Expedicionário Luiz Afonso Rodrigues durante entrevista ao Ten Vital da 2ª DE |
Por: Redação OD
A 2ª Divisão de Exército (2ª DE), sediada em
São Paulo, foi até Valença (RJ) para produzir uma série de reportagens sobre o
histórico 1° Esquadrão de Cavalaria Leve, única Unidade brasileira de Cavalaria
a participar da Segunda Guerra Mundial. Dessa visita, surgiram quatro especiais
que contarão um pouco mais sobre a participação brasileira no teatro de
operações europeu. Convidamos a todos para acompanharem.
O 1° Esquadrão de
Cavalaria Leve
Além de única Unidade da 2ª Divisão de Exército fora do
Estado de São Paulo, o 1º Esquadrão de Cavalaria Leve (1º Esqd C L) guarda,
ainda, outra singularidade mais interessante: foi a única tropa de Cavalaria do
Exército Brasileiro a combater em solo italiano durante a Segunda Guerra
Mundial. O então 1° Esquadrão
de Reconhecimento (Esqd Rec) tem como data de criação o dia 6 de dezembro de
1943. O ano ficou marcado pelo esforço de mobilização do Exército Brasileiro em
constituir a Força Expedicionária Brasileira (FEB). Entre 1944 e 1945, mais de
25 mil militares embarcaram no Rio de Janeiro com destino ao porto de Nápoles,
na Itália.
Museu do 1º Esquadrão de Cavalaria Leve possui um grande acervo |
Os primeiros
cavalarianos brasileiros colocaram os pés em solo europeu no dia 16 de julho de
1944. Oriundos do antigo 2° Regimento Motomecanizado, os militares passaram por
um rápido período de treinamento com o Blindado M-8 Greyhound antes de terem o
seu batismo de fogo. Com apenas um terço de seu efetivo (apenas o 2° Pelotão
havia desembarcado), o 1° Esqd Rec realizou uma missão de reconhecimento e
participou das primeiras vitórias da FEB em Massarosa (em 16 de setembro) e
Camaiore (em 18 de setembro).
Foi na região de Camaiore que o Esquadrão teve
sua primeira baixa em combate: o 2° Sargento Pedro Krinski, de 25 anos de idade, tombou vítima de
estilhaços de granada no dia 24 de setembro de 1944. No dia 6 de
outubro, o restante do Esquadrão desembarcou na Itália. Com o efetivo de 188
militares, completo, o 1° Esqd Rec seguiu realizando missões de reconhecimento. No final de
novembro, os brasileiros se depararam com um dos maiores desafios na Itália:
Monte Castelo. Defronte a essa elevação, a Cavalaria se deteve. Impossibilitada
de subir em um terreno montanhoso, cujo cume estava tomado por metralhadoras
alemãs, a neve foi outro entrave para os blindados. a partir daí, fruto de sua
adaptabilidade característica, contribuiu de outras formas ao esforço nessa
situação.
Memórias de um
combatente: “jogaram muita bomba!”
Expedicionário Luiz Afonso Rodrigues durante a campanha na Itália |
Em Valença,
entrevistamos o Expedicionário Luiz Afonso Rodrigues.
Mineiro de Santa Rita de Jacutinga, nascido em 2 de abril de 1920, o Sr Luiz
serviu no 11° Regimento de Infantaria (11° RI), de São João del-Rei. O batismo
de fogo do Soldado Luiz foi em Monte Castelo. Ele nos relatou as dificuldades
com a neve, pelas quais todos os brasileiros, inclusive os cavalarianos,
passaram na Itália. “Jogaram muito
bomba em cima de nós!
Aí o Tenente Aloísio queria
passar uma orientação para a Artilharia e mandou o sargento levar a informação.
Mas o carro dele ficou preso na neve, e nós custamos a tirar ele de lá. Não
podíamos ficar em pé. Então o tenente pediu que eu fosse levar a informação. Eu
andava dez metros, vinha bomba e eu me jogava no chão. Aí quando eles paravam
eu corria. Com a neve fica difícil. A gente afunda. Cai muito”, revelou Luiz.
Blindado M-8 Greyhound e um meia-lagarta M-3 Half-track, ambos utilizados pelo Esquadrão na campnha da Itália |
A guerra retirou
comodidades da vida do combatente. O Sr Luiz também
enfrentou um sério problema de saúde em meio aos combates de Monte Castelo:
foram os piolhos. “A gente usava muita roupa e comecei a sentir umas mordidas
na pele. E eu não podia nem abrir a roupa por causa do frio. Aí eu pedi para ir
ao médico e descobri que era ‘muquirana’. Porque, às vezes, a gente dormia em
umas camas em alguns casebres abandonados, pois estávamos cansados de dormir no
chão. Lá na retaguarda, tiraram a minha roupa e a queimaram. Fiquei uma semana
tomando banho e passando remédio no corpo. Depois, eu voltei para a luta”,
revelou o Expedicionário.
Novo comandante
O primeiro
Comandante do 1° Esqd Rec, Capitão Flávio Franco Ferreira,
foi retirado de combate por problemas de saúde em dezembro de 1944. O Capitão Plínio Pitaluga assumiu o comando da Unidade, quando
o Esquadrão estava estacionado, junto a toda Divisão de Infantaria
Expedicionária Brasileira, em frente a Monte Castelo.
Aproveitamento do
êxito
Veículo de transporte de tropa meia-lagarta M-3 Half-track |
Com a vitória em
Monte Castelo em 21 de fevereiro de 1945, a FEB rompeu a Linha Gótica – uma das
últimas defesas organizadas alemãs na Itália. Em abril, a vitória na Batalha de
Montese – dentro do contexto da Ofensiva da Primavera – deixaria profundas
marcas nos expedicionários do 11° RI, de São João del-Rei. O Sr Luís descreveu como foi o sangrento combate em
Montese para a Infantaria. “Teve uma noite em Montese que caiu um mundo de
bomba na gente, e morreram dois soldados dormindo e um que estava na posição.
Esse, que estava na posição, não sobrou um osso dele. Então eu liguei para o
chefe. Pediram para eu levar os restos mortais dele para os padioleiros.
A
metralhadora estava retorcida. Ele era do Paraná e sempre falava com a gente o
que queria fazer quando acabasse a guerra. Foi uma pena!”, lamentou o Sr Luís, aos 97 anos de idade, em uma fala bastante pausada,
como se quisesse evitar a emoção e segurar as lágrimas. Apesar da vitória
em Montese, exaltada pelo Comando Aliado na Itália, não havia muito o que
comemorar. Enquanto a Infantaria se reorganizava e contava as baixas, a
Cavalaria executou a missão de aproveitamento do êxito. O 1° Esqd Rec imprimiu
uma intensa perseguição aos alemães, que estavam em retirada. Após atravessar o
Rio Panaro, o caminho ficou aberto para o Esquadrão avançar em busca dos inimigos
pelo Vale do Rio Pó.
Blindado M-8 Greyhound durante uma ofensiva |
Em uma manobra
exemplar, o Esquadrão contornou os alemães e italianos na região de Collecchio
e Fornovo di Taro e impediu que os inimigos continuassem se evadindo. O comando
alemão acreditava que o 1° Esqd Rec era a ponta de lança de uma Divisão
Blindada. Com a chegada do 6° RI à localidade, ocorreu a rendição de 14.779
alemães e italianos à tropa brasileira no dia 28 de abril. Essa data é
relembrada, até os dias de hoje, em cerimônia militar, com direito a encenação
histórica, na cidade de Caçapava, interior do Estado de São Paulo, cidade-sede
do atual 6° Batalhão de Infantaria Leve, sucessor do 6° RI.
A volta para casa
A guerra acabou na
Europa na primeira semana de maio de 1945. Em agosto, todo o Esquadrão já
estava de volta ao Brasil. O Sr Luiz revelou
que a ansiedade era um sentimento comum entre os Expedicionários brasileiros
durante a viagem de volta para casa. “Não dormimos na noite anterior ao
desembarque no Rio. Não víamos terra há dias. Então chegamos. Marchamos para os
cariocas verem. Não tínhamos perna, mas marchamos felizes. Aí fomos para a Vila
Militar e demos baixa”, relatou o Sr Luiz em
tom mais leve, já ao término da entrevista.
Blindado M-8 Greyhound |
Museu do Esquadrão |
FONTE: 2ª Divisão de Exército
Nota da Redação: Os dois veículos expostos, tanto nas fotos do Exército (2ª DE), como as de nosso editor durante visita a esta OM em 2015, foram restaurados pelo Esquadrão e nas suas formaturas os mesmo são colocados em exposição.
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