quarta-feira, 31 de outubro de 2018

Por dentro do exercício TRIDENT JUNCTURE 2018



Por: Yam Wanders.


Uma força militar não precisa necessariamente estar guerreando para ser eficiente e respeitada, mas é óbvio que treinar intensamente em tempos de paz ajuda a manter as capacidades operativas em dia, e, ajuda mais ainda a fazer uma de suas melhores funções; vencer sem precisar lutar atravéz da dissuasão.
A NATO/OTAN pratica essa doutrina intensamente desde sua criação em 1949 em seus múltiplos aspectos que são; Incrementação das capacidades das operações conjuntas entre as forças dos países membros da Aliança; Treinar tropas de nações amigas, e fazer frente às possíveis ameaças à Europa no que foi o cenário da guerra fria no passado, e, atuar na guerra contra o terror e contra ameaças emergentes nos novos cenários de dissuação para a proteção dos estados membros mais dependentes da capacidade da Organização.




Na parte naval do exercicio a grande novidade é a participação do porta-aviões USS Harry S. Trummam CVN-75. Imagem via Forsvaret ( Forças armadas da Noruega).

A atividade da NATO/OTAN abrange praticamente todos os segmentos da defesa do continente Europeu, e, na projeção de forças exteriores. Com isso, a programação de exercícios de grande envergadura atinge o ápice durante o exercício Trident Juncture, que se afirmou como o maior exercício militar da NATO/OTAN, e, um dos maiores do mundo, desde quando a Aliança Ocidental iniciou seus primeiros exercícios em 1951.

O Exercício Trident Juncture 2018 começou oficialmente no dia 25 de outubro e vai até o dia 7 de novembro, porém, as atividades de preparação e deslocamento de pessoal e material já ocorrem em diversos países desde meados do início de outubro. Essas atividades incluem um pré-exercício de desembarque aéreo e anfíbio na Islândia para as tropas que se deslocaram dos USA.



Dentro das muitas atividades da 1a fase, a organização logistica foi imperativa para prover os meios materiais necessàrios ao mega exercicio multinacional. Imagem via Forsvaret (Forças Armadas da Noruega).



As fases principais estão divididas em:

- 1a fase; agosto/outubro & novembro/dezembro - organização e deslocamento de tropas para o teatro de operações.

- 2a fase: 25 de outubro à 7 de novembro – Exercícios operacionais (live field exercise (LIVEX).

- 3a fase; 14 à 23 de novembro; Exercício de postos de comando e avaliação(command post exercise – CPX).

Em coletiva de imprensa com a participação do alto comando da NATO/OTAN e do Estado Maior das Forças Armadas da Noruega que ocorreu no dia 9 de outubro, foram apresentados detalhes do exercício no âmbito mais genérico e algumas curiosidades que junto com as ações de treinamentos de combate, também serão exercitadas em operações de apoio humanitário de grande envergadura para a população civil que eventualmente necessite de apoio e/ou refúgio para longe das regiões de conflito.




Noruega a anfitriã de 2018.

A nação anfitriã dessa edição é a Noruega, que obviamente sempre ocupou posição estratégica de destaque entre o Mar do Norte, páises nórdicos e Mar Báltico, que sempre foi o local de cenários críticos na época da “Guerra Fria”, e, hoje volta ao contexto estratégico com nações que antes integravam a ex-URSS e agora fazem parte da NATO/OTAN, como a Letônia, Estônia e Lituânia. Incluíndo-se nesse quadro a Polônia (ex-integrante da extinta aliança “Pacto de Varsóvia).
Outro grande motivo da escolha da Noruega deve-se ao fato desse país possuir um relevo e clima de interesse para os treinamentos de extrema realidade de dificuldade de condições operacionais. Quase todos os possíveis terrenos de atuação na região Nórdica e Báltica da Europa, aonde se posicionam cenários considerados críticos no momento atual podem ser treinados na Noruega.



A temperatura na Noruega a partir de outubro varia entre -11C e -27C, dificilmente subindo acima de 0 graus até a primavera em meados de março/abril, condições estas que nem sempre são identicas em toda a extensão da latitude geográfica para leste ou oeste no globo.
Apesar da maioria dos países membros da NATO/OTAN possuírem climas de temperaturas negativas no inverno, nem todos são tão frios ou possuem a incidência de nevascas constantes como na Noruega à exceção da Groênlandia.
A Noruega também possui uma reputação iniglalável na área de operações no gelo, e essa reputação é solidificada pela “The Norwegian School of Winter Warfare”, que é considerada a melhor escola do mundo na área de operações em regiões glaciais e dá suporte à “The NATO Centre of Excellence for Cold Weather Operations”(baseada na Noruega), que é o órgão principal para prover os treinamentos em grande escala para as tropas da NATO/OTAN nesse ambiênte extremo.



O aspecto de um mega exercício em um país de condições glaciais visa a manutenção de capacidades operativas para a Organização e de preparo fisiológico específico para as tropas, pois no último decênio, a NATO/OTAN no contexto da “Guerra contra o Terror”, acabou por manter um foco de suas operações em regiões do Oriente Médio e África, que possuem 80% de seus teatros operacionais sob temperaturas acima de 35/40C e terrenos extremamente áridos.
No contexto geopolítico & estratégico, a escolha da Noruega se dá ao fato das crescentes tensões com a Rússia, em um cenário que já é considerada como uma “2a Guerra Fria” que teve suas origens no 2o mandato do governo Obama. Com esse megaposicionamento de tropas em um país nórdico e com sua explícita demonstração de capacidades operacionais em ambiênte sub-ártico, a intenção de disssuação fica clara e bem endereçada à Rússia.


Posições dos principais aerodromos que estão participando das operações do Exercicio Trident Juncture 2018.

Em um contexto político interno identificado por muitos analistas e que eu tambem compartilho da opinião, a escolha da Noruega tem uma intenção de dar uma “indireta” para a diminuição da capacidade operativa de membros importantes como a Alemanha e França, que efeturam cortes brutais em seus orçamentos de defesa, comprometendo o equilíbrio de forças para as capacidades da NATO/OTAN, com óbvia sobrecarga para outros membros que possuem recursos financeiros mais limitados.





Números & abrangência


Os números são impressionantes, com 50 mil militares da NATO/OTAN e de nações parceiras diretamente envolvidos, empregando 250 aeronaves, 65 navios e mais de 10 mil veículos diversos.

Outros números:

- Para a chegada de todo o pessoal envolvido são esperados no mínimo 180 vôos e a atracação de 60 navios com destino a Noruega.

- mais de 27 diferentes pontos de chegada entre aeroportos, portos, terminais ferroviários e estradas serão empregados na chegada e partida de pessoal e material.

- se todos os veículos formassem uma fila, essa teria o comprimento de 92 kilometros.

- en torno de 35 mil camas estão sendo disponibilizadas em todas as áreas dos exercícios, e, somente para comparação, toda a rede hoteleira de Oslo possui somente 26 mil camas disponíveis.

- mais de 1.8 milhões de refeições serão consumidas antes e depois dos exercícios.

- 4.6 milhões de garrafas de água serão distribuídas antes, durante e depois dos exercícios.

- 50 campos serão montados para acomodar tropas e pessoal diverso, sendo que o menor terá capacidade para 500 pessoas e o maior 5.500 pessoas.

- os contratos assinados pela NATO/OTAN e Forsvaret (Forças Armadas da Noruega) com empresas da Noruega giram em torno de US$ 184 milhões.




A área de abrangência das manobras também é algo gigantesco, abrangendo grandes extesões territoriais desabitadas da Noruega, Uma boa parte do Mar do Norte e do Mar Báltico, e o “ciberespaço” de toda a região. Maiores detalhes da área de extensão do espaço aéreo sobre todas as regiões continentais e sobre o Mar do Norte e Báltico não foram reveladas aos serviços de imprensa e essa informação permaneceu restrita aos órgãos de controle de tráfego aéreo e marítimo da Noruega, Suécia, Dinamarca e Reino Unido, mas estima-se que praticamente apenas o espaço aéreo da Finlândia ( que não faz parte da NATO/OTAN, mas participa como parceira indireta junto com a Suécia) não estão em uso pelas manobras aéreas do exercicio “Trident Juncture”.


Imagem via Forsvaret (Forças Armadas da Noruega).

No campo civil, participam um incerto número de empresas civis ligada ao setor de transportes aéreos, marítimos, logística, comunicações, dados, entre outras. Porém o número de empresas assim como nomes não foram divulgados.





Política de transparência

A NATO/OTAN mais especificamente através do Supreme Headquarters Allied Powers Europe (SHAPE), publica todos os programas de exercícios anuais em seus meios de comunicação na internet. Dentro dos prepostos do “Documento de Viena”, que assegura a política de transparência da NATO/OTAN, são estabelecidas as seguintes condutas; Notificar publicamente com antecedencia de no mínimo 42 dias, quando um exercício excede mais de 9 mil militares e quando o exercício exceder mais de 13 mil militares é permitida a presença de observadores internacionais durante todo o exercício.
Todas essas e outras medidas de transparência são geridas e observadas pela Organization for Security and Co-operation in Europe (OSCE), que é responsável por divulgar as informações para o campo diplomático das nações interessadas.




A intenção dessa política de transparência é evitar o que pode ser qualificado como “clima de beligerância” ou “ações provocativas”, que geralmente são muito utilizadas pelas chamada “impresa marrom” ou movimentos políticos e/ou governos de nações interessadas em criar climas de tensões artificiais para proveito imediato ou posterior, dentro ou fora da Europa Ocidental.





Impacto e cuidados ambientais

Outra importante doutrina que está sendo implementada nesse exercício e que já progride de outros exercícios é a preocupação com o impacto ambiental. A condução de todas as operações é acompanhada de especialistas militares e civis, incluíndo observadores internacionais de fora do âmbito da NATO/OTAN para acompanhar todas as ações que tratam diretamente da prevenção à danos e correção de eventuais problemas que causem impacto pelo menor que seja ao meio ambiênte em todos os locais que ocorrem os exercícios.




A principal ação de proteção ao meio ambiênte teve uma fase de estudo e planejamento, que foi efetuada em conjunto com as autoridades ligadas ao meio ambiênte e preservação histórica da Noruega, para demarcar todas as áreas que seriam restritas ao exercício, evitando asssim todo e qualquer local que eventualmente corra riscos de qualquer espécie quando da permanência e passagem de tropas ou veículos, mesmo que por estradas de uso comum da população civil.

De acordo com informações da NATO/OTAN, nenhuma atividade ocorrerá em parques nacionais, proximidades de monumentos históricos ou áreas de proteção ambiental por menores que sejam, e, após o fim das manobras um bom número de unidades especializadas trabalharão em conjunto com as autoridades civis locais para avaliação de possíveis danos e de suas reparações quando estes ocorrerem.




A população civil das regiões está recebendo ampla informação sobre onde, quando e como ocorrerão certos eventos locais, para com isso se adaptarem a eventuais mudanças temporárias de intinerários e colaborar com reportes de eventuais danos ao meio ambiênte ou equívocos das tropas em exercício. Dentro desse programa de ampla informação para a população, até mesmo uma “hotline” vai operar por 24h para atender as necessidades da população e eventuais reportes de alterações.
O Exercício Trident Juncture promete ser o exercício militar mais “ecologicamente limpo” de todos os tempos.



Galeria de imagens:
(clique para ampliar)































































































































































































Aguardem para breve artigos mais detalhados de outras atividades do Exercício Trident Juncture 2018.



Referencias e fontes: NATO/OTAN e Forsfaret – Forças Armadas da Noruega.




















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