O presente artigo aborda as diversas peculiaridades e
possibilidades de emprego, pelos Pelotões de Cavalaria Mecanizado (Pel C Mec),
do novo Reparo para Metralhadora Automatizado X (REMAX). Partindo da adoção das
novas VBTP-MR Guarani, o REMAX oferece um imenso ganho em potencial para o
desempenho das diversas missões as quais estas frações estão inseridas.
Destacando as missões de reconhecimento, onde existe a
importância de execução de maneira rápida e agressiva, além da coleta de
informações confiáveis, o REMAX aumentaria de maneira significativa a
capacidade de execução cada vez mais precisa e oportuna pelos Pel C Mec,
auxiliando tanto na detecção como no apoio de fogo durante o transcorrer das
mais diversas operações.
O artigo também destaca que além de aumentar a capacidade
de observação deste pelotão, o REMAX, através de seu eficiente e preciso sistema
de armas, oferecerá de maneira excepcional um aumento significativo na
capacidade de seleção e precisão durante o engajamento de alvos, utilizando-se
do seu eficaz sistema de tiro, podendo ainda, ser integrado em outras frações
pertencentes aos Pel C Mec, adicionando não somente uma melhor ferramenta de
observação, mas também como um aumento significativo no poder de fogo destas
frações.
O Exército Brasileiro (EB) passa, atualmente, por um
profundo processo de transformação, estruturado em Projetos Estratégicos que
buscam criar novas capacidades para a Força Terrestre. Um desses Projetos
Estratégicos é o desenvolvimento da Nova Família de Blindados Médios sobre
Rodas, que tem na Viatura Blindada de Transporte de Pessoal Média de Rodas
(VBTPMR) 6x6 Guarani como seu grande produto. Essa viatura está atendendo as
demandas de implantação da Infantaria Mecanizada e de modernização da Cavalaria
Mecanizada no Brasil.
Paralelamente ao desenvolvimento da viatura, o EB busca a
integração da mesma com os sistemas de armas que permitirão o emprego tático da
VBTP-MR Guarani. Dentre esses sistemas, destaca-se o Reparo para Metralhadora
Automatizado X (REMAX), produzido no Brasil pela empresa ARES. O 16º Esquadrão
de Cavalaria Mecanizado (Esqd C Mec), tropa orgânica da 15ª Brigada de
Infantaria Mecanizada (Bda Inf Mec), opera a VBTP-MR Guarani desde 2014.
Dentro do quadro de Experimentação Doutrinária da Bda Inf
Mec, o 16º Esqd C Mec está recebendo as torres REMAX para dotar suas viaturas.
Para isso, militares de seus quadros já passaram pela capacitação no material.
As VBTP-MR Guarani, com a torre REMAX, estão sendo incorporadas aos Pelotões de
Cavalaria Mecanizados (Pel C Mec), exigindo profundos estudos para melhor emprego
e aproveitamento de suas potencialidades.
O DESENVOLVIMENTO
Um Pelotão de Cavalaria Mecanizado (Pel C Mec) é a fração
básica de emprego da Cavalaria Mecanizada. Ele está organizado em cinco grupos
ou seções:
- Grupo de Comando: tem a missão de possibilitar ao comandante do pelotão o exercício do comando (BRASIL, 2006). É composto por três homens (Comandante de Pelotão, Motorista e Rádio-Operador), embarcados em uma Viatura Blindada Leve (atualmente, o Exército Brasileiro emprega a Viatura Tática Leve – VTL);
- Grupo de Exploradores (G Exp): apto a executar ações de reconhecimento a pé ou embarcado, prover segurança nos flancos, realizar golpes de sonda, atuar como seção de metralhadoras em base de fogos, realizar o ataque a pé como grupo de combate (GC) e desempenhar diversas funções especiais, como mensageiro e elemento de ligação (BRASIL, 2006). Possui um efetivo de doze homens, divididos em duas patrulhas. Cada patrulha possui duas Viaturas Blindadas Leves (VBL), atualmente substituídas por VTL;
- Seção de Viaturas Blindadas de Reconhecimento (Seç VBR): é o elemento de choque do Pel C Mec, estando apta a realizar ações de reconhecimento, de segurança, de defesa e de ataque (BRASIL, 2006). É dotada, atualmente, de duas viaturas EE-9 Cascavel; - Grupo de Combate (GC): é o elemento de combate a pé do Pel. Destina-se basicamente a formar o combinado Seç VBR – GC, tanto para ações ofensivas quanto defensivas. Pode ser empregado na realização de pequenas ações de reconhecimento, balizamento e limpeza de eixos, particularmente quando o G Exp estiver empenhado em outras missões (BRASIL, 2006). O GC é embarcado em uma VBTP e possui, além dos nove integrantes do grupo, um motorista e um atirador, totalizando onze homens. É nessa pequena fração que se enquadra a nova VBTP-MR Guarani no contexto da Cavalaria Mecanizada;
- Peça de Apoio (Pç Ap): é o elemento de apoio de fogo indireto do Pel C Mec. Normalmente, por ser a última fração, é responsável pela segurança da retaguarda (BRASIL, 2006). O Caderno de Instrução CI 2- 36/1 (BRASIL, 2006) estabelece as possibilidades do Pel C Mec: “participar de operações de reconhecimento; participar de missões de segurança; realizar operações de contra reconhecimento; realizar operações ofensivas e defensivas, particularmente durante a execução de ações de Rec e Seg, nos Movimentos Retrógrados e na aplicação do princípio de economia de meios; realizar ligações de combate; ser empregado na segurança da área de retaguarda – SEGAR; - realizar operações de junção; executar ações contra forças irregulares, cumprir missões num quadro de garantia da lei e da ordem, mesmo atuando de forma descentraliza, em reforço aos Batalhões de Infantaria; e Operações tipo Patrulha.”
No entanto, deve haver o entendimento de que a organização
e a dotação do Pel C Mec o tornam especialmente apto para as operações de
segurança e para os movimentos retrógrados. Em ambas, destaca-se o emprego de
técnicas de reconhecimento, ação básica e vocação natural da Cavalaria
Mecanizada. Nesse sentido, o adestramento e a dotação de material do Pel C Mec
deve objetivar, sempre que possível, a ampliação de sua capacidade de
reconhecer o campo de batalha, aumentando a possibilidade de obtenção de
informações confiáveis sobre o terreno e o inimigo em prol dos escalões
superiores.
O Reparo para Metralhadora Automatizado X O REMAX foi
desenvolvido a partir do ano de 2006, quando o Centro Tecnológico do Exército
(CTEx), em conjunto com a Empresa ARES, iniciou o Projeto REMAX, com o objetivo
de desenvolver uma estação de armas que seria integrada à nova VBTP-MR Guarani.
Foram desenvolvidos, então, protótipos para os mais diversos testes de
funcionalidade e operação, utilizando, inicialmente, como veículo integrador
desta estação a VBTP Urutu. No ano de 2010, iniciaram-se as avaliações do CTEx
e, em 2012, foi assinado o contrato com a Diretoria de Fabricação (DF) para o
fornecimento de 81 unidades.
Em 2013, a integração do REMAX e da VBTP-MR Guarani foi
concretizada, dando início ao período de testes no Centro de Avaliação do
Exército (CAEx). No ano de 2015, foi realizado, na 15° Bda Inf Mec, o Estágio
de Operação e Manutenção (1° Escalão), seguido de sua avaliação operacional sob
a coordenação do CAEx. O REMAX é uma estação de armas remotamente controlada e
de giro estabilizado que possui configuração para utilizar as metralhadoras MAG
7,62mm ou M2HB-QCB.50.
Seu Sistema de Emprego (SE) possui um peso de 210 kg (sem
armamento e munição), azimute de 360°; capacidade de 100 munições de 12,7mm
(.50) ou de 200 munições de 7,62mm; ângulos de elevação de -20° e + 60°;
velocidade de elevação e azimute de 45° por segundo; possui como funções de sua
câmera diurna e termal o campo de visão estreito, campo de visão largo e “zoom”
óptico e ainda o telêmetro laser (LRF) classe 1, com distância de utilização de
30m a 5000m, podendo ser operado no modo manual, modo potência, modo
estabilização e modo observação.
Finalizando sua descrição, o REMAX possui três funções
principais: a OBSERVAÇÃO, através das câmeras diurna e termal; a PROTEÇÃO com
sua metralhadora MAG 7,62mm ou M2HB-QCB.50; e a MEDIÇÃO DE DISTÃNCIAS com o
LFR. O emprego da torre REMAX no Pel C Mec A estação de armas de giro
estabilizado REMAX, juntamente com a VBTP-MR Guarani, agrega ao EB um grande
salto tecnológico relativo ao emprego de tropas mecanizadas nos dias atuais. A
incorporação deste novo Material de Emprego Militar (MEM) irá proporcionar um
grande ganho no fator operacional de reconhecimento, sendo que este potencializará
em largas proporções a forma de emprego das técnicas de reconhecimento
utilizadas, principalmente, pela Arma de Cavalaria.
Inserido nos Pel C Mec, o reparo poderá ser usado não
somente como apoio de fogo, mas principalmente como um excelente meio de observação
e detecção em uma ação de reconhecimento. Aos Pel C Mec são atribuídas missões
de segurança e reconhecimento em um teatro de operações, sendo que o
reconhecimento torna-se uma missão de grande vulto em relação ao planejamento,
o que gera uma grande necessidade de emprego de meios que ajam como
facilitadores desta ação. Inserido neste contexto, o REMAX atuaria como um
eficaz sistema de armas e, principalmente, como um grande meio de observação e
detecção, a partir do uso de seu moderno módulo optrônico.
Esse módulo permite uma grande capacidade de observação,
identificação e medição de distâncias. Empregado em um reconhecimento, tanto de
zona, área ou eixo, auxilia a ação do G Exp. A partir da utilização de suas
câmeras diurna e termal, a torre instalada na VBTP Guarani ou na futura VBL
poderá detectar alvos a até 5.000 metros de distância de sua posição,
usufruindo de seu “zoom” de 26 vezes de magnitude. Pode, ainda, determinar com
precisão a distância da posição inimiga, utilizando o seu telêmetro laser,
aglutinando assim informações a serem repassadas para elementos de apoio de
fogo, como por exemplo, a Pç Ap do Pel C Mec, o Pelotão de Morteiro Pesado do
Regimento de Cavalaria Mecanizado ou a Artilharia de Campanha.
Em um reconhecimento empregando técnicas especiais, como o
de ponte, este moderno sistema poderá apoiar o reconhecimento sumário e
pormenorizado realizado pelo G Exp, oferecendo maior proteção de fogos e maior
rapidez em sua execução. Assim como em um reconhecimento de localidade, uma
VBTP possuidora deste reparo poderá não somente oferecer sua proteção blindada,
mas sim um grande meio de obtenção de alvos compensadores e de execução de
fogos com extrema precisão.
Destaca-se que seu atirador permanece no interior de uma célula
de sobrevivência, podendo, assim, diminuir em muito seu nível de stress de
combate, selecionando e abatendo alvos com muito mais precisão, diminuindo o
gasto de munição, aumentando de maneira excepcional a proteção ao atirador e
reduzindo o risco de fratricídio e danos colaterais. O subsistema de segurança,
denominado de Zona de Inibição de Tiro, previne que a estação realize disparos
na própria viatura, e até mesmo na tropa, enquanto esta realiza a proteção
aproximada da viatura.
Possui, ainda, o modo observação, no qual o sistema de
armas é desabilitado, mas seu módulo optrônico continua ativo, podendo ser
empregado em uma situação em que o pelotão esteja inserido como uma
Força-Tarefa (FT) em ambiente urbano e a presença de civis não combatentes seja
um risco ao sucesso da operação. Essa ferramenta mostra-se extremamente útil
para o emprego do Pel C Mec, também, em Operações de Garantia da Lei e da
Ordem.
O REMAX pode utilizar tanto a metralhadora MAG como a
metralhadora .50, sendo sua escolha feita após o estudo das diversas
peculiaridades das missões em que o pelotão for empregado, tendo ainda como
componente deste reparo, o sistema de lançadores de granadas fumígenas. Um
grande aspecto a ser destacado é o cálculo de compensação balístico oferecido
por meio de seu programa já instalado, possuindo algumas funções que auxiliam o
atirador, como por exemplo, sensores de temperatura do ar, de velocidade do
vento e de velocidade do alvo, entre outros.
Por meio dessas funções, o atirador poderá apoiar de
maneira mais rápida e, principalmente, eficaz sua fração, sendo utilizado como
meio de proteção da progressão de seu pelotão. Em um reconhecimento em que haja
a necessidade de uma observação minuciosa, o REMAX poderá atuar de maneira objetiva,
utilizando-se das diversas funções que o módulo oferece. No reconhecimento de
áreas boscosas, a viatura, utilizando-se do desenfiamento de couraça e do
“zoom” ótico de sua câmera diurna ou termal, pode detectar de maneira mais
rápida a posição do inimigo e, caso seja necessário, pode abatê-la com disparos
precisos, poupando tanto esforços relativos a pessoal, dinamizando o emprego do
tempo e o consumo de munição, fatores de extrema importância para a progressão
do Pel C Mec.
No período noturno, o reconhecimento de um Pel C Mec
normalmente não será utilizado, mas dependendo da situação em que estiver
inserido poderá receber ordens para tal. Nesse contexto, o REMAX poderá exercer
função primordial, auxiliando ainda mais o pelotão, principalmente pelo seu
modo de observação termal, sendo de grande valia a sua utilização para a
observação do terreno localizado a frente da tropa, e tendo como resposta o
pronto emprego de fogos. No estabelecimento de posições de bloqueio, o REMAX
fornece uma nova forma de realizar o planejamento de fogos do Pel C Mec. A
imagem termal facilita o estabelecimento de roteiros de tiros e a designação de
alvos para as armas coletivas do Pel C Mec no período noturno.
CONCLUSÃO
A incorporação do REMAX ao material de dotação do Pel C Mec
ampliará as capacidades dessa fração no cumprimento de suas missões peculiares.
O aumento da capacidade de observação do terreno permitirá uma sensível melhora
na qualidade do reconhecimento executado pela tropa. A telemetria e a visão noturna
fornecerão dados mais precisos, capazes de apoiar a tomada de decisão com mais
propriedade. Além disso, o alto grau de precisão apresentado pelo equipamento
permitirá a execução de tiros mais precisos, colaborando para a segurança da
tropa amiga no terreno e para a economia de munição com um efeito mais eficaz.
É importante destacar, ainda, a versatilidade do REMAX,
permitindo seu uso numa grande gama de missões, desde operações ofensivas e
defensivas, até operações de Garantia da Lei e da Ordem e Forças de
Pacificação. Futuramente, o REMAX poderá também ser inserida no próprio G Exp,
podendo ser instalado em uma VBL que possa receber tal estação de armas,
aumentando assim de maneira significativa, não somente a proteção blindada do
atirador, mas principalmente a sua capacidade de reconhecimento em determinada
faixa do terreno e o aumento do seu poderio de fogo, já que atualmente o
principal armamento do Grupo de Exploradores é a metralhadora MAG.
Partindo do principio de que, a partir da aquisição de
novas 13 tecnologias, haverá também a adaptação à doutrina atual de
reconhecimento da Cavalaria Mecanizado, afetando em alguns aspectos a mudanças
de algumas técnicas de reconhecimento já utilizadas, os novos MEM incorporados
abrem uma nova perspectiva de debate acerca do emprego da Cavalaria Mecanizada
do Exército Brasileiro.
Nota da Redação: Artigo extraído da Revista "Ação de Choque", Número 14 de 2016 do Centro de Instrução de Blindados, onde o Autor do Artigo é 2º Sargento da Arma de Cavalaria.
REFERÊNCIAS UTILIZADAS PELO AUTOR
ARES AEROESPACIAL E DEFESA. Manual de Operação e Manutenção
Nível I – Reparo para Metralhadora Automatizado X. Rio de Janeiro: Junho/2015.
BRASIL.
COMANDO DE OPERAÇÕES TERRESTRES. CI 2-36/1 O Pelotão de
Cavalaria Mecanizado. 1. ed. Brasília: 2006.
IVECO VEÍCULOS DE DEFESA. Manual Técnico da Viatura
Blindada de Transporte de Pessoal VBTP-MR 6x6 Guarani. Brasília: Maio/2014.
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