Por: Luiz Eduardo Rocha Paiva
Em
2005, a Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME)
completou um século de existência. Na época, eu a comandava e
propus, ao Comandante do Exército, que ela recebesse a denominação
histórica de "Escola Marechal Castello Branco". Para
respaldar a proposta, elaborou-se um documento, no qual foram
ressaltadas as qualidades morais, éticas e profissionais do cidadão,
chefe militar e estadista, bem como sua forte relação com a Escola.
O texto, a seguir, tem o citado documento institucional como fonte,
não havendo, portanto, autor específico.
Castello
Branco – O homem
Nasceu
em Messejana (CE), em 20 de setembro de 1900, filho do Capitão
Cândido Borges Castello Branco (mais tarde, General de Brigada) e de
Antonieta Alencar, descendente do escritor José de Alencar. Foi
educado segundo sólidos princípios e valores morais e éticos, que
forjaram caráter íntegro e firme. Esse atributo, a invulgar
inteligência, o raciocínio ágil e lúcido e a diferenciada visão
estratégica alicerçaram o respeito e a admiração dos que com ele
conviveram ou daqueles que estiveram sob sua liderança, no meio
civil e na carreira das armas. Em
1922, casou-se com Argentina Viana, de tradicional família mineira,
com quem teve dois filhos - Antonieta e Paulo. Um ano antes de
assumir a Presidência da República, quando comandava o IV Exército
em Recife (PE), sua esposa faleceu.
Castello
Branco – O chefe militar
Foi
declarado oficial de Infantaria em 1921 e, desde cedo, segundo o
General Octávio Costa, "firmou-se frente aos subordinados pelos
valores morais, capacidade intelectual, tenacidade, dedicação
integral à missão e competência profissional". Teve longa
passagem na Escola Militar do Realengo, formando os cadetes. A
primeira vez, na função de instrutor; na segunda, comandando o
Curso de Infantaria.
A
participação de Castello Branco na Força Expedicionária
Brasileira (FEB), desempenhando a função de E3 da 1ª Divisão de
Infantaria Expedicionária, consolidou sua ascendente trajetória
profissional. Na Itália, sob pressão extrema, manteve estabilidade
emocional e planejou, com habilidade, as grandes vitórias da FEB nos
Montes Apeninos e no Vale do Rio Pó. Assim, consolidou seu já
elevado conceito entre subordinados, companheiros e chefes militares,
brasileiros e estrangeiros.
Foi
instrutor, diretor de ensino e comandante da ECEME, conduzindo a
elaboração do Manual de Estado-Maior e Ordens e do Regulamento de
Operações; e a atualização do Método de Trabalho de Comando.
Orientou a evolução da doutrina de concepção francesa, da 1ª
Grande Guerra para a norte-americana, emergida nos anos 1940. Teve o
mérito de adaptar essa última às características e aos desafios
futuros do Exército Brasileiro. Cultuava
a tradição, mas suas palavras mostram que sabia distingui-la de
rotina: "A rotina é a tradição corrompida, deturpada e morta,
ao passo que a tradição é a conservação do passado vivo. É a
luta contra a morte do passado. É a entrega, a uma geração, dos
frutos da geração passada. Separar o que merece durar. Deixar sair
o que merece perecer".
Castello
Branco – O estadista
No
cenário conturbado que levou ao vitorioso Movimento Civil-Militar de
31 de Março de 1964, foi o líder naturalmente escolhido pelos pares
e acolhido, no nível político, para conduzir os destinos do País,
ao ser eleito presidente pelo Congresso Nacional, mantido aberto pelo
Comando Revolucionário. Sua atuação na Presidência da República
estabeleceu as bases para o extraordinário desenvolvimento que
elevou o Brasil, nos anos seguintes, da 48ª para a 8ª economia
mundial. Por outro lado, foi exemplo do que deve ser o caráter de
todos os que ascendem à liderança em qualquer instituição ou
nação. Seu
discurso de despedida da Presidência da República revela um
verdadeiro estadista:
"Não quis nem usei o poder
como instrumento de prepotência. Não quis nem usei o poder para a
glória pessoal ou a vaidade dos fáceis aplausos. Dele nunca me
servi. Usei-o, sim, para salvar as instituições, defender o
princípio da autoridade, extinguir privilégios, corrigir as
vacilações do passado e plantar com paciência as sementes que
farão a grandeza do futuro [...]. E se não me foi penoso fazê-lo,
pois jamais é penoso cumprirmos o nosso dever, a verdade é que
nunca faltaram os que insistem em preferir sacrificar a segurança do
futuro em troca de efêmeras vantagens do presente, bem como os que
põem as ambições pessoais acima dos interesses da Pátria. De uns
e outros desejo esquecer-me, pois a única lembrança que conservarei
para sempre é a do extraordinário povo, que na sua generosidade e
no seu patriotismo, compreensivo face aos sacrifícios e forte nos
sofrimentos, ajudou-me a trabalhar com lealdade e com honra para que
o Brasil não demore a ser a grande nação almejada por todos nós."
Este
é um pequeno resumo do que foi Castello Branco - o homem, o chefe
militar e o estadista. Que falta faz um cidadão desse
naipe na liderança política, nesse cenário conturbado e ameaçador
como o vivido no Brasil de hoje!
Fonte: E-Blog, via Agência Verde Oliva
Nota da Redação: O autor do texto, o Exmo Srº General
- de -Brigada (R/1) Luiz Eduardo Rocha Paiva, Aspirante a Oficial da Arma
de Infantaria em 15/ 12/ 1973, na Academia Militar das Agulhas Negras
e promovido a General-de-Brigada em 31/ 03/ 2003. Passou à reserva
remunerada em 31/ 07/ 2007, quando era Secretário-Geral do
Exército. Possui doutorado em Aplicações, Planejamento e
Estudos Militares na Escola de Comando e Estado–Maior do Exército
(ECEME – RJ) – 1988/1989. Mestrado em Aplicações Militares na
Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais (ESAO – RJ) – 1982; Pós
Graduação Lato Sensu em Política, Estratégia e Alta Administração
Militar – Especialização, com ênfase em Estratégia, na ECEME –
RJ – 2000; Pós Graduação Lato Sensu MBA Executivo do Exército
Brasileiro – Especialização, na FGV – RJ – 2000; Graduação
em Aplicações Militares na Academia Militar das Agulhas Negras
(AMAN –RJ) – 1970/1973; estagiou na 101ª Air Assault Division,
do Exército dos EUA, onde fez o curso de operações aeromóveis na
Air Assault School; foi Observador Militar das Nações Unidas em El
Salvador – América Central e fez o Curso de Estado-Maior na Escola
Superior de Guerra do Exército Argentino.
Comandou o 5º Batalhão
de Infantaria Leve (Regimento Itororó), em Lorena – SP, quando
cumpriu missão de pacificação em conflito entre o MST e
fazendeiros no sul do Pará, em 1998. Como oficial-general foi Chefe
da Assessoria Especial do Gabinete do Comandante do Exército,
encarregada de implantar o Programa Excelência Gerencial do
Exército, comandou a Escola de Comando e Estado - Maior do Exército
e foi Secretário -Geral do Exército. É Professor Emérito da
Escola de Comando e Estado - Maior do Exército, membro da Academia
de História Militar Terrestre do Brasil e colaborador do Centro de
Estudos Estratégicos do Exército. Recebeu diversas condecorações
e medalhas nacionais e estrangeiras e tem publicado artigos sobre
temas políticos e estratégicos, em jornais e revistas nacionais e
estrangeiras, desde que passou para a reserva em 2007.
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