátria, lançou em sua Ordem do Dia uma
de suas frases mais célebres – “É fácil a missão de comandar homens livres,
basta mostrar-lhes o caminho do dever. Camaradas, vosso caminho está aí à
frente”. Em seu regresso à Pátria, após participar da Guerra da Tríplice
Aliança, recebeu do povo do Rio de Janeiro a Lança de Honra. De inestimável
valor histórico, suas duas lanças compõem o acervo do Exército Brasileiro, sob
a guarda do 3º Regimento de Cavalaria de Guardas (3º RCGd), “Regimento Osório”.
Estadista de excelsas virtudes, exerceu
mandato de Senador do Império, sempre cerrando fileiras em prol das mais justas
causas. Ministro da Guerra, deparou-se com um quadro de extrema restrição
orçamentária. Mercê de seu decantado senso prático, soube superá-lo e manteve
as forças de terra aptas a respaldar os interesses nacionais. Se muito dele foi
dito, mais ainda ele nos disse. Legou-nos ensinamentos que subsistem no tempo,
geração após geração, como a frase lida no Senado: “A farda não abafa o cidadão
no peito do soldado”. O apreço da população, o reconhecimento do Império e a
estima dos irmãos-de-armas ornavam sua existência quando esta chegou ao fim, no
dia 4 de outubro de 1879, na cidade do Rio de Janeiro.
Gravemente enfermo, sentindo
aproximar-se a hora fatal, despediu-se da família. Deu um derradeiro conselho:
“quem escreve deve fazê-lo pela Pátria”... Mandou que os seus agradecessem “aos
médicos, aos homens de letras, à imprensa... o bom tratamento que lhe deram...”
E balbuciou vocábulos soltos: “ Tranquilo... Independente... Pátria...
Sacrifício... Último infelizmente...” Perdia o Brasil, naquele momento, um
soldado de trajetória cívico militar exemplar. Extinguia-se uma das mais
valiosas existências, símbolo de um povo, síntese de uma época, o Marquês do
Herval,” O Legendário”, Patrono da Arma de Cavalaria. Os cavalarianos de hoje
rapidamente se adaptam às novas tecnologias de defesa, inseridas nos seus
blindados e modernos equipamentos de guerra, tendo sempre como lema:
“Mecanizado, sem perder a tradição...”. Neste dia 10 de maio, gerações de seus
discípulos cultuam seu legado simplesmente por devoção, respeito e motivação,
cientes de que “Haverá sempre uma Cavalaria”.
Se ao teu corcel não sedes o lugar
Para de ti depois então cuidar
Embora te domine o sofrimento
Se não te agradas ao menos o
momento
Das tradições heráldicas premir
Das cargas que deixaram de existir
Se não te orgulhas de empunhar a
lança
Que Osório fez, credora da
esperança
Nas conquistas supremas da vitória
Se não te queres embriagada glória
Diante de todos ir para o inimigo
Infiltrarte isolado no perigo
Reconhecer para informar, cobrir
Retardar, envolver, perseguir
Se por estaires num motor montado
Julgas a ver o velho ardor
quebrado
Se rei não és no campo da amplidão
E se te faltas a coragem do leão
E o penetrante olhar da aguia não
tens
Quando a caminho para a luta vens
Digo-te então
Erraste a vocação
Para trás
Chore em vão teu desengano
Não serás nunca
Um CAVALARIANO
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