Por: Rangel Panichi Flores
Antes da abordagem sobre o software de simulação Virtual
Battlespace 3 (VBS3), é importante que alguns conceitos sobre o universo da
simulação militar sejam bem compreendidos, como o de Simulação Militar,
Simulação Virtual e Simulador Virtual Tático. Conforme apresentado no Caderno
de Instrução de Simulação Virtual, elaborado pelo Centro de Instrução de
Blindados (CI Bld), ainda em fase de aprovação, a Simulação Militar é a
reprodução de aspectos específicos de uma atividade militar ou da operação de algum
material de emprego militar, onde se emprega um conjunto de equipamentos,
softwares e infraestruturas.
A simulação militar pode ser conduzida em três modalidades:
viva, virtual e construtiva. O CI Bld emprega a simulação viva e virtual. A
simulação virtual, por sua vez, é a modalidade na qual o homem opera sistemas
simulados ou gerados em computador. Nesta modalidade, a utilização dos
simuladores imita a operação de sistemas de armas, veículos, aeronaves ou até
mesmo o ser humano, cuja a operação exija um elevado grau de adestramento ou
que envolva riscos ou custos elevados. Sua principal aplicação é no
desenvolvimento de habilidades e capacidades individuais, assim como no
adestramento de guarnições e pequenas frações, permitindo explorar os limites do
operador e do equipamento, sem riscos e com baixo custo.
Além destes equipamentos, que simulam procedimentos em
veículos, aeronaves, etc, existem os Simuladores Virtuais Táticos (SVT). Como o
próprio nome diz, estes simuladores são focados nas ações táticas das frações,
e no CI Bld se mostram bastante eficazes nos níveis Pelotão e Subunidade. Os
SVT nada mais são do que softwares profissionais que, instalados em
computadores comerciais, possibilitam o treinamento tático em diversos
escalões. Dentre estes softwares está o VBS3, desenvolvido pela empresa
multinacional Bohemia Interactive Simulations, que também é utilizado pela
Seção de Simuladores do Centro.
Por ter a arquitetura aberta, o VBS3 é praticamente todo
customizável e se destaca pela ampla flexibilidade para montagem dos cenários
de simulação que podem, inclusive, ser alterados durante a execução do
exercício. Por exemplo, o administrador pode inserir soldados inimigos e
ajustar o seu nível de adestramento, experiência, liderança, características físicas,
psicológicas e condições de saúde, durante o combate. Da mesma forma, quando
uma viatura é adicionada ao cenário, pode-se configurar o comportamento dos
integrantes de sua guarnição, o nível de combustível, munição, inserir danos
nos trens de rolamento, chassi, motor e armamentos.
É possível, ainda, alterar o terreno, inserir obstáculos,
edificações, campos de mina, população civil, animais, fontes de luz, de som,
fogos indiretos e muitos outros recursos. Uma das principais características do
VBS3 é o treinamento em primeira pessoa, no qual o instruendo incorpora em seu
personagem no exercício, tendo a visão dos olhos do personagem. Dessa forma é
possível treinar o indivíduo, pois o administrador pode personalizá-lo de
acordo com a realidade, ajustando sua altura, peso, armamento, munição e
equipamento, se mostrando muito interessante para o adestramento de tropas de
Infantaria.
Em 2016, no CI Bld, foi utilizado o VBS, na sua versão 3.4,
no Estágio Tático de Infantaria Mecanizada e, apesar de algumas limitações,
mostrou-se bastante eficaz. Para o Estágio, uma Companhia de Fuzileiros
Mecanizada foi criada conforme prevista nos documentos que regulam seu efetivo,
armamento, munição e equipamento, desde o Comandante da Subunidade até os
soldados dos Grupos de Combate. Além da tropa amiga, foi criada também a tropa
inimiga, constituída de um Regimento de Infantaria Mecanizado completo. Durante
a montagem dos cenários virtuais e a execução dos exercícios, foram observadas
três limitações importantes.
Virtual Battlespace (VBS) utilizado no Centro de Instrução de Blindados
No VBS3, não há a VBTPMR 6x6 Guarani, o que fez com que o
administrador improvisasse a viatura LAV III 8x8, que possui características
semelhantes às da viatura brasileira. Ademais, um recurso que ficou aquém do
ideal foi a ferramenta de elaboração de calcos e medidas de coordenação e
controle (Mdd C2). Os símbolos e ícones existentes no programa são os
padronizados pela OTAN e as ferramentas de desenho de linhas e edição de textos
são bastante limitadas.
Soma-se a estas limitações as características do recurso
Minimapa, pois a VBTP-MR 6x6 Guarani possui o Gerenciador de Campo de Batalha
(GCB) que, de forma geral, possibilita ao operador a visualização das Mdd C2
estabelecidas e da localização georreferenciada, em tempo real, da sua viatura
e da sua fração. Por vez, o recurso Minimapa do VBS3 nada mais é do que um
pequeno mapa localizado no canto inferior esquerdo da tela do usuário, que pode
simular o GCB, porém, neste recurso, além da apresentação das Mdd C2 e da
localização da tropa amiga, também é mostrada a localização em tempo real da
tropa inimiga, o que interfere diretamente na execução do exercício, pois o
instruendo pode visualizar o inimigo com antecedência e executar as ações
táticas necessárias.
Muito raramente esta visualização antecipada, em tempo
real, do inimigo ocorreria em uma situação de combate real. Apesar disso, esses
problemas podem ser minimizados, por exemplo, pela aquisição da modelagem 3D da
VBTP Guarani e atualização para uma versão mais recente do VBS. Portanto, a
escolha do programa de Simulação Virtual Tática que foi utilizado no Estágio
Tático de Infantaria Mecanizada foi fundamental, pois buscou-se sempre a
coerência entre os objetivos a serem atingidos, a natureza da tropa executante,
as possibilidades e limitações do software e dos computadores empregados.
Neste contexto, pode-se concluir que, embora tenha
apresentado algumas limitações, o VBS3.4 atendeu as necessidades da tropa de
Infantaria Mecanizada, podendo ser também utilizado com sucesso nas instruções
e no adestramento de tropas de Infantaria Blindada e Cavalaria Mecanizada. O CI
Bld está comprometido em criar as melhores condições para que seus instruendos
tenham conhecimento e competência para o melhor uso dos atuais Meios de Emprego
Militar.
ORGULHO DE SER SARGENTO ! AÇO, BOINA PRETA, BRASIL!
FONTE: Centro de Instrução de Blindados
Nota da Redação: o Autor, Srº Rangel
Panichi Flores é 2º Sgt da Turma de 2001 e Monitor da Seção de Ensino de Operação de
Blindados do CI Bld Leo Machado Botelho. Contou com o apoio do S Ten Adjunto de Comando do CI Bld, tendo seu artigo aprovado pelo Cel Ádamo Luiz Colombo da Silveira Cmt CI Bld
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