terça-feira, 1 de agosto de 2017

O que se sabe sobre a capacidade militar da Coreia do Norte. Arsenal vem aumentando, mas potencial de destruição ainda é dúvida

Míssil intercontinental norte-coreano Hwasong-14 (Foto: KCNA/via REUTERS )
Por: Redação OD

O anúncio de que a Coreia do Norte testou com sucesso seu segundo míssil de longe alcance em menos de um mês redobrou os temores sobre a real capacidade militar do país, um dos mais isolados do mundo. O governo norte-coreano afirmou que o lançamento, ocorrido na última sexta-feira, foi uma "advertência" aos Estados Unidos e sua vontade de impor novas sanções contra Pyongyang, ao mesmo tempo em que reforçou que responderá a qualquer intervenção de Washington.


Analistas dizem que esse segundo teste foi mais poderoso do que o primeiro, em 4 de julho, já que dessa vez o míssil poderia atingir o leste dos Estados Unidos, como a cidade de Nova York, por exemplo. Em retaliação, o governo americano subiu o tom e enviou bombardeiros para a Península da Coreia, onde foram feitos exercícios militares conjuntos com caças japoneses. Para a embaixadora dos Estados Unidos na ONU, Nikki Haley, o tempo de falar sobre a Coreia do Norte "acabou" e a China - tida como um dos raros países a manter relações próximas com o vizinho comunista - precisa "agir".


"Não é apenas um problema dos Estados Unidos. Isso exigirá uma solução internacional", disse ela em sua conta oficial no Twitter. Mas qual é a real capacidade militar da Coreia do Norte? Em primeiro lugar, não se sabe o verdadeiro alcance desses mísseis intercontinentais, ou seja, se poderiam atingir os EUA, como advoga a Coreia do Norte. Além disso, restam dúvidas sobre se o país conseguiria evitar que os projéteis explodam ao entrar novamente na atmosfera terrestre. A única certeza é de que o arsenal de mísseis norte-coreano avançou nas últimas décadas, de foguetes de artilharia criados a partir de modelos da 2ª Guerra Mundial para mísseis de médio alcance capazes de atingir alvos no Oceano Pacífico.

Agora, a Coreia do Norte parece focada em construir mísseis de longa distância, que teriam o potencial de atingir a parte continental dos Estados Unidos. Dois tipos de mísseis balísticos intercontinentais (ICBM), conhecidos como KN-08 e KN-14, vêm sendo exibidos em paradas militares desde 2012. Carregados e lançados da traseira de um caminhão modificado, o KN-08 teriam um alcance de 11,5 mil km, enquanto o KN-14, de 10 mil km.

ICBM

Os mísseis balísticos intercontinentais são vistos com preocupação porque permitem a um país manejar um significativo poder de fogo contra um oponente do outro lado do planeta. O único motivo para gastar dinheiro, tempo e esforço em construí-los é para poder usar armas nucleares. Durante a Guerra Fria, Rússia e Estados Unidos buscaram formas diferentes para proteger e lançar tais mísseis, que foram escondidos em silos, caminhões pesados e submarinos. Todos os ICBMs seguem um modelo parecido.


Os mísseis são alimentados por combustível sólido ou líquido, e saem da atmosfera rumo ao espaço. A carga do projétil - normalmente uma bomba termonuclear - então entra novamente na atmosfera e explode ora acima ou diretamente sobre o seu alvo. Alguns ICBMs consistem em "Mísseis de Reentrada Múltipla Independentemente Direcionados" (MIRV, na sigla em inglês).

Os MIRVs são projéteis lançados em terra ou mar (de um submarino) o qual, após ativar sua pós-combustão e deixar a atmosfera, fragmentam-se em diversas partes com orientação independente, atingindo múltiplos alvos e causando maior impacto pela alta velocidade atingida, confundindo os sistemas de defesa. Durante a Guerra Fria, o alcance e o potencial de destruição dos ICBMs foram considerados chave para o conceito de "Destruição mútua assegurada" (MAD, na sigla em inglês), doutrina de estratégia militar pela qual o uso maciço de armas nucleares por um dos lados acabaria por resultar na destruição de ambos - agressor e defensor.

Arsenal


O programa de mísseis da Coreia do Norte começou com os Scuds (míssil balístico móvel, de origem soviética, com curto alcance), importados do Egito em 1976. Mas, menos de dez anos depois, em 1984, o país já estava construindo sua própria versão do projétil, chamada de Hwasong. Tais mísseis têm um alcance estimado de cerca de 1 mil km, e carregam ogivas convencionais, químicas ou possivelmente biológicas. Em uma análise publicada em abril de 2016, o Instituto Internacional para Estudos Estratégicos, think tank global especializado em conflitos militares e políticos, avaliou que esses projéteis podem "atingir todo o território da Coreia do Sul e grande parte do Japão".

As relações entre as duas Coreias são tensas e se mantêm, tecnicamente, em constante alerta de guerra. Os Hwasong-5 e Hwasong-6, também conhecidos como Scud-B e Scud-C, contam com alcances de 300 km e 500 km respectivamente, segundo o Centro de Estudos de Não Proliferação de Armas dos Estados Unidos. Ambos os mísseis já foram testados e utilizados - inclusive, o Hwasong-6 já foi vendido ao Irã.


Já os Nodong têm médio alcance. Desenhados com base no Scud, mas 50% maiores e com motores mais poderosos, podem atingir alvos a até mil quilômetros de distância. No entanto, uma variante desse projétil desenvolvida em outubro do ano passado poderia alcançar 1,6 mil quilômetros. Nesse caso, representaria um risco real para as bases americanas na ilha de Okinawa, no sul do Japão. Os Musudan, por sua vez, são mísseis de alcance intermediário, testados várias vezes. Mas as estimativas sobre seu alcance variam.

A inteligência de Israel afirma que eles atingem alvos a até 2,5 mil quilômetros de distância, enquanto a Agência de Defesa de Mísseis dos Estados Unidos calcula que cheguem a 3,2 mil quilômetros. Outras fontes dizem que podem alcançar 4 mil quilômetros. De qualquer modo, os Musudans - também conhecidos como Nodong-B - poderiam ameaçar a Coreia do Sul e o Japão. E, caso a última estimativa seja verdadeira, chegariam, inclusive, à base americana de Guam, na Micronésia.

Além disso, a Coreia do Norte afirma ter testado um "míssil balístico de médio a grande alcance", o Pukguksong, em agosto de 2016, lançado a partir de um submarino. Em fevereiro deste ano, país voltou a realizar testes desses mísseis, desta vez partindo da terra. O governo norte-coreano diz que usa combustível sólido, o que faz o lançamento desses mísseis ser mais rápido. O alcance deles, porém, ainda é desconhecido. A Coreia do Norte também possui em seu arsenal os chamados mísseis multietapa (mísseis lançados em duas ou mais partes - ou "etapas"- e cada uma delas têm seus próprios motores e propulsores).


O Taepodong-1, conhecido como Paektusan-1 no país, foi o primeiro míssil multietapa do país, testado em 1998 como lançador espacial. A Federação Americana de Ciências (FAS, na sigla em inglês), um centro de estudos independente, acredita que o Tapodong-1 estava composto em sua primeira etapa por um míssil Nodong e na segunda por um Hwasong-6. Depois desse, veio o Paektusan-2, que também é um míssil de duas ou três etapas, mas com avanços significativos. Tais projéteis foram testados várias vezes na última década.

Seu alcance é calculado entre 5 mil e 15 mil quilômetros.

A Coreia do Norte se refere ao lançador do Taepodong-2 como "Unha", que significa galáxia, em coreano. Ele foi utilizado com sucesso em fevereiro de 2016 para lançar um satélite. Apesar desse tipo de lançamento ter uma trajetória distinta - e seus foguetes serem otimizados para um propósito diferente -, a tecnologia básica utilizada é a mesma. Isso inclui a estrutura, os motores e o combustível. Se tiver seu lançamento bem-sucedido, o Taepodong-2 chegará ao alcance máximo estimado, o que significa que poderia ir até a Austrália e partes dos Estados Unidos - além de outros países dentro desse perímetro. Atualmente, acredita-se que a Coreia do Norte tenha um arsenal de mil mísseis, com capacidades distintas.

FONTE: BBC Brasil

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