domingo, 8 de outubro de 2017

República Centro-Africana; ONU conduz operação de grande porte contra o grupo terrorista 3R

Imagem de Vladmir Monteiro, MINUSCA Spokeperson at RCA.

Por Yam Wanders

Introdução

A República Centro-Africana será o novo desafio para as Tropas Brasileiras que participarão de mais uma missão de paz da ONU em região de conflito aberto entre tropas mal organizadas de uma nação Africana que enfrenta extremas dificuldades econômicas e grupos de terroristas islâmicos que infestam a região que abrange todo o território africano que vai desde a banda do Sahel (território sub-Sahaariano) até as fronteiras com outros países do sul da Africa.

Desde meados de 2010 com o enfraquecimento da Al Quaeda e o surgimento do ISIS/Daesh, muitas estratégias do terrorismo islâmico mudaram e suas ações se assemelham a técnicas empresariais de terceirização e franchising na condução da guerra ideológica religiosa conduzida pelo terrorismo islâmico  no mundo. Somente na região do Sahel, aonde a França conduz a Operação Barkane desde 2014 ( e que na prática apenas é a ampliação da Operação Serval, posta em ação em 2013), pelo menos 10 grupos terroristas maiores já foram identificados, sendo o maior e mais conhecido o Boko Haram. 

A tática do ISIS e outros patrocinadores do terrorismo islâmico internacional é bem simples e inspirada no incentivo à competição de grupos, isto é, todos recebem  armas e suprimentos do ISIS, e o grupo que se destacar mais em suas ações, com maiores objetivos conquistados recebe cada vez mais suprimentos e consequentemente conquista mais poder na região, com direitos aos espólios capturados e prêmios em dinheiro entre outros benefícios, fora o "status" na comunidade terrorista islâmica. Esse será o cenário complexo que as Tropas Brasileiras vão enfrentar em mais uma missão de risco em um continente muito maior e mais perigoso que a pequena Ilha do Haiti, aonde mesmo com pouco a disposição, os militares brasileiros conseguiram fazer muito além do que foi esperado. 

Tropas de Ruanda sob coordenação da ONU já ocupam estradas e principais acessos da Cidade de Bocaranga.

ONU versus "3R"

Entre os inúmeros grupos de terroristas islâmicos que infestam a África e tentam impor suas regras para as populações locais, um tem se destacado em suas ações violentas na região da África Central, o 3R (Retorno, reabilitação e reclamação) mais um grupo de fundamentalistas islâmicos que se inspira nas ações de Bin Laden e recebe suporte do ISIS/Daesch para estabelecer uma região de domínio do ISIS no continente africano.  Desde alguns dias atrás, a região do noroeste do país é atacada por centenas de guerrilheiros que não se intimidam com a presença dos "capacetes azuis" da ONU que integram a "MINUSCA" (Mission multidimensionnelle intégrée des Nations unies pour la stabilité de la République centrafricaine) a missão internacional da ONU que trabalha pela estabilidade da região.
 
Forças Especiais Portuguesas já estão presentes na região à alguns anos. Em breve receberão reforço de Tropas brasileiras. Imagem via RTP Portugal.


A amplitude dos ataques já forçou o êxodo de mais de 15 mil pessoas na região de Bocaranga e pelo menos 8 mil em Niem, sendo que a maioria delas estão escondidas nas florestas sem nenhum tipo de proteção e assistência humanitária. Quanto ao Grupo "3R", seu surgimento se deu em meados de 2015, de maneira oficial para defender o povo da região contra as milícias de um outro grupo fundamentalista islâmico chamado "Balaka", mas desde então o referido grupo tem agido de maneira tão violenta como o anterior que o mesmo se propôs a combater e os relatos de violências graves se tornaram rotina.

A "MINUSCA" já com todas as informações em mãos, deu um "ultimatum" para o grupo abandonar a região no dia 30 de setembro, determinação essa que não foi obedecida pelo grupo 3R, a MINUSCA lançou nesse sábado dia 7 de outubro uma operação de grande envergadura na cidade de Bocaranga (500 km de Bangui) e já estão em rota para a localidade de Bang, ao noroeste do país.

As Tropas engajadas

Para essa ação, estão operando em conjunto, tropas de Forças Especiais de Portugal e tropas regulares de Rwanda, todos sob a coordenação das Nações Unidas e agindo em restrita observação das convenções internacionais. Nos meios moto mecânicos, estão em ação algumas dezenas de veículos blindados ( números não revelados, mas especula-se serem em torno de 25) de modelos não declarados e um número também não revelado de helicópteros pertencentes aos Comandos Portugueses.

Para as Forças Especiais Portuguesas as ações na África não são novidades, pois os mesmos estão presentes na região já a alguns anos e ainda possuem experiência extra do Afeganistão. Imagem via RTP Portugal.

Em apenas um dia de operação, já são contabilizados inúmeros mortos e  feridos entre os guerrilheiros do 3R na região de Bocaranga, devido à atritos que se desenrolaram durante a chegada dos helicópteros que conduziam as Forças Especiais Portuguesas para a localidade, que foram recebidas com intenso fogo de armas leves disparadas pelos integrantes do grupo 3R no local. Outra situação difícil encontrada pelas tropas da MINUSCA na região é a crescente presença de civis nos arredores das bases militares, civis esses que buscam a proteção das tropas da ONU em meio aos caos reinante em todo o território da República Centro-Africana. Entre uma população de aproximadamente 4,5 milhões de pessoas, pelo menos 1,5 milhão se encontram em condições de nômades em fuga dos inúmeros conflitos que infestam a região.


Fonte: Official release by MINUSCA Spokesperson/Porte-parole UN Mission in the Central African Republic Mission de l'ONU en République Centrafricaine.

Baseado na reportagem original de Laurent Lagneau para Opex360.com.fr (8 set 2017 France).

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