Por: Redação OD
Dois mundos que se uniram com o propósito de ajudar e que despertam a
admiração de quem os observa. A Polícia Militar e o Grupamento de Radiopatrulha
Aérea (GRPAe), chamado rotineiramente apenas de Águia, juntos, servem e
protegem a população. E essa união trouxe para o Oeste Paulista a segunda mulher
na função de piloto da PM do Estado de São Paulo, a 1º tenente Mayara Roberta
Mieko Tanaka de Moraes, que ingressou na corporação por incentivo do pai e que
conheceu na prática a contribuição que o pássaro de metal dá aos agentes em
solo.
Ela também é a primeira e única na Base de Radiopatrulha Aérea (BRPAe)
com o hangar em Presidente Prudente.“Eu entrei na polícia e na
polícia eu acabei conhecendo o Grupamento Aéreo e olhei assim ‘Caramba, dá para
tentar. Por que não? ’”, recordou ao G1.
Na época em que Mayara tentou, não havia nenhuma mulher ainda. “Aí pensei: ‘Não
é porque não tem nenhuma mulher, que não possa ter mulher. Pode ter mulher! ’.
Aí na época a gente já vinha prestando, outros oficiais também, e aí deu
certo”, disse.
A oficial entrou na segunda turma com mulheres do GRPAe. “Sou a segunda
mulher. Tem a primeira mulher, que é a tenente Lara [Lara Carolina Palhiari
Duarte], e em seguida eu passei”, salientou Mayara. “Ela prestou o concurso antes
e não passou, aí nós prestamos juntas, um ano depois, aí ela passou e eu não
passei. Aí no próximo ano eu prestei e passei. Aí depois disso já tem mais
duas. No total, nós somos em quatro”, contou a oficial. “O começo é difícil, não pela recepção, nós não tivemos problemas quanto
a isso, o respeito, sempre teve”, disse.
“Mas a gente se cobra bastante, por
ter começado, é uma coisa nova, então a gente se cobra para que a gente faça
tudo correto, para que a gente não estrague aquilo que a gente tentou tanto
fazer”, afirmou a Tenente. Tudo foi novo também para Mayara. “A primeira vez eu falei: ‘Acho que
não vou conseguir não’ (risos). É bem difícil, é muita coisa, é um mundo
totalmente diferente… A aviação é um mundo à parte”, contou.
“Quando você entra
na aviação, você fala: ‘Eu tenho que aprender tudo sobre aviação’, a forma como
fala, a forma como tudo acontece é diferente, e para mim foi um choque. Falei
‘Caramba, é tudo muito diferente. Tem que aprender, tem que começar tudo de novo’.
No começo eu achava que não ia dar, e falei: ‘Acho que isso aqui vai ser muito
difícil’ (risos), mas você vai estudando, vai voando, vai aprendendo, aí vai
ficando um pouco mais fácil”, lembrou.
Única em Presidente Prudente
Foi em 2015 que a Base de Radiopatrulha Aérea de Presidente Prudente
recebeu na equipe a primeira mulher. A oportunidade “calhou” para a tenente, já
que ela e sua família são do Oeste Paulista. A oficial está no Grupamento Aéreo
desde outubro de 2013. Mayara faz o horário regular das 7h às 19h e durante esse período, junto
aos colegas de profissão, fica à disposição das ocorrências que possam
acontecer na área do Comando de Policiamento do Interior 8 (CPI-8), que atende
54 municípios. “A gente nunca sabe o que pode acontecer. O pessoal da sala de
rádio fica copiando as ocorrências dos três batalhões [18º, 25º e 42º BPM/I] e
a gente vai apoiar, conforme a necessidade”, relatou.
Entre as atuações do Águia, estão fatos como salvamentos, apoio a
combate a incêndio e apoio às viaturas em terra em Presidente Prudente, que é a
maior cidade da região e onde também tem a maior concentração de ocorrências,
segundo a tenente. “Tem dias com bastante e tem dias que são mais tranquilos.
Então, não tem uma regra, às vezes a gente é surpreendida”, colocou. O céu do Oeste Paulista não é a primeira área em que a tenente atua.
Antes de voltar para a região natal, a oficial estava na capital paulista. Toda
a formação como piloto – o curso teórico e a instrução prática – é feita no
Grupamento Aéreo, em São Paulo (SP). Foi lá que Mayara se formou e também
trabalhou por um tempo, até seguir para Presidente Prudente.
No Estado de São Paulo, existem 10 bases, incluindo a capital, sendo
assim, os policiais, além de trabalhar na cidade de São Paulo, precisam atuar
em outras unidades para adquirir conhecimento e experiência. “Aí acabou
calhando, né? Como eu sou daqui minha família é daqui, falei: ‘Ah, vou
trabalhar numa base, então vou trabalhar em Presidente Prudente’. Então, para
mim ficou confortável essa situação de vir trabalhar aqui, de já conhecer a
cidade, conhecer a região, minha família ser daqui. Por isso que eu escolhi”,
contou. Entretanto, apesar da formação, assumir o controle do Águia tem algumas
exigências, entre elas, um determinado número de horas de voo.
Com isso, a
tenente explicou que ainda exerce a função de copiloto. “Hoje sou formada
piloto comercial, mas sou copiloto, porque para nós, a gente precisa de ao
menos 500 horas para assumir o comando da aeronave e a gente precisa também de
um treinamento específico”, esclareceu. A oficial acrescentou que “toda a
formação, desde as primeiras instruções, até chegar ao comando da aeronave, vai
em torno de três a quatro anos.
Mas é o treinamento completo que, eu estou em fase de treinamento ainda, porque eu sou copiloto.
Estou com mais ou menos 360 horas, mais 140 horas eu já sou habilitada a fazer
a instrução de voo avançado, que aí são algumas missões específicas que a gente
precisa fazer, missão com rapel, missão de incêndio, e isso a gente precisa
treinar. Para a gente chegar até esse ponto, tem de ter uma experiência prévia,
principalmente na área do voo. Então a gente vai voando como copiloto,
adquirindo experiência, para depois conseguir fazer as avaliações, as
instruções”, relatou Mayara ao G1.
Dois mundos
A Polícia Militar e a aviação “são mundos distintos, mas um não deixa o
outro deixar de existir. Eles coexistem, os dois mundos”. “Então a gente tem
que aprender sobre aviação, mas a gente continua na Polícia Militar, continua
fazendo bastante serviço administrativo, o serviço operacional é praticamente o
mesmo, com a diferença de que a gente inclui a aeronave”, salientou a tenente
ao G1. “Vamos ao apoio das viaturas
nas ocorrências da mesma forma. Então, a experiência como policial é
imprescindível para que a atividade aérea consiga cumprir o papel. A gente
precisa de a experiência anterior para poder exercer, apoiar, saber como melhor
apoiar o policial que está ali na rua".
“Apesar de ser piloto, a gente não deixa de
ser policial. A gente faz as duas coisas e as duas coisas acontecem ao mesmo
tempo”, enfatizou a tenente. Já dentro da corporação foi que Mayara conheceu o grupamento. “O que me
chamou atenção foi que quando eu trabalhava na viatura, lá na rua, eu
solicitava apoio do Águia. O Águia ia, ajudava, era efetivo e todos os
policiais falavam: ‘Caramba, mas que legal! A gente consegue resolver o
problema, com o apoio deles a gente consegue enxergar melhor aqui a ocorrência’
e eu fiquei meio maravilhada. Falei: ‘Poxa, que legal. É uma ferramenta a mais
que a gente tem”, relatou.
Então, veio o interesse. “Falei: ‘Ah, por que não? Vou tentar. Vou fazer
o concurso e ver se dá certo’. Porque se a gente não tentar a gente nunca vai
saber se vai dar certo. Mas eu admirava. Admirava como eles trabalhavam,
admirava como as ocorrências podiam ser melhor resolvidas com o apoio do Águia
e isso me motivou a tentar”, destacou. Todos os águias já tiveram experiências na rua e como são as situações
em solo. “A gente sabe o que se passa, qual que é a intenção do policial, qual
é o desespero dele quando está lá pedindo apoio, então, acho que essa
experiência prévia só faz a gente se motivar ainda mais para apoiar, para
chegar quando tem que chegar, porque a gente sabe o quanto é necessário o
apoio”, salientou, ainda.
Seguir para o Águia não mudou muito o que Mayara fazia. “A única coisa é
que eu faço de uma forma diferente o meu serviço e eu uso um instrumento
diferente, que é a aeronave. Mas a importância é a mesma”, afirmou. “A importância da viatura é a mesma da
importância do helicóptero, só que um complementa o outro. Às vezes a gente
consegue uma visão mais ampla do local da ocorrência e isso ajuda o policial
que está lá embaixo. Então acho que os dois se complementam. Enxergar onde eles
não conseguem”, declarou a tenente.
Marcas
A oficial declarou que as ocorrências mais marcantes com o helicóptero
são as que envolvem o resgate de pessoas em situação de risco. “Uma que me marcou foi uma enchente que teve em São Paulo e a gente foi
com o helicóptero resgatar uma família que estava ilhada nesse local de
enchente. A gente foi com os nossos procedimentos, os nossos policiais
utilizando o cesto e resgataram essas pessoas, essa família, tirando-a do local
de risco para um local seguro. A gente levou a família inteira, o cachorro,
todo mundo dentro do cesto, para um local seguro e tirou daquela situação de
risco. Então, essas ocorrências envolvendo diretamente as pessoas são aquelas
que marcam mais, ficam mais na cabeça. Falar: ‘Consegui ajudar, se não fosse a
minha ajuda talvez pudesse ter acontecido algo mais grave’, então a gente lembra
bastante”.
Na região de Presidente Prudente, há pouco tempo, um salvamento
repercutiu bastante e a tenente Mayara estava lá. “Um senhor foi ali perto de
Panorama pescar. Ele tinha uma deficiência na perna e estava sozinho no barco”,
lembrou. Ele entrou no meio da vegetação e o barco ficou preso. “Ele ficou lá,
perdido”. Entretanto, o homem tinha um celular e conseguiu chamar socorro. “E
aí não tinha acesso. Ninguém conseguia enxergá-lo, porque a vegetação estava
densa e ele ficou meio escondido, então para chegar de barco seria difícil e
ele não conseguiria sair de lá. A gente foi com a aeronave, fez o sobrevoo no
local, conseguiu enxergá-lo e fez o salvamento”, contou.
Ingresso
Em 2005, aos 17 anos, Mayara ingressou na Academia da Polícia Militar do
Barro Branco (APMBB), pela influência do pai, que foi policial, mas saiu da
corporação nos anos de 1990 para trabalhar no Japão. “Mas aí ficou meio que um
arrependimento de ter saído, eu acho, aí ele incentivou a gente a entrar”,
lembrou ao G1. “Ele sempre comentava como
era o serviço na polícia e isso influenciou. Tanto que sou tenente e meu irmão
também. Então nós dois seguimos a carreira que seria do meu pai”, contou. “Ingressei em 2005, com 17 anos, era bem nova, mas a polícia me ensinou
muita coisa. A formação na polícia ensina muita coisa. Então, apesar de ter
ingressado bem jovem, a gente tem bastante ocorrência, bastante vivência, que
fazem a gente amadurecer um pouco mais rápido por causa dessas situações que a
gente acaba vivendo”.
Quando se formou, em 2008, a tenente Mayara passou a trabalhar no 18º
Batalhão da Polícia Militar do Interior (BPM/I), em Presidente Prudente, e um
ano depois seguiu para o 42º BPM/I, em Presidente Venceslau. Logo depois, a oficial se casou e se mudou para Jundiaí (SP), cidade de
seu esposo, onde trabalhou de 2010 até 2013, quando prestou um novo concurso
dentro da corporação. “Dentro da polícia tem a possibilidade desse concurso do
Grupamento Aéreo, que é aberto para os oficiais. Na época, eu já era tenente,
já tinha experiência trabalhando na rua, então prestei o concurso para o
Grupamento Aéreo e comecei a trabalhar aqui”.
Em família
Voltar para a região de Presidente Prudente foi uma boa oportunidade
para a tenente, local onde ela trabalha em família, literalmente. "Meu
irmão trabalha aqui. Às vezes ele está trabalhando na viatura na rua, pede
apoio e a gente vai daqui com o helicóptero para apoiar, não só ele como meu
marido, que também é tenente e trabalha aqui. Então, um dia é meu irmão, um dia
é meu marido (risos) ”, contou Mayara. Entretanto, os colegas de trabalho também se tornam uma família. “A
gente, na verdade, passa mais tempo no trabalho do que em casa. Então é uma
família, não tem como. Doze horas a gente passa aqui e 12 horas passa em casa,
e dessas 12 a gente passa oito dormindo (risos). O contato maior é aqui. A
gente está sempre junta”, afirmou.
Profissionalismo
A tenente contou que, como
todos os jovens, quando prestou o vestibular, “não tinha certeza de nada”. Ela
prestou para medicina, para farmácia e para a polícia. “Eu não sabia exatamente o que eu queria. Aí eu passei no Barro Branco e
os exames da segunda fase coincidiram, e nessa época eu tive de optar: ‘Eu vou
ter que fazer o exame psicológico do Barro Branco ou eu vou ter que prestar
outro vestibular’, aí acabei optando já por fazer o exame psicológico no Barro
Branco”, lembrou. “Às vezes eu penso: ‘Será que seria legal se eu fosse médica hoje?
’, mas aí eu penso: ‘Ah, acho que não’, mudou o pensamento, ‘Ah, acho que não
seria legal, não’ (risos) ”, contou.
“Acho que o maior incentivo é a gente fazer
bem feito, tentar fazer o melhor que a gente consegue daquilo que a gente gosta
e, independentemente, se você faz parte da maioria ou de uma minoria, isso não
faz nenhuma diferença”, destacou. Para a oficial, o que faz a diferença “é o profissionalismo”, ou seja,
“a pessoa fazer o que gosta, fazer bem feito, tomar as decisões corretas,
independente se é mulher, se é jovem, isso não importa”, pontuou. “O que
importa mesmo é que, quando você faz bem feito e faz o que gosta, você tem o
respeito das outras pessoas, você tem o retorno, então acho que isso é o mais
importante”, finalizou a tenente.
FONTE: G1 (Por: Stephanie Fonseca)
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