Por: Redação OD
Além do simples emprego das armas que a Força
Terrestre já possui, o Simulador de Apoio de Fogo pode, em cenário virtual,
contribuir com a Pesquisa Operacional Doutrinária, conferindo caráter científico
e dados fidedignos ante à experimentação de novos procedimentos, equipamentos e
armamentos. Isso ocorre por intermédio das possibilidades multidisciplinares
que a informática oferece, com riqueza de dados e acurada observação, mediante
dispositivos digitais.
Simulação: Custos x Fidelidade dos Dados
Em 2011, o
governo do Reino dos Países Baixos, ou Holanda, cortou de seu orçamento de
defesa € 1.000.000.000,00 (um bilhão de Euros), o que acarretou a redução de
12.000 homens no efetivo de seu Exército, dentre outras medidas de austeridade.
Tanto a participação daquele país na Organização do Tratado do Atlântico Norte
(OTAN) quanto à ingerência política no equilíbrio da verba pública entre os
diversos setores governamentais fez com que a otimização dos recursos
destinados às Forças Armadas recorresse ao um maior emprego de simulação de
combate.
Nesse ínterim, é evidente que o Comando daquele Exército procurou
racionalizar o emprego de seus meios. A simulação e os simuladores puderam,
então, preencher o vazio deixado por essas reduções. Em escala global, o
Exército holandês teve a mesma visão que as Forças Armadas de outras nações: a
simulação deve permitir a economia, o aumento de possibilidades e a redução de
riscos. Existe um enorme ganho com o uso de simuladores, que vai além da mera
economia de recursos.
Alinhado ao pensamento dos holandeses e de outros membros
da OTAN, o Exército Brasileiro (EB) deseja tirar proveito da segurança que lhe
conferem os simuladores, ao testar diferentes usos para armamentos de dotação
ou para novos armamentos a serem adquiridos. Nos idos de 1998, a Marinha dos
EUA aplicou os ensaios virtuais como forma de economia de recursos, de
segurança e de pesquisa operacional, tendo por finalidade testar os mísseis
avançados de médio alcance AIM-120 que, na época, eram o principal armamento do
caça F/A-18 Hornet, daquela Força Armada.
Naquele contexto, inúmeros testes
foram aplicados para conhecer o comportamento balístico e aerodinâmico de
pré-lançamento e de pós-lançamento. Concluiu-se que o custo de voo da aeronave
que utiliza tal míssil seria altíssimo e atenderia tão somente à missão de
disparar um artefato explosivo de características, à época, apenas idealizadas,
configurando alto grau de risco e de desperdício no emprego do avião de caça.
Mediante relatório, constatou-se a importância do emprego dos meios de
simulação, ainda que bem menos sofisticados que os atuais.
Naturalmente, o
custo aumenta conforme se aproxima do uso real, em detrimento da simulação,
corroborando a economia de recursos quanto ao seu uso. Em contrapartida,
pode-se inferir que só se obtém o total realismo a partir do emprego real do
míssil, no voo da aeronave propriamente dita. De acordo com Bruce T. Goodwin,
diretor do Laboratório Nacional Lawrence Livermore, na Califórnia, um
experimento lá conduzido “falhou catastroficamente”, devido ao comportamento
balístico da ogiva em sua trajetória – dado que jamais seria observado em um
teste real de explosão termonuclear subterrânea.
Em1996, em tratado internacional,
ocorreu o término dos ensaios termonucleares subterrâneos nos EUA. Ao lidar com
experiências envolvendo armamento real, vê-se que poucas delas foram bem-sucedidas
quanto ao seu emprego, diverso do originalmente projetado, como no caso do
canhão Flak 88 mm. Originalmente concebido como obuseiro (tiro curvo), foi
empregado pelos nazistas da Legião Condor, na Guerra Civil Espanhola, como arma
de tiro tenso contra veículos inimigos, atingindo grande sucesso.
Note-se que
tal variante não contara com uma ferramenta da simulação e fora adotada de
improviso, no contexto das crescentes e profundas modificações que o emprego
maciço de blindados provocava nas manobras. Tal conflito, considerado “evento
teste” da II Guerra Mundial, validou o Flak como eficientíssima arma anticarro
contra os aliados. Naqueles dias, a simulação, obviamente, não se baseava na
informática, ficando o teste de novas potencialidades do material militar
restrito apenas ao seu emprego real.
Os prós da simulação vêm em momento
pertinente ao cenário atual globalizado, atento ao meio ambiente e à economia
de recursos, bem como à excelência administrativa. Ao contrário dos projetistas
de armas dos idos de 1930, a riqueza de detalhes e o ambiente seguro de se
trabalhar as diversas possibilidades desenvolveram, exponencialmente, a
capacidade de simular para entender, testar e melhorar. Ao voltar nossa atenção
para o projeto “Viatura Blindada de Combate Obus Autopropulsada (VBCOAP) M109
A5+ BR / Sistema Digitalizado de Artilharia de Campanha (SISDAC) ”, percebe-se
que, quando se trata de testar novo armamento, não necessariamente se quer
mencionar apenas o tiro propriamente dito, mas todo o sistema a ele atrelado.
Assim, deve-se considerar não só a trajetória e os efeitos do impacto da
munição, mas todo o instrumental de cálculo de tiro, de geoposicionamento e de
novos componentes, que contrastam com os da versão anterior. Em contrapartida,
apenas os testes de tiro já são um substancial e valioso avanço. Acrescidos de
todo um aparato tecnológico, aumentam muito o ganho em uma relação
custo/benefício. Daí por diante, ao esmiuçar as potencialidades do conjunto que
define o armamento, pode-se experimentar novos usos integrados a outros
sistemas, ou testar possíveis melhorias em equipamentos já existentes.
Pode-se utilizar todo o aparato do Simulador de Apoio
de Fogo para um valioso exercício de análise da conversação rádio entre os
diversos escalões, mediante a apresentação de Problemas Militares Simulados
(PMS). Verifica-se como são formuladas, interpretadas e postas em prática as
Medidas de Coordenação do Espaço Aéreo. É possível, também, inserir o vetor da
observação aérea no contexto do exercício virtual.
Vale salientar que esse
último item estará em condições de ser empregado, em breve, muito embora seu
módulo SARP (Sistema de Aeronave Remotamente Pilotada, mais conhecida por
“VANT” ou drone) seja restrito ao ambiente virtual, constante no software do
Simulador, não havendo equivalente real à disposição, por enquanto. Outro fator
importante é atentar para as possibilidades e anseios da indústria de defesa
nacional nesse quesito.
Segunda tal linha de raciocínio, constata-se que a
AVIBRAS, empresa brasileira produtora dos Lançadores Múltiplos de Foguetes
Astros, oferece uma plataforma de treinamento baseada em simulação virtual,
como complemento ao seu produto principal. Em relação ao sítio da própria
empresa, seus simuladores contam com software dedicado e controles reais, o que
lhes confere integração instrutor/aluno, sistema de avaliação com pontuação,
emissão de relatórios, treinamento apropriado dos operadores do sistema real
(sem que haja desgaste do material verdadeiro), enfim: tudo aquilo que já fora
comentado e que é o trivial em qualquer tipo de simulação.
Outras indústrias de
armamento também se valem de simuladores quando em estudo de seus protótipos,
mas não se trata de sérios games com cenários virtuais, como se pode imaginar,
mas sim de simuladores de variáveis matemáticas, muito úteis no entendimento da
forma e da composição físico-química dos produtos. O SIMAF foi projetado, de
início, para armamentos coletivos de dotação do EB. Seus simuladores, contudo,
podem ser ligeiramente ajustados a novos calibres, dependendo de novas
adaptações e de outras características do que se quer testar.
A aplicabilidade
da Simulação Virtual, nos mais diversos exercícios passíveis de se adestrar o
Apoio de Fogo, pode ser de grande valia quanto à experimentação não só de novos
armamentos, mas também dos mais diversos procedimentos correlatos, além de
aplicações consagradas em armamentos novos ou aplicações não triviais em armas
de uso corrente.
Conclusão
A importância da
simulação é cada vez mais exaltada e aumenta progressivamente em diversas
searas da atividade humana, muito embora seu uso não substitua ou torne menos
importante a aplicação real daquilo que se simula. O ambiente virtual
acrescenta dados valiosos ao entendimento multidisciplinar de variantes
dificilmente observáveis no uso real, muito embora seja válido ressaltar que a
simulação não é um fim em si mesma, mas um meio para se alcançar objetivos
finalísticos, como o adequado adestramento da tropa, a conclusão do projeto de
um novo armamento e assim por diante.
Do estudo dos fragmentos do projétil, do
raio de letalidade e da trajetória de um artefato explosivo até o Comando e
Controle da tropa que o opera, muitos aspectos podem ser simulados em prol do
adestramento ou de um teste. Desde o uso alternativo e improvisado de um
armamento, como no caso do canhão Flak 88, até as impactantes vantagens
ambientais, financeiras e de segurança, como no caso de um artefato com alto
poder de destruição, tudo é abarcado pela simulação (foguetes de saturação de
área, munições incendiárias, dentre outros).
Inteiramente embasados na doutrina
vigente e atentos aos demais fatores que norteiam a Pesquisa Operacional, os
testes de novos armamentos se deparam com a oportunidade de fazer parte desse
mundo de possibilidades oferecidas pelo ambiente virtual, sendo o Simulador de
Apoio de Fogo muito propício para esse fim. Assim como no Exército Real
Holandês, o corte orçamentário e a necessidade de modernização de uma Força
Armada devem ser encarados como oportunidades de melhoria, de refinamento da
metodologia e de otimização de recursos e de pessoal; tudo através do amplo
emprego da tecnologia. Se for verdade o dito popular: “ter a ferramenta certa
já resolve metade da tarefa”, então, mãos à obra!
FONTE: Revista Verde Oliva
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