Por: Redação OD
Passados seis anos do incêndio que destruiu a maior parte da Estação Antártica Comandante Ferraz, a Marinha informa que deverá concluir as obras de reconstrução até março de 2019. Instalada na Península Keller em 1984, a estação faz parte do Programa Antártico Brasileiro (Proantar), criado em 1982 para desenvolver pesquisas em áreas como oceanografia, biologia, glaciologia e meteorologia. Em 2012, porém, um incêndio onde ficavam os geradores de energia atingiu a estação e destruiu quase toda a estrutura. Com isso, as pesquisas passaram a ser feitas em uma estação provisória, montada ao lado do local. Segundo a Marinha, o cronograma de reconstrução já precisou ser revisto devido ao atraso na fabricação e pré-montagem da principal estrutura do complexo.
Este atraso, diz a Marinha, foi provocado por dificuldades técnicas da empresa contratada para terminar pilares e contêineres, por exemplo. Sobre a previsão de concluir as obras até março do ano que vem, a Marinha afirma que o calendário ainda pode sofrer mudanças em razão das condições inóspitas da região, como temperaturas negativas, solos congelados e fortes rajadas de vento. "Dependendo das condições climáticas, espera-se que a montagem de toda a EACF [Estação Antártica Comandante Ferraz] seja concluída até março de 2019 com a subsequente inauguração", diz a Marinha. Assista clicando aqui ao vídeo produzido pela Marinha para explicar a reconstrução da estação
Envio
de pesquisadores
Os
pesquisadores brasileiros são levados à Antártica durante o verão
da região (outubro a março) por meio de navios da Marinha e de
aviões da Força Aérea Brasileira (FAB). A pesquisa brasileira não
fica restrita à Ilha Rei George, onde foi instalada a estação. Há,
também, trabalhos sendo desenvolvidos no navio Almirante Maximiano e
em acampamentos montados em diferentes pontos da Antártica. Há,
ainda, o módulo Criosfera 1, um contêiner que coleta dados e foi
instalado a cerca de 2,5 mil quilômetros de onde fica a estação.
A
estação
Pesquisadores brasileiros estão há mais de três décadas desenvolvendo pesquisas no continente por meio do Programa Antártico. Após o incêndio de 2012, a Marinha lançou um edital para reconstrução da estação, limitado a companhias brasileiras, mas não
houve propostas.
Uma nova licitação, então, foi lançada em 2014, liberando a
participação de empresas estrangeiras. No ano seguinte, foi
confirmada a escolha da chinesa Ceiec, que apresentou proposta de US$
99,6 milhões para executar a obra.
A
obra
O projeto da nova estação brasileira foi elaborado pelo escritório de arquitetura paranaense Estúdio 41, que venceu em 2013 um concurso promovido pela Marinha e pelo Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB). O complexo em construção poderá acomodar 64 pessoas em uma área de cerca de 4,5 mil m², com laboratórios, alojamentos e espaços de convivência e de lazer. "Ao final dos trabalhos nós teremos uma estação com 17 laboratórios, uma capacidade de alojar 64 pessoas", explicou o Capitão-de-Fragata
Newton Fagundes, que está na Antártica para fiscalizar o andamento
da obra.
'Quebra-cabeça'
Conforme
a Marinha, a montagem da estação funciona como um "quebra-cabeça"
em que o prédio principal foi dividido em blocos:
Oeste:
alojamentos,
biblioteca, ginásio, sala de vídeo, depósito de mantimentos e de
materiais de combate a incêndio;
Leste:
laboratórios,
refeitório, cozinha, setor de saúde, oficinas e sala de secagem;
Técnico:
garagem
e praça de máquinas.
O Capitão-de-Corveta
José Costa dos Santos, que também fiscaliza a reconstrução da
estação, afirmou que o projeto levou em conta o uso de fontes
renováveis de energia e foi concebido para suportar o clima hostil
da região. "É um projeto único, complexo, que envolve
soluções de engenharia para ventos de até 200 quilômetros por
hora, solos congelados, baixas temperaturas, possibilidade de abalos
sísmicos, entre outros", disse Costa. A estação também terá
sistemas fixos de combate a incêndio, com uso de chuveiros
automáticos e de gás, além de mangueiras e extintores portáteis
e de um sistema de detecção e alarme de incêndio. Segundo
a Marinha, a obra foi planejada para ser executada em quatro fases.
Saiba abaixo:
Primeira
fase: A
empresa montou um canteiro de obras em Xangai, no qual as fundações
do prédio principal foram pré-montadas. Também foi montado um
modelo em escala natural da estação;
Segunda
fase: A
Ceiec instalou um canteiro de obras na Antártica, com alojamento
para 72 pessoas e uma plataforma com guindaste. Entre dezembro de
2016 e março de 2017, foram montadas as fundações da estação;
Terceira
fase: Ainda
em Xangai, a Ceiec fabricou e fez a pré-montagem dos pilares,
estruturas e contêineres que constituem os blocos da estação,
além de módulos isolados. O trabalho foi concluído em 15 de
novembro de 2017. Nesta etapa houve atraso, conforme a Marinha;
Quarta
fase: Teve
início em 25 de dezembro e prevê a montagem da estação. A
previsão é concluir até março de 2018 a montagem dos blocos
oeste e técnico. Se não for possível concluir também o bloco
leste, o trabalho será finalizado entre outubro de 2018 e março de
2019.
Pesquisas
'ameaçadas'
Para o vice-presidente do Comitê Científico sobre Pesquisa Antártica, Jefferson Simões, a parte científica do Proantar está "gravemente ameaçada" porque, segundo ele, faltarão recursos para as pesquisas (veja o vídeo aqui).
Pesquisador polar há 30 anos com pós-doutorado pela Universidade de
Cambridge, Simões é professor da Universidade do Rio Grande do Sul
(UFRGS) e afirma que desde 2013 o governo federal não lança um novo
edital para financiar projetos na Antártica. "A continuidade da
parte científica do programa antártico brasileiro está gravemente
ameaçada devido a total falta de recursos a partir de junho de
2018", disse o professor.
"De
nada adiantará o investimento de dezenas de milhões de reais em uma
nova estação antártica, se não ocorrer um novo edital para
pesquisa a ser realizada pelas universidades e institutos de
pesquisa", acrescentou. Para o pesquisador, o governo federal
deveria lançar um novo edital em 2018 a fim de garantir o
financiamento de, pelo menos, 15 a 20 projetos de pesquisa por mais
três ou quatro anos. "Seria um investimento em torno de R$ 5
milhões por ano para custear projetos, bolsas, equipamentos",
estimou o professor. "Hoje, o status de um país nos fóruns
internacionais antárticos é dado pela qualidade da pesquisa. Casa
vazia não faz ciência", alertou.
Procurado,
o Ministério da Ciência e Tecnologia informou que o último edital
foi lançado em 2013. Os recursos terminaram de ser pagos em 2017
pelo ministério e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (CNPq). A pasta explicou, ainda, que
"busca incansavelmente por dotação orçamentária que permita
o lançamento de uma nova chamada, o que deve ocorrer neste ano, de
forma a dar continuidade aos projetos apoiados pelo Proantar".
De acordo com ministério, ainda não há valor definido para um
eventual edital. No momento, a pasta e os demais envolvidos no
Proantar "trabalham por recursos para ciência junto à equipe
econômica".
*Com Informações do G1
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