Por: Leo Machado Botelho e Denis Batista Gauto Storti
Antes mesmo de falar da VBTP M113
(Viatura Blindada de Transporte de Pessoal) e sua evolução no EB (Exército Brasileiro),
cabe recordar como a viatura foi implantada na tropa blindada. No ínicio da
década de 50, o Brasil estabeleceu um acordo militar com os EUA, onde o
Exército Brasileiro fez a aquisição de 584 unidades do M113, as quais foram
efetivamente utilizadas em 1972, ainda na versão a gasolina. Com a portaria
045–Res de 22 de dezembro de 1971, houve a transformação das Organizações
Militar de Infantaria, denominadas BCCL (Batalhão de Carros de Combate Leve) em
BIB (Batalhão de Infantaria Blindado), que receberam assim as primeiras VBTP
M113 para transporte de fuzileiros. Após uma década de utilização na versão a
gasolina, houve necessidade de modernização, pelo alto consumo e preço do
combustível a época.
A empresa Motopeças Transmissões S.A, de
Sorocaba-SP, foi a responsável pela tarefa. Suas principais modificações
consistiram na troca do motor a gasolina por outro a diesel Mercedes–Benz de
172 HP e na colocação de uma torreta¹ que o diferencia das demais VBTP M113
usadas no mundo, recebendo assim o nome de VBTP M113B. O Exército Brasileiro,
por conta dos conflitos que ora se sucediam mundo afora (Iraque, Afeganistão,
Somália, entre outros), passou a integrar suas frações em FT (Forçastarefa),
isto é, um combinado de CC (Carros de Combate) e Fz Bld (Fuzileiro Blindado) e
demais armas de apoio, resultando assim em uma maior eficiência no emprego da
tropa blindada. Com a chegada do Carro de Combate Leopard 1A5 nos RCC
(Regimento de Carros de Combate) verificou-se que as viaturas que transportavam
os fuzileiros numa FT, isto é, a VBTP M113B, não acompanhavam os Leopard,
perdendo assim os fuzileiros parte de sua mobilidade na FT.
Após vários projetos de
repotencialização e através de diversos protótipos, finalmente em 2012
chegou-se a um resultado positivo. O Brasil, por intermédio do Pq R Mnt/5
(Parque Regional de Manutenção/5), com sede em Curitiba-PR, e em parceria com a
empresa norte americana BAE Systems, iniciou o trabalho de modernização da VBTP
M113B. Nos anos de 2012 e 2013, com o apoio do CAEx (Centro de Avaliação de
Exército), o Pq R Mnt/5 testou e aprovou a nova versão da VBTP M113, que
recebeu a denominação M113BR. Foram realizadas alterações significativas na
viatura, entre elas o conjunto de força que recebeu um motor Detroit Diesel
6V53T com 265 HP e a caixa de mudança TX 100-1A Allison, oferecendo assim maior
potência. Essas mudanças trouxeram consequências ao veículo, principalmente
para a suspensão e o trem de rolamento.
Devido a sobrecarga de peso do novo
conjunto de força, foram acrescentados à suspensão dois amortecedores, um de
cada lado; a polia tensora foi suspensa, mudando a tensão da lagarta² de 6 mm
para uma medida entre 19 mm à 28,5 mm. O conjunto de lagarta por sua vez
manteve o modelo T 130 de patins metálicos com buchas elásticas, almofadas
fixas e amovíveis ligadas entre si por pinos sextavados. Em 2014, o Pq R Mnt/5
com o apoio do 20° Batalhão de Infantaria Blindado, realizou uma experimentação
logística com lagartas de borrachas “Band Track”, fornecidas pela empresa
canadense Soucy International Inc. Os testes realizados tiveram como objetivo
verificar a eficiência dos seguintes itens: dirigibilidade em QT (qualquer
terreno), operacionalidade (inserindo a viatura em uma situação tática na FT) e
navegabilidade (flutuação e navegação).
Os resultados foram positivamente
surpreendentes. Destacaram-se o baixo ruído e menor trepidação, e a boa
dirigibilidade sobre o piso asfáltico ou terreno seco. Entretanto, observou-se
o decréscimo no desempenho em terreno escorregadio e dificuldade na navegabilidade
em transposição de curso d'água. Acrescentou-se à VBTP M113BR um novo sistema
de freio a disco. Ele é acionado manualmente, por alavancas que possibilitam a
realização de movimentos de pivoteamento³, facilitando principalmente a
navegabilidade em transposições de curso d'água. Além dessas mudanças,
destacam-se: reservatório de combustível com maior capacidade, cerca de 40
litros a mais; painel de instrumentos mais simples e eficiente; a substituição
do alternador de 80 para 200 amperes, possibilitando assim a instalação de
aparelhos optrônicos(4) e sistema de comunicação mais moderno (Rádio Falcon III).
Apesar de dispor da VBTP M113
modernizada como parte de sua frota blindada, o emprego tático em nossa
doutrina difere significativamente dos demais países. Lá, o M113 é empregado na
logística, no transporte de suprimentos e não mais na linha de frente.
Atualmente, as VBCI (Viatura Blindada de Combate de Infantaria) são as
utilizadas nas FT, pelo fato de serem equipadas com canhão de médio calibre, blindagem
mais eficiente e espaço para transporte de fuzileiros. Para que o Brasil siga a
tendência mundial e empregue de maneira mais eficaz o VBTP M113 é
imprescindível que se faça uma revisão do emprego tático dessa viatura para que
se tenha um melhor desempenho nas forças tarefas blindadas nacionais.
ORGULHO DE SER SARGENTO !
AÇO, BOINA PRETA, BRASIL!
Notas: 1-tipo de plataforma com relativa proteção blindada e capacidade de
rotação, equipada com metralhadoras ou canhões. 2- consiste numa esteira que se
acopla às rodas de certos veículos terrestres com a finalidade de lhes aumentar
a aderência ao solo e distribuir o peso uniformemente sobre uma área de
superfície maior do que rodas convencionais. 3- manobra na qual uma das
lagartas é totalmente travada para que o carro faça uma curva sobre seu eixo.
4- câmeras e sensores digitais com capacidade para detectar e identificar
objetos a grandes distâncias, seja de dia ou de noite.
Nota da Redação: Os Autores do artigo, Leo Machado Botelho é Sub Tenente do Exército Brasileiro e Adjunto de Comando do CI Bld e Denis Batista Gauto Storti é 1º Sargento do Exército Brasileiro e Monitor da Seção de Ensino e Operação de
Blindados do CI Bld, contaram com a revisão e aprovação deste artigo do Srº Ádamo Luiz Colombo da
Silveira, Tenente Coronel da Arma de Cavalaria, Comandante do CI Bld
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