O Brasil vai ficar ao menos até 2033 fora do Conselho de Segurança das Nações Unidas, porque não apresentou candidatura nos
últimos anos. Mais alta instância da ONU, o grupo tem como objetivo cuidar da segurança e da paz internacionais.
A ausência simboliza uma mudança radical na política externa brasileira. No governo de Luiz Inácio Lula da Silva (2003/2010), a
diplomacia tinha ambições de mediar a paz entre israelenses e palestinos e chegou a apresentar uma proposta de acordo, em conjunto
com a Turquia, para resolver a questão do programa nuclear do Irã.
Já sob Dilma Rousseff (2011/2016), não houve nem sequer interesse de fazer parte do Conselho. "O Brasil foi do 80 para o 8", diz um
funcionário do governo.
O Conselho tem cinco vagas permanentes, ocupadas por China, Reino Unido, Estados Unidos, França e Rússia. Outras dez vagas são
rotativas e alocadas por região —5 para África e Ásia, 1 para o Leste Europeu, 2 para América Latina e Caribe e 2 para Europa Ocidental
e outros.
Cada região chega a um consenso e apresenta um candidato para um mandato de dois anos. As candidaturas são apresentadas com
muitos anos de antecedência.
A última vez que o Brasil ocupou uma das vagas rotativas foi no biênio 2010/2011. Desde alguns anos antes disso, o país não
apresentou mais candidatura e, como resultado, não terá "vaga" pelo menos até 2033, segundo a Folha apurou.
O assunto foi discutido no sábado (11), na primeira reunião entre o recémempossado chanceler Aloysio Nunes Ferreira e o alto escalão
do Itamaraty.
"É um sintoma do encolhimento do país no cenário internacional", afirma outro funcionário. "Por um misto de descaso e barbeiragem, o
Brasil perde capacidade de influenciar o órgão de maior força na ONU."
Com isso, o país ficará ausente do Conselho por 22 anos —período mais longo do que os 20 anos de ausência no órgão entre 1968 e
1988 (veja quadro abaixo), boa parte deles sob ditadura militar.
"Mas na ditadura o país não se candidatou porque não queria que o tema da tortura viesse à tona", diz Matias Spektor, colunista da
Folha e professor de Relações Internacionais da FGV.
"É péssimo o Brasil ficar de fora por tanto tempo; temos tradição em participar, e a cadeira rotativa nos permite expressar nossa
concepção de ordem internacional."
Entre outras atribuições, o CS impõe sanções a países, como já fez com o Irã diversas vezes, por causa do programa nuclear iraniano;
determina o envio de forças de paz, como ocorreu no Congo e Haiti, e pode abrir caminho para invasões militares, como na Líbia em
2011.
PLEITO BRASILEIRO
Uma das principais bandeiras da política externa brasileira nos últimos anos era justamente a reforma do CS para ampliar o número de
membros permanentes e tornálo "mais legítimo e representativo". Só os membros permanentes têm poder de vetar resoluções do órgão.
O Brasil tem um pleito histórico de ser um membro permanente num CS ampliado, com o argumento de que a mudança refletiria melhor
a atual importância dos países emergentes.
A ausência do Brasil nos assentos rotativos do CS não afeta diretamente esse pleito, mas tampouco ajuda. Se o Brasil não manifesta
nem o interesse por uma vaga temporária, fica difícil levar a sério a pressão por reforma do CS, dizem observadores.
Existe uma possibilidade para o Brasil estar no CS antes de 2033 —algum outro país da América Latina desistir de sua candidatura. Mas
isso teria de ser negociado.
FONTE & INFOGRÁFICO: Folha de São Paulo
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