terça-feira, 20 de março de 2018

USS Langley e o início da era dos Porta-Aviões

"USS Langley (CV-1)" a caminho de San Diego, California, com aviões modelo "Vought VE-7" na pista de pouso. O "USS Somers (DD-301)" viaja ao lado como escolta no ano de 1928. foto de autor desconhecido via U.S. Navy photo NH 81279.

Por: Yam Wanders
com textos traduzidos de Richard C. Knott e Ben Mackworth-Praed.

É inegável que quando pensamos em um porta-aviões sempre virá a mente a imagem dos grandes colossos norte-americanos que vimos em filmes e nas notícias das grandes operações militares. Apesar de outros países que organizaram testes com navios convertidos e até mesmo a construção de embarcações com a finalidade direta de ser um porta-aviões na mesma época, a Marinha dos Estados Unidos da América é a pioneira inegável com esse tipo de embarcação, com o comissionamento de seu primeiro porta-aviões na data de hoje, no ano de 1922, começando essa era de incríveis navios com o comissionamento do USS Langley (CV-1). 


O USS Jupiter, foto de autor desconhecido via U.S. Navy photo NH 52365.

Inicialment o USS Langley era um navio de tranporte que foi comissionado como USS Jupiter em 7 de abril de 1913, construído pelo estaleiro "Mare Island Navy Yard", Vallejo, California, teve seu batimento de quilha em 18 de outubro de 1911 e lançamento ao mar em 14 de agosto de 1912. 
Como USS Jupiter, participou ativamente de várias missões na 1a Guerra Mundial e em outras tranportando tropas do USMC para diversas regiões de operações efetuadas pela U.S. Navy na costa do México nos anos seguintes ao seu 1° comissionamento.
Outra curiosidade é que o USS Langley foi o primeiro navio a usar a então novidade da propulsão por motores turbo-elétricos, uma grande inovação para a época.

Foto do inicio dos trabalhos de conversão do ex USS Júpiter em 14 de maio de 1921. Foto de autor desconhecido via  U.S. Navy National Naval Aviation Museum photo NNAM.1996.488.010.002.

Sua conversão para porta-aviões foi realizada pelos estaleiros da U.S. Navy em Norfolk, Virgínia no ano de 1919 e seus testes iniciais se deram em 11 de abril de 1920, bem antes do porta-aviões Hosho da Marinha Imperial do Japão.
Seu primeiro teste com o lançamento de um avião foi em 17 de outubro de 1922 com uma aeronave  Vought VE-7 pilotada pelo Lt. (1°Tenente) Virgil C. Griffin, e,  nove dias depois o Lieutenant Commander Godfrey de Courcelles Chevalier efetua o primeiro pouso em seu deck com uma aeronave Aeromarine 39B. Finalmente em 18 de novembro, Commander Kenneth Whiting foi o primeiro aviador a ser catapultado do deck do USS Langley, e outro fato interessante é que o Commander Whiting foi também o primeiro comandante do USS Langley e pioneiro em desenvolver técnicas de filmagens com câmeras embarcadas nas aeronaves e no deck do porta-aviões para a análise das aproximações de pousos dos pilotos. Sua vida operacional se inicia em 15 de janeiro de 1923, com intensas operações aéreas no Mar do Caribe.
Foto do USS Langley no porto de Puget Sound Navy Yard, com os porta-aviões USS Saratoga (CV-3) identificado por uma faixa preta na chaminé, e, o  USS Lexington (CV-2) por volta de 1930. Foto de Chief Photographer's Mate John L. Highfill, via U.S. Navy photo NH 95037 .


Em guerra

Quando a 2a Guerra começou no Oceano Pacífico, o USS Langley estava ancorado ao largo de Cavite City nas Filipinas no dia  de dezembro, mas conseguiu escapar ao avanço japonês que dominou todas as ilhas filipinas nos meses seguintes, sendo deslocado para Balikpapan nas ilhas das Índias Ocidentais Holandesas e depois para Darwin na Austrália, aonde integrou o "American-British-Dutch-Australian Command" (ABDACOM) naval forces em 1° de janeiro de 1942 para efetuar missões de tranporte de aeronaves para diversos portos e bases do teatro de operações do norte da Austrália
No dia 27 de janeiro de 1942, o USS Langley estava rumando para Tjilatjap na Ilha de Java, quando foi localizado por uma aeronave de reconhecimento japonesa, e por volta de 11:40h (horário local) e a uma posição de aproximadamente 75 milhas (120km) de Tjilatjap, o USS Langley e outros dois navios que o escoltavam ( os destróyers "Whipple and Edsall") foram atacados por 16 aeronaves Mitsubishi G4M "Betty" liderados pelo Lieutenant Jiro Adachi da  Imperial Japanese Navy Air Service's (Takao Kōkūtai) que efetuaram duas levas de ataques que inicialmente não surtiram efeitos, mas na terceira leva conseguiram acertar suas bombas com eficiência e causar graves danos ao USS Langley com um mix de bombas de  250 and 60 kg, que acabaram por incendiar o navio e entre outras avarias, causaram a inundação das salas de máquinas. As 13:32h (hora local) foi dada a ordem de abandono da embarcação, e logo após a evacuação completa da mesma, os destróyers de escolta que o acompanhavam efetuaram o disparo de nove tiros de munição de 100mm e 2 torpedos contra o casco do USS Langley, para garantir seu afudamento e evitar a provável captura do navio pela Marinha Imperial Japonesa. A localização aproximada do local do afundamento do USS Langley são: S 8° 51′ 04.20″ × E 109° 02′ 02.56″.
Foto do momento do torpedeamento do USS Langley pelo USS Whipple(DD-217) imagem via. U.S. Navy photo NH 92476.
Capacidades como Navio aeródromo


Deslocamento: 14 100 t (31 100 000 lb) como USS Langley (CV-1)
Comprimento: 165,2 m (542 ft)
Boca: 19,9 m (65,3 ft)
Calado: 7,3 m (24,0 ft) como USS Langley (CV-1)
Propulsão Transmissão turbo-elétrica General Electric: 3x caldeiras, 2x hélices
Velocidade: 15,5 kn (28,7 km/h)
Autonomia: 3 500 m.n. (6 480 km) à 10 kn (18,5 km/h)
Armamento: 4x armas de 102 mm (4,02 in) cal. 50 
4x armas de 127 mm (5,00 in) cal. 51 como USS Langley
Aeronaves: 36 como USS Langley
Equipamentos especializados: 1x elevador de aeronaves, 1x catapulta
Tripulação: 468 oficiais e homens como USS Langley.











A disputa com o porta-avião japonês "Hōshō/Phoenix"

O IJN "Hosho" (Fênix). Foto de autor desconhecido, via Kure Maritime Museum, Japanese Naval Warship Photo Album: Aircraft carrier and Seaplane carrier, Supervisory editor: Kazushige Todaka, p. 12.

Citado como seu "concorrente", o porta-aviões Hoshõ, construído pelo armador Asano Shipbuilding Company, Tsurumi-ku de Yokohama, o mesmo quase conseguiu entrar em serviço antes do USS Langley, já que o Japão nos anos 20 já se preparava para novas guerras na Ásia contra a China e outras nações vizinhas dentro de sua política de expansionismo político & estratégico, porém os japoneses mesmo tendo projetado uma excelente embarcação já com o propósito fim de ser um porta-aviões, os japoneses ainda careciam de uma engenharia experiênte e principalmente de material especializado para tal empreitada, porém o mesmo teve seu batimento de quilha em 16 de dezembro de 1920, foi lançado ao mar em 13 de novembro de 1921 e por uma diferença de 9 meses do USS Langley o "IJN" (Imperial Japanese Navy) Hosho foi comissonado, em 27 de dezembro de 1922.
Por muitos especialistas o Hosho é considerado como o 1° autêntico porta-aviões do mundo, pois seu projeto e construção não foi derivado de outros tipos de embarcações.
Hōshō no estaleiro de Tsurumi-ku lançado ao mar em 20 de dezembro de 1921. foto de autor desconhecido via Kure Maritime Museum, Japanese Naval Warship Photo Album: Aircraft carrier and Seaplane carrier, Supervisory editor: Kazushige Todaka, p. 8.


Quem foi Samuel Langley

Samuel Pierpont Langley nasceu em Roxbury, perto de Boston, Massachusetts, nos Estados Unidos da América. Formou-se na Boston Latin School, e foi assistente do Harvard College Observatory. Foi ainda professor de Matemática da Academia Naval dos Estados Unidos. Em 1867, foi nomeado director do Allegheny Observatory e professor de astronomia na Universidade de Pittsburgh, em Pittsburgh, Pennsylvania. Exerceu estas funções até 1891 apesar de, entretanto, se ter tornado o terceiro secretário do Instituto Smithsonianiano, em Washington, DC, em 1887. Langley foi ainda o fundador do Smithsonian Astrophysical Observatory.

Autoretrato de Samuel Langley. Imagem via Smithsonian Institution.


Em 1886, Langley foi agraciado com a Medalha Henry Draper, da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos, devido às suas contribuições no campo da física solar. Em 1878, Langley inventou o bolómetro, um instrumento usado para medir a incidência da radiação electromagnética. A publicação, em 1890, das suas observações sobre os infra-vermelhos junto com Frank Washington Very, foi posteriormente a base para a formulação dos primeiros cálculos sobre o efeito estufa, realizados por Svante Arrhenius.
Langley interessou-se pela construção de aparelhos que pudessem voar. Efectuou diversas tentativas usando aviões a que chamava Aerodromes. Usualmente, o nome de Langley é usado para contrastar com os irmãos Wright. Ao contrário daqueles homens, Langley possuía elevada instrução académica e dispunha de fundos para suportar os seus esforços para desenvolver um aparelho que pudesse voar. Além disso, a sua prestigiante posição como Secretário do Instituto Smithsonian, garantia-lhe credibilidade atraindo as atenções de investidores para os seus projetos.
Modelo a um quarto de escala de um Aerodrome de Langley, 1896. 
Foto de Samuel Langley via Smithsonian Institution.


Em 1896, Langley construiu um avião a vapor, não-tripulado, que foi designado por Aerodrome nº 6. Em 28 de Novembro daquele ano, o aparelho voou cerca de 1.200 metros até acabar o vapor que o movia. O aparelho não possuía qualquer sistema que permitisse direccionar o seu vôo. Naturalmente, máquinas a vapor são bastante pesadas e provou-se que não seriam práticas para voar. Ainda assim, o sucesso do modelo número 6, permitiu que Langley convencesse o Departamento de Guerra (agora Departamento de Defesa) a investir 50.000 dólares no sentido de criar uma máquina voadora que pudesse ser pilotada. O Instituto Smithsoniano contribuiu com uma soma similar no apoio aos esforços de Langley. Assim, o assistente de Langley, Charles M. Manly, projectou uma máquina com cerca de 60 quilos, gerando 52 cavalos-vapor, que deveria garantir o sucesso. O resultado foi um avião mais adequado, que Langley chamou de Large Aerodrome A. Langley percebeu que os riscos em caso de insucesso seriam menores se o teste fosse realizado sobre a água. Assim, gastou praticamente metade dos fundos para construir uma barcaça com uma catapulta capaz de impulsionar o seu novo aparelho. Em 7 de Outubro de 1903, com Manly no comando, o avião de Langley foi lançado para pouco tempo depois mergulhar no Rio Potomac.

O "Aerodrome A" em seu lançamento no Rio Potomac em 7 de outubro de 1903. Foto de Samuel Langley via Smithsonian Institution.

Crê-se que o Great Aerodrome talvez tivesse voado se Langley tivesse optado pelo meios mais convencionais de elevar os aparelhos desde o solo, apesar dos maiores riscos para o tripulante. Na verdade, o esforço da catapulta sobre o aparelho foi enorme, danificando a estrutura das asas dianteiras logo no arranque. A situação foi ainda pior na segunda tentativa, em 9 de Dezembro de 1903, quando a asa traseira e a cauda do aparelho foram completamente esmagadas no lançamento. Charles Manley quase morreu afogado antes de ser resgatado dos destroços do aparelho sobre a superfície coberta de gelo do Rio Potomac.

Naturalmente, as críticas não se fizeram esperar. O jornal The Brooklyn Eagle citou um político de Washington como tendo dito:

"Digam a Langley por mim que a única coisa que ele alguma vez fez voar foi o dinheiro do Governo." (Frase que até hoje é usada para ironizar sobre o que faz um avião voar; dinheiro X leis da física)

Um outro representante de Washington descreveu a Langley como "um professor com imaginação, com sonhos de voar, a quem se deu os recursos de construir castelos no ar."

O Departamento de Guerra. no seu relatório final sobre o projecto de Langley, concluiu que "ainda estamos longe do objectivo final e parece-nos que necessitaremos ainda de anos de constante trabalho e estudo efectuado por especialistas, junto com o investimento de milhares de dólares, antes de podermos ter a esperança de produzir um aparelho de utilidade prática nesta área."
No entanto, em 17 de Dezembro de 1903, apenas oito dias depois do espectacular fracasso de Langley, foi lançado ao ar com auxilio de uma catapulta em Kitty Hawk, Carolina do Norte, um aparelho mais resistente, chamado de Flyer 1, foi construído por Orville e Willbur Wright, custando apenas cerca de mil dólares. Desiludido, Langley abandonou o seu projecto.
Samuel Pierpont Langley morreu destroçado e desapontado em 27 de Fevereiro de 1906, em Aiken, Carolina do Sul após uma série de ataques cardíacos.
Apesar de dezoito anos de esforços para alcançar a imortalidade terem redundado em fracasso, Langley acabou por dar uma importante contribuição no progresso da aviação. Em 1914, oito anos depois de sua morte, o Aerodrome sofreu várias mudanças e voou com êxito em Hammondsport, Nova Iorque, pilotado por Glenn Hammond Curtiss.

Biografia de Samuel Langley:
Com textos traduzidos de Richard C. Knott e Ben Mackworth-Praed na biografia de .
A Heritage of Wings, An Illustrated History of Naval Aviation, por Richard C. Knott, Naval Institute Press, Annapolis, Maryland, 1997
Aviation, The Pioneer Years, publicado por Ben Mackworth-Praed, Studio Editions, Ltd., Londres, 1990

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