domingo, 19 de abril de 2020

Rádio-amadores e Faixa do Cidadão em atividade durante quarentena na Europa



Por Yam Wanders

Na atualidade poucos conhecem algo sobre  radioamadorismo e faixa do cidadão, pois em tempos de internet rápida, fácil e barata, os meios de comunicação por rádios, considerados antiquados e pouco práticos tem sido abandonados, e, persistem na atividade apenas os mais aficionados e com disponibilidade de tempo para dedicação ao hobby da radiocomunicação, excetuando-se apenas quem ainda o necessita nos serviços maritimos e aeronáuticos.

Porém nem tudo é perfeito no mundo da internet moderna, e esta obviamente depende de seres humanos e de eletricidade para poder continuar funcionando satisfatoriamente mundo afora.


E dentro do que era previsto, os serviços de internet sofreram muitas panes nesse mês de quarentena (iniciado oficialmente no dia 15 de março e prorrogado até dia 11 de maio no dia 14/04 na França)  e confinamento obrigatário na Europa por diversos fatores; desde a saturação de usuários, e, em alguns casos em alguns lugares, devido a falta de manutenção e ausência de pessoal qualificado, que foi obrigado a ficar em casa pelas rigorosas determinações europeias da quarentena obrigatária, em especial na Itália, França, Alemanha, Espanha, Portugal e outros países europeus que adotaram tal procedimento.

Com o excesso de usuários somada a falta de pessoal & manutenção dos serviços de eletricidade/internet, resultou em interrupções do serviço por horas e até mesmo por dias em algumas regiões, e essa falta de manutenção também afetou os serviços de eletricidade, telefonia convencional e celular, fazendo com quem diversas regiões se tornassem "zonas de silêncio" na França, um país considerado como um dos melhores em serviço de telefonia celular e internet do mundo! (?!?!)

Como exemplo cito a região de Rhône-Alpes (centro-sul da França, fronteira com a Suíça), que desde o ano de 2017 passa por trabalhos de implantação da fibra óptica para melhoria da internet, mas que até agora não se mostraram eficiêntes para as comunidades de pequenas vilas que ficam nas montanhas, deixando assim centenas de milhares de habitantes sem conexão ou com uma internet de baixíssima velocidade, mesmo pagando por serviços de banda larga. A situação atinge também nas periferias das grandes e médias cidades da região, como Lyon, Grenoble, Saint Etienne, Clermont Ferrand, Chamonix e outras.
Apesar de existirem pelo menos 3 centenas de estações repetidoras espalhadas pela França, estima-se que somente 1/3 delas estejam ainda em funcionamento, o que dificulta a comunicação de longa distância para quem possui apenas um ràdio portàtil tipo HT. Fonte: https://www.passion-radio.org/blog/les-relais-radioamateurs-sur-google-maps-et-a-jour-grace-a-radioamateur-org/44413


Retorno do uso de rádios com o confinamento obrigatorio na França

O Radio amadorismo e a Faixa do Cidadão estavam desaparecendo na Europa nos últimos 20 anos, principalmente pela ascensão da telefonia celular barata e internet, porém com a popularização da doutrina de preparação (Preppers e sobrevivencialismo) e dos esportes de aventuras, o uso de equipamentos de rádios portáteis se manteve, mesmo que de maneira mais discreta.

No caso do uso da Faixa do Cidadão, os grandes usuários ainda são os caminhoneiros, em especial portugueses, espanhóis e poloneses, e também jipeiros de diversas nacionalidades que frequentam as montanhas da região. 

Ainda em pleno século XXI muitas regiões da França tem uma fraca cobertura de sinal de telefonia celular ou até mesmo a inexistência dessa, o que faz do rádio a ùnica forma de comunicação eficiênte em muitas regiões dos alpes, estradas e parques florestais.

O observado agora, devido as constantes panes dos serviços de telefonia e internet é que quem ainda possuía rádios de algum tipo, voltou a empregar os equipamentos para se manter em contato com outros radioamadores, outros usuários de rádios e familiares pelos mais diversos motivos, que vão da quebra de rotina, passando pela necessidade de manter comunicação com amigos e também manter contato com vilarejos de outras regiões que eventualmente possam precisar de auxilio em casos diversos.

A Securité Civile (Defesa Civil da França) é indiretamente uma das maiores incentivadoras da atividade de radioamadorismo através das ADRACS em suas regiões, atuando como uma rede de voluntários em caso de situações de calamidades e outras urgências, como está agora ocorrendo com a crise do Covid19 e o consequênte confinamento obrigatório da população.

As frequências de radio nas bandas de VHF em 2 metros e faixa do cidadão voltaram a atividade desde a primeira semana do confinamento obrigatório, pois coincidentemente, foi a mesma época que os problemas com a telefonia e a internet começaram na região, incluindo o norte da Itália e algumas regiões do sul da Alemanha, entre outros países como a Suíça, República Tcheca, Hungria e Eslovênia.

Uma situação interessante é a tolerância aos operadores informais, isto é, operadores de rádio não possuidores de licença de radioamador, pois a legislação européia não permite aos radioamadores possuidores de licença que se comuniquem com eventuais operadores não licenciados sob pena de multas.

Como a situação é considerada de utilidade pública e de necessidade maior, todos estão relevando a ausência de licença por eventuais operadores informais que estão ajudando a manter as comunidades em contato, aqueles antes considerados pejorativamente como clandestinos hoje são colegas "Foxtrox X - Fulano de tal" (Foxtrot, a letra inicial da licença de radioamador na França).

A necessidade de manter as comunidades mais afastadas em contato com outras vilas e cidades grandes é essencial para eventuais situações de resgates dos mais diversos, desde pessoas de idade com problemas de saúde até a possibilidade de desastres naturais que acontecem em regiões sujeitas a avalanches e deslizamentos de terra, entre outros problemas, como o desabastecimento e outros incidentes.

Outra interessante situação é a grande incidência de agravamento de casos de depressão que acabam em suicídios entre a população mais idosa, e que acaba sendo apasiguada quando esses cidadãos de mais idade tem acesso à um pequeno rádio portátil tipo HT para se comunicar com outros amigos e sair da rotina com a redescoberta do rádio como meio de comunicação. E graças aos Rádio-amadores e Faixa do Cidadão, estas pessoas voltam à ativa de forma ùtil para a sociedade durante a quarentena na Europa.

Radioamadorismo estava em vias de extinção na França

O radiamadorismo estava em vias de extinção na França assim como em grande parte da Europa. Apenas para efeitos de comparação, a França possui atualmente 13.126 radioamadores com licenças ativas, e esse nùmero descresce a cada ano, com a falta de interesse dos jovens e altas cargas burocràticas para a obtenção da licença.

Em contrapartida, nos EUA atualmente existem 730.000 radioamadores licenciados e considerados ativos, e essa cifra não para de crescer, com uma procura que vem aumentando ano apòs ano com uma média de 13% ao ano!

Mesmo com a presença da internet e aplicativos para comunicação, a pauta das redes sociais entre os sobrevivencialistas e preparadores  que agora descobrem ou redescobrem o uso do radiamadormismo é providenciar a licença e melhorar a estação ou adquidir mais equipamentos para o futuro pròximo, assim que o confinamento obrigatòrio acabar!




Sobre radioamadores, radioescutas e as ADRASEC na França

A federação nacional de radioamadores a serviço da segurança civil ( FNRASEC ) reúne radioamadores e radiescutas , que se voluntariam para servir a segurança civil na França em caso de crise como o dispositivo ORSEC .

A FNRASEC reúne associações departamentais (ADRASEC) ou territoriais (ATRASEC).

Por decreto datado 15 de outubro de 2012, é reconhecida como entidade de utilidade pública a associação conhecida como “Federação Nacional de Operadores de Rádio Amador no Serviço de Segurança Civil - FNRASEC”, cuja sede é em Asnières-sur-Seine.

A Federação Nacional é uma lei de associação 1901 , criada em 1972 a pedido do Ministério do Interior, composta por associações departamentais e territoriais criadas por ela.

São ADRASECs para os departamentos e ATRASECs para os territórios ultramarinos, cuja ação se estende aos departamentos fronteiriços e / ou a um território, exceto exceções excepcionais concedidas pelo escritório nacional.

A França é dividida em zonas de defesa e segurança, agrupando um certo número de departamentos. Para cada zona, um gerente e um gerente assistente, eleitos pelos presidentes de departamento, são responsáveis ​​pelo gerenciamento administrativo dos ADRASECs em sua área.

Cada ADRASEC ou ATRASEC reúne membros de rádio amador (95%) ou de radioescuta (5%). No total, cerca de 1.600 voluntários ajudam a Segurança Civil em caso de crise. Atualmente, a segurança civil tem 85% dos voluntários.

  • Com informações da ADRASEC 42 e contatos locais do autor.

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