domingo, 6 de setembro de 2020

As viaturas blindadas “Stryker” no campo de batalha moderno

Na foto, um Stryker do U.S. Army na província de Kandahar, Afeganistão, em 28 de novembro de 2009. Imagem ilustrativa via U.S. Army. 


Introdução de Yam Wanders

Já a algus anos uma polêmica está presente entre os meios especializados e até entre aficcionados civis autodidatas no assunto "forças blindadas", que é a comparação entre os muitos veículos blindados sobre rodas, com tracionamento 4x4, 6x6 e 8x8, que existem às dezenas e fabricados por diversos países. Veículos esses que certamente vão ocupar cada vez mais espaço nas forças armadas de muitas nações, devido ao seu evidente custo reduzido de produção e operação em comparação aos carros de combate "MBT" (Main battle tank).

Porém esse tipo de veículo de combate ainda é alvo de questionamentos entre os defensores de carros pesados com esteiras e os leves sobre rodas, com os mais variados tipos de argumentações para defesa de ambas as partes. Mas o que pouco vemos são as análises realmente realistas, frutos de anos de observações e estudos de campo, associadas aos resultados das somas de experiências de treinamentos e combates reais em guerras modernas, tal como muitos militares dos EUA e da Rússia o fizeram em suas guerras e intervenções que acontecem frequentemente desde o final do século XX.

Outro fator que muitos "jogadores de Super Trunfo*" ignoram são as complexas equações que tratam; da logistica operacional, treinamento de tripulantes e tropas, estratégias & táticas de emprego dos veículos e meios de apoio de campo durante as operações nos quais os carros de combate serão empregados assim como as ameaças que podem neutralizar os respectivos veículos em campo de batalha. 


Durante a guerra da Síria muitos viram um bom exemplo da polêmica da frustrante operação em combate dos MBT Leopard II operados pelo Exército Turco, que foram neutralizados às dezenas devido à somatória de fatores que envolveram a fraca doutrina, treinamento e até mesmo indisciplina dos militares turcos assim como a boa experiência em campo dos miltares sírios e curdos durante os enfrentamentos no ano de 2018/2019. Independente das relativas "in/competências" dos operadores turcos, que operavam um MBT considerado o "melhor do mundo", todos os bons analistas do meio são unânimes em afirmar que um veículo mais leve e ágil poderia ter feito a situação diferente em campo de batalha dentro das particularidades presentes no momento.

Um exemplo que estamos vendo com frequência no Brasil são as comparações entre os desempenhos apresentados pelos carros de combate Guarani utilizados pelo Exército Brasileiro e os Piranhas do Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha do Brasil, onde vemos que situações complexas que envolvem legislações e doutrinas operacionais, que acabam por conflitar entre si e com muitos outros fatores alheios, e criam situações adversas para as tropas que operam os respectivos veículos, com uma delas enfrentando problemas básicos de limitações por causa de um erro básico de projeto, que compromete o centro de gravidade do veículo, e a outra, que jamais encontrou problemas graves com os seus veículos, mesmo em operações reais nas intervenções no Rio de Janeiro e em exercícios militares exigentes em ambiêntes de operações anfíbias.
Uma imagem que acabou por se tornar comum e triste, e que motiva as mais acirradas polêmicas. Imagem via Exército Brasileiro.

Muitos poderão sempre argumentar que certas oportunidades de ter a fabricação de um modelo específico de um carro de combate para nosso Exército é uma vantagem para a geração de empregos, mas contra-argumento que o trato que foi feito com um fabricante X poderia ter sido feito com o fabricante Y ou Z também, bastando apenas a vontade política. Vide o caso da Romênia, que não possui um "savoir faire" industrial comparável ao do Brasil mas abriga desde o ano passado uma linha de montagem do MOVAG Piranha, veículo que serviu de base para o Striker e LAV25, entre outros...

Mesmo com um emprego aparentemente diferenciado dos veìculos Guaranis do EB, não existem relatos conhecidos de capotamentos de algum Piranha do CFN em treinamentos ou operações reais. Imagem via Marinha do Brasil/CFN.

O fator interessante de acompanhar os relatos dos principais operadores desses veículos pelo mundo é obviamente aproveitar para aprender com os erros dos outros, e com isso avaliar as possibilidades de trocar a quantidade pela qualidade, assim como principalmente ganhar tempo com o aprendizado e proncipalmente poupar recursos financeiros com veículos avariados em simples treinamentos de autódromos e não em operações reais de intervenções e combates, sem falar da possibilidade de perdas do nossos preciosos recursos humanos.

*Super Trunfo, um popular jogo de cartas para pré-adolescentes dos anos 80, no qual ganhava a carta que possuísse o maior valor de um determinado fator específico da característica de uma máquina. O termo "jogador de Super Trunfo é aplicado ao aficcionado que tenta analisar equipamentos militares apenas por valores fisicos apresentados pelo fabricante e não pelo conjunto de possibilidades reais que estão envolvidos na operação real de um determinado equipamento militar.

Um sargento designado a um pelotão de reconhecimento da 1a Brigada de Combate, 1a Divisão Blindada, volta do Polígono de Tiro Doña Ana, Novo México, onde a unidade realizou sua habilitação anual, 16 Mar 17. (Winifred Brown, Relações Públicas de Fort Bliss).

As Viaturas Blindadas “Stryker” no Campo de Batalha Moderno

Por: Cap Stephen Petraeus, Exército dos EUA & Cap Daniel Reynolds, Exército dos EUA.

Durante uma manhã empoeirada, em julho de 2015, uma força-tarefa nível batalhão composta de Strykers e de carros de combate Abrams avançaram através do deserto do Centro Nacional de Treinamento (CNT), em Fort Irwin, Califórnia, em direção a dois desfiladeiros. Os Strykers ficaram para trás dos Abrams, sobre lagartas, conforme saíram da estrada e entraram em terreno ondulado, mas os alcançaram, no momento exato, quando passaram pelos desfiladeiros estreitos entre as montanhas e entraram nas planícies no outro lado do obstáculo. Conforme os Strykers entraram no terreno aberto, foram rapidamente dizimados por uma força blindada inimiga. 
A blindagem leve do Striker não podia resistir aos tiros da arma principal dos carros de combate, junto com os fogos de canhão das viaturas de combate de infantaria do inimigo. Poucos Strykers sobreviveram ao engajamento no terreno aberto contra a força inimiga mais pesada, e esse combate paralisou a vanguarda do ataque da brigada. Após essa derrota, é provável que muitos daqueles envolvidos nela se perguntassem: Existe uma melhor maneira de empregar o Stryker? Claro, essa pergunta não é nova. Durante os dias iniciais do Stryker, os críticos observaram que “ele não proporcionava o poder de fogo nem a proteção blindada para transformar as unidades de infantaria leve do Exército em uma ‘força de peso médio’”1. Considerando as limitações inerentes do Stryker, como ele deve ser empregado contra um oponente blindado? E, 15 anos depois da introdução da Brigada de Combate Stryker, o Exército definiu seu papel no campo de batalha?

Tentaremos responder à pergunta polêmica de como melhor empregar os Strykers no campo de batalha. Primeiro, analisaremos a origem da Brigada de Combate Stryker e como inicialmente foi idealizada. Depois, forneceremos um breve resumo do emprego do Stryker no Iraque e no Afeganistão, analisando o papel que assumiu durante ambas missões, nas campanhas de contrainsurgência. Depois, discutiremos a mudança geral do Exército de um foco nas operações de contrainsurgência para as competências centrais do combate de alta intensidade. 
Finalmente, iremos analisar vários exemplos do emprego do Stryker nesse novo papel no CNT (Fort Irwin) e examinar quais métodos operacionais melhor tiram proveito dos pontos fortes inerentes da plataforma Stryker. Terminaremos com uma discussão sobre o caminho a ser seguido para o adestramento e o emprego do Stryker no futuro.

A Distribuição e a Validação do Stryker

Quando o Gen Ex Eric Shinseki se tornou o Comandante do Exército, em junho de 1999, ele tinha uma visão clara de como mudar a estrutura e a capacidade de resposta do Exército2. Central a essa visão, era a criação de uma nova Brigada de Combate provisória em Fort Lewis, Washington, uma que seria um modelo de como as brigadas futuras seriam equipadas ou transformadas. 

Essas novas brigadas empregariam um veículo blindado de “peso médio”, suficientemente leve para ser transportado por um cargueiro C-130, mas suficientemente pesado para prover proteção mínima e poder de fogo aos grupos de combate de infantaria. 

Essa ideia de uma unidade “média” para preencher a lacuna entre forças leves e pesadas tem raízes profundas no Exército, talvez descrita mais sucintamente em “Three Kinds of Infantry” (“Três Tipos de Infantaria”) pelo então Cel Huba Wass de Czege. A vulnerabilidade das unidades leves enviadas inicialmente para a Operação Desert Shield, em 1990, ressaltou a necessidade desse tipo de unidade3.

Em novembro de 2000, o Exército anunciou que tinha escolhido uma viatura sobre rodas conhecida como LAV III (Light attack veichle ou “Viatura Blindada Leve III”), que seria desenvolvida em vários modelos para missões de reconhecimento, transporte de morteiro, comando e transporte de tropa. A entrega dessas viaturas começou na primavera de 2002, quando a Companhia A do 5o Batalhão do 20o Regimento de Infantaria (conhecido como a 5/20 Infantaria) recebeu o primeiro lote de 14 Strykers (como a viatura tinha sido rebatizada) e começou a se adestrar com eles. 

O primeiro grande teste da recém-formada Brigada Stryker ocorreu durante o Millenium Challenge 2002, um grande exercício conjunto que incluía o transporte de Strykers por aeronaves C-130 de Fort Lewis a Fort Irwin, Califórnia, e na volta por catamarãs de transporte marítimo de alta velocidade. 

Os exercícios de adestramento de nível brigada no CNT e, também, no Centro de Adestramento e Aprestamento Conjunto (Joint Readiness Training Center — JRTC), na Louisiana, serviram como a validação final da completamente reequipada Brigada Stryker, agora organizada como a 3a Brigada da 2a Divisão de Infantaria4.

Esses exercícios mostraram tanto as deficiências do Stryker quanto seus pontos fortes. No combate entre carros, contra um oponente blindado, no CNT, os Stryker foram rapidamente “destruídos”, mas se distinguiram no terreno irregular e em emboscadas de infantaria contra seus inimigos blindados5. O exercício do JRTC realçou melhor as novas possibilidades adquiridas pela mobilidade operacional de uma Brigada Stryker. O Cel R1 Charles Hodges, um oficial de operações de batalhão na época, lembrou que a brigada atacou o famoso centro de treinamento de combate urbano Shughart-Gordon 12 horas mais cedo que uma unidade típica de infantaria leve, apanhando o inimigo desprevenido e, como resultado, vencendo a batalha decisivamente6. Embora a Brigada Stryker ainda fosse considerada com algum ceticismo, foi considerada apta para o emprego pelo Comando das Forças do Exército, depois de completar seus exercícios de treinamento de nível brigada.

O Emprego de Strykers durante a Operação Iraqi Freedom

A 3a Brigada de Combate Stryker chegou ao Iraque em dezembro de 2003, o primeiro de muitos empregos operacionais do Stryker que se seguiriam ao longo dos próximos oito anos. Essa missão serviu como a primeira demonstração da viatura Stryker e da respectiva brigada reorganizada7. 

Dois dos aspectos mais característicos da Brigada Stryker provaram ser sua mobilidade operacional e sua eficiente rede de comando e controle em comparação com as unidades blindadas e leves já operando no Iraque. 

Sem os requisitos de apoio logístico de uma força mecanizada pesada, os Strykers podiam deslocar-se com muito mais rapidez nas operações, de uma região a outra através de centenas de quilômetros. Hodges relembrou da flexibilidade da Brigada Stryker durante a Operação Black Typhoon no Iraque:

"Todos os três batalhões de manobra estavam empregados ... uma noite onde realmente estávamos dispersados por toda a Província de Nineveh, de Mosul até a fronteira síria. A 5/20 Infantaria realizou incursões na fronteira síria, fizemos uma grande operação em Mosul e lá no [campo de pouso ocidental de Qayyarah], tudo ao mesmo tempo ... isso mostrou a profundidade e a abrangência nas quais podíamos operar8".

Além disso, a própria plataforma Stryker provou ser muito eficaz no combate urbano. O Ten Cel Theodore Kleisner, que serviu na 3a Brigada em missões subsequentes ao Iraque, como comandante de companhia, ofereceu alguns esclarecimentos:

"O Stryker transportou mais pessoas e mais material. A viatura leve HMMWV transportava cinco pessoas, duas permaneciam na viatura, então talvez três desembarcassem; nove desembarcavam (dos Strykers). Quanto à singularidade do Stryker, o usamos para ajudar os infantes a subirem paredes, entrarem nos segundo andares. Realizamos desembarque em movimento, desembarques sobre o alvo ... Usamos os Stryker para manobrar e nos proteger dos disparos inimigos. Ficávamos dentro deles até quando decidíamos que estávamos no ponto em que precisávamos estabelecer o domínio do terreno9".

Durante a “Escalada” no Iraque, em 2007 e 2008, os elementos de manobra Stryker foram movimentados rápida e repetidamente. Um exemplo digno de menção é a experiência da 5/20 Infantaria, que foi transferida de Mosul para Bagdá a Baqubah ao longo do ano de 200710. Já em 2010, antes da redução do envolvimento dos EUA no Iraque começar, havia oito brigadas de combate Stryker, quase um quarto da força ativa. Além disso, os Strykers começaram a ser usados com mais frequência no Afeganistão, com os desdobramentos das 3a, 5a e 4a Brigadas da 2a Divisão de Infantaria nos anos subsequentes11.

Na foto, um Stryker do U.S. Army na província de Kandahar, Afeganistão, em 28 de novembro de 2009. Imagem ilustrativa via U.S. Army. 

A Transição para a Ação Decisiva

Conforme o envolvimento norte-americano no Iraque e no Afeganistão começou a diminuir, o Exército iniciou a busca por um novo foco, após uma década de treinamento e de combate orientados para a contrainsurgência. 

O Cel Ross Coffman, o Comandante do Grupo de Operações do CTN, assim a descreveu: “Conforme nós fazíamos a transição das nossas forças desdobradas em apoio às Operações Iraqi Freedom/Enduring Freedom para o que temos atualmente, foi tomada a decisão, no nível Comando da Força, de seguir rumo às operações de ação decisiva em nossos centros de treinamento. ... Se for capaz de realizar uma operação de ação decisiva, pode realizar qualquer outro tipo de operação militar”12

A ação decisiva é o termo usado pelo Exército para descrever uma combinação de operações de segurança de área e operações de manobra de armas combinadas, mas informalmente o termo é usado para descrever a mudança das operações focadas na contrainsurgência para o combate mais tradicional contra oponentes com tecnologia e estruturas de força de poder de combate equivalente. 

Coffman declarou: “O cenário de ambiente de treinamento de ação decisiva é um conjunto previsto de capacidades do inimigo ... baseado na evolução das forças inimigas, introduzimos capacidades adicionais ... replicamos uma ameaça de poder de combate equivalente de acordo com o nível de treinamento que a unidade no ciclo de adestramento possui ao chegar”13. 

Como resultado da mudança de foco do Exército, seus centros de treinamento aceitaram o desafio de desenvolver cenários de treinamento para reconstruir a competência em manobras tradicionais em um campo de batalha de alta intensidade. 
O Grupo de Operações no CNT ajudou na condução dessa mudança, proporcionando novas opções de instrução aos comandantes de divisão de exército, que usavam o ciclo de adestramento para garantir a prontidão da unidade para os empregos operacionais mais prováveis. Coffman explicou, “A quantidade de tropas, tipo de terreno e de ambiente podem ser mudados ... Podemos desenvolver cenários que dinamizam os pontos fortes daquela organização enquanto, também, melhoram suas deficiências ao forçar comandantes a tomarem decisões em um ambiente com restrição de tempo”14.

No final de 2011, o Exército começou a realizar exercícios no terreno contra uma força inimiga de poder de combate equivalente nos centros de treinamento, com rodízios no Centro de Adestramento Conjunto e Multinacional, em Hohenfels, Alemanha. Tanto o 2o Regimento de Cavalaria Stryker quanto a 173a Brigada Aeroterrestre conduziram um exercício, de um mês de duração, contra uma tropa inimiga de poder de combate equivalente, proporcionando uma base valiosa para um melhor desenvolvimento do ambiente de treinamento de ação decisiva.

Conforme o Exército mudava o foco da contrainsurgência para a ação decisiva, mudanças ocorriam, também, na Base Conjunta Lewis-McChord, sede da original Brigada de Combate provisória. Em 2012, havia três brigadas Stryker independentes com sede na base, todas sob o controle direto do I Corpo de Exército. As brigadas têm estado em um ciclo de emprego operacional quase contínuo desde sua conversão a formações Stryker, no início dos anos 2000. Os desdobramentos repetidos tinham reduzido a prontidão dos equipamentos e de pessoal a níveis relativamente baixos. Nesse ponto, a 7a Divisão de Infantaria foi reativada para servir como o escalão enquadrante dessas três brigadas e para conduzir a transição delas de um seu ciclo de adestramento focado em missões específicas recebidas para um estado de prontidão mais amplo para missões futuras.

O Lieutenant General (general de três estrelas) Stephen Lanza, Comandante do I Corpo de Exército, serviu como o primeiro comandante da 7a Divisão de Infantaria (No Exército dos EUA as divisões são comandadas por Major Generals, general de duas estrelas — N. do T). 

Ele se recorda: “A primeira ordem era ‘reconstruir a prontidão da tropa Stryker’ .... Quando assumimos o controle da divisão, os Strykers estavam em um alto grau de degradação, até o ponto em que tínhamos que temporariamente desativar as brigadas para aumentar a prontidão dos Strykers, porque eles simplesmente não estavam disponíveis”15. Ele citou ainda: “Quando reativamos a divisão, tínhamos um índice de indisponibilidade de 26%, tínhamos índices de prontidão organizacional que estavam [baixos] — não podíamos lutar uma ação decisiva porque estávamos presos na ARFORGEN [Sistema de Geração de Forças do Exército]”16. 

Um foco da recém-estabelecida 7a Divisão de Infantaria era o adestramento das formações Stryker para combate contra uma ameaça de poder de combate equivalente. Lanza disse, “Havia muitas coisas que tinham que mudar em termos de nossa abordagem para o treinamento das unidades Styker nas sedes, porque estávamos focados na contrainsurgência ... E tínhamos uma grande discussão sobre a própria plataforma, porque não a queríamos empregar como uma [viatura blindada de combate] Bradley”17.

A falta de experiência em comando de unidades Stryker em manobras contra uma ameaça de poder de combate equivalente levou a 7a Divisão de Infantaria a trabalhar com o CNT para desenvolver o primeiro ciclo de adestramento completo de ação decisiva para uma Brigada Stryker. Lanza lembra o processo de criar esse ciclo de adestramento:

Muito de nossa discussão inicial se concentrava no planejamento de um ciclo de adestramento no Centro de Treinamento de Combate ... com as proporções de força requeridas e o tipo necessário de força oponente, em termos do que um Stryker poderia fazer no combate .... Não queríamos ter um ciclo de adestramento corpo a corpo onde os Strykers lutariam contra outros tipos de veículos blindados .... O ponto central era sempre a condução de tropas de infantaria ao combate .... Então, tínhamos que construir um modelo de correlação de forças, para garantir que tivéssemos as proporções certas de forças para retratar o que o Stryker faria no combate18.

A culminação desse planejamento e desenvolvimento ocorreu em janeiro de 2014, quando a 3a Brigada da 2a Divisão de Infantaria apresentou-se no CNT em Fort Irwin, para o primeiro desse novo tipo de exercício de treinamento. Ambos os autores deste artigo estavam presentes durante o exercício — um como assistente do oficial de operações da 5/20 Infantaria e o outro como oficial de ligação dos elementos de manobra do 75o Regimento Rangers (comandos do Exército) que participavam do exercício. Desde o início, o rodízio era diferente de um exercício de missão típico conduzido antes de um emprego operacional. 
A brigada se desdobrou em uma zona de reunião tática sem instalações e apoio logístico pré-posicionados e, depois, dividiu-se em zonas de reunião de nível batalhão. Isso representou uma proeza importante, considerando que no Iraque e no Afeganistão as formações Stryker tinham um alto nível de dependência do apoio logístico fornecido pelas bases de operações avançadas permanentes. 

A partir dessas zonas de reunião táticas, o batalhão lançou ataques independentes. Inicialmente, a 5/20 Infantaria atacou por meio de um “corredor central” do CNT em Fort Irwin, para capturar vários locais de terreno dominante antes de conduzir a captura de Ujen, uma das maiores cidades simuladas. O batalhão, que em geral operava isoladamente, sofreu baixas pesadas na ação. Como observado por Lanza, “Os Stryker no ataque, contra uma posição preparada reforçada por blindados inimigos não terá êxito sem os meios multiplicadores do poder de combate e outros apoios necessários para o comandante da unidade Styker”19.


Ten Cel Edward J. Ballanco, Comandante do 5o Batalhão do 20o Regimento de Infantaria da 1a Brigada de Combate da 2a Divisão de Infantaria, orienta seus comandantes subordinados durante o Ciclo de Adestramento 2016-06 de Ação Decisiva, no Centro Nacional de Treinamento, em Fort Irwin, Califórnia, 9 Mai 16. (Sgt Stephen J. Schmitz, Exército dos EUA)

Esse ataque foi seguido por uma ação defensiva, que melhor ressaltou os pontos fortes da unidade Stryker. O batalhão conseguiu utilizar mísseis javelins desembarcados em terreno irregular com efeito significativo, embora não tivesse a capacidade de realmente bloquear uma força blindada inimiga. Mais uma vez, Lanza compartilhou sua opinião: “Quando se utilizou os Strykers na defensiva, desembarcando os javelin e os colocando no terreno irregular, foi a maior batalha vencida pelo Cel Bair, o comandante da Brigada de Combate Stryker 20. 

A defensiva foi seguida por um contra ataque e uma abertura de brecha, durante ambos os quais os batalhões Stryker foram superados pelos blindados inimigos. Considerando que esse era o primeiro exercício de adestramento deste tipo no CNT, deficiências significativas ainda existiam no planejamento e na execução do cenário específico para os Strykers.

Ao retornar do CNT, a 3a Brigada imediatamente começou um novo ciclo de instrução para corrigir as deficiências identificadas durante o rodízio de janeiro de 2014. Uma ênfase foi colocada no adestramento de tripulações embarcadas e na plataforma Stryker. O Cel David Foley, que assumiu o comando da 3a Brigada perto do final desse rodízio, lembra a progressão do treinamento: “O que herdamos era uma formação baseada principalmente na plataforma .... Vamos tripular, desdobrar e ficar muito letal com respeito à nossa tripulação de dois ou três militares e, depois, aprimorar isso com o grupo de combate de infantaria e isso, certamente correu contra tudo o que vi no JRTC e na execução inicial”21. Isso podia ser visto no exercício de ação real nível companhia conduzido logo antes do rodízio no CNT, que incluía vários engajamentos embarcados para os Stryker em terreno aberto.

... devido às peculiaridades da tropa Stryker, temos que prestar até mais atenção a ... como moldamos as condições para capacitar uma unidade Stryker a alcançar uma posição de vantagem.

A 3a Brigada deslocou-se mais uma vez para o CNT para o Ciclo de Adestramento 2015-08.5, em julho de 2015. Duas companhias de carros de combate Abrams foram designadas para a Brigada. Na essência, a 5/20 Infantaria se tornou uma força-tarefa batalhão Stryker-Abrams. Essa configuração provaria ser aquém do ideal, pois havia menos sinergia entre o Stryker e o Abrams do que entre o Veículo de Combate de Infantaria Bradley e o Abrams. 

O Ten Cel Edward Ballanco, o comandante de batalhão da 5/20 Infantaria, descreveu uma deficiência: “A diferença principal entre o Stryker e o Bradley é que o Bradley é muito mais manobrável que o Stryker”22

Nas estradas, os Stryker e os carros de combate Abrams podem mover-se com aproximadamente a mesma velocidade, mas nas manobras fora da estrada, no terreno ondulado do deserto, os Strykers sobre rodas eram bem mais lentos que os carros de combate sobre lagartas. Isso fez com que fosse difícil manter um ritmo constante enquanto se fazia manobras em terreno aberto e, também, diminuiu o poder de choque e a velocidade que os carros de combate podem geralmente empregar no ataque. Quando os carros de combate faziam as manobras independentemente, eles se encontravam sem apoio de infantaria para limpar o terreno irregular e foram rapidamente destruídos pelas armas anticarro inimigas.

No final, o Stryker carecia da proteção blindada, do poder de fogo e da facilidade de manobra para realmente conduzir uma marcha para o combate através de terreno aberto. 
Ballanco declarou: “O Stryker ... não possuía um bom armamento, não tinha um míssil TOW acoplado, nem tinha um canhão de 25mm”23. Semelhante ao rodízio anterior, o maior sucesso da brigada ocorreu na defensiva, enquanto sofreu baixas pesadas durante missões de marcha para o combate (movement to contact) e nos ataques coordenados. Outra deficiência ocorreu durante as operações de abertura de brecha em obstáculo — o Veículo de Apoio de Engenharia Stryker (Stryker Engineer Support Vehicle) foi incapaz de limpar uma via de acesso suficientemente ampla para um carro de combate Abrams. 

Então, mesmo com os carros de combate Abrams para proporcionar a força de assalto para uma abertura de brecha, os veículos Stryker foram incapazes de criar uma via de acesso para eles. Foley e seus comandantes de batalhão voltaram desse rodízio com várias lições aprendidas e um novo foco conforme treinassem para o próximo ciclo de adestramento, previsto para apenas oito meses no futuro.


Um veículo blindado Stryker tripulado por soldados dos EUA com o 2º Batalhão, 23º Regimento de Infantaria, fornece segurança enquanto a Polícia de Fronteira Afegã (ABP) inicia um novo posto de controle no distrito de Spin Boldak, província de Kandahar, Afeganistão, 25 de março de 2013. O ABP mudou-se para o novo local para bloquear uma rota de infiltração insurgente. Foto por Sgt. Shane Hamann, U.S. Army.

Uma Mudança do Foco de Treinamento

Depois do Ciclo de Adestramento 2015-08.5 no CNT em Fort Irwin, a 3a Brigada, agora rebatizada como a 1a Brigada, 2a Divisão de Infantaria, recebeu ordens para voltar ao CNT para mais um rodízio, mais cedo do que previsto, no início do verão de 2016. Assim, um plano de treinamento acelerado foi desenvolvido para preparar e qualificar a brigada. 

A 5/20 Infantaria modificou seu plano de treinamento em vários aspectos principais para incorporar as lições aprendidas no Ciclos de Adestramento 2015-08.5 do CNT. Ballanco descreveu seu método de empregar os Strykers durante esses exercícios: “Tirávamos proveito do terreno irregular todo o tempo, tentávamos usar o Stryker como uma plataforma de fogo de apoio onde era possível, mas, claro, a arma principal continuava sendo o javelin ... então precisávamos ser peritos nesse sistema de armas”24. 

Para reforçar seu estilo de manobra, ele concebeu várias mudanças no plano de treinamento do batalhão. Primeiro, o batalhão conduziu vários outros combates simulados de força contra força de nível companhia, permitindo que comandantes e subordinados experimentassem o combate contra um oponente com vontade própria, em vez da manobra mais limitada de um exercício de fogos reais contra alvos de madeira. 

Segundo, a integração dos veículos de transporte de infantaria Stryker e da infantaria desembarcada foi enfatizada profundamente tanto nos exercícios no terreno quanto nos jogos de guerra de mesa realizados para os oficiais do batalhão. Finalmente, um exercício no terreno de nível batalhão testou a capacidade do estado-maior do batalhão de controlar várias companhias que realizavam manobras no terreno, utilizando a gama completa de sistemas de comunicações. Quando o intervalo de oito meses entre os dois rodízios do CNT foi completo, a 5/20 Infantaria tinha conduzido dezenas de exercícios de força contra força de nível companhia e jogos de guerra mensais.

O Ciclo de Adestramento 2016-06 do CNT em Fort Irwin era diferente dos rodízios anteriores em vários aspectos. O Major General (general de duas estrelas) Thomas James, Comandante da 7a Divisão de Infantaria e supervisor de adestramento para o Ciclo de Adestramento 2016-06, declarou, “Uma das coisas que aprendi do rodízio com a 2a Brigada e com a 3a Brigada é que devido às peculiaridades da tropa Stryker, temos que prestar até mais atenção a ... como moldamos as condições para capacitar uma unidade Stryker a alcançar uma posição de vantagem”25. 

O diálogo entre James e o CNT resultou em um ciclo de adestramento que era muito mais fluido e realista para uma unidade Stryker do que os ciclos de adestramento anteriores.
A 3a Brigada, rebatizada como a 1a Brigada da 2a Divisão de Infantaria, começou um rodízio de treinamento em maio de 2016 (Os autores deste artigo comandaram a Companhia A e a Companhia C da 5/20 Infantaria durante esse treinamento). A 5/20 Infantaria partiu da área de bivaque para a área de treinamento, em 4 de maio, e logo estabeleceu uma zona de reunião (Z Reu), pronta para iniciar o movimento imediato para a posição de assalto. Na noite seguinte, o batalhão inteiro saiu da Z Reu para um ataque em vários locais de terreno irregular. 

A Companhia A liderou o ataque do batalhão, movendo-se 16 quilômetros por uma faixa de terreno livre de obstáculos, conhecida como a Whale Gap, até um ponto de desembarque a 2,5km do objetivo final. Esse ponto de desembarque foi escolhido deliberadamente para proteger os veículos dos sistemas de armas anticarro inimigos. A partir desse ponto, a companhia inteira desembarcou no terreno irregular e limpou as forças inimigas da elevação, utilizando os morteiros da companhia para realizar o apoio de fogo. A companhia descansou no dia seguinte e se preparou para a próxima missão, depois deslocou-se 14km adicionais, durante a noite, para um outro objetivo.

Este primeiro turno de combate ressaltou dois pontos fortes da tropa Stryker na manobra de armas combinadas. O Stryker possui uma mobilidade operacional excelente e pode se deslocar por estradas para conduzir, rapidamente, uma grande quantidade de fuzileiros para o desembarque em um objetivo enquanto mantém o poder de combate. As missões conduzidas pela Companhia A teriam levado muito mais tempo se fossem executadas por uma força de infantaria leve sem apoio de viaturas. Segundo, a formação Stryker pode recompor-se, conduzir os trabalhos de comando necessários e se preparar para a próxima missão com muito mais rapidez do que uma força blindada. 

Menos meios de reabastecimento são necessários, o apoio de fogo indireto é integral à força-tarefa valor companhia e os sistemas digitais dentro do veículo permitem que as ordens de missão sejam rapidamente disseminadas pelos comandos superiores. Além disso, o emprego do conceito “Depósito de Armas” permitiu que a Companhia A se reabastecesse efetivamente com munições e água e substituísse as armas anticarro AT-4 após a consolidação no objetivo26. Assim, a Companhia A pode conduzir uma missão subsequente de grande vulto menos de 24 horas após a captura do objetivo inicial.

Na fase seguinte do exercício de treinamento, a Companhia C recebeu a missão de conduzir uma manobra de flanqueamento audaciosa no distante limite ocidental do CNT. Essa ordem foi divulgada à Companhia C às 0600 horas, com previsão de início para as 1800 horas. O batalhão foi amplamente dispersado nesse ponto, com a Companhia C 15km a leste do resto da força-tarefa valor batalhão, distante 20km do centro de operações do batalhão e separado por vários acidentes capitais característicos do terreno. 

A Companhia C usou as 12 horas alocadas para se reabastecer, fazer o remuniciamento, resolver vários problemas de manutenção dos veículos e expedir uma ordem de missão. Ao partir da área de concentração, a Companhia C se deslocou através de um terreno bastante irregular que não tinha sido usado anteriormente como uma rota. Essa rota levou a Companhia C a uma posição de assalto a nordeste de uma cidade simulada, a qual a companhia atacou logo após o entardecer. 

A rota seguida pela Companhia C passava por uma grande cadeia de obstáculos ao sul da cidade e permitiu que os elementos de vanguarda da companhia conquistassem uma posição segura na cidade antes de serem detectados pelo inimigo. Quando disparos de fogos diretos foi estabelecido com o inimigo, dois prédios da cidade já tinham sido capturados e todos os Strykers da companhia estavam em uma posição de apoio de fogo ao norte da cidade, onde podiam empregar suas metralhadoras pesadas e lançadores de granadas para isolar o inimigo. A cidade foi totalmente capturada sob a proteção da escuridão e a companhia reposicionou-se logo após o amanhecer em uma posição de bloqueio para impedir o avanço de uma força inimiga localizada pelas forças amigas.

Essa operação ressaltou os pontos fortes da formação Stryker de uma forma ligeiramente diferente. Durante o ataque contra a cidade, a Companhia C empregou seus Strykers não apenas como um meio de transporte, mas também como uma plataforma de apoio de fogo para as manobras de infantaria. As metralhadoras pesadas montadas nos Strykers, com câmeras termais, serviram para localizar e eliminar as forças inimigas enquanto se moviam dentro e fora da cidade. Semelhante à operação da Companhia A, a agilidade do Stryker foi ressaltada como uma grande vantagem. Dentro de duas horas da captura de uma cidade e do estabelecimento de uma defesa sumária, a companhia inteira embarcou e se deslocou para uma posição de bloqueio subsequente com seus sistemas de armas anticarro, para ajudar a interditar uma força blindada inimiga. 

Finalmente, a mobilidade da plataforma Stryker e os baixos requisitos de apoio logístico permitiram que o batalhão conseguisse operar através de uma ampla área geográfica e que a Companhia C conduzisse seu movimento de flanqueamento para o leste através de um terreno irregular.

O movimento audacioso destacou, também, os impressionantes sistemas digitais empregados pelas formações Stryker. No nível batalhão, o comandante era capaz de realizar o Comando de Missão eficaz sobre três companhias Stryker conduzindo missões simultaneamente através de 20km de distância, desde a Companhia C na cidade até as Companhias A e B nas elevações 760 e 780, respetivamente.

Na missão final da 5/20 Infantaria no Ciclo de Adestramento 2016-06, a força-tarefa inteira conduziu um movimento de 70km através de toda a extensão da área de treinamento do CNT e atacou a área de retaguarda do inimigo. Durante esse movimento, o batalhão capturou duas aldeias, conduziu operações de abertura de brecha contra cinco obstáculos de minas diferentes e forçou o inimigo a realocar uma grande parte das suas forças para a segurança da área de retaguarda, em vez das suas posições defensivas principais. Mais uma vez, a mobilidade operacional da força Stryker permitiu que ela pudesse deslocar-se a grandes distâncias e desdobrar uma grande força de infantaria em uma posição de vantagem contra o inimigo.

Os Pontos Fortes e Fracos da Formação Stryker

No decurso de três ciclos de adestramento em ação decisiva da 3a Brigada (agora a 1a Brigada) no CNT, várias tendências são evidentes. A primeira é que a tropa Stryker não pode ser empregada da mesma maneira que uma força-tarefa batalhão de viaturas de combate de infantaria Bradley e carros de combate Abrams. 

Sozinho, por exemplo, o Strykernão pode engajar uma força motomecanizada inimiga em terreno aberto. Como Coffman descreve, “Há limitações com o Stryker, principalmente seu poder de fogo e sua capacidade de resistir ao nosso inimigo, bem como proteção para aqueles embarcados nele, já que consegue suportar apenas os fogos das armas de baixo calibre”27. 

Seus sistemas de armas são superados em alcance e poder destrutivo e sua blindagem não o protege das viaturas de combate de infantaria inimigas, como a BMP russa[Boyevaya Mashina Pekhot] com seu canhão de 30mm. Isso não quer dizer que o Strykernão pode operar com carros de combate ou com uma tropa blindada de uma maneira diferente, simplesmente não pode assumir o mesmo papel desempenhado por um Bradley. 

As manobras através de terreno aberto contra forças inimigas blindadas não são situações em que o Stryker se sobressaia, reforçado, ou não, por carros de combate.
No entanto, o Stryker pode ser eficaz e letal quando empregado de maneiras que enfatizam seus pontos fortes naturais. O Ciclo de Adestramento 2016-06 do CNT ofereceu vários exemplos desses tipos de missões. As unidades Stryker se sobressaem quando os próprios veículos não são desnecessariamente expostos aos fogos anticarro inimigos, onde os fuzileiros são introduzidos no combate em terreno irregular, onde podem reduzir a vantagem das forças blindadas inimigas e um alto ritmo é mantido. 

Em todas as instâncias citadas desse exercício de treinamento, foi dada atenção especial para desembarcar os fuzileiros antes que os veículos Stryker estivessem dentro do alcance dos sistemas de armas anticarro inimigos. Isso evitou que a viatura, que transporta um grupo de combate e uma metralhadora pesada, fosse destruída a longo alcance. 

Quando a infantaria está em terreno irregular, os Strykers podem avançar para ajudar a suprimir as posições inimigas com suas metralhadoras pesadas. Essa relação simbiótica entre a infantaria desembarcada e o Stryker caracterizou todos os sucessos evidenciados no treinamento e no emprego do Stryker nas operações ofensivas no Iraque e no Afeganistão.

O alto ritmo que uma unidade Stryker pode manter é, também, uma vantagem. Menos reposição é necessária entre operações em comparação com uma unidade pesada, e a infantaria pode ser transportada rapidamente após o recebimento de uma missão, comparado com a infantaria leve. Esse alto ritmo permite que o Stryker explore rapidamente as deficiências inimigas, conforme elas são descobertas.



Finalmente, para ver como o Stryker pode se encaixar no Exército, no nível estratégico, somente é necessário analisar seu início e a razão pela qual o sistema foi criado. O Stryker pode efetivamente transportar uma grande quantidade de soldados de infantaria através de uma longa distância, especialmente em redes rodoviárias que seriam danificadas por forças blindadas. 

Ainda, os Strykers podem ser desdobrados com muito mais rapidez do que as brigadas pesadas, permitindo que eles respondam rapidamente a uma crise para a qual a infantaria leve não seria adequada. 

Se os Strykers tivessem existido durante a Operação Desert Shield, em 1990, teriam sido capazes de se reposicionar rapidamente por toda a Arábia Saudita, conforme necessário. Uma unidade de infantaria leve simplesmente não possui os meios de transporte para fazer a mesma coisa. 

Como observado por Coffman, “O maior benefício que vejo é a mobilidade dentro do teatro de operações, o movimento rápido dentro do teatro de operações para reposicionar unidades de infantaria no ponto decisivo, conforme necessário”28. 

Como visto no Iraque e no CNT em Fort Irwin, uma unidade Stryker pode embarcar e atravessar uma ampla área geográfica com pouco ou nenhum apoio logístico. Isso o capacita a transportar infantes onde for necessário ou, como descrito por Coffman, “proporcionar nova impulsão ao ataque”29. Isso contrasta com uma unidade de infantaria leve que exige bastante apoio logístico externo para deslocar-se. E, mesmo quando reforçada com caminhões de carga, uma unidade de infantaria leve ainda não é tão capaz quanto uma unidade Stryker. 

O Stryker fornece proteção contra fogos de armas portáteis e um eficiente sistema de comunicações, permitindo que soldados cheguem ao seu objetivo seguros e com conhecimento da situação. Por outro lado, uma brigada blindada pode trazer muito mais poder de combate a um ataque em comparação com uma brigada Stryker, mas acarreta o custo de uma presença muito maior de manutenção e de apoio logístico. 

Os requisitos de combustível de uma brigada blindada eclipsam aqueles de uma brigada Stryker. Isso pode ser mais acentuado se uma unidade for rapidamente desdobrada, caso em que uma brigada blindada ficará paralisada enquanto espera os meios de apoio logístico Uma unidade Stryker pode ser reposicionada com muito mais rapidez, tanto no teatro de operações quanto fora. Assim, o Stryker, quando devidamente utilizado, pode preencher uma especialidade que a coloca entre os papéis tradicionais da infantaria leve e a força blindada pesada.

Conclusão

A partir daqui, será útil ver como o Stryker opera como parte de uma verdadeira força combinada. O Exército ainda não conduziu um exercício de treinamento de larga escala de nível divisão que una uma Brigada de Combate Blindada com uma Brigada de Combate Stryker, para testar como as duas organizações podem melhor usar seus pontos fortes. Lanza observou que a ideia tem sido abordada nos escalões mais altos: “Uma das coisas que discutimos é: devemos ter um ciclo de adestramento híbrido?”30. 

Um exercício desse tipo permitiria que o Exército teste as teorias sobre a interoperacionalidade entre os diferentes tipos de brigadas, que ainda não foi vista fora dos jogos de guerra e dos exercícios do posto de comando. Ainda, pode finalmente definir o papel do Stryker na manobra de armas combinadas, que tem sido, até este ponto, uma dúvida.

Aconteceram vários debates nas Forças Armadas ultimamente sobre se um canhão de 30mm deve ser acoplado ao Stryker, para que seja mais parecido como uma viatura de combate Bradley, ou mesmo se a plataforma deve ser abandonada. 

No final, contudo, se desdobrássemos formações Stryker amanhã para um grande conflito terrestre, seria como estão equipadas atualmente, e não como desejaríamos. O Stryker é uma grande parte da força de infantaria do Exército, e como tal, é imperativo que nós, como o Exército, saibamos como utilizá-lo se formos pedidos para fazê-lo.

Este artigo pesquisou as melhores maneiras para utilizar o Stryker nos níveis operacional e tático ao analisar sua finalidade original e a forma como tem sido utilizado nos exercícios de treinamento recentes. 

Nossa conclusão é que o Stryker pode ser uma parte efetiva de um combate contra um adversário de poder de combate equivalente, mas apenas se for usado de uma forma que aproveita seus pontos fortes e evita suas deficiências. As lições aprendidas nos exercícios de treinamento ao longo dos últimos três anos oferecem uma base para a atualização da doutrina Stryker para solidificar esta plataforma no campo de batalha mecanizado.


Referências
- Douglas A. Macgregor, Transformation under Fire: Revolutionizing how America Fights (Westport, CT: Praeger, 2003), p. 18–19.
- Mark J. Reardon and Jeffery Charlston, From Transformation to Combat: The First Stryker Brigade at War (Washington, DC: U.S. Army Center of Military History, 2007), p. 3.
- Alan Vick, The Stryker Brigade Combat Team: Rethinking Strategic Responsiveness and Assessing Deployment Options (Santa Monica, CA: RAND Corporation, 2003), p. 7.
- H. Charles Hodges Jr. (Coronel do Exército dos EUA [Reserva], ex-oficial de operações de batalhão, 3a Brigada de Combate [3rd Stryker Brigade Combat Team — BCT]), entrevista pelos autores, 11 out. 2016.
- Reardon e Charlston, From Transformation to Combat, p. 15.
- Hodges, entrevista.
- Reardon e Charlston, From Transformation to Combat, p. 69.
- Hodges, entrevista.
- Theodore W. Kleisner (Tenente-Coronel, Exército dos EUA, ex-comandante de companhia, 3rd Stryker BCT), entrevista pelos autores, 20 jul. 2016.
- Kimberly Kagan, The Surge: A Military History (New York: Encounter Books, 2009), p. 81–97. A “Escalada” se refere à mudança de estratégia no Iraque, no início de 2007, que resultou em mais 20.000 militares dos EUA sendo enviados ao país, junto com um foco renovado nas operações de contrainsurgência. O livro de Kagan é a fontes de informações sobre o movimento da 5/20 Infantaria durante seu emprego operacional, em 2007.
- O número de brigadas de combate Stryker é baseado na Revisão Quadrienal da Defesa (Quadrennial Defense Review — QDR) (Washington, DC: Department of - Defense, February 2010), acesso em: 30 ago. 2017, https://www.defense.gov/Portals/1/features/defenseReviews/QDR/QDR_as_of_29JAN10_1600.pdf.
- Richard R. Coffman (U.S. Army colonel, commander, Operations Group, National Training Center), em entrevista feita pelos autores, 26 ago. 2016.
- Stephen R. Lanza (General de Divisão do Exército dos EUA, ex-Comandante, 7a Divisão de Infantaria), em entrevista feita pelos autores,16 nov. 2016.
- Ibid. A ARFORGEN—Army Force Generation, (Sistema de Geração de Forças do Exército)— era o método usado pelo Exército dos EUA para produzir forças treinadas e prontas para emprego em operações externas, com base sustentável e rotacional.
- Lanza, entrevista.
- David C. Foley (U.S. Army colonel, commander, 1st Stryker BCT), em entrevista feita pelos autores, 16 dez. 2016.
- Edward J. Ballanco (Tenente-Coronel do Exército dos EUA, Comandante do 5o Batalhão, 20o Regimento de Infantaria, 1a Stryker BCT), em entrevista feita pelos autores, 21 out. 2016.
- Thomas S. James Jr. (General de Brigada, Exército dos EUA, Comandante da 7a Divisão de Infantaria), em entrevista feita pelos autores, 2 dez. 2016.
- O conceito de “Depósito de Armas” é um princípio chave que orienta o emprego das unidades Stryker. Essencialmente, permite que o comandante ajuste a carga individual de cada soldado para incluir apenas os equipamentos necessários para a operação atual, enquanto guarda o restante dos seus equipamentos no veículo Stryker. Dessa forma, o comandante pode manter a carga de seus soldados leve enquanto ele mantém a capacidade para reequipar e reabastecer suas unidades para uma missão subsequente, conforme seja necessário.
- Coffman, entrevista.
- Lanza, entrevista.

Sobre os autores:

O Cap Stephen Petraeus, Exército dos EUA, é Comandante da Companhia C, 5o Batalhão, 20o Regimento de Infantaria na Base Conjunta Lewis-McChord, no Estado de Washington. É bacharel pelo Massachusetts Institute of Technology. Serviu anteriormente com o Batalhão de Tropas Especializadas, 75o Regimento de Rangers (Comandos do Exército) e a 173a Brigada Aeroterrestre. Cumpriu dois rodízios no Afeganistão em apoio à Operação Enduring Freedom.

O Cap Daniel Reynolds, Exército dos EUA, é Comandante da Companhia A, 5o Batalhão, 20o Regimento de Infantaria na Base Conjunta Lewis-McChord, no Estado de Washington. É bacharel pela Oregon State University. Serviu anteriormente com o 3o Batalhão, 75o Regimento de Rangers e a 82a Divisão Aeroterrestre. Cumpriu dois rodízios no Iraque em apoio à Operação Iraqi Freedom e três no Afeganistão em apoio à Operação Enduring Freedom.

Artigo publicado originalmente na Military Review/ Army Press University/Revista Profissional do Exército dos EUA/Edição Brasileira.

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