Após acionamento, são poucos minutos até a decolagem |
Por: Redação OD
“O batimento cardíaco acelerado, o calor no cockpit, a necessidade de
cumprir todas as determinações do controlador, achar o alvo, voar a máquina da
melhor maneira possível e saber que estamos protegendo e policiando o nosso
espaço aéreo nos dá, realmente, a sensação do dever cumprido e que estamos
prontos para defender o País a qualquer hora do dia ou da noite, sete dias por
semana”. A fala do piloto da FAB é o resumo de um serviço de extrema relevância
para a defesa do espaço aéreo brasileiro e da soberania nacional: o alerta de
defesa aérea.
Imagine que você está dormindo tranquilamente em sua casa e ouve o
barulho de alguém entrando pelo portão. Você não sabe se é um bandido ou alguém
que se perdeu e precisa de ajuda. O que fazer nessa hora? Quando se trata do Brasil, uma invasão do espaço aéreo gera o
acionamento de aeronaves da Força Aérea Brasileira para realizar uma
interceptação. Em todo o País, existem pilotos prontos para decolar a qualquer
momento do dia ou da noite e equipes preparadas para apoiá-los.
O Comandante do Primeiro Grupo de Defesa Aérea (1º GDA) – sediado em
Anápolis (GO), Tenente-Coronel Aviador Paulo Cezar Fischer da Silva, explica
que esse é o serviço de Alerta de Defesa Aérea, que consiste em uma atividade
de patrulhamento do espaço aéreo brasileiro. “De modo ininterrupto, o esquadrão mantém aeronaves e equipes de voo
dedicadas a responder diuturnamente, no menor tempo possível, a qualquer
demanda relacionada à defesa aeroespacial, seja para averiguar algum tráfego
suspeito, seja para auxiliar aeronaves amigas”, pontua.
Em Campo Grande (MS), o Esquadrão Flecha (3º/3º GAV) é outro dos
responsáveis pelo serviço de Alerta. O Comandante da unidade, Tenente-Coronel
Aviador Marcelo da Costa Antunes, ressalta a função desse trabalho para a sociedade
brasileira. “Mesmo em tempos de paz, é preciso que estejamos vigilantes e
fazendo-nos presentes, a fim de dissuadir quaisquer possíveis ações que
interfiram na soberania do espaço aéreo nacional e de prover à população uma
sensação de tranquilidade”, diz. Integrantes do sistema de defesa aeroespacial, os
pilotos são os executores do serviço e, para isso, precisam estar bem
preparados.
Piloto de caça checa armamento do A-29 Super Tucano |
Para participar da escala, eles devem ser qualificados
operacionalmente na aeronave. Isso envolve a realização de um curso de
aproximadamente um ano de duração, com provas teóricas, voos de treinamento em
simulador e voos na aeronave. Enquanto alunos, passam por diversas situações diferentes de
interceptação, simulam desde o mais básico, por exemplo, interceptar uma
aeronave “amiga” e em português, até um caso extremo como a interceptação de
uma aeronave hostil na língua inglesa e com a necessidade de realizar as
medidas de persuasão. Além disso, treinam missões de socorro em voo, em que alguma aeronave
está em pane e necessita de apoio dos caças da FAB.
Ao término do curso, um
conselho operacional composto pelos oficiais mais experientes do esquadrão
homologa o piloto para que ele passe a fazer parte do quadro de tripulantes
operacionais. “Somente após esta homologação é que o oficial ingressa na escala de
serviço de Alerta. Uma vez formado, o piloto operacional continua cumprindo um
programa de treinamento anual que envolve voos de interceptação, combate e tiro
aéreo contra alvo rebocado, mantendo a capacitação necessária para o serviço de
Alerta”, completa o Tenente-Coronel Fischer.
De acordo com os pilotos - que terão a identidade preservada por
questões de segurança - do 1º GDA, as missões de interceptação reais são mais
frequentes do que se imagina. “É comum associar interceptação aérea somente em
caso de conflitos ou ameaças, mas na prática, qualquer aeronave não
identificada, ainda que não hostil, pode ser interceptada e averiguada”,
destacam. Apenas para se ter uma ideia dessa frequência, desde a criação do
Esquadrão Flecha, em fevereiro de 2004, foram realizados mais de mil
acionamentos por aquela unidade, tendo sido interceptados mais de 900 tráfegos
desconhecidos para averiguação e proteção do espaço aéreo.
Os pilotos explicam que é essencial estarem prontos para cumprir toda e
qualquer determinação das autoridades de Defesa Aérea com um
alto nível de serenidade, impessoalidade e padronização. “Como o piloto de
Alerta só sabe o que encontrará pela frente quando já está voando e qualquer
erro por parte de algum membro da equipe de serviço pode acarretar a perda de
uma interceptação, o conhecimento de todas as regulamentações, perfis, táticas
e técnicas faz-se mandatório para que as decisões durante o voo sejam as
melhores possíveis”, diz um aviador. “Quando acionado, o piloto nunca sabe se a missão é real ou de
treinamento, de forma que todo acionamento é executado com máxima agilidade e
dedicação”, destaca um dos oficiais.
A-29 se aproxima para averiguação |
“Momentos de tensão e apreensão são normais e até mesmo saudáveis, já
que a qualquer momento a sirene pode tocar e todos os envolvidos na equipe de
serviço, sem exceção, devem fazer suas tarefas de forma quase automática,
buscando sempre a decolagem no menor tempo que a segurança de voo permita. Nos
finais de semana e feriados, 24 horas por dia e independente do que aconteça,
sempre estamos disponíveis para cumprir nossa missão”, diz outro militar. A sirene a que ele se refere é o sinal que provoca o acionamento
imediato da equipe de serviço de alerta. Piloto, mecânico da aeronave, mecânico
de armamento e auxiliar do mecânico de alerta literalmente correm contra o
tempo para providenciar a decolagem no menor tempo possível.
Cada um tem responsabilidades bem definidas durante o serviço. Aos
mecânicos cabe manter a aeronave pronta para o acionamento, possibilitando a
partida dos motores e a ativação dos sistemas de armamento no menor tempo
possível, para permitir uma decolagem imediata e segura. “Além da equipe do esquadrão, há outros militares que participam do
ciclo que envolve o acionamento do Alerta. Dentre eles, podemos destacar o
Oficial de Permanência Operacional da Ala, que recebe a ordem de decolagem do
Centro de Operações Militares (COPM) – no caso do 1º GDA, o COPM 1, em Brasília
– e aciona a equipe de alerta via sirene; e a equipe de controladores do COPM
que executa a vigilância do espaço aéreo e controla a aeronave de alerta
durante o voo, transmitindo aos pilotos as informações essenciais que
possibilitarão a interceptação do alvo e a execução das Medidas de Policiamento
do Espaço Aéreo (MPEA)”, descreve o Tenente-Coronel Fischer.
O Tenente-Coronel Antunes destaca outras
características das equipes de apoio aos pilotos. “No início do dia, são os
responsáveis por verificar a aeronave e o armamento nela instalado, a fim de
atestar que estão em boas condições para o cumprimento da missão. No momento do
acionamento, auxiliam o piloto na amarração rápida e correta ao assento
ejetável e, também, na realização dos procedimentos de partida do motor. Após o
pouso, checam o estado da aeronave e garantem que ela fique pronta o mais
rápido possível para o caso de um novo acionamento”, relata.
Já em voo, o piloto deve cumprir as medidas de averiguação determinadas,
verificando visualmente o tipo e a matrícula da aeronave. Em seguida, poderá
ser realizado um acompanhamento discreto da aeronave – sem que a mesma perceba
a presença do interceptador – ou partir para uma interrogação, via rádio, para
levantar mais detalhes acerca da rota, tipo de missão e tripulação em comando
da aeronave interceptada. A partir desse ponto, pode ser determinado ao piloto
de defesa aérea que acompanhe a aeronave ostensivamente, ou seja, mantendo-se
no campo visual da aeronave interceptada.
Oficial recebe, via rádio, acionamento de missão de defesa aérea |
“Isso quer dizer que o piloto não tem autonomia para decidir sobre o que
fará ou não. Ele informa as condições ao controlador e cumpre aquilo que
lhe é determinado”, reforça o Tenente-Coronel Antunes. O próximo passo seria o cumprimento das medidas de intervenção, que
podem incluir a exigência de mudança de rota da aeronave suspeita ou o pouso
obrigatório em alguma localidade determinada pela autoridade de Defesa
Aeroespacial, para que sejam realizadas as Medidas de Controle de Solo (MCS).
Nesse caso, aeronave e tripulação são submetidas à fiscalização por parte das
autoridades responsáveis, como a Polícia Federal. “Por fim, se a aeronave interceptada se recusar a cumprir as
determinações da Defesa Aérea Brasileira, ela pode sofrer medidas de detenção
ou destruição, cujo objetivo principal é interromper a continuidade do voo
ilícito no interesse da segurança nacional”, diz o Comandante do 1º GDA. Frequência de rádio 121.5 serve para
diálogo entre pilotos
O decreto que estabelece as medidas a serem
adotadas em caso de aeronaves suspeitas é o 5.144, de 2004, e divide os
procedimentos nas categorias de averiguação, intervenção, persuasão e
destruição. Na etapa seguinte, que deve ser utilizada como último recurso, a
ideia é que os tiros causem danos e impeçam o voo da aeronave hostil. O
primeiro tiro de detenção realizado pela FAB aconteceu em 24 de
outubro de 2015, contra um monomotor vindo do Paraguai que, durante as ações
iniciais, constatou-se que se tratava de uma aeronave envolvida em crimes
transnacionais.
Assim, a execução do tiro é uma possibilidade a que todos os pilotos de
defesa aérea estão sujeitos e preparados para efetuar. “A responsabilidade de
uma interceptação advém de dois pontos. O primeiro destes é a defesa das nossas
fronteiras, do nosso povo, das nossas famílias. É a primeira e maior
responsabilidade. O segundo ponto é o fato do piloto de defesa aérea não ser o
único responsável por esta defesa, mas somos a ponta da lança, os responsáveis
por finalizar o trabalho de todo o Sistema de Defesa Aeroespacial”, ressalta um
dos pilotos.
Frequência de rádio 121.5 serve para diálogo entre pilotos |
“Por estarmos localizados em áreas estratégicas, voando sozinhos em
máquinas de alta performance, na ponta da lança da aviação da FAB, sabemos que
sempre seremos os primeiros a ser empregados em qualquer situação de conflito
ou, no caso específico do alerta de defesa aérea, nós é que seremos os
primeiros a chegar ao ponto de identificarmos, visualmente, o que é que os
radares estão enxergando. Contribuir com o Sistema de Defesa Aérea Brasileiro e
ser um de seus elos, é uma das mais gratificantes missões que o piloto de caça
pode fazer pois, sem dúvida, é uma missão real que dura 365 dias do ano”,
conclui outro aviador.
FONTE: CECOMSAER Fotos: Sargento Johnson Barros
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