Por: Redação OD
As Forças Armadas da Venezuela concluíram no último sábado
dia 21, dois dias de exercícios militares "Independência II 2016",
insistindo no treinamento de civis para garantir a ordem interna e a defesa do
país, em meio ao estado de exceção decretado pelo presidente Nicolás Maduro. Os
militares se mobilizaram em sete dos principais estados do país, situados na
zona norte costeira. Lá, foram realizados testes de defesa diante do suposto
desembarque de tropas inimigas e de ataques a instalações de distribuição do
sistema elétrico. O governo anunciou ter mobilizado 520.000 combatentes entre
tropas militares e milícias civis treinadas.
Na tarde deste sábado, Maduro
garantiu que as forças militares estão prontas "para processos internos de
comoção, de desestabilização", ressaltando que, "para isso, estão as
Redis e Zodis", distritos de operações militares em todo o país. As milícias tiveram participação ativa no manejo e
disparo de unidades de defesa antiaérea lança-foguetes, segundo imagens
exibidas pelo canal de televisão estatal VTV. Também foram treinados estudantes
universitários armados com fuzis, a maioria com até 25 anos, em matas nos
arredores de Caracas. Sobre a participação dos civis como milícia, o ministro
da Defesa e chefe do Comando Estratégico Operacional, Vladimir Padrino,
garantiu que "o povo também está participando do que chamamos de órgãos de
direção de defesa integral", para se envolver em "tarefas de luta não
armada".
Guerra de resistência
Os diferentes comandantes nos exercícios mencionaram a
"guerra de resistência", ou guerra não convencional como um
elemento-chave na defesa do país. A guerra de guerrilhas contra o principal
oponente do chavismo, os Estados Unidos, surge como a estratégia a ser adotada
diante da invasão de um inimigo externo, ou como uma opção de batalha frente a
um inimigo interno. A polêmica sobre essa demonstração da
"envergadura" militar do governo de Maduro foi mais uma vez usada
pela oposição, que considerou que o decreto de estado de exceção, em vigor
desde a semana passada, é "inconstitucional" e um passo a mais na
direção de uma "ditadura". Componente militar criado pelo falecido
presidente Hugo Chávez (1999-2013), a Milícia Bolivariana foi um corpo
criticado pela oposição, que adverte que está formado ideologicamente em favor
de um setor político em um país altamente polarizado na política.
Neste sábado, o ministro Padrino esclareceu que
"não há com que se preocupar, não é preciso lançar alarmes, nem nada. As
Forças Armadas têm o controle das armas, mas o conceito de defesa nacional está
na união cívico-militar". Em Charallave, localidade a 45 minutos de
Caracas, ao sul, no estado de Miranda, 14 adidos militares de vários países -
entre eles Argentina, Alemanha, Espanha, França, Trinidad e Tobago, Peru e
México - observaram o desempenho no terreno de unidades de defesa antiaérea de
fabricação russa, operadas tanto por tropas do Exército venezuelano quanto por
alguns membros da milícia. O sistema de mísseis terra-ar BUK-M2E, o
lança-mísseis portátil 9K338 Igla-S, ou o canhão automático antiaéreo ZU-23-2M
foram mobilizados em um exercício de defesa contra algum ataque aéreo a uma
estação de distribuição elétrica na região central.
Um breve exercício de cerca de cinco minutos demonstrou
uma "emboscada integral", na qual o sistema BUK, mobilizado em
caminhões, preparava-se para atacar alvos aéreos, enquanto tropas camufladas no
mato operavam o canhão antiaéreo e o lança-mísseis portátil, dando fogo de
cobertura. Falando de um dos treinamentos no Litoral Central venezuelano,
Maduro alegou que as manobras defendem "o povo da Venezuela e seu direito
à independência". Afirmou ainda que o único caminho é "o do projeto
de Simón Bolivar, o de Hugo Chávez". Ao anunciar os treinos militares,
Maduro garantiu que não vacilará em decretar a "comoção interior" -
que implicaria restrições às liberdades civis -, se episódios "golpistas
violentos" forem registrados. Alguns analistas consideram que as operações
militares são uma maneira de infundir medo na população, em um contexto já
sensibilizado por uma grave crise econômica e política.
FONTE: AFP
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