quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Controle de avarias (CAv); Exercício de "crash de convôo". 02/02


Por: Yam Wanders.

Uma das curiosidades sobre qualquer exercício de CAv (controle de avarias)
é que são sempre realizados em conjunto com o exercício de
"postos de combate" com suas respectivas prontidões e simulações de
combate, pois o normal de qualquer embarcação da Marinha do Brasil é a
aplicação constante de preparo do seu lema; - Combater, navegar e flutuar.

O exercício de "Crash de Convôo" é um dos mais importantes para alguns navios, pois um helicóptero é além de um meio operacional importante para missões diversas de um navio de guerra, como também um objeto com massa suficiente para causar danos estruturais consideráveis e não há valor mensurável para as vidas humanas de seus tripulantes e passageiros, bem como de outros tripulantes do navio envolvidos no local de operações.

A preparação da tripulação que participará do exercício, no caso, a equipe de apoio da Acft HB-350 do Esquadrão HS-1 que acompanhou a Expedição PROTRINDADE VI/2016 à bordo do NDCC G-25 "Almirante Sabóia".

O exercício de "Crash de Convôo" é sempre realizado à parte dos demais devido a suas ligeiras diferenciações devido a presença física de uma aeronave (em solo existem simulações com mock-up´s) e importância da participação de diversos elementos das equipes de operações de vôo e de CAv (Controle de avarias) do navio que devem conhecer em minúcia todos os procedimentos dos exercícios para a eventualidade de um incidente/acidente e assim salvar vidas e minimizar danos ao meio operacional da embarcação.
E especificamente para esse tipo de ação, uma equipe "BRAVO" (Bombeiros com equipamento completo de EPI e outros acessórios de combate ao fogo) já está sempre de prontidão durante qualquer operação de vôo em realização, mesmo que a aeronave apenas efetue o chamado "giro de motor" para eventuais checagens ou alguma outra atividade como o abastecimento com a aeronave com todos seus sistemas desligados.
No caso de embarcações que possuem convôo ou deck de pouso, são realizados exercícios de CAv específicos somente para as operações com as aeronaves que irão operar embarcadas com o respectivo navio, incluíndo-se nesse exercício, todos os procedimentos de abertura convencional e forçada de cada aeronave em operação bem como os procedimentos de incursão e extricação* de vítimas da aeronave. Obviamente todo exercício é acompanhado também do treinamento específico de primeiros socorros e remoção da vítima do local para o hospital ou enfermaria do navio como veremos nas imagens a seguir:



A checagem de prevenção contra F.O.D. (Foreing objects damage, ou, presença de objetos estranhos que possam causar danos) no convôo é obrigatória e efetuada com minúcia sempre.


A supervisão do "OLP"(Oficial de lançamento e pouso) no convôo é constante para assegurar o auxílio aos demais participantes.

Se encontrados, os "F.O.D." jamais são lançados ao mar como se imagina, mas sim guardados para posterior investigação de suas origens.

Membros de uma equipe "BRAVO" já equipados.

Um lìder (colete vermelho) em briefing com os peiadores (coletes azuis) e oficiais de lançamento e pouso (coletes amarelos).

Geralmente os "Bravos" com mais experiência permanecem ao lado dos peiadores para auxiliá-los na correta operação das linhas de mangueiras.

Bravos em prontidão na retaguarda dos Peiadores.

Os "Peiadores"(Operadores de colete azul) também participam do exercício, manobrando uma linha de ataque com uma mangueira com batedor de espuma mecânica AFFF, direcionada para a aeronave.

Simulação de uma linha de ataque com linha de magueira e batedor de espuma mecânica AFF.

Coordenação total entre todos no antes, durante e depois.

Os "Peiadores" exercitam o combate com linhas de mangueiras para ataque de ambos os lado do convôo.

Um dos "Auxiliares de Deck" fica sempre de prontidão em um Canhões de Espuma.
Cada um recebe AFFF de um tanque com capacidade de 900 litros e duração estimada para 10 minutos quando utilizando AFFF de 3%.


A aproximação de duas linhas de mangueiras tem a intenção de uma efetuar o ataque e outra resfriar a equipe que avança em direção a aeronave.

Em casos de crash´s, eventualmente pode ocorrer o vazamento de combustível (Querosene de Aviação - Jet A1 ou óleos diversos) no convôo e para isso é essencial a presença de carretas de PQS para a cobertura de abafamento desse líquido inflamável até sua dispersão com água pelas linhas de magueira.

A preocupação é não só com um eventual incêndio como também com o combustível que possa se espalhar pelo convôo, sendo assim outros BRAVOS permanecem na prontidão com extintores de PQS (pó quimico seco) para efetuar a cobertura da superfície de líquidos inflamáveis que vazem da aeronave sinistrada.

Geralmente, independente de impactos ou outros fatores, o fogo em aeronave quase sempre se inicia nos motores, e no caso de helicópteros o ataque é sempre combinado com duas linhas de ataque, sendo uma para o motor com espuma mecânica AFFF e água para a cabine aonde estão os tripulantes.

Outros tripulantes que não fazem parte das equipes de operação de vôo também participam do exercício, garantindo assim a continuidade de um combate ao fogo no caso de uma provável incapacitação das equipes já presentes no convôo.

Os ataques sempre são efetuados com duas linhas de mangueiras, nesse caso uma com batedor de espuma mecânica AFFF e outro com água para resfriamento e/ou dispersão de fumaça.

Devido a elevada pressão da água nas linhas de mangueira sempre é necessária a ação de pelo menos três homens na operação, garantindo assim não só a segurança do colega que opera a mangueira contra eventuais "golpes de aríete" e como para evitar dobras na mangueira. Devido a exposição e para evitar a fadiga, a troca do elemento que opera o esguicho é prevista sempre que possível dentro de intervalos determinados pela capacidade de cada um envolvido no exercício.

Orientador e Oficial de lançamento e pouso fazem um briefing com o pessoal "BRAVO" na simulação de um ataque a incêndio no interior da aeronave com o uso de extintores portáteis de CO².

Como o exercício é efetuado com a presença de uma aeronave real operacional, o mesmo deve ser conduzido com atenção para não danificar a mesma e não comprometer uma eventual decolagem para necessidades reais e imediatas da missão do navio.

Início do procedimento de ejeção/retirada de portas da cabine da aeronave HB-350.

Em toda manobra de salvamento de tripulantes que eventualmente estejam incapacitados de se evadir de uma aeronave em risco, é prevista a abertura externa e até mesmo seu arrombamento com machados pelos "BRAVOS".



Inicialmente a abertura e/ou arromabemto de portas da aeronave só deve ser efetuada por membros da equipe BRAVO com extintores portáteis, devido ao risco de fogo, e sendo assim suas roupas de aproximação diminuem e até evitam maiores riscos a integridade física dos mesmos.

A imobilização cervical dos tripulantes é essencial para a preservação da coluna, pois geralmente o efeito chicote aplicado ao pescoço devido a força de impacto sempre pode causar lesões graves, com o risco de tornar a vítima tetraplégica em casos mais graves.

A aproximação da equipe de PS, sempre com a presença de um médico para os primeiros atendimentos e estabilização do paciênte caso seja necessária antes da remoção ao hospital do navio.


De imediato, o Médico é quem determina as ações iniciais e estabelece a necessidade de um "stay and play"(estabilizar a vítima no local) ou de um scoop and go (remoção imediata para o hospital do navio.


A grande maioria das lesões resultantes de um crash são os danos a coluna cervical e dorsal do tripulante, sendo assim não só a imobilização cervical é essencial como a imobilização dorsal através da utilização de um KED (Kendrik extension device - imobilizador de coluna e pescoço integrado).






A insercção dos KED´s é sempre efetuada com a imobilização manual das vítimas ainda nos assentos em suas posições originais.




Início do posicionamento da prancha rígida para a extricação (retirada) dos tripulantes de seus assentos.

A perfeita integração de todos garante a agilidade e segurança da manobra de extricação da vítima. 



Uma vez retirado da aeronave, mais uma verificação é efetuada na vítima para a localização de outros ferimentos e traumas.



A manobra do "giro" e posicionamento da vítima na prancha rígida requer atenção aos membros superiores para que não enganchem em partes da aeronave ou que outras lesões e traumas possam causar mais dor desnecessária.








Simulação de manobra de RCP (Ressucitação cardio-pulmonar).


"Debriefing" com todos os participantes para sanar eventuais dúvidas e colher sugestões.



Pessoal do HS-1, equipe que nos acompanhou e prestou o apoio aéreo na missão PROTRINDADE VI/2016.


Homens do mar, não importa a especialidade, todos prontos para qualquer emergência, em qualquer lugar, a qualquer tempo, de qualquer maneira.

Esse pequeno artigo não tem a intenção de ser um material didático para instrução, mas apenas um veículo de ilustração das muitas atividades operacionais desenvolvidas e praticadas pela Marinha do Brasil, para maiores detalhes aos que desejam, sugerimos a consulta dos manuais específicos dos cursos expeditos de controle de avarias e de combate à incêndios em embarcações e aeronaves, publicados pela Marinha e disponibilizados pelo CAAML - Centro de Adestramento Almirante Marques Leão.

Todo esse treinamento foi efetuado à bordo do NDCC, Navio de desembarque de carros de combate G-25 "Almirante Sabóia", também conhecido como "HIPPO", que participou da operação PROTRINDADE VI/2016, suprimentando a Ilha da Trindade, no Oceano Atlântico, a aproximadamente 1500 km do litoral do Rio de Janeiro.
A Orbis Defense agradeçe imensamente à Marinha do Brasil pelo convite para a participação nessa missão, bem como à toda a Tripulação do G-25 "Almirante Sabóia" e ao pessoal do Esquadrão HS-1 que acompanhou a missão.

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