domingo, 3 de março de 2019

CONCORDE: 50 anos do mito supersônico!



Por: René Willian.

            Já imaginou voar de Nova Iorque à Paris em aproximadamente 3h30min? Sim, os voos atuais duram cerca de 7h30min. Já imaginou voar em uma altitude onde não existe turbulência? E voar tão alto a ponto de ver a curvatura da Terra? Imaginou? E se eu te disser que tudo isso já foi possível um dia? Sério! E tudo realizado por um mito da aviação, o CONCORDE!



                Após a Segunda Guerra Mundial, o mundo aeronáutico estudava a aerodinâmica de alta velocidade e o investimento no desenvolvimento de aeronaves supersônicas era muito forte, porém esses estudos e os resultados deles eram voltados para a área militar com aviões de caça e bombardeiros cada vez mais rápidos e potentes. Eis que no final da década de 50 surgiu o interesse de desenvolver aeronaves comerciais de alta velocidade. Os americanos, os ingleses, os franceses e até os soviéticos entraram na “brincadeira”, cada um com seu projeto!

                Os americanos da Boeing estavam desenvolvendo o modelo 2707, e até montaram um mock-up de madeira em tamanho real, já os soviéticos estavam idealizando, junto com a Tupolev, o TU-144. Os franceses da SUD trabalhavam o Super-Caravelle e o projeto dos ingleses era o Type 223 da BAC.

                Em 25 de outubro de 1962, os ingleses e os franceses decidiram unir seus esforços e conhecimentos e criar um projeto franco-britanico, no qual recebeu o nome de Concorde. O projeto soviético foi o primeiro a voar em 31 de dezembro de 1968, dois meses antes do projeto franco-britanico que voou em 02 de março de 1969.

                O projeto americano foi cancelado em 1971 em meio a um protesto geral nos EUA contra o Concorde.

                Em 4 de setembro de 1971 o Concorde começou a sua série de voos de demonstração em uma turnê mundial, inclusive inaugurando o Aeroporto Internacional de Dallas-Fort Worth em 1973, quando a aeronave visitou os Estados Unidos. Estes voos de demonstração fizeram com que a aeronave acumulasse muitos pedidos de compra.



                O Concorde acumulava uma lista com cerca de 100 pedidos, entre as companhias interessadas estavam a American Airlines, PAN AM, TWA, Qantas, Lufthansa, Japan Airlines, entre outras, entretanto, uma avalanche de cancelamentos ocorreu devido a uma conjunção de vários fatores, como a crise do petróleo dos anos 1970, dificuldades financeiras por parte dos parceiros das companhias aéreas, e alegados problemas ambientais, como elevado ruído ao ultrapassar a barreira do som e poluição atmosférica. Em 03 de junho de 1973 o protótipo soviético do TU-144 sofreu um fatídico acidente no Show Aéreo de Le Bourget, matando seus 6 tripulantes e 8 em terra, ferindo 16 pessoas e destruindo 15 casas, colocando uma grande dúvida sobre os projetos de aviões comerciais supersônicos, complicando ainda mais a reputação do Concorde. No final, apenas Air France e British Airways restaram como compradoras.

                Ambas as companhias europeias realizaram uma série de voos testes e voos de demonstração ao redor do globo, a partir do ano de 1974, quando recordes aeronáuticos foram estabelecidos, e até hoje não superados.

                O Concorde entrou em serviço em 21 de janeiro de 1976 ligando Paris ao Rio de Janeiro, tendo que realizar uma escala técnica em Dakar. A velocidade de cruzeiro dessa incrível máquina era 2,5 vezes superior ao avião comercial convencional (cerca de 1.150kt). Voar no Concorde era uma experiencia única. Uma vez um Concorde decolou de Boston rumo a Paris ao mesmo tempo que um Boeing 747 decolava de Paris para Boston. O concorde chegou em Paris, ficou um hora em solo e decolou rumo a Boston, pousando 11 minutos antes do Boeing 747. O Concorde possuía um sistema Droop-nose, ou seja, seu nariz era abaixado nos pousos e decolagens, pois como o ângulo de ataque para estas manobras era muito grande, e o nariz longo atrapalharia a visão do piloto em relação a pista caso ele não se inclinasse para baixo.


                Uma coisa que o Concorde não conhecia muito era a turbulência, pois era raro enfrentar uma devido a altitude em que o voo era realizado. Olhando pela janela podia-se ver claramente a curvatura da Terra. Sua operação nos Estados Unidos foi restringida por muito tempo devido ao ruído e poluição, pois se tratava de um avião supersônico.

                Os custos de desenvolvimento do Concorde foram tão altos que jamais seriam recuperados através de operações convencionais, e o avião nunca foi comercialmente rentável. Porém era uma maneira de mostrar ao mundo que a Europa era capaz de se manter na vanguarda tecnologica aeroespacial através de cooperação entre os governos daquele continente.

                Os serviços de passageiros no Concorde permaneceu sem acidentes por cerca de 24 anos. Ao longo destes anos, o avião rodou o mundo nas duas direções, visitando todos os continentes, exceto a Antártida. Porém em 25 de julho de 2000, uma das aeronaves da Air France (voo AF4590) sofreu um acidente fatal caindo sobre um hotel em Paris matando 113 pessoas (100 passageiros, 09 tripulantes e 04 em solo). As investigações apontaram que o acidente foi causado por uma peça que se soltou de um DC-10 da empresa Continental Airlines que decolou minutos antes do Concorde, sendo a empresa americana responsabilizada pelo acidente.

                Após o acidente, a frota de Concorde passou por minuciosas vistorias e modificações técnicas exigidas pela BEA (Bureau d'Enquêtes et d'Analyses) e após 15 meses voltaram a ativa, porém os custos altos de manutenção e a falta de passageiros interessados em voar no Concorde levaram a Air France e a British Airways decidirem juntas em 10 de abril de 2003 a encerrarem os voos comerciais da aeronave. A Air France realizaria o ultimo voo em 31 de maio de 2003 e a British Airways em 24 de outubro do mesmo ano.

                O último voo oficial foi realizado pela aeronave G-BOAF da British Airways, em 26 de novembro de 2003, para Filton, sua terra natal, quando homenagens e manobras foram realizadas, como o movimento do "nariz" (levantamento e abaixamento). Logo depois seus motores foram desligados fechando um dos mais gloriosos capítulos da aviação comercial mundial.
                Dois protótipos (001 e 002) foram produzidos para aperfeiçoamentos no projeto inicial. Mais duas aeronaves foram construídas (101 e 102), como aeronaves de pré-produção, e também serviram para refinar o projeto, de forma a aproximá-lo da configuração ideal para o serviço comercial. Foram feitas alterações no projeto dos motores, ensaios de rolagem em pista molhada, ensaios de altitude, em altas e baixas temperaturas e testes de sistemas e componentes com as novas tecnologias que estavam surgindo, como reversores e freios de carbono. Também foi reprojetada a seção de nariz, com inclinação para uma melhor visibilidade do piloto. As unidades 201 e 202 também nunca entraram em serviço comercial, sendo utilizadas em testes como as anteriores, como treinamento da tripulação, testes de rotas, de resistência, refinamento técnico e desenvolvimento. Portanto, das vinte unidades produzidas, apenas quatorze operaram comercialmente, sete pela British Airways e sete pela Air France.

                Dos vinte Concordes produzidos, dezessete estão expostos (um na fábrica da Airbus, em Toulouse, quatro em aeroportos e doze em museus aeroespaciais).

                O Concorde foi o primeiro avião comercial no mundo a utilizar a tecnologia Fly-by-wire que vemos hoje em muitos aviões comerciais. Foi, é, e sempre será um mito!


            Dados técnicos

Dimensões
Comprimento: 61,65 m
Envergadura: 25,6 m
Altura: 12,2 m
Lugares: 110 poltronas



Pesos
Peso Básico Operacional: 78.700kg
Peso Máximo Zero Combustível: 92.080kg
Capacidade de carga paga (payload): 13.380kg
Peso Máximo de Descolagem: 185.000kg
Peso Máximo de Pouso: 111.130kg



Desempenho
Velocidade Máxima de Operação: Mach 2,04
Velocidade Normal de Cruzeiro: Mach 2,00
Altitude Máxima de Operação: 60.000 pés / 18.300 m
Alcance oficial: 3.700 NM ou 6.852 km (O recorde da aeronave é de 3.965 NM no voo Washington – Nice em 11 de setembro de 1984)



Motor
Modelo do Motor: Olympus 593 Mk 610-14-28 (versão final, de produção)
Fabricante do Motor: Rolls-Royce / Snecma
Potência Máxima produzida por Motor na decolagem (pós-combustores acionados): 38.050 lbf (169,2 KN)
Capacidade de Combustível: 119.500 Litros / 95.680kg
Consumo de Combustível (1 motor em Idle, no solo): 1.100kg/hora ou 2.400 libras/hora
Consumo de Combustível (1 motor em potência máxima "seca", no solo): 17.500kg/hora ou 23.150 lbs/hora
Consumo de Combustível (1 motor em potência máxima + pós-combustor, no solo/decolagem): 38.500kg/hora ou 49.604 lbs/hora


Texto por René Willian via RockAircraft.

Publicado originalmente com o titulo "CONCORDE: o mito!" em 02 de março de 2017:

Nenhum comentário: