Noc H-40 Barão de Teffé e o Noc Prof W. Besnard lado a lado na Antártica. Imagem de autor desconhecido, gentileza do IOUSP. |
Pioneiros brasileiros na Antártica Parte ll
O ano de 2017 será um marco importante para o PROANTAR, o Programa Antártico Brasileiro, que está em vias de concluir a construção da nova base brasileira no Continente Antártico, a conhecida EACF - Estação Antártica Comandante Ferraz, prevista para o verão de 2018.
Com o reaquecimento das atividades de desenvolvimentos e pesquisas científicas no continente, o assunto volta a ganhar a devida importância nos meios tecnológicos & acadêmicos, civis e militares, pois muito pouco seria possivel sem a cooperação de instituições de pesquisas civis e das Forças Armadas, em especial da Marinha do Brasil, que sempre muito empenhou de seus meios humanos e materiais para o desenvolvimento do PROANTAR. É importante citar que desde a década de 60, diversos oficiais da Marinha do Brasil já participavam de expedições polares como observadores, inicialmente à bordo de navios do Chile, e, posteriormente, à bordo de navios argentinos, ingleses, russos, alemães e franceses.
Na imagem; CC(FN) José H. Elkyfury com outros Fuzileiros Navais e Oficiais da Marinha do Chile, durante a 1a invernada antártica na EACF Cmdte Ferraz. |
O primeiro brasileiro a pisar na Antártica foi o médico e escritor Durval Sarmento da Rosa Borges (1912-1999) em 1958. Durval Borges era editor de Ciência e Saúde da extinta revista Visão e membro da SGB - Sociedade Geográfica Brasileira, e foi fazer uma matéria sobre o encontro dos exploradores Hillary e Fucs, que estavam na época efetuando a expedição transantártica para o Ano Geofísico Internacional (1957/1958). Publicou, em 1959, o livro Um brasileiro na Antártica. O filho dele, Durval Rosa Borges, escreveu como se deu a ida do pai à Antártica: "Ele tinha espírito aventureiro, e decidiu que ia para a Antártica, só que do Brasil para a Antártica não existia a disposição de meios para tal viagem, então ele escreveu para o governo americano, perguntando como podia ir para a Antártica, pedido esse que foi ignorado em primeira instância, pois julgaram que no mínimo ele era maluco... E ele escreveu uma segunda vez, mas para a Marinha dos Estados Unidos, e responderam que se no dia tal, no mês tal, ele estivesse na Nova Zelândia, partiria um navio para a base americana na Antártica, e ele poderia ir junto, e foi...
Durval Sarmento da Rosa Borges nasceu em Recife em 18 de agosto de 1912, graduou-se em 1933 no Rio de Janeiro pela Faculdade Nacional de Medicina. Infelizmente pouco se encontra de sua biografia pessoal e o livro escrito pelo seu filho, relatando suas aventuras, é inexistente no comércio brasileiro, assim como a matéria de autoria do mesmo na revista Visão.
O primeiro brasileiro a fazer parte de uma expedição científica para a Antártida, com desembarque no continente, foi o meteorologista Rubens Junqueira Villela, muito antes da primeira expedição oficial brasileira. A bordo do navio quebra gelo da U.S. Navy "USS Glacier"(AGB-4), Villela embarcou em sua primeira viagem em novembro de 1961, inicialmente como jornalista e pesquisador pela Universidade da Flórida -USA (aonde o mesmo se formou em meteorologia), indo até a Base americana de Mc Murdo e ao Pólo Sul geográfico, chegando lá em 16 de novembro do mesmo ano (sendo também o 1o brasileiro a efetuar tal proeza*). Apenas quando já havia embarcado, recebeu do CNPq o título de observador científico, o que lhe deu a condição de ser o primeiro brasileiro a fazer parte de um grupo científico no continente.
Entretanto, Villela considera de maior relevância a sua participação na primeira expedição brasileira. O meteorologista participou de toda a preparação do Navio Oceanográfico da USP Noc "W. Besnard", e, foi um dos 12 pesquisadores que, juntamente com 24 tripulantes, todos homens, desbravou os mares e garantiu uma posição inédita para o Brasil ante a comunidade internacional. Além de promover pesquisas meteorológicas, Villela foi o responsável por garantir a segurança da viagem do Noc "W. Besnard" à Antártica, através de previsões de tempo e elaboração de cartas sinóticas, que confeccionava uma espécie de mapeamento da região por meio de informações recebidas via rádio.
Villela participou de outras cinco expedições à Antártida com o Noc "W. Besnard" e em outras embarcações, em um total de 12 expedições. Contudo, ele ressalta as dificuldades daquela primeira expedição brasileira, que eram desde o próprio navio, considerado inadequado para enfrentar o percurso, às condições climáticas desfavoráveis, e até os incidentes diplomáticos na Argentina, onde todos os presentes no W. Besnard foram obrigados a subir ao convés, durante a madrugada, para preenchimento de formulários e outras burocracias.
Na época, a Argentina fazia campanha contra a presença brasileira na região, e a incorporação do Brasil enquanto membro consultivo do Tratado Antártico. É formado na Universidade Estadual da Flórida, nos EUA. É professor aposentado do IAG-USP, atual Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas e um dos mais notáveis meteorologistas brasileiros além de piloto amador de planador. O professor Villela também é muito conhecido no meio paracientífico pelas pesquisas envolvendo fenômenos aéreos inexplicados e pela colaboração nas preparações das expedições do navegador Amyr Klink.
Ambos os feitos do Dr. Durval e do Dr. Villela foram de grande importância para a história do pioneirismo brasileiro no Continente Antártico, pois ambos chegaram ao Continente Antártico quase que por inciativas próprias e sem o apoio do Governo do Brasil, pois na época dos feitos, ainda não existia a consciência estratégica sobre os assutos antárticos, que hoje possuímos em conjunto de nossas Forças Armadas e Instituições Científicas Acadêmicas do Brasil. Porém é inegável que a continuidade das expedições nas quais o Dr. Villela teve oportunidade de participar, ajudaram não só a fomentar como também a contribuir para a inspiração do interesse dos assuntos antárticos por diversas novas gerações de pesquisadores brasileiros, enquanto, o trabalho do Dr. Durval deu o exemplo da coragem para os jornalistas mais técnicos sobre o tema das explorações do "continente gelado" e sua importância de divulgação no Brasil e em outras nações.
O Pólo sul só teria a presença de outros brasileiros em 30 de novembro de 2004, com a chegada do gaúcho Jefferson Cardia Simões, professor da UFRGS, tornou-se o primeiro brasileiro a percorrer o manto de gelo antártico e a atingir o Pólo Sul Geográfico (90 graus Sul) por terra às 21:30 horas da Terça-feira 30 de Novembro de 2004. O feito, realizado no âmbito da Travessia Científica Chileno-Brasileira da Antártica (a primeira por países latino-americanos) percorreu no total 1.140 quilômetros em 16 dias a partir da Estação Polar chilena em Patriot Hills. E em 2009, em uma quinta feira, dia 13 de novembro, com a chegada do paulista Júlio Fiadi, que junto com outros cientistas chegaram a Antártida através da ALE (Antarctic Expeditions & Logistics) em uma expedição particular utilizando trenós experimentais.
Nota do Autor: Até o momento da finalização dessa matéria, o autor desconhece se outros brasileiros também estiveram no Pólo Sul Geográfico. Caso novas informações cheguem, o mesmo se compromete a publicar uma errata sobre o assunto.
Referências bibliográficas:
Publicações Marinha do Brasil,
PROANTAR,
Instituto Astronômico e Geofísico da USP,
Habitat científico,
Projeto Inclusão Antártica da ESG,
Projeto Ambiênte Brasil.
Nenhum comentário:
Postar um comentário