sábado, 30 de abril de 2016

História não revelada: "EUA queriam que Brasil participasse da ocupação na Europa ao término da Segunda Guerra Mundial"


Por Redação OD 
Historiador americano Frank McCann afirma que, após fim da Segunda Guerra, Aliados pediram presença brasileira na Áustria. Convite, porém, não teria sequer chegado a Getúlio e acabou discutido apenas a nível militar. No fim da Segunda Guerra Mundial, o Brasil foi convidado por Estados Unidos e Reino Unido para participar da ocupação da Áustria. Essa eventual participação, afirma o historiador americano Frank McCann, poderia ter mudando a posição geopolítica brasileira no mundo. Em entrevista à DW, McCann diz que os motivos que levaram à recusa do convite ainda são uma incógnita. Baseado em suas pesquisas, porém, ele aposta que a proposta sequer chegou a Getúlio Vargas e acabou discutida apenas a nível militar. "Havia 10 mil homens brasileiros que não lutaram, que não estavam exaustos e poderiam ter sido colocados em caminhões e levados para a Áustria, que não é muito longe. Eu diria que eles tinham capacidade de participar da ocupação e tinham homens para isso", frisa.

DW Brasil:Qual foi o peso da participação da FEB na Segunda Guerra Mundial?
Frank McCann: O Brasil tinha uma divisão pequena na guerra, com 25 mil pracinhas, pouco em comparação com outros países. Mas foi muito importante, por ter sido a primeira vez que o Brasil esteve envolvido em uma guerra fora do seu território. Isso mudou sua posição no mundo e também entre os Aliados. Além disso, foi muito importante para o país em termos de orgulho.
Em sua pesquisa, você afirma que os americanos convidaram o Brasil para participar da ocupação da Áustria. Como esse convite foi feito?
Eu pesquisei em arquivos americanos e encontrei pouca coisa sobre isso, quase nada. O que temos são os testemunhos de pessoas que estavam na Itália, diplomatas brasileiros e também de militares americanos e britânicos, que em cartas falavam sobre esse convite.
Por que foi feito o convite?
Os americanos e britânicos precisavam de tropas, era uma questão de números. Na época dessa conversa, a guerra já tinha acabado na Europa, mas ela ainda não tinha acabado no Pacífico. As tropas americanas na Itália foram enviadas ao Pacífico. Os americanos e britânicos estavam preocupados em ter tropas suficientes lutando nessa região, e a ideia de enviar homens para ocupar a Áustria não parecia muito lógica. Porém, eles precisavam de outros que pudessem fazê-lo, e o Brasil estava lá e tinha tropas, fazia sentido perguntar.
E qual foi a reação dos brasileiros ao convite?
Imediatamente o Brasil, na pessoa do tenente-coronel Castelo Branco, que era o chefe da seção de operações da FEB na Itália, se opôs ao convite. E, aparentemente, Mascarenhas de Morais [comandante da FEB na Segunda Guerra] também se opôs. Eu vi uma carta que ele escreveu a Dutra na qual fala que as tropas brasileiras não estavam equipadas de maneira apropriada para participar da ação. Na verdade, isso foi muito estanho.
Por quê?
A decisão não é uma questão militar, mas sim política. Deveria ter sido uma decisão política, mas eu não sei se o convite chegou a ser debatido politicamente. Eu não encontrei nada nos arquivos de Getúlio Vargas indicando que ele foi consultado sobre o tema. Não foi uma decisão do governo, isso implicaria que os ministros e o presidente tivessem sido envolvidos. Foi uma decisão militar.
Há indicações dos motivos que levaram os militares a rejeitar a ocupação?
Parece que a decisão foi fortemente influenciada pelo que Mascarenhas estava pensando. Mas eu não posso afirmar por que isso ocorreu. No entanto, é possível que Mascarenhas e sua equipe estivessem exaustos, eles fizeram tudo que podiam fazer e talvez isso tenha sido tudo que podiam fazer. Mas os oficiais americanos queriam que eles participassem da ocupação. E isso era uma coisa diferente do que a FEB estava fazendo. Parece que o Mascarenhas acreditava que suas tropas não tinham sido apropriadamente treinadas para uma ocupação.
Com base nas suas pesquisas, você acredita que o Brasil tinha condições de participar da ocupação na época?
Não posso dizer com certeza, mas a FEB tinha 25 mil pracinhas na Itália em 1945, sendo que 15 mil participaram de batalhas e outros 10 mil ficaram apenas em treinamento. Havia 10 mil homens que não lutaram, que não estavam exaustos e poderiam ter sido colocados em caminhões e levados para a Áustria, que não é muito longe. Eu diria que eles tinham capacidade de participar da ocupação e tinham homens para isso.
A recusa de ocupar a Áustria foi uma decisão acertada dos militares?
Politicamente essa não foi uma decisão boa, porque isso teria mudado o status do país. O Brasil de aliado passaria a fazer parte das forças de ocupação. Em uma conversa que li, Castelo Branco diz a um oficial americano que eles não eram parte do Conselho de Controle Aliado [EUA, Reino Unido, URSS e França]e por isso não deveriam participar da ocupação. Eu não entendo essa lógica, mas eu não sei o que ele estava pensando, e se ele realmente pensava assim ou se apenas seguiu Mascarenhas.
Quais foram as consequências dessa decisão para o Brasil?
Não sabemos o que poderia ter acontecido, mas eu acho que poderia ter aumentado o prestígio brasileiro. Poderia ter mudando a discussão sobre uma cadeira permanente para o Brasil no Conselho de Segurança da ONU. Talvez eu esteja indo longe demais, mas certamente teria aumentado o prestígio brasileiro e poderia ter sido suficiente para o país ganhar a cadeira no Conselho. Mas isso poderia ser difícil, porque os britânicos e os soviéticos se opuseram à presença brasileira no Conselho.
Quais outras áreas teriam se desenvolvido de outra forma se o Brasil tivesse tomado uma decisão diferente?

Provavelmente teria mudando a relação brasileira com a União Soviética. Eles teriam mais contato direto com as tropas russas, pois a Áustria fazia fronteiras com regiões ocupadas pelos soviéticos. Então a natureza das relações entre soviéticos e brasileiros seria diferente, mas, de que forma, eu não sei dizer.
FONTE: dw.com

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