Por: Anderson Gabino
No princípio foram onagros, balistas e
catapultas. Depois, com o advento da pólvora, vieram as bombardas e os canhões
rudimentares. Mais tarde, com os avanços da Física e os estudos de Balística,
veio a alma raiada e, assim, aumentou-se o alcance e a precisão dos canhões e
obuseiros. Nos dias de hoje, munições especiais com as mais variadas
características e mísseis guiados por satélite mantêm a Artilharia como o mais
eficiente meio de apoio de fogo da Força Terrestre. A engenhosidade das
máquinas, no entanto, de nada adiantaria se não fosse a genialidade dos homens. O mundo, então, conheceu Gustavo Adolfo,
Frederico II, “O Grande”, e Napoleão, o “Imperador Artilheiro”, que
transformaram a Artilharia verdadeiramente no “Último Argumento dos Reis”.
O
Brasil também teve seus heróis. Nos primeiros anos da colonização, eram apenas
anônimos sentinelas a soar o alarme e a guarnecer as peças frente a navios
inimigos, invasores ou corsários. Posteriormente, com a consolidação das
fronteiras e o desenvolvimento da identidade nacional, surgiram nomes como o do
Capitão Salomão da Rocha, herói da campanha de Canudos, a quem é dedicada a
última estrofe da canção da Artilharia; o consolidador da República, Floriano Peixoto,
o “Marechal de Ferro”, o Marechal Mascarenhas de Moraes, comandante
da Força Expedicionária Brasileira na Segunda Guerra Mundial e, dentre tantos
outros, o mais importante de todos, o Marechal Emílio Luís Mallet, o Patrono da
Artilharia.
Nasce
o seu Patrono
Émile Louis Mallet, mais conhecido como Marechal Emílio Mallet, o Barão de Itapevi (Dunquerque, 10 de junho de 1801 — Rio
de Janeiro, 2 de janeiro de 1886), foi um militar brasileiro nascido na França. Homem de grande porte
físico, com 2,01 metros de altura e 120 quilogramas de peso. Aos 18 anos, chega ao Brasil com
excepcional bagagem cultural: Matemática na escola na Escola Militar de
Saint-Cyr, França, e Humanidades, na Bélgica. D. Pedro I convida-o
a alistar-se nas fileiras do Exército Nacional, em vias de organização. Matriculado
na Academia Militar do Império, no Curso de Artilharia, jura a Constituição
Imperial, adquirindo a nacionalidade brasileira.
Foi em terras sulinas que viveu o maior
período de sua vida militar. Na Campanha Cisplatina, entrou em combate. Seu
batismo de fogo aconteceu na Batalha do Passo do Rosário, em 1827, quando se
revelou um guerreiro dotado de extrema coragem e notável liderança. Nesse
episódio, ao assumir o comando de quatro baterias, substituindo seus
comandantes feridos, o Tenente Mallet galgou ao posto de capitão por sua iniciativa e
atuação enérgica. A inesperada crise política de 1831,
ocorrida na Corte, rende-lhe a primeira injustiça. Com a abdicação de D. Pedro I, é
demitido do serviço militar por não ser brasileiro nato, com base em lei votada
sete anos após ter escolhido o Brasil para ser sua Pátria e lutado sob sua
Bandeira. Eclode o Movimento Farroupilha e, apesar de tudo, oferece-se para integrar as
forças legais, o que é aceito pelo governo imperial.
No calor das batalhas Mallet se torna um
exemplo
Apaziguado o conflito, é novamente
afastado da tropa. Somente em 1851, quando participou como voluntário das lutas
contra o restabelecimento do Vice-Reinado do Prata, é reintegrado ao Exército
no posto de major, em ato de justiça e reconhecimento. Por sua atuação em Monte
Caseros e, posteriormente, em Paissandu, onde sua artilharia bombardeou o
inimigo durante 52 horas ininterruptas, fator decisivo para a rendição daquela
praça de guerra, Mallet recebeu a Medalha de Ouro da Campanha do Estado Oriental
do Uruguai e de Oficial da Ordem Imperial da Rosa. O homem, o soldado, o comandante
tornava-se um mito para seus comandados e um exemplo para seus pares e
comandantes.
Ao lado de Caxias, Osorio, Sampaio, Cabrita e
tantos outros, peleja arduamente nos sítios da Guerra da Tríplice Aliança,
restabelecendo e reafirmando nossa soberania. Em Tuiuti, no comando do 1º
Regimento de Artilharia a Cavalo, sobressaiu-se por sua inesgotável energia e
capacidade profissional.
Ante surpreendente carga de cavalaria
inimiga contra as posições aliadas e a impossibilidade de reação adequada pelos
elementos avançados, a artilharia responde com uma impressionante cadência de
tiro – a artilharia revólver de Mallet – que, apoiada em um profundo poço de
proteção construído à frente das posições, sustou oito vagas de assalto dos
adestrados esquadrões inimigos. “Eles que venham... por aqui não passarão!” E
não passaram. Mais uma vez evidencia-se sua reconhecida capacidade
profissional.
Aos 65 anos, promovido a coronel, por
bravura, recebe o comando da Brigada de Artilharia, à frente da qual palmilha
quase todo o território paraguaio. Durante
a guerra da Tríplice Aliança, à frente do 1º R A Cav, teve participação
fundamental na vitória de nossas tropas. Dentre as várias batalhas de que participa,
destacam-se: Passo da Pátria, Estero Bellaco e Tuiuti. Nesta, diante do seu
fosso intransponível, comandando as bocas de fogo que, ao final da batalha,
receberiam o batismo de "artilharia-revólver" tal a precisão e
rapidez de seus tiros. Ainda nessa campanha, assume o comando da 1ª Brigada de
Artilharia e continua apoiando as ações da Tríplice Aliança, participando das
batalhas de Humaitá, Piquiciri, Angustura, Lomas Valentinas, Ascurra e Campo
Grande.
Um “Gran Finale” para um Grande Militar
Desde a estóica Travessia do Chaco e a
ocupação de Assunção, às vitórias de Itororó, Avaí, Lomas Valentinas, Angustura
e Peribebuí, a Artilharia de Mallet constituiu fator indispensável para a
vitória. Quando a guerra entrou em sua última fase, Mallet é
alçado ao Comando Geral da artilharia para conduzi-la na vitoriosa e decisiva
Campanha da Cordilheira. É promovido a Brigadeiro e agraciado com a Medalha do
Mérito Militar e a Medalha Geral da Campanha do Paraguai. Encerrava-se, em
campanha, uma brilhante carreira de soldado. Terminado
o conflito, permanece no serviço ativo até 1885. Em 2 de janeiro de 1886, na
capital do Império, falece Mallet, aos 84 anos, dos quais 63 dedicados ao
Exército e à gloriosa Artilharia Brasileira.
Admirado e respeitado por todos,
incorporava as grandes virtudes de chefe militar. O extremo cuidado com seus
subordinados e rigoroso zelo com o material – “com a mão enluvada em pelica
branca, inspecionava a culatra das peças da artilharia” – personificaram em Mallet o
espírito dos artilheiros de todas as gerações. Fidalgo em Dunquerque, entrou
para a nobiliarquia brasileira com o título de Barão de Itapevi. Seu brasão
contém o símbolo glorioso da artilharia, de chama ardente e viva, tal qual o
invicto Patrono acendeu no coração e na alma de seus subordinados e que, hoje,
inspira seus discípulos de arma. Em 1932, por seu amor e dedicação ao
Brasil e à nossa Arma, lhe foi conferido, por meio de decreto nº 21.196, o
reconhecimento da Pátria consagrando-o como Patrono da Artilharia Brasileira.
Desde então, no dia 10 de junho, dia de seu aniversário, comemora-se o Dia da
Artilharia.
"MA FORCE D'EN HAUT!"
Minha força vem do alto!
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