Por: Redação OD
As
mulheres deram mais uma demonstração de pioneirismo na Marinha do
Brasil. Pela primeira vez, uma oficial assumiu uma função
no Departamento
de Operações de
Manutenção da Paz
da ONU(DOMP),
em Nova York. A Capitão-de-Fragata da Marinha do Brasil Carla
Cristina Daniel Bastos Peixoto serve como oficial do Serviço de
Operações Militares Correntes (CMOS, em inglês) da Força
Interina de Segurança das Nações Unidas para Abyei (UNISFA, em
inglês), región disputada entre Sudán y Sudán del Sur. Ela é a
responsável por fazer a ligação entre
a UNISFA, o Escritório de Assuntos Militares e o país contribuinte
de tropas, que no caso da oficial brasileira, é a Etiópia.
A
UNISFA foi estabelecida pela ONU em 27 de junho de 2011, através da
Resolução do Conselho de Segurança 1990. O principal foco da
missão é o de promover o diálogo entre as partes na região
e, sobretudo, prover a segurança de Abyei, garantindo
a proteção
de civis e facilitando o fornecimento de ajuda humanitária. Além
disso, os militares têm a missão de monitorar a desmilitarização
da região. De
acordo com informações da ONU, a missão conta com um total de
4.841 profissionais responsáveis pela segurança no local, dos quais
são 4.791 militares e 50 agentes de polícia, além do apoio de
instituições civis.Desde 2011 a presença da UNISFA tem melhorado
sobremaneira o relacionamento bem como a qualidade de vida da
população de Abyei, composta prioritariamente pelas tribos rivais
Mysseria e Ngok Dinka, segundo a CF Carla Daniel.
A
CF Carla Daniel iniciou a função no DOMP em dezembro de 2017 e vai
permanecer por dois anos em missão no país, sob o regime de
requisição temporária. Ela está lotada no CMOS, que, na
hierarquia da ONU, está diretamente subordinado ao Escritório de
Assuntos Militares. “As atividades vão desde o monitoramento
diário das ações militares da missão, com a preparação do
relatório da situação diária, direcionado à liderança militar
do DOMP, até o assessoramento e conselho para a liderança militar
em Nova York sobre aspectos operacionais da UNISFA”, explicou. Para
participar da missão, a oficial teve que preencher alguns
requisitos: estar na graduação de
tenente-coronel/capitão-de-fragata, ter formação em um curso
superior na área de ciências humanas, ter fluência no inglês e
conhecimento de outros idiomas, ter participado de alguma missão de
paz e ter feito todos os cursos de carreira.
A CF Carla Daniel, durante o curso de Desenvolvimento de Comando de Oficiais de Polícia Femininas Graduadas da ONU, em 2015, na África do Sul. (Foto: arquivo pessoal) |
“Sou formada em
Comunicação Social, bacharel em jornalismo e atuei na Força
Interina das Nações Unidas no Líbano (UNIFIL)”,
disse a CF Carla Daniel. “Os
militares selecionados ainda são submetidos a uma prova escrita em
inglês sobre os assuntos da ONU. Quem passar nessa fase faz uma
prova oral em inglês baseada em competência e nos valores
primordiais da instituição.” Segundo
ela, é um orgulho ser a primeira militar brasileira do gênero
feminino a ocupar um cargo no DOMP, mas também exige muita
reponsabilidade. “O pioneirismo em qualquer atividade já é algo
que atrai um pouco mais de atenção dos outros em relação ao seu
desempenho. Além disso, se a experiência comigo não der certo,
posso fechar a porta para outras mulheres ou pelo menos retardar o
processo”, ressaltou a comandante.
A
CF Carla Daniel ingressou na Marinha do Brasil em 1998 como
guarda-marinha. Nas suas funções, atuou principalmente na área de
comunicação social. Foi ajudante de relações públicas no
Comando-Geral do Corpo de Fuzileiros Navais, no Rio de Janeiro, e no
Comando do 2º Distrito Naval, em Salvador, Bahia. Em Brasília,
trabalhou no Serviço de Comunicação Social da Marinha e no
Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República.
Foi para o Líbano em 2014, onde atuou na Força-Tarefa Marítima
(FTM) da UNIFIL. Quando retornou ao Brasil, em 2015, ficou
responsável pela Assessoria de Comunicação Social do Comando do 1º
Distrito Naval, no Rio de Janeiro.
Pioneira
no Líbano
O
pioneirismo tem acompanhado a trajetória da oficial. Em 2014, a CF
Carla Daniel foi a primeira mulher a atuar embarcada na FTM
da UNIFIL,
na função deassistente
militar do comandante da força, um almirante brasileiro. Na ocasião,
era encarregada do pessoal da FTM e atuava como oficial de
coordenação civil-militar das atividades em prol da população
local. “Foi
uma experiência inesquecível. A importância da FTM para a
segurança da costa libanesa e, consequentemente, sua estabilidade
econômica, é reconhecida por todos. Nunca senti tanto prazer em
mostrar que era brasileira. Sou descendente de libaneses e isso fez
uma diferença incrível para a comunidade líbano-brasileira do sexo
feminino, com as quais tive contato. Sempre me emociono quando
lembro”, contou a CF Carla Daniel.
As experiências vivenciadas durante a missão na Força Interina das Nações Unidas no Líbano ajudam a oficial da Marinha do Brasil nas atividades realizadas no DOMP. (Foto: arquivo pessoal) |
Para
a oficial, foi um dos períodos mais ricos em experiência
profissional e pessoal. “Sinto-me honrada de ser uma mulher
militar, capacete azul, e mais ainda de sustentar no meu braço a
bandeira do Brasil. Cansei de ser parada nas ruas, [no] aeroporto,
[na] lanchonete e ouvir: ‘Obrigada Brasil!’. Tenho uma coleção
de fotos e de lembranças que estão bem guardadas no meu coração”,
destacou. A
CF Carla Daniel explicou que o trabalho realizado no Líbano auxilia
na sua função atual no DOMP, já que o conhecimento em missões de
paz também engloba a prática, além da teoria. “Quando tenho que
pedir uma informação ou dar uma orientação, sei do que se trata”,
enfatizou. O fato de ter feito o curso de Desenvolvimento de Comando
de Oficiais Militares Femininas Graduadas da ONU, em 2015, na África
do Sul, também foi condição decisiva para sua capacitação.
Importância
das mulheres em missões de paz
A
CF Carla Daniel destacou a necessidade do aumento da presença
feminina nas áreas de conflito e missões de paz. Para ela, a
violência contra a mulher virou ‘arma de guerra’, pois
desestabiliza a comunidade onde ela está inserida e mexe com a sua
honra. “Certa vez ouvi um ex-comandante de força de uma missão de
paz dizer que é mais perigoso ser uma mulher do que ser um soldado
em uma região de conflito. Daí a importância da mulher militar nos
conflitos, para dar suporte, acolher, servir de sustentáculo para
esse seguimento tão sofrido”, enfatizou a CF Carla Daniel. Ela
avaliou que a ONU tem feito esforços para estimular a atuação
feminina nas missões, mas que o avanço não é mais rápido porque
a carreira militar exige preparo e um tempo de permanência em cada
posto ou graduação para a função que será exercida. Por exemplo,
o curso de Desenvolvimento de Comando de Oficiais Militares Femininas
Graduadas, que é voltado especificamente para as oficiais superiores
das polícias militares, acontecerá no Brasil, de 10 a 16 de julho,
na cidade de Belém, Pará, e deve contar com representantes dos
países latino-americanos e caribenhos.
Fonte: Diálogo Américas, Por Taciana Moury
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