Por Yam Wanders
Base Aérienne 102-Dijon-Longvic "Capitaine Georges Guynemer", ou para os lusófonos apenas Base aérea de Dijon, a base aérea francesa que virou uma lenda viva na aviação de caça européia e também para brasileiros fechou suas portas nesse dia 30 de junho de 2016 após 102 anos de operação, com a merecida menção honrosa da participação em duas guerras mundiais, na guerra fria ocidente X Pacto de Varsóvia e pela formação de milhares de aviadores pilotos do famoso Dassault Mirage em suas várias séries e versões.
Nessa matéria descreveremos um pouco da história de uma das mais importantes bases da Armée de l'Air (Força Aérea Francesa) e o que ela representou não só para franceses como para brasileiros, entre outros. A base festejaria seus 103 anos hoje se não fosse pela sua desativação.
Imagens da solenidade com a presença do Cmdte da Armée de l'Air . Créditos de imagem journal "Le Bién Public-Dijon". |
Veteranos vieram de todos os cantos da França para a cerimônia. Créditos da imagem journal "Le Bién Public-Dijon" |
Considerada pelo público da aviação militar como uma das cerimônias mais emocionantes dos últimos tempos. Crédito da imagem journal "Le Bién Public-Dijon". |
Para o momento presente a base abrigará apenas as instalações de vigilância radar e controle de tráfego aéreo, um centro de arquivo e documentação, um pequeno contingente de segurança e para o futuro oficialmente já se prepara as instalações para uma escola de formação básica da Gendarmerie (Polícia Militar francesa). Especula-se o interesse de uma empresa canadense que trabalha com manutenção aeronáutica em adquirir os hangares e também a possibilidade do Breitling Jet Team com seus jatos Albratos aero L-39 ocupar alguma instalação no local. Para uma base que mantinha em torno de 2.500 militares e em algumas épocas até mil militares de trânsito, o impacto econômico para o comércio local será de grande vulto, outras informações de veículos oficiais locais dão conta de uma despesa de mais de 6 milhões de euros em custos para a desativação da base.
Foto da BA-102. Imagem via Journal "Le Bién Public-Dijon". |
Um pouco de história
Em algumas pesquisas superficiais já encontra-se fatos e imagens muito interessantes sobre a BA 102.
Em 1910 no mês de setembro entre os dias 22 e 25, uma suntuosa festa aviatória foi organizada na cidade de Dijon, e o evento impressionou tanto as autoridades do então Ministério da Guerra que decidiram construir um aeroporto na cidade para abrigar a aviação que estava já se mostrando útil para seus diversos fins militares. No dia 7 de julho de 1913, as comunidades de Ouges e de Longvic cedem um terreno de 9 hectares entre as vilas para a requisição de utilidade pública da construção da futura base.
Na primavera de 1914 a base já estava operacional já com hangares e casernas para as tropas e também com um esquadrão já formado junto ao centro do 1° grupo de aviação e quando começa a 1a guerra mundial a base já contava com quatro esquadrilhas prontas, uma escola de aviação e um depósito de aeronaves novas junto a um centro logístico militar.
Em 1916 surge nessa base a tradição da bandeira militar de aviação, que é apresentada à tropas do 1° grupo de aviação da base pelo então subtenente Georges Guynemer, que mais tarde seria considerado o patrono da Base Aérienne 102.
Durante os anos entre guerras, a base divide espaço com a aviação civil vindo a ser um importante aeroporto principalmente para as linhas aéreas que ligavam a França ao norte da Africa e abrigando uma escola de aviação civil.
Durante a 2a Guerra Mundial a base foi alvo incessante dos bombardeios da Luftwaffe que a deixaram bastante avariada durante os meses de maio à junho de 1940 até a sua ocupação pelas tropas alemãs, vindo a se tornar uma das principais bases da Luftwaffe em territórios ocupados. A base também sofreria novamente com os bombardeios da USAF a partir de 1943 até 1944 até a expulsão das tropas alemãs do território francês. Logo após a opucação da base pelas forças americanas, estabelece-se nela dois grupos de bombardeiros da USAF que utilizavam B-26 Marauders.
Após a guerra e com grande parte de sua reconstrução permitindo a operação de aeronaves mais modernas, a base recebe em 1949 a missão de ser o centro da defesa aérea da França e também um centro de formação de aviação de caça, sendo assim recebe o primeiro esquadrão de caças a reação da história da aviação francesa com as aeronaves De Havilland 100 Vampire.
Nos anos seguintes recebe os primeiros esquadrões dotados de aeronaves de fabricação francesa da Dassault a partir de 1953, sendo sucessivamente o MD 450 Ouragan, o Mystére IV A em 1956, o Mirage III em 1961, o Mirage III E em 1968, o Mirage 2000 C em 1984 e o Mirage 2000 5-F (equipados com o radar RDY) em 1999, o que na época tornou a BA-102 a ser a única base da Europa a dispor de um interceptador dotado de um radar para múltiplos alvos dos mais modernos do mundo.
Histórica para brasileiros também
Para nós brasileiros, o interessante é citar sobre a importante transição da nossa aviação de caça para o uso de modernos interceptadores Mirage III EBR e III DBR, que foram adquiridos da França em maio de 1970 para a formação do 1° GDA - Grupo de Defesa Aérea, visando a defesa estratégica da capital federal do Brasil. Em 1972 a FAB designa oito pilotos para efetuarem os cursos e treinamento na França e assim nascem os chamados "Dijon Boys", um grupo selecto de aviadores brasileiros que teve a responsabilidade dessa missão que fez a nossa Força Aérea ingressar na era dos modernos interceptadores supersônicos.
No cenário da guerra fria que o mundo estava no começo dos anos 70, era de importância essencial para qualquer nação com condições, possuir interceptadores supersônicos, pois apesar da tecnologia dos mísseis intercontinentais já existir, a maior ameaça de ataques com armas nucleares ainda era oferecida por bombardeiros estratégicos ou outras aeronaves de ataque táticas. A posse e operação dos Mirages III pela FAB na época elevou muito o status do Brasil como nação soberana e capaz de projetar forças na América Latina bem como comprovou a capacidade técnica de nossa Força Aérea em manter ativos por mais de 30 anos essas aeronaves míticas em alerta operacional constante para a defesa de nosso espaço aéreo como foi comprovado em algumas vezes em alguns episódios de violação de nosso espaço aéreo e em situações de crises internas.
Algumas imagens da cerimônia de desativação da BA-102 no dia 30 de junho de 2016.
Créditos das imagens:
Musée de la Base Aérienne BA-102 "Georges Guynemer", via France Bleu.
Journal Le Bién Public de Dijon.
Na primavera de 1914 a base já estava operacional já com hangares e casernas para as tropas e também com um esquadrão já formado junto ao centro do 1° grupo de aviação e quando começa a 1a guerra mundial a base já contava com quatro esquadrilhas prontas, uma escola de aviação e um depósito de aeronaves novas junto a um centro logístico militar.
Em 1916 surge nessa base a tradição da bandeira militar de aviação, que é apresentada à tropas do 1° grupo de aviação da base pelo então subtenente Georges Guynemer, que mais tarde seria considerado o patrono da Base Aérienne 102.
Durante os anos entre guerras, a base divide espaço com a aviação civil vindo a ser um importante aeroporto principalmente para as linhas aéreas que ligavam a França ao norte da Africa e abrigando uma escola de aviação civil.
Rara foto de um dos massivos bombardeiros da BA-102 pela USAF durante a 2a Guerra Mundial. Foto via Museu da BA-102 Dijon-Longvic. |
Caças De Havillad 100 "Vampire", os primeiros jatos operacionais de uso da Armée de l'Air tiveram seu "debut" na Base Aérea de Dijon-Longvic em 1953. Foto via Museu da BA-102 Dijon-Longvic. |
Poucos sabem mas logo após a criação da "Patrouille de France" em 1957, o seu primeiro lar foi a Base Aérea de Dijon-Longvic. Foto via Museu da BA-102 Dijon-Longvic. |
Nos anos seguintes recebe os primeiros esquadrões dotados de aeronaves de fabricação francesa da Dassault a partir de 1953, sendo sucessivamente o MD 450 Ouragan, o Mystére IV A em 1956, o Mirage III em 1961, o Mirage III E em 1968, o Mirage 2000 C em 1984 e o Mirage 2000 5-F (equipados com o radar RDY) em 1999, o que na época tornou a BA-102 a ser a única base da Europa a dispor de um interceptador dotado de um radar para múltiplos alvos dos mais modernos do mundo.
Em 1984 a base recebe os primeiros Mirages 2000 C. Foto via Museu da BA-102 Dijon-Longvic. |
Caroline Aigle, a primeira mulher a voar um Mirage 2000C teve como lar operacional a BA-102. Foto via Museu da BA-102 Dijon-Longvic. |
A BA-102 foi também o lar dos treinadores Alpha-Jet até 2014. Foto via Jornal "Le Bién Public-Dijon". |
O Coronel Pierre Real, atual comandante a BA-102. |
Para nós brasileiros, o interessante é citar sobre a importante transição da nossa aviação de caça para o uso de modernos interceptadores Mirage III EBR e III DBR, que foram adquiridos da França em maio de 1970 para a formação do 1° GDA - Grupo de Defesa Aérea, visando a defesa estratégica da capital federal do Brasil. Em 1972 a FAB designa oito pilotos para efetuarem os cursos e treinamento na França e assim nascem os chamados "Dijon Boys", um grupo selecto de aviadores brasileiros que teve a responsabilidade dessa missão que fez a nossa Força Aérea ingressar na era dos modernos interceptadores supersônicos.
Foram eles:
- Cel.Av. Antônio Henrique Alves dos Santos;
- T.Cel.Av. Jorge Frederico Bins;
- T.Cel.Av. Ivan Moacir da Frota;
- Maj.Av. Ronald Eduardo Jaeckel;
- Maj.Av. Ivan Von Trompowski Douat Taulois;
- Maj.Av. Lúcio Starling de Carvalho;
- Maj.Av. Thomas Anthony Blower; e
- Cap.Av. José Isaias Villaça.
No cenário da guerra fria que o mundo estava no começo dos anos 70, era de importância essencial para qualquer nação com condições, possuir interceptadores supersônicos, pois apesar da tecnologia dos mísseis intercontinentais já existir, a maior ameaça de ataques com armas nucleares ainda era oferecida por bombardeiros estratégicos ou outras aeronaves de ataque táticas. A posse e operação dos Mirages III pela FAB na época elevou muito o status do Brasil como nação soberana e capaz de projetar forças na América Latina bem como comprovou a capacidade técnica de nossa Força Aérea em manter ativos por mais de 30 anos essas aeronaves míticas em alerta operacional constante para a defesa de nosso espaço aéreo como foi comprovado em algumas vezes em alguns episódios de violação de nosso espaço aéreo e em situações de crises internas.
Algumas imagens da cerimônia de desativação da BA-102 no dia 30 de junho de 2016.
Créditos das imagens:
Musée de la Base Aérienne BA-102 "Georges Guynemer", via France Bleu.
Journal Le Bién Public de Dijon.
Georges Guynemer, héroi da França. |
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