Por: J.G Araújo
Recentemente
foi muito divulgado mundo afora que Trump ia
aumentar o arsenal nuclear americano, tal declaração poderia
ser vista como uma saída unilateral do tratado de
desarmamento nuclear SALT. Mas
o que realmente há de verdade por detrás dos comentários
atribuídos a Trump? Atualmente,
os Estados Unidos têm cerca de 4.000 ogivas nucleares prontas para
uso em suas reservas militares, de acordo com a Federação dos
Cientistas Americanos. O
presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, negou nesta estes
alarmistas e detratores, dizendo que ele havia defendido a
modernização O
boato era de que ele teria dito a assessores de segurança nacional
em julho que queria aumentar o arsenal nuclear do país em quase dez
vezes. De
pronto quem tem conhecimento de assuntos militares sabe que tal
acréscimo é inviável a curto prazo.
Mas
a noticia deve também ser analisada por outro ponto de vista. Atualmente,
o governo americano mantém o seu arsenal nuclear dividido em uma
tríade: bombardeiros, submarinos e mísseis balísticos
intercontinentais instalados em terra. A
Força Aérea tem 20 bombardeiros B-2 e 54 bombardeiros B-52,
com capacidade nuclear, segundo um relatório do Congresso divulgado
em fevereiro. A
Marinha tem 14 submarinos nucleares, e cada um deles pode levar 24
mísseis Trident II. Existem ainda 414 mísseis
intercontinentais 414 Minuteman III. Ocorre
que tais armas foram quase todas fabricadas durante o governo Reagan
nos anos 80, com isto o arsenal já conta com mais de 35 anos, quando
naquela época entraram em operação os Minuteman III e os Pershing II. O
arsenal completo passaria por uma caríssima modernização, estimada
em US$ 1 trilhão nos próximos 30 anos.
SATAN II |
À
primeira vista muitos podem se indagar se há esta necessidade de
modernização, se os atuais cumprem seu objetivo, mas vamos pensar
em termos de evolução e miniaturização de armamentos. Recentemente
a Rússia apresentou o seu míssil SATAN II - ele tem uma autonomia
de até 10 mil quilômetros e sé capaz de viajar tanto sobre o polo
sul como o Norte para atingir alvos a partir de direções
inesperadas. Além disso, o míssil poderá atingir velocidades de
até Mach 20 — ou míseros 24,5 mil Km/h — e
transportar uma carga de até 10 toneladas. Isso
significa que o míssil poderá levar até 10 ogivas termonucleares e
ir carregado com avançados dispositivos defensivos para evitar que
ele seja interceptado pelos sistemas antimíssil, garantindo que ele
atinja (e pulverize) seu alvo. Tais
sistemas de auto-defesa não existem nos armamentos dos EUA, o que
por si só justificariam a modernização de sua frota balística.
No
caso do SATAN II, ele foi projetado para penetrar os sistemas de
defesa antimíssil norte-americanos — e teria sido desenvolvido em
resposta ao programa Prompt Global Strike criado pelo
Exército dos EUA. Esse
programa, caso você não saiba, dá aos militares estadunidenses a
capacidade de organizar e lanças ataques com mísseis (não
nucleares) a qualquer parte do mundo no período de apenas uma hora. Um
dos documentos mais recentes sobre o arsenal de ogivas nucleares,
divulgado em 2015, afirma que os EUA possuem 4.717 ogivas
ativas, ainda que existam milhares delas que foram aposentadas, mas
não desmanteladas --estima-se que, no total, o número de ogivas
entre ativadas e aposentadas chegue a 6.800. Além
disso, os EUA historicamente mantêm armas táticas nucleares em
vários países da Otan --estima-se que sejam mais de 200 armas
nucleares táticas em países como Bélgica, Alemanha, Itália,
Holanda e Turquia, estas geralmente baseadas em lançadores de
mísseis Pershing, que também já apresentam sinais de fadiga e de
serem vulneráveis contramedidas a este armamento.
Alem
disto, falar em aumentar arsenal há que se lembrar que o governo
americano é signatário não só do Tratado de
Não-Proliferação Nuclear, mas também do Start (Tratado
Estratégico de Redução de Armas), firmado com a Rússia em 2010. Segundo
o Start, ambos os países deveriam reduzir seus arsenais estratégicos
nucleares para 1.550 ogivas e 700 veículos. Segundo a última troca
de dados do Start, os EUA mantêm hoje 1.411 ogivas instaladas em 673
veículos. Mas estima-se que o número de ogivas instaladas
atualmente pelos EUA seja de 1.740. Desrespeitar
estes tratados unilateralmente ia causar uma enorme corrida
armamentista nuclear, pois sem qualquer freio de limitação logo não
só os EUA e Rússia, mas uma serie de países, como Índia, Irã
Coréia do Norte e outros, iriam buscariam o aumento quantitativo e
qualitativo de seus arsenais de mísseis.
Lembro
ainda, que forçados pelo Tratado de Forças Nucleares de Alcance
Intermediário, os EUA eliminaram todo o seu arsenal de mísseis de
médio alcance, e hoje não possui nenhum equipamento com alcance
entre 500 e 5.500 Km. Eles também aposentaram o Tomahawk
nuclear, usando somente o convencional. O
governo americano investe pesado em sistema de defesa antimíssil,
projetados para interceptação em todas as fases de voo. Um exemplo
é o THAAD (Terminal de Defesa Aérea para Grandes Altitudes),
sistema instalado na Coreia do Sul para conter a ameaça de mísseis
de curto alcance norte-coreanos.
A
Marinha opera 33 navios equipados com o sistema de defesa antimísseis
Aegis na Europa. Leve
em conta também que mesmo desde o governo Obama os EUA estarem
saindo da crise, ainda não é o momento de criar uma controvérsia
sobre rearmamento e seus proibitivos custos em caso de corrida as
armas, e Trump apesar de ser um polemizador com suas declarações,
ainda não se mostrou um imprevidente no quesito econômico. Assim
bravatas a parte, o que devemos ver a longo prazo será uma completa
substituição do arsenal nuclear, com equipamentos mais modernos
eficientes e menos vulneráveis a contra medidas de defesa. Os
próximos anos vão mostrar que direção a defesa americana irá
tomar. Quem
sobreviver verá.
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