Fernando Larrat Miranda é natural de Belém, mas há 18 meses trabalha no Exército de Israel. — Foto: Arquivo Pessoal |
Por: Redação OD Europa.
Ele é um jovem de apenas 23 anos, nascido em Belém do Pará e fã do açaí do norte do Brasil. Seria um paraense como outro qualquer se atualmente não morasse no Oriente Médio e fosse um combatente do Exército de Israel. Em entrevista ao G1, durante férias no Brasil, Fernando Larrat Miranda relembrou o choque que sentiu ao ver o primeiro míssil cair perto de onde estava. Também disse que a visão que tinha daquela terra mudou após ingressar no serviço militar.
Fernando Larrat Miranda é natural de Belém, mas há 18 meses trabalha no Exército de Israel. — Foto: Arquivo Pessoal |
Fernando
Larrat fala do dia a dia nas Forças Armadas, da vida no Oriente, opina
sobre os conflitos e também sobre a convivência num lugar onde vivem
tantos povos diferentes.
O que faz um jovem deixar uma cidade amazônica e ir para o outro lado do mundo? Essa é uma das perguntas que Fernando está acostumado a receber e passa horas respondendo. Mais ainda: o que faz alguém sair do Brasil, país que não tem confronto com outras nações, para se alistar voluntariamente ao Exército israelense?
Ele contou que a mudança foi possível porque tem descendência judia, por conta de sua avó que migrou do Marrocos à Belém há décadas. Isso lhe permitiu solicitar o reconhecimento à nacionalidade israelense e lhe garantiu acesso ao pequeno país criado depois do Holocausto e da 2ª Guerra Mundial para ser o lar dos judeus.
"Desde muito jovem senti um vínculo, uma importância. Precisava ir um dia para o meu lugar de origem, onde o povo judeu veio. Não queria saber das histórias de longe, queria ver de perto como é que é. Sempre pensei em uma forma de ajudar o meu povo.” Trabalhar no Exército foi a forma que ele encontrou para isso.
Treinamento no Exército Israelense
No Centro de Recrutamento, ele falou sobre a decisão de fazer parte do grupo. O pai dele, paraense e de origem católica, também é militar. “Expliquei que era um imigrante judeu, mas que tinha vontade de servir ao Exército, queria ver de perto como as coisas acontecem. O Exército israelense é um dos mais poderosos do mundo e eu queria ter essa experiência”, diz.
Fernando conta que, ao chegarem, os recrutas são separados segundo seu perfil. Nos três primeiros meses, cada combatente é levado à exaustão. Depois é hora do treinamento inicial, quando recebem fuzis e, em seguida, do avançado, já focado na guerra. Nesta etapa, ocorre o treinamento grupal de operações, mas também estudos.
“O Exército israelense não é só estar lá com arma na mão. A gente estuda muito, estuda Israel, politicamente falando, a relação com os outros países para entender os povos que vivem lá dentro: judeus, cristãos, árabes. Lá tem de tudo. É um país que mostra a possibilidade de vários povos diferentes, de pensamentos diferentes, viverem juntos”, afirma.
Guerra e paz na Faixa de Gaza
Para Fernando, a relação entre judeus e muçulmanos, em geral, é natural e pacífica. Ele acredita que não é a diversidade da população a causa dos conflitos. Há muçulmanos no Exército israelense. “Eu escutava falar antes de ir para lá que judeu não podia ficar perto de árabe. Eu vejo o contrário: 30% da população israelense é árabe. Um dos meus melhores amigos é árabe e serve comigo no Exército".
O paraense também diz que a faixa de Gaza não é apenas um cenário de destruição, como ele imaginava antes. Embora viva a mercê de ataques, é uma cidade com infraestrutura urbana e possui uma arquitetura particular, típica da Antiguidade. "As casas parecem minicastelos".
Fernando ainda comenta sobre a relação com o povo e, principalmente, com as crianças, com ele conviveu de perto quanto estava em Gaza, há dois meses. Agora ele está em Hevron.
“A gente estava fazendo a segurança de um kibutz, um local onde vivem famílias israelenses na fronteira entre Gaza e o Egito. Foi o meu melhor momento lá. Pude ver as casas, as pessoas, as ruas. Fiz algumas rondas por lá. Várias crianças palestinas vêm falar com a gente. Crianças são crianças. Elas não estão nem aí para o conflito, só querem ser felizes. Jogamos futebol com eles.”
Mas o medo também faz parte desta realidade. Na primeira vez que o brasileiro presenciou o alerta vermelho, não deu importância até ouvir a primeira explosão, distante cerca de 400 metros de onde estava. Era mais um dia habitual na vida de tantos moradores que convivem com a guerra.
“Era muito alto e eu fiquei atordoado. Era um clarão. Nisso eu perguntei para o meu comandante: ‘O que é isso? O que está acontecendo?’. O meu comandante, assim como muita gente do país, já nasceu vendo esses problemas acontecerem. Eu não. Foi a primeira vez que eu estava em Gaza e vi uma bomba, um míssil, caindo do meu lado. Foi um choque no coração. Porém, o que a gente ia fazer com um monte de míssil caindo e eu apenas com um fuzil na mão?”
Fernando afirma perceber no Exército de Israel um zelo pela eficiência contra os ataques terroristas e o uso contínuo de inteligência e tecnologia para minimizar danos e reduzir o risco de atingir civis em confrontos. “O que foi mais tenso para mim [no primeiro ataque] não foi nem ver a explosão, que faz parte do confronto. O mais triste foi ver que dentro do local que eu estava tinham muitas crianças, idosos e mulheres grávidas”.
O combatente relembra que as explosões duraram toda a madrugada e, o que parece normal aos adultos, é assustador para as crianças. “Eu tenho um irmão mais novo, de 9 anos, e me lembrei logo dele, porque isso tudo deixa as crianças apavoradas. Foi a coisa mais difícil para mim, e isso durou a noite inteira, foi a noite toda caindo míssil. Foram mais de 300 mísseis em duas horas”. Segundo ele, ninguém morreu no ataque.
O paraense revela que uma das tecnologias usadas pelo Exército de Israel tem sido fundamental para minimizar as mortes: o Kipat Barzel. “Traduzindo, é uma cúpula de ferro. Por exemplo: eles jogam cinco mísseis. O Kipat Barzel joga outros cinco mísseis para abater os outros. Eles, então, explodem no ar. A tecnologia militar israelense salva, mas, às vezes, isso não funciona e acaba caindo um em algum lugar”.
Terroristas e atentados à bomba
Ele explica que é integrante de um esquadrão especializado em atuar nas áreas urbanas e que já participou de operações de captura de terroristas, mas quem dá as informações e orienta como tudo deve ser feito, nestes casos, é o Mossad, o serviço secreto de Israel. Segundo Fernando Larrat, o Hamas é o grupo terrorista que mais atua na região.
Mesmo acostumado com situações adversas, para ele, não é um trabalho fácil lidar com suspeitos de envolvimento em atentados terroristas. “Vejo as esposas e os filhos chorando. As crianças nasceram nessa situação. Eles não têm o que fazer. Não são pessoas ruins, mas é preciso levar o suspeito e cumprir a missão". Não há pena de morte em Israel, e o tempo máximo de reclusão é 30 anos.
Apesar da qualidade de vida e segurança urbana, quem vive em Israel ainda enfrenta o medo dos atentados. A política e protocolos de segurança para lidar, por exemplo, com pacotes e malas deixados em vias e lugares públicos é surpreendente. Toda vez que alguém esquece uma mala, “fecha a rua, chega a polícia, chama esquadrão antibombas. Se o pacote é difícil de abrir, um robô explode o pacote”.
Quem trabalha em áreas de fronteira percebe que, apesar dos acordos internacionais, há tensão nas relações diplomáticas entre países, mas a convivência entre as pessoas, garante Fernando, é mais amistosa.
"A verdade é que a maioria quer paz, tanto o lado israelense, quanto o lado palestino. Harmonia é a palavra. Recebemos denúncias dos próprios palestinos sobre possíveis ataques, eles não querem problemas”, afirma Larrat.
O que faz um jovem deixar uma cidade amazônica e ir para o outro lado do mundo? Essa é uma das perguntas que Fernando está acostumado a receber e passa horas respondendo. Mais ainda: o que faz alguém sair do Brasil, país que não tem confronto com outras nações, para se alistar voluntariamente ao Exército israelense?
Ele contou que a mudança foi possível porque tem descendência judia, por conta de sua avó que migrou do Marrocos à Belém há décadas. Isso lhe permitiu solicitar o reconhecimento à nacionalidade israelense e lhe garantiu acesso ao pequeno país criado depois do Holocausto e da 2ª Guerra Mundial para ser o lar dos judeus.
"Desde muito jovem senti um vínculo, uma importância. Precisava ir um dia para o meu lugar de origem, onde o povo judeu veio. Não queria saber das histórias de longe, queria ver de perto como é que é. Sempre pensei em uma forma de ajudar o meu povo.” Trabalhar no Exército foi a forma que ele encontrou para isso.
Treinamento no Exército Israelense
No Centro de Recrutamento, ele falou sobre a decisão de fazer parte do grupo. O pai dele, paraense e de origem católica, também é militar. “Expliquei que era um imigrante judeu, mas que tinha vontade de servir ao Exército, queria ver de perto como as coisas acontecem. O Exército israelense é um dos mais poderosos do mundo e eu queria ter essa experiência”, diz.
Fernando conta que, ao chegarem, os recrutas são separados segundo seu perfil. Nos três primeiros meses, cada combatente é levado à exaustão. Depois é hora do treinamento inicial, quando recebem fuzis e, em seguida, do avançado, já focado na guerra. Nesta etapa, ocorre o treinamento grupal de operações, mas também estudos.
“O Exército israelense não é só estar lá com arma na mão. A gente estuda muito, estuda Israel, politicamente falando, a relação com os outros países para entender os povos que vivem lá dentro: judeus, cristãos, árabes. Lá tem de tudo. É um país que mostra a possibilidade de vários povos diferentes, de pensamentos diferentes, viverem juntos”, afirma.
Guerra e paz na Faixa de Gaza
Para Fernando, a relação entre judeus e muçulmanos, em geral, é natural e pacífica. Ele acredita que não é a diversidade da população a causa dos conflitos. Há muçulmanos no Exército israelense. “Eu escutava falar antes de ir para lá que judeu não podia ficar perto de árabe. Eu vejo o contrário: 30% da população israelense é árabe. Um dos meus melhores amigos é árabe e serve comigo no Exército".
Apesar dos confrontos, Fernando afirma que vida em Israel é boa e com qualidade — Foto: Arquivo Pessoal |
O paraense também diz que a faixa de Gaza não é apenas um cenário de destruição, como ele imaginava antes. Embora viva a mercê de ataques, é uma cidade com infraestrutura urbana e possui uma arquitetura particular, típica da Antiguidade. "As casas parecem minicastelos".
Fernando ainda comenta sobre a relação com o povo e, principalmente, com as crianças, com ele conviveu de perto quanto estava em Gaza, há dois meses. Agora ele está em Hevron.
“A gente estava fazendo a segurança de um kibutz, um local onde vivem famílias israelenses na fronteira entre Gaza e o Egito. Foi o meu melhor momento lá. Pude ver as casas, as pessoas, as ruas. Fiz algumas rondas por lá. Várias crianças palestinas vêm falar com a gente. Crianças são crianças. Elas não estão nem aí para o conflito, só querem ser felizes. Jogamos futebol com eles.”
Mas o medo também faz parte desta realidade. Na primeira vez que o brasileiro presenciou o alerta vermelho, não deu importância até ouvir a primeira explosão, distante cerca de 400 metros de onde estava. Era mais um dia habitual na vida de tantos moradores que convivem com a guerra.
“Era muito alto e eu fiquei atordoado. Era um clarão. Nisso eu perguntei para o meu comandante: ‘O que é isso? O que está acontecendo?’. O meu comandante, assim como muita gente do país, já nasceu vendo esses problemas acontecerem. Eu não. Foi a primeira vez que eu estava em Gaza e vi uma bomba, um míssil, caindo do meu lado. Foi um choque no coração. Porém, o que a gente ia fazer com um monte de míssil caindo e eu apenas com um fuzil na mão?”
Fernando afirma perceber no Exército de Israel um zelo pela eficiência contra os ataques terroristas e o uso contínuo de inteligência e tecnologia para minimizar danos e reduzir o risco de atingir civis em confrontos. “O que foi mais tenso para mim [no primeiro ataque] não foi nem ver a explosão, que faz parte do confronto. O mais triste foi ver que dentro do local que eu estava tinham muitas crianças, idosos e mulheres grávidas”.
O combatente relembra que as explosões duraram toda a madrugada e, o que parece normal aos adultos, é assustador para as crianças. “Eu tenho um irmão mais novo, de 9 anos, e me lembrei logo dele, porque isso tudo deixa as crianças apavoradas. Foi a coisa mais difícil para mim, e isso durou a noite inteira, foi a noite toda caindo míssil. Foram mais de 300 mísseis em duas horas”. Segundo ele, ninguém morreu no ataque.
O paraense revela que uma das tecnologias usadas pelo Exército de Israel tem sido fundamental para minimizar as mortes: o Kipat Barzel. “Traduzindo, é uma cúpula de ferro. Por exemplo: eles jogam cinco mísseis. O Kipat Barzel joga outros cinco mísseis para abater os outros. Eles, então, explodem no ar. A tecnologia militar israelense salva, mas, às vezes, isso não funciona e acaba caindo um em algum lugar”.
Terroristas e atentados à bomba
Ele explica que é integrante de um esquadrão especializado em atuar nas áreas urbanas e que já participou de operações de captura de terroristas, mas quem dá as informações e orienta como tudo deve ser feito, nestes casos, é o Mossad, o serviço secreto de Israel. Segundo Fernando Larrat, o Hamas é o grupo terrorista que mais atua na região.
Mesmo acostumado com situações adversas, para ele, não é um trabalho fácil lidar com suspeitos de envolvimento em atentados terroristas. “Vejo as esposas e os filhos chorando. As crianças nasceram nessa situação. Eles não têm o que fazer. Não são pessoas ruins, mas é preciso levar o suspeito e cumprir a missão". Não há pena de morte em Israel, e o tempo máximo de reclusão é 30 anos.
Apesar da qualidade de vida e segurança urbana, quem vive em Israel ainda enfrenta o medo dos atentados. A política e protocolos de segurança para lidar, por exemplo, com pacotes e malas deixados em vias e lugares públicos é surpreendente. Toda vez que alguém esquece uma mala, “fecha a rua, chega a polícia, chama esquadrão antibombas. Se o pacote é difícil de abrir, um robô explode o pacote”.
Quem trabalha em áreas de fronteira percebe que, apesar dos acordos internacionais, há tensão nas relações diplomáticas entre países, mas a convivência entre as pessoas, garante Fernando, é mais amistosa.
"A verdade é que a maioria quer paz, tanto o lado israelense, quanto o lado palestino. Harmonia é a palavra. Recebemos denúncias dos próprios palestinos sobre possíveis ataques, eles não querem problemas”, afirma Larrat.
Adaptado da reportagem original de Glauce Monteiro e Jorge Sauma, G1 PA — Belém em 23/04/2019.
Link da reportagem original:
https://g1.globo.com/pa/para/noticia/2019/04/23/paraense-do-exercito-de-israel-relembra-primeira-madrugada-de-misseis-em-gaza-e-relata-rotina-como-combatente.ghtml?fbclid=IwAR0v7xiLSThOCBbBluIFVR_J-H1v5iNEzjLzs9gZPRfIoEG6CURQGKPcBck
Excelente matéria.
ResponderExcluirLindo a decisão do jovem.