sábado, 18 de junho de 2016

A evolução da VBTP (Viatura Blindada de Transporte de Pessoal) M113 no Exército Brasileiro


Por: Leo Machado Botelho e Denis Batista Gauto Storti 
Antes mesmo de falar da VBTP M113 (Viatura Blindada de Transporte de Pessoal) e sua evolução no EB (Exército Brasileiro), cabe recordar como a viatura foi implantada na tropa blindada. No ínicio da década de 50, o Brasil estabeleceu um acordo militar com os EUA, onde o Exército Brasileiro fez a aquisição de 584 unidades do M113, as quais foram efetivamente utilizadas em 1972, ainda na versão a gasolina. Com a portaria 045–Res de 22 de dezembro de 1971, houve a transformação das Organizações Militar de Infantaria, denominadas BCCL (Batalhão de Carros de Combate Leve) em BIB (Batalhão de Infantaria Blindado), que receberam assim as primeiras VBTP M113 para transporte de fuzileiros. Após uma década de utilização na versão a gasolina, houve necessidade de modernização, pelo alto consumo e preço do combustível a época.


A empresa Motopeças Transmissões S.A, de Sorocaba-SP, foi a responsável pela tarefa. Suas principais modificações consistiram na troca do motor a gasolina por outro a diesel Mercedes–Benz de 172 HP e na colocação de uma torreta¹ que o diferencia das demais VBTP M113 usadas no mundo, recebendo assim o nome de VBTP M113B. O Exército Brasileiro, por conta dos conflitos que ora se sucediam mundo afora (Iraque, Afeganistão, Somália, entre outros), passou a integrar suas frações em FT (Forçastarefa), isto é, um combinado de CC (Carros de Combate) e Fz Bld (Fuzileiro Blindado) e demais armas de apoio, resultando assim em uma maior eficiência no emprego da tropa blindada. Com a chegada do Carro de Combate Leopard 1A5 nos RCC (Regimento de Carros de Combate) verificou-se que as viaturas que transportavam os fuzileiros numa FT, isto é, a VBTP M113B, não acompanhavam os Leopard, perdendo assim os fuzileiros parte de sua mobilidade na FT.

Após vários projetos de repotencialização e através de diversos protótipos, finalmente em 2012 chegou-se a um resultado positivo. O Brasil, por intermédio do Pq R Mnt/5 (Parque Regional de Manutenção/5), com sede em Curitiba-PR, e em parceria com a empresa norte americana BAE Systems, iniciou o trabalho de modernização da VBTP M113B. Nos anos de 2012 e 2013, com o apoio do CAEx (Centro de Avaliação de Exército), o Pq R Mnt/5 testou e aprovou a nova versão da VBTP M113, que recebeu a denominação M113BR. Foram realizadas alterações significativas na viatura, entre elas o conjunto de força que recebeu um motor Detroit Diesel 6V53T com 265 HP e a caixa de mudança TX 100-1A Allison, oferecendo assim maior potência. Essas mudanças trouxeram consequências ao veículo, principalmente para a suspensão e o trem de rolamento.

Devido a sobrecarga de peso do novo conjunto de força, foram acrescentados à suspensão dois amortecedores, um de cada lado; a polia tensora foi suspensa, mudando a tensão da lagarta² de 6 mm para uma medida entre 19 mm à 28,5 mm. O conjunto de lagarta por sua vez manteve o modelo T 130 de patins metálicos com buchas elásticas, almofadas fixas e amovíveis ligadas entre si por pinos sextavados. Em 2014, o Pq R Mnt/5 com o apoio do 20° Batalhão de Infantaria Blindado, realizou uma experimentação logística com lagartas de borrachas “Band Track”, fornecidas pela empresa canadense Soucy International Inc. Os testes realizados tiveram como objetivo verificar a eficiência dos seguintes itens: dirigibilidade em QT (qualquer terreno), operacionalidade (inserindo a viatura em uma situação tática na FT) e navegabilidade (flutuação e navegação).

Os resultados foram positivamente surpreendentes. Destacaram-se o baixo ruído e menor trepidação, e a boa dirigibilidade sobre o piso asfáltico ou terreno seco. Entretanto, observou-se o decréscimo no desempenho em terreno escorregadio e dificuldade na navegabilidade em transposição de curso d'água. Acrescentou-se à VBTP M113BR um novo sistema de freio a disco. Ele é acionado manualmente, por alavancas que possibilitam a realização de movimentos de pivoteamento³, facilitando principalmente a navegabilidade em transposições de curso d'água. Além dessas mudanças, destacam-se: reservatório de combustível com maior capacidade, cerca de 40 litros a mais; painel de instrumentos mais simples e eficiente; a substituição do alternador de 80 para 200 amperes, possibilitando assim a instalação de aparelhos optrônicos(4) e sistema de comunicação mais moderno (Rádio Falcon III).

Apesar de dispor da VBTP M113 modernizada como parte de sua frota blindada, o emprego tático em nossa doutrina difere significativamente dos demais países. Lá, o M113 é empregado na logística, no transporte de suprimentos e não mais na linha de frente. Atualmente, as VBCI (Viatura Blindada de Combate de Infantaria) são as utilizadas nas FT, pelo fato de serem equipadas com canhão de médio calibre, blindagem mais eficiente e espaço para transporte de fuzileiros. Para que o Brasil siga a tendência mundial e empregue de maneira mais eficaz o VBTP M113 é imprescindível que se faça uma revisão do emprego tático dessa viatura para que se tenha um melhor desempenho nas forças tarefas blindadas nacionais.
ORGULHO DE SER SARGENTO ! 
AÇO, BOINA PRETA, BRASIL! 

Notas: 1-tipo de plataforma com relativa proteção blindada e capacidade de rotação, equipada com metralhadoras ou canhões. 2- consiste numa esteira que se acopla às rodas de certos veículos terrestres com a finalidade de lhes aumentar a aderência ao solo e distribuir o peso uniformemente sobre uma área de superfície maior do que rodas convencionais. 3- manobra na qual uma das lagartas é totalmente travada para que o carro faça uma curva sobre seu eixo. 4- câmeras e sensores digitais com capacidade para detectar e identificar objetos a grandes distâncias, seja de dia ou de noite.
Nota da Redação: Os Autores do artigo, Leo Machado Botelho é Sub Tenente do Exército Brasileiro e Adjunto de Comando do CI Bld e Denis Batista Gauto Storti é 1º Sargento do Exército Brasileiro e Monitor da Seção de Ensino e Operação de Blindados do CI Bld, contaram com a revisão e aprovação deste artigo do Srº Ádamo Luiz Colombo da Silveira, Tenente Coronel da Arma de Cavalaria, Comandante do CI Bld

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