Militares realizam operação na Rocinha após guerra entre traficantes pelo controle da área, 22 Set 2017. (Foto de Fernando Frasão/Agência Brasil; Wikimedia Commons, CC BY 2.5) |
Por: Maj Henrique de Oliveira Mendonça, Exército Brasileiro.
Na formação normal […] levava-se em conta o terreno livre, de amplos espaços para o desenvolvimento dos combates e da evolução das brigadas, pois tinham como base a formação de duas linhas […]. No entanto, nas guerras brasílicas, essa formação tinha pouca valia, face às características bem próprias da guerra de emboscadas […]. Os conhecimentos táticos e estratégicos cederam lugar à malícia e ao elemento surpresa […], e pela improvisação dos brasílicos.
—Soraya Geronazzo Araujo
Soluções Táticas nas Pequenas Frações
Embora o relato inicial descreva uma passagem conflituosa do período colonial brasileiro, são significativas suas semelhanças com a realidade vivenciada por tropas federais nas recentes operações para Garantia da Lei e da Ordem no Rio de Janeiro. A adaptabilidade da Força Terrestre frente aos atos hostis de facções criminosas se alinha à astúcia e à agilidade com que indígenas e brasílicos desenvolviam táticas contra os invasores holandeses ainda na primeira metade do século XVII1.
As especificidades na forma de guerrear, que foram capazes de se contrapor às doutrinas militares de grandes potências europeias há quatro séculos, demonstram as raízes histórico-culturais da flexibilidade e da capacidade de inovação do soldado brasileiro. De acordo com o historiador John Keegan, a guerra é uma expressão da cultura2. Dessa forma, a miscigenação ímpar da sociedade brasileira repercute também no modus operandi das tropas.