quarta-feira, 30 de maio de 2018

Morre em Paris Serge Dassault, o homem que revolucionou o setor da aviação militar

Serge Dassault em um caça Rafale, feito pela empresa da família; ele morreu aos 93 anos de parada cardíaca - Charles Platiau - 11.jun.1999/Reuters
Por: Redação OD

Morreu nesta segunda-feira (28) o bilionário francês Serge Dassault, 93. Conhecido por comandar o império empresarial de aviação militar que leva o sobrenome da família, ele também tentou uma carreira na política e foi dono de diversas publicações, entre elas o jornal Le Figaro. Além do sucesso no mundo dos negócios, multiplicando a herança que recebeu do pai, sua vida também ficou marcada por uma sucessão de escândalos políticos e de corrupção. Serge morreu após sofrer uma parada cardíaca em seu escritório em Paris, segundo um comunicado da família. O herdeiro do império Dassault esteve durante muito tempo na sombra de seu pai, o engenheiro e pioneiro da aviação Marcel Bloch-Dassault, que foi deportado durante a Segunda Guerra Mundial.

Criador dos modelos militares Ouragan, Mystère e Mirage, dono da revista Jours de France e deputado apoiador do presidente Charles de Gaulle (1890-1970), Marcel morreu em 1986, aos 94 anos. Nascido em 4 de abril de 1925, Serge entrou na empresa da família aos 26 anos, egresso da Escola Politécnica, onde se formou engenheiro aeronáutico. Mas atuou somente na filial Dassault Électronique, da qual se tornou presidente-executivo em 1967. "Quando entrei na empresa, senti que o incomodava", disse ao semanário VSD, referindo-se ao pai. Serge "queria empreender, queria cargos mais importantes. Mas não havia lugar para dois", afirmou à agência de notícias AFP o historiador Claude Carlier, autor de livros sobre a família. Na Dassault Électronique, suas capacidades despertaram opiniões contraditórias: sagaz e astuto para uns, ingênuo, sem diplomacia e "de estilo abrupto" para outros. 

Com a morte de Marcel Dassault, o Estado francês, acionista de 46% do grupo, inicialmente considerou Serge pouco capaz para substituí-lo, mas, após seis meses de disputa, ele conseguiu chegar ao comando da companhia. Na nova posição, percorreu o mundo para promover seus caças Mirage e, mais recentemente, Rafale. Com isso, vieram também as primeiras denúncias de irregularidades. Acabou condenado na Bélgica em 1998 a dois anos de prisão por corrupção ativa — a pena acabaria suspensa. Em 2000, deixou a presidência da Dassault Aviation, mas manteve a posição na holding familiar GIMD (Groupe Industriel Marcel Dassault). Em 2014 detalhou as modalidades de sua sucessão: seu homem de confiança e diretor-geral do GIMD, Charles Edelstenne, o sucederá "automaticamente" no comando do grupo.

POLÍTICA 

Serge Dassault (dir.) em Paris ao lado do pai Marcel, fundador do grupo empresarial da família - Charles Platiau - 25.set.1985/Reuters
Paralelamente a seus interesses industriais, Serge também se lançou na política, como já tinha feito seu pai. Foi prefeito de Corbeil-Essonnes (cidade próxima a Paris), entre 1995 e 2009 e senador entre 2004 e 2017, sempre por partidos de centro-direita. Com a vida política, porém, vieram também uma nova leva de escândalos e julgamentos. Em abril de 2014, foi acusado de comprar votos, de ser cúmplice em um esquema ilegal de financiamento de campanhas e de exceder os gastos quando foi prefeito de Corbeil-Essonnes. Três anos depois recebeu uma nova condenação, dessa vez por esconder milhões de euros em Luxemburgo, Liechtenstein e nas Ilhas Virgens. Só evitou a prisão por causa da idade, mas foi multado em 2 milhões de euros (R$ 8,6 milhões) e ficou proibido de concorrer a um cargo público por cinco anos —o caso pôs fim a sua carreira política. 

Foi após a entrada na política que decidiu investir no setor jornalístico ao comprar, no início dos anos 2000, o grupo Valmonde, que edita a revista Valeurs Actuelles, e depois em 2004 a Socpresse, do grupo Hersant. Chegou a controlar até 70 publicações, entre elas o jornal Le Figaro e a revista L'Express, além do clube de futebol Nantes. Vendeu quase tudo dois anos depois, mantendo o controle apenas do Le Figaro, um dos principais jornais do país. O industrial estava à frente da terceira maior fortuna da França, com ativos de US$ 14,8 bilhões (R$ 55,3 bilhões), segundo a revista Forbes. Serge Dassault deixa quatro filhos, todos com a mulher Nicole Raffel, com que se casou em 1950: Laurent, Olivier (que é deputado), Thierry e Marie-Hélène.

*Com informações da Agência AFP

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