Por: Redação OD
A
próxima missão das Forças Armadas do Brasil sob mandato da ONU
será na África. E será perigosa, com elevada possibilidade de
ações de combate. Há oito destinos possíveis no continente –
todos cenários de violentas lutas civis. O Comando do Exército
considera o envio de 700 a 800 homens, o tamanho de um batalhão de
infantaria, já no segundo semestre de 2018.A parada mais provável
até agora: a República Centro-Africana, onde 9.639 militares, mais
1.883 agentes policiais e 760 funcionários civis, integram a
MINUSCA, sigla internacional da operação. O
objetivo prioritário da ONU no país é proteger a população e
ajudar o governo do presidente Faustin Touadéra a restabelecer
condições de segurança interna, comprometida pela coalizão das
milícias muçulmanas Séleka.
Havia duas outras fortes opções, o
Sudão do Sul e o Mali, na negociação que passa pela
Secretaria-Geral da organização e pelo Conselho de Segurança, em
Nova York. Segundo o Ministério da Defesa, ambas tiveram baixa
aceitação, “por questões de logística e risco alto”. As
conclusões são referenciadas pelo Projeto Seta, um estudo do MD que
avalia por pontos específicos as implicações e demandas para o
atendimento de cada provável local de participação. O
modelo da unidade brasileira será o mesmo adotado no Haiti. Terá o
apoio de três diferentes tipos de blindados sobre rodas e veículos
de transporte geral.
O time vai incorporar duas novidades: equipes
das Forças Especiais e elementos de Operações Psicológicas. Mais
que isso: pela primeira vez desde a 2.ª Guerra, a Força Aérea terá
aeronaves atuando em áreas de conflito. Há dois meses em uma visita
discreta, uma comissão do Sistema de Capacidades em Operações de
Paz, agência da ONU para avaliação de tropas interessadas em
integrar grupos de estabilização, esteve nas bases da FAB em Manaus
e em Porto Velho.
O
chefe do time, coronel Humauyn Chohan Zia, do Paquistão, considerou
“bastante possível o emprego de meios aéreos do Brasil na
África”. Cinco aeronaves foram examinadas e selecionadas pelos
avaliadores: dois A-29 Super Tucano de ataque leve, dois helicópteros
multiúso H-60L Black Hawk e um cargueiro C-105 Amazonas. De acordo
com Zia, o equipamento poderá ser mobilizado para
servir a mais de um grupo pacificador.
Risco
de fogo
As
condições em que uma tropa brasileira entraria em confronto direto
na África são bem definidas pela regra da incumbência da ONU.
“Isso (o choque armado) só aconteceria em defesa própria,
reagindo a uma agressão, ou na garantia dos objetivos do mandato”,
disse ao Estado um oficial do corpo de fuzileiros da Marinha,
veterano do Haiti. Para o militar, a hipótese clássica é a da
retirada de civis que estejam sob ameaça rebelde em um vilarejo.
Dependendo da situação, será preciso contar com cobertura aérea,
fazendo a interdição de fogo, antes do pouso do helicóptero de
resgate.
Interessa à política externa do Brasil continuar mantendo
a presença nas missões da ONU.A
embaixadora Maria Luisa Escorel de Moraes, Diretora do Departamento
de Organismos Internacionais do Itamaraty, destaca que esse
envolvimento “reflete os princípios fundamentais da Constituição
Federal, como a defesa da paz e a solução pacífica de
controvérsias”. A
diplomata lembra que o País apoia as operações desde o início, em
1947, quando uma missão foi despachada para os Bálcãs. “Desde
então o Brasil já participou de cerca de 50 tarefas ao redor do
mundo”.
Maria Luisa ressalta que, “ao participar, o País
demonstra concretamente sua disposição e a capacidade de assumir
maiores responsabilidades em relação à paz e a segurança
internacionais”. Para
a embaixadora, a iniciativa “evidencia, como buscamos fazer nos 13
anos de engajamento no Haiti, a relevância de uma abordagem
integrada para a solução das crises; um tratamento que não se
limite a respostas puramente militares, mas também considere a
interdependência entre segurança e desenvolvimento”.
FONTE: Estadão
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