sexta-feira, 17 de junho de 2016

Conscientizando contra o terrorismo


Por: VINICIUS DOMINGUES CAVALCANTE

Os Jogos Olímpicos de 2016 irão acontecer no Rio de Janeiro entre 5 e 21 de agosto de 2016, reunindo 10.500 atletas de 206 países. Já as Paraolimpíadas realizar-se-ão de 7 a 18 de setembro, com 4.350 atletas de 179 países. Embora sendo um país pacífico, o Brasil não está a salvo da ocorrência de atos terroristas. A circulação na internet de uma gravação feita por um suposto membro do Estado Islâmico, colocando o país como possível alvo das ações do grupo, causou enorme preocupação. Da noite para o dia, as pessoas começaram a se questionar acerca de nossas vulnerabilidades frente aos riscos de uma ação desse tipo... Melhor assim: antes tarde do que nunca!

Em geral, as pessoas não associam muitas das ações da criminalidade organizada com o modus operandi terrorista, nem tomam conhecimento de uma série de ações delitivas que acontecem todos os dias. Por isso, um expressivo contingente da opinião pública acredita que estejamos completamente a salvo de atentados, e que tais ocorrências “só acontecem em outros países”. A conscientização da população é civil é extremamente importante, tanto para sua proteção quanto para que os indivíduos, alertas quanto à maneira de agir dos terroristas, possam detectar e reportar quaisquer indícios de suspeição, permitindo uma reação mais efetiva das forças de segurança. Nesse aspecto, estamos muito atrás de países como Israel, Grã-Bretanha, Espanha ou Estados Unidos, em que os cidadãos são sistematicamente concitados a colaborar com as forças de segurança.


Cidadãos conscientizados e treinados se tornam sensores capazes de multiplicar a capacidade de detecção da inteligência voltada para o antiterrorismo. Em nosso país, a criminalidade dispõe de imensa quantidade de explosivos comerciais e armamentos militares e os emprega cotidianamente com táticas de guerrilha contra as forças de segurança; o policiamento das fronteiras é pouco mais do que simbólico; e a necessidade de vistos para os visitantes às vésperas das Olimpíadas foi liberada. Esses fatores mostram que, aqui, terroristas internacionais não teriam dificuldade de contrabandear ou adquirir todos os meios de que necessitam para a execução de um atentado. Nossa população, há muito tempo, já deveria estar sendo instruída sobre o papel que lhe cabe. No intuito de instrumentalizar as pessoas em face do terrorismo, preparamos uma série de comentários que poderão ser úteis para que se atinja um maior grau de conscientização com respeito a essa ameaça. 

1) O que é o terrorismo? Ele pode ser explicado como o uso ilegal da força ou violência contra pessoas ou propriedades para intimidar ou coagir um governo, uma população civil ou um segmento dessa população, em apoio a objetivos políticos, sociais ou religiosos da pessoa ou do grupo que dele lança mão.

2) Como identificar um terrorista? A história nos traz exemplos de terroristas das mais diversas classes sociais, grupos étnicos, culturas e religiões, e não devemos nos deixar levar por estereótipos ou preconceitos. Terroristas são pessoas para quem os objetivos a serem alcançados justificam o emprego de quaisquer meios, independentemente do quão covardes ou violentos eles possam ser.


3) Como diferenciar terrorismo de crime comum? No terrorismo, os sequestros, assassinatos, danos ao patrimônio e desmoralizações são empregados segundo a metodologia de “agir contra um e intimidar (ou aterrorizar) o maior número possível de pessoas” .

4) Como agem os terroristas? A maneira de agir dos terroristas é por vezes copiada por outros agentes, como o crime organizado, indivíduos desequilibrados e até por movimentos reivindicatórios de caráter declaradamente social.

5) Quais são os alvos mais visados? Terroristas procuram alvos de grande visibilidade, que eles preferencialmente possam atacar sem serem previamente detectados: aeroportos, estações rodoviárias, ferroviárias, de barcas, metrôs, shopping centers, eventos com grande concentração de público, hotéis, pontos turísticos, etc. Também costumam agir contra a infraestrutura, atacando instalações de geração e distribuição de energia, estações de tratamento e rede de água, estações de bombeamento de gás, gasodutos etc. Locais abertos, facilmente acessíveis ao público e onde não haja revista rigorosa, são bastante apreciados como alvos para terroristas.


6) Que armas os terroristas utilizam? Modernamente, terroristas vêm empregando largamente armas de fogo, em locais em que a segurança seja deficiente e onde não haja risco de revide por parte de agentes ou de cidadãos armados. Também fazem uso de artefatos explosivos, venenos, substâncias radioativas, etc.

7) Como lidar com um evento terrorista? A melhor maneira é tentar preveni-lo antes que ele ocorra. As pessoas precisam estar atentas ao que está acontecendo à sua volta, buscando detectar eventuais sinais da preparação de um ataque, antes dele ocorrer. Antes de atacar, terroristas podem buscar informações sobre seus alvos e sua segurança, e isso eventualmente pode despertar a suspeita de pessoas atentas. Eles precisam vigiar os alvos para saber sobre suas rotinas, a segurança que os cerca e até para poder definir o melhor momento para o ataque.

8) Desconfie sempre! Pessoas estranhas observando, pedintes, camelôs, motociclistas parados, tudo que não “pertença” ao local ou que dê a impressão de que não seja próprio do ambiente deve despertar desconfiança. Pessoas gravando imagens, fotografando detalhes de segurança, fazendo anotações, observando e falando ao telefone, ou usando binóculos próximos a locais que sejam alvos potenciais de terrorismo, devem provocar desconfiança. Senão, vejamos: - qualquer tentativa de testar ou burlar sistemas de segurança existentes deve ser motivo de desconfiança, mesmo quando perpetrada por pessoas aparentemente inocentes e/ou insuspeitas. Terroristas podem empregar idosos, crianças, mulheres bonitas, deficientes físicos... e o fazem, sempre que for de seu interesse; - suspeite de pessoas que estejam estocando significativas quantidades de produtos inflamáveis, combustíveis, fertilizantes ou produtos químicos como ácidos, acetona, pólvora, clorato de potássio, etc.; - desconfie de pessoas com roupas destoantes com o nosso clima, como jaquetões e casacos compridos ou grandes bolsas, que possam ajudar a esconder armas de fogo como fuzis, espingardas e submetralhadoras. Mochilas mantidas para frente do corpo podem ajudar a dissimular armas e permitir seu saque rápido; - veículos que não são do local, com pessoas igualmente estranhas, podem e devem levantar suspeitas. Procure se fixar nas fisionomias, procure associá-las a pessoas conhecidas, pois isso vai ajudar na identificação ou na eventual confecção de retratos falados.


9) Mantenha listagens atualizadas com os telefones do Batalhão da Polícia Militar e da Delegacia de Polícia Civil responsáveis pela área, do Esquadrão Antibombas da Polícia local, e comunique de imediato qualquer anormalidade.

10) No caso de ataques com armas de fogo, busque fugir do local dos disparos ou, caso não seja possível, esconda-se dos atiradores.

11) As bombas são um instrumento muito empregado por terroristas. Elas podem ser colocadas em locais de grande movimentação de público (como saguões, corredores, calçadões), bem como ser instaladas em locais estratégicos, como transformadores, geradores ou estações de controle de energia, próximo a estoques de gás ou combustíveis, painéis de controle, salas de máquinas, e praticamente qualquer lugar onde sua detonação puder ampliar danos ou mortes. Embora possa ser camuflada, normalmente uma bomba será um objeto suspeito, que aparentemente destoe na paisagem de um referido local. Na maioria dos casos, será uma caixa, pacote, mala, mochila ou saco “inocentes”, aparentemente esquecidos no local. Como não se pode saber se se trata realmente de uma bomba ou (no caso de ser mesmo um artefato explosivo) como seu mecanismo funciona, caso se depare com algum objeto dessa natureza ele não deverá ser manuseado, as pessoas deverão ser mantidas à distância em toda área circunvizinha e a polícia deverá ser imediatamente acionada.


12) Há algo mais que possa ser feito? Sim. Em caso de suspeita, busque discretamente filmar ou fotografar as pessoas, veículos e suas placas, etc. Todas as informações sobre os suspeitos serão importantíssimas. Contudo, não as compartilhe de imediato nas redes sociais. Você não tem certeza nem controle acerca de quem vai ver o conteúdo postado, que se espalhará rapidamente. Sua postagem pode, inclusive, servir de alerta ao terrorista de que ele foi descoberto. Por isso, encaminhe o material para as autoridades de segurança pública.


Ninguém pode garantir que o terrorismo que hoje inquieta as pessoas na Europa, no Oriente Médio e no Norte da África não venha a nos acometer aqui. Uma máxima do velho estrategista Sun Tzu, escrita há mais de 2.500 anos, já apregoava que a Arte da Guerra ensina a não confiar na probabilidade de o inimigo não vir, mas na capacidade de dissuadi-lo, enfrentá-lo e de nele infringir as mais pesadas baixas. O General chinês alertava para não depositar confiança na probabilidade do inimigo não atacar, mas, em vez disso, que dispendessemos o melhor de nossos esforços reforçando nossa posição a fim de torná-la o mais invulnerável possível às suas investidas. Na luta contra o terrorismo, não podemos ser fortes sem o concurso do apoio de cidadãos conscientes, motivados e alertas; e estejamos certos de que todos os recursos que empregamos para fortalecer a população contra o terrorismo, a tornam muito mais capacitada para prevenir e resistir à violência da nossa criminalidade.

FONTE: Revista Segurança & Defesa


VINICIUS DOMINGUES CAVALCANTE, o autor, é profissional de segurança desde 1985. Atua como Consultor em segurança nas áreas de planejamento e normatização, inteligência, segurança pessoal e treinamento. Foi um dos profissionais internacionalmente certificados pela American Society for Industrial Security (www.asisonline.org) no Brasil, sendo certificado em 2004. Diretor Regional da Associação Brasileira de Profissionais de Segurança (www.abseg.com.br) no Rio de Janeiro, é membro do Conselho de Segurança da Associação Comercial do Rio de Janeiro.

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