sábado, 3 de junho de 2017

O Centro de Instrução de Blindados e a Simulação Virtual Tática com o Virtual Battlespace 3 (VBS3)


Por: Rangel Panichi Flores

Antes da abordagem sobre o software de simulação Virtual Battlespace 3 (VBS3), é importante que alguns conceitos sobre o universo da simulação militar sejam bem compreendidos, como o de Simulação Militar, Simulação Virtual e Simulador Virtual Tático. Conforme apresentado no Caderno de Instrução de Simulação Virtual, elaborado pelo Centro de Instrução de Blindados (CI Bld), ainda em fase de aprovação, a Simulação Militar é a reprodução de aspectos específicos de uma atividade militar ou da operação de algum material de emprego militar, onde se emprega um conjunto de equipamentos, softwares e infraestruturas.

A simulação militar pode ser conduzida em três modalidades: viva, virtual e construtiva. O CI Bld emprega a simulação viva e virtual. A simulação virtual, por sua vez, é a modalidade na qual o homem opera sistemas simulados ou gerados em computador. Nesta modalidade, a utilização dos simuladores imita a operação de sistemas de armas, veículos, aeronaves ou até mesmo o ser humano, cuja a operação exija um elevado grau de adestramento ou que envolva riscos ou custos elevados. Sua principal aplicação é no desenvolvimento de habilidades e capacidades individuais, assim como no adestramento de guarnições e pequenas frações, permitindo explorar os limites do operador e do equipamento, sem riscos e com baixo custo.


Além destes equipamentos, que simulam procedimentos em veículos, aeronaves, etc, existem os Simuladores Virtuais Táticos (SVT). Como o próprio nome diz, estes simuladores são focados nas ações táticas das frações, e no CI Bld se mostram bastante eficazes nos níveis Pelotão e Subunidade. Os SVT nada mais são do que softwares profissionais que, instalados em computadores comerciais, possibilitam o treinamento tático em diversos escalões. Dentre estes softwares está o VBS3, desenvolvido pela empresa multinacional Bohemia Interactive Simulations, que também é utilizado pela Seção de Simuladores do Centro.

Por ter a arquitetura aberta, o VBS3 é praticamente todo customizável e se destaca pela ampla flexibilidade para montagem dos cenários de simulação que podem, inclusive, ser alterados durante a execução do exercício. Por exemplo, o administrador pode inserir soldados inimigos e ajustar o seu nível de adestramento, experiência, liderança, características físicas, psicológicas e condições de saúde, durante o combate. Da mesma forma, quando uma viatura é adicionada ao cenário, pode-se configurar o comportamento dos integrantes de sua guarnição, o nível de combustível, munição, inserir danos nos trens de rolamento, chassi, motor e armamentos.


É possível, ainda, alterar o terreno, inserir obstáculos, edificações, campos de mina, população civil, animais, fontes de luz, de som, fogos indiretos e muitos outros recursos. Uma das principais características do VBS3 é o treinamento em primeira pessoa, no qual o instruendo incorpora em seu personagem no exercício, tendo a visão dos olhos do personagem. Dessa forma é possível treinar o indivíduo, pois o administrador pode personalizá-lo de acordo com a realidade, ajustando sua altura, peso, armamento, munição e equipamento, se mostrando muito interessante para o adestramento de tropas de Infantaria.

Em 2016, no CI Bld, foi utilizado o VBS, na sua versão 3.4, no Estágio Tático de Infantaria Mecanizada e, apesar de algumas limitações, mostrou-se bastante eficaz. Para o Estágio, uma Companhia de Fuzileiros Mecanizada foi criada conforme prevista nos documentos que regulam seu efetivo, armamento, munição e equipamento, desde o Comandante da Subunidade até os soldados dos Grupos de Combate. Além da tropa amiga, foi criada também a tropa inimiga, constituída de um Regimento de Infantaria Mecanizado completo. Durante a montagem dos cenários virtuais e a execução dos exercícios, foram observadas três limitações importantes.

Virtual Battlespace (VBS) utilizado no Centro de Instrução de Blindados

No VBS3, não há a VBTPMR 6x6 Guarani, o que fez com que o administrador improvisasse a viatura LAV III 8x8, que possui características semelhantes às da viatura brasileira. Ademais, um recurso que ficou aquém do ideal foi a ferramenta de elaboração de calcos e medidas de coordenação e controle (Mdd C2). Os símbolos e ícones existentes no programa são os padronizados pela OTAN e as ferramentas de desenho de linhas e edição de textos são bastante limitadas.

Soma-se a estas limitações as características do recurso Minimapa, pois a VBTP-MR 6x6 Guarani possui o Gerenciador de Campo de Batalha (GCB) que, de forma geral, possibilita ao operador a visualização das Mdd C2 estabelecidas e da localização georreferenciada, em tempo real, da sua viatura e da sua fração. Por vez, o recurso Minimapa do VBS3 nada mais é do que um pequeno mapa localizado no canto inferior esquerdo da tela do usuário, que pode simular o GCB, porém, neste recurso, além da apresentação das Mdd C2 e da localização da tropa amiga, também é mostrada a localização em tempo real da tropa inimiga, o que interfere diretamente na execução do exercício, pois o instruendo pode visualizar o inimigo com antecedência e executar as ações táticas necessárias.


Muito raramente esta visualização antecipada, em tempo real, do inimigo ocorreria em uma situação de combate real. Apesar disso, esses problemas podem ser minimizados, por exemplo, pela aquisição da modelagem 3D da VBTP Guarani e atualização para uma versão mais recente do VBS. Portanto, a escolha do programa de Simulação Virtual Tática que foi utilizado no Estágio Tático de Infantaria Mecanizada foi fundamental, pois buscou-se sempre a coerência entre os objetivos a serem atingidos, a natureza da tropa executante, as possibilidades e limitações do software e dos computadores empregados.

Neste contexto, pode-se concluir que, embora tenha apresentado algumas limitações, o VBS3.4 atendeu as necessidades da tropa de Infantaria Mecanizada, podendo ser também utilizado com sucesso nas instruções e no adestramento de tropas de Infantaria Blindada e Cavalaria Mecanizada. O CI Bld está comprometido em criar as melhores condições para que seus instruendos tenham conhecimento e competência para o melhor uso dos atuais Meios de Emprego Militar.


ORGULHO DE SER SARGENTO ! AÇO, BOINA PRETA, BRASIL! 

FONTE: Centro de Instrução de Blindados

Nota da Redação: o Autor, Srº Rangel Panichi Flores é 2º Sgt da Turma de 2001 e Monitor da Seção de Ensino de Operação de Blindados do CI Bld Leo Machado Botelho. Contou com o apoio do S Ten Adjunto de Comando do CI Bld, tendo seu artigo aprovado pelo Cel Ádamo Luiz Colombo da Silveira Cmt CI Bld

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