Soldados brasileiros da Missão de Estabilização da ONU no Haiti em foto de 15 de outubro de 2016 (Foto: Hector Retamal/AFP) |
Por: Redação OD
O Conselho de
Segurança das Nações Unidas aprovou nesta quinta-feira (13) encerrar neste ano
-- até 15 de outubro -- a missão de paz de 13 anos da organização no Haiti
(Minustah), substituindo-a por uma operação policial menor, que será retirada
ao longo de dois anos na medida em que o país aumente sua própria força. A
missão é liderada pelo Brasil. A aprovação foi unânime pelos 15 membros do
conselho.
A ONU decidiu
implantar a Minustah quando o país passou por uma convulsão social que levou à
queda do então presidente Jean Bertrand Aristides e um princípio de guerra
civil. A operação internacional é desde o início liderada por um general do
Brasil e tem o maior contingente de tropas brasileiras. "Essa foi
uma missão muito importante para o Brasil porque coincide com o tempo em que o
governo Lula buscava posicionar-se como líder no mundo e ocupar um assento
permanente no Conselho de Segurança da ONU, afirmou à agência AFP María
Cristina Rosas, acadêmica da Universidade Nacional Autônoma do México e autora
de vários livros sobre missões de paz.
O embaixador do Brasil na ONU, Mauro Vieira, anuncia a posição favorável à resolução que encerra a Minustah (Foto: Reprodução/UN TV) |
"O governo
brasileiro atualmente não passa por seu melhor momento, sua imagem
internacional deteriorou-se e o país precisa continuar fortalecendo sua
projeção", avaliou. O fechamento da
missão de US$346 milhões anuais, recomendada também pelo chefe da ONU, António
Guterres, acontece quando os Estados Unidos sinalizam que querem cortar seu
financiamento para operações de paz da ONU. Washington é o maior contribuinte
da Minustah, pagando 28,5% do orçamento total, segundo a Voice of America.
"Consideramos
a transformação da missão do Haiti, incluindo a retirada das forças armadas,
como um forte exemplo de como as missões de paz podem e devem mudar à medida
que a situação política de um país muda", disse ao Conselho a embaixador
dos EUA nas Nações Unidas, Nikki Haley.
'Já passou do
tempo', diz general
General Carlos Alberto dos Santos Cruz comandou missão de paz no Haiti e no Congo/GNews (Foto: Reprodução GloboNews) |
O general
Carlos Alberto dos Santos Cruz, que comandou militarmente a missão de paz no
Haiti entre 2009 e 2009, acredita que "já passou do tempo" de a ONU
deixar o país caribenho. Santos Cruz foi o oficial brasileiro que mais tempo
ficou no cargo mais alto da missão de paz na área militar. Após deixar o Haiti
o general, atualmente na reserva do Exército, comandou a missão de paz da ONU
no Congo. "Eu acho
que há muito tempo a Minustah já cumpriu a tarefa dela. Já passou do tempo de
sair. O objetivo da missão de paz não é administrar o país ou fazer o
policiamento. É uma missão de ajuda excepcional e temporária. E este temporário
durou 13 anos", afirma Santos Cruz.
Para o general,
a ONU poderia ter deixado o Haiti em 2012, dois anos após o terremoto,
registrado em janeiro de 2010, que devastou o país e deixou mais de 300 mil
mortos. "O terremoto não tem nada a ver com segurança. Foi uma catástrofe
natural. Eu acho que este momento de sair, agora, é talvez o momento certo ou
talvez já atrasado. Uma missão de paz não consegue mudar o cenário político
nacional ou a administração pública haitiana. Isso depende deles",
salienta o oficial. Segundo Santos
Cruz, o cenário político e econômico internacional interferiu na decisão de
retirada. "Os maiores financiadores de missão de paz estão com problemas
financeiros neste momento. Com certeza isso interfere", apontou.
Tristeza e mortes
Boulevard Jean-Jacques Dessaline, no centro de Porto Príncipe, capital do Haiti, foi destruída no terremoto de 2010 (Foto: Tahiane Stochero/G1) |
No terremoto
que devastou o Haiti, em janeiro de 2010, 18 militares brasileiros
morreram, além do diplomata Luiz Carlos da Costa e da
médica Zilda Arns, que fazia um trabalho voluntário. Após o tremor,
o Brasil aumentou o contingente na missão de paz, dobrando o número de
militares empenhados em ajudar a população haitiana. Por quase 6 meses, em
2010, mais de 2 mil brasileiros permaneceram no país. O Brasil
comanda militarmente a Minustah desde que ela foi criada, trocando o
contingente militar a cada 6 meses, contando, em média, com 1.200 soldados na
missão de paz. Há um ano, a ONU começou a reduzir o contingente, com o objetivo
de encerrar a operação em outubro de 2017.
FONTE: G1
Nenhum comentário:
Postar um comentário