Por: Redação OD
Na
manhã do
dia 11
de junho de
1865,
um
domingo
da Santíssima Trindade, por volta das 8h30min,
logo
após ter sido arriado o sinal de rancho, preparam-se as tripulações
do Amazonas e do Jequitinhonha para a celebração da Missa. Próximo
do relógio atingir
9h,
a canhoneira Mearim,
navio de vanguarda e de prontidão avançada, iça o sinal de Inimigo
à vista, e logo após outro sinal: os navios avistados são em
número de oito (...)
Barroso, a bordo da Fragata Amazonas,
faz o primeiro sinal
de preparar
para o combate e depois safa
geral. O
despertar
dos
fogos das máquinas
é o ato
a seguir: Suspender ou largar amarras por arinques e boias, ou até
por mão, como melhor convier. Assim,
deu-se o início da Batalha
Naval do Riachuelo, ou simplesmente Batalha do Riachuelo, travada
esta as
margens do arroio
Riachuelo,
um afluente do rio
Paraguai,
na província de Corrientes,
na Argentina.
Considerada
pelos historiadores militares como uma das mais importantes batalhas
da Guerra
do Paraguai (1864-1870).
A bacia do rio
da Prata era
estratégica para as comunicações entre o Oceano
Atlântico e
os contrafortes orientais da Cordilheira
dos Andes.
O transporte de pessoas, animais e de mercadorias eram
feito pelos rios, uma vez que quase não havia estradas até à
segunda metade do século
XX.
O país que controlasse a navegação de seus rios, mas
principalmente a sua foz,
controlaria o interior do território e a sua economia.
O Paraguai não tinha uma saída direta para o mar, uma vez que a
bacia estava nas
mãos da Argentina e do Uruguai, este último em constante disputa
entre os interesses da República Argentina
e
do Império
Brasileiro
e
por
estas
razões,
as fortificações mais importantes do Paraguai tinham sido erguidas
nas margens do baixo curso do rio Paraguai.
Tropas
paraguaias já haviam ocupado áreas da então Província do Mato
Grosso (atual Estado do Mato
Grosso do Sul),
no Império do Brasil, e da República da Argentina. Se vencessem a
batalha do Riachuelo, os
Paraguaios, poderiam
navegar livremente pelo rio, descer até
ao Rio Paraná e vir a
conquistar a
cidade de Montevidéu
no
Uruguai
e,
de lá, ocupar por
total a
então Província do Rio
Grande do Sul.
Formar-se-ia assim o Grande Paraguai, que se abriria ao comércio
atlântico com as demais nações. Coube ao Almirante Joaquim
Marques Lisboa,
Visconde de Tamandaré, depois Marquês de Tamandaré, o comando das
Forças Navais do Brasil em Operações de Guerra contra o Governo
Paraguaio.
A Marinha do Brasil representava praticamente a totalidade do Poder
Naval presente no teatro de operações.
O
Comando-Geral dos Exércitos Aliados era exercido pelo Presidente da
República da Argentina, General Bartolomeu
Mitre, sendo
que as
Forças Navais Brasileiras
não estavam subordinadas a ele, de acordo com o Tratado da Tríplice
Aliança. A estratégia naval adotada pelos aliados foi o de
bloqueio.
Os rios Paraná e Paraguai eram as artérias de comunicação com o
Paraguai. E
assim, ss
Forças Navais do Brasil foram organizadas em três Divisões: Uma
permaneceu estacionada
no
Rio da Prata e as outras duas subiram o Rio Paraná para efetivar o
bloqueio. Com o avanço das tropas paraguaias ao longo da margem
esquerda do Paraná, na Província de Corrientes, Tamandaré resolveu
designar seu Chefe do Estado-Maior o Chefe-de-Divisão (posto que
correspondia a comodoro, ou almirante de uma estrela em outras
Marinhas) Francisco
Manuel Barroso da Silva,
para comandar a força naval que estava rio acima.
Fragata Amazonas final do século XIX.Marinha Imperial Brasileira Foto: Arquivo MB |
Almirante
Barroso
partiu de Montevidéu em 28 de abril de 1865, a
bordo da Fragata
Amazonas,
e juntou-se
à força naval em Bela
Vista.
A primeira missão de
seu batismo de fogo, fora
um ataque contra
a
cidade de Corrientes,
que encontrava-se
ocupada pelos paraguaios. O desembarque ocorreu, com êxito no
dia
25 de maio, mas
não
era possível manter a posse dessa cidade na retaguarda das tropas
invasoras e foi preciso, logo depois, evacuá-la, mas o ataque deteve
o avanço paraguaio para o sul, ao longo do Rio Paraná. Ficou
evidente que a presença da força naval brasileira deixaria o flanco
dos invasores sempre muito vulnerável. Era necessário destruí-la,
e isso motivou Solano López a planejar a ação que levaria à
Batalha Naval do Riachuelo A esquadra paraguaia, partindo de Humaitá
na noite do
dia
10, devia regular o
seu deslocar de modo que
atingi-se
à
esquadra brasileira nas primeiras horas da madrugada de 11 de junho.
Cada um dos navios paraguaios devia abordar um dos navios
brasileiros.
Se
algum destes conseguisse repelir a abordagem, teria a sua retirada
cortada por uma bateria previamente assestada no barranco sobre o
canal Riachuelo, 2
km
abaixo da cidade de Corrientes. “Ide e trazei-me os navios
brasileiros!”, foram as palavras de Solano
Lopes
quando terminou a proclamação que dirigiu a
sua esquadra no momento da partida de Humaitá. A distancia poderia
ser percorrida em cinco ou seis horas, mas uma avaria no vapor Iberá
não permitiu efetuar a surpresa antes do romper do dia, e só às 9h
as duas esquadras se avistaram. A Força Naval Brasileira que
bloqueava o rio Paraná estava fundeada ao lado do Chaco, a 25 km
ao
sul de Corrientes e fronteiro a um monumento denominado “A Coluna”,
ereto na margem esquerda do rio. Era composta de 11 navios, mas no
dia da batalha contava só com 9; outros dois: as canhoneiras Itajaí e Ivaí encontravam-se destacadas em ponto distante rio abaixo. A
força era formada pela 2ª e 3ª Divisões da Esquadra. A frota
composta de nove navios de guerra estava armada com 59 bocas de fogo,
levando a bordo 1.113 fuzileiros navais e 1.174 soldados do Exército
Imperial.
A esquadra Paraguaia |
A
marinha paraguaia era composta de 8 navios armados com 38 bocas de
fogo, contando ainda com sete baterias flutuantes "chatas"
comandadas por tenentes de artilharia, montando cada uma um canhão
de 68 libras. Estas "chatas" eram rebocadas ao campo de
batalha por um navio à exceção do "Salto Oriental". A
tripulação era
composta por
400 marinheiros entre os oito navios e outros 72 a bordo das chatas.
Somando um
total de 472
marinheiros que foram agregados com mais
500
combatentes do 6º Batalhão de Infantaria a bordo. A esquadra
guarani era comandada pelo Comodoro Pedro Ignácio Mezza. Foram
posicionadas nas barrancas da Foz do Riachuelo 22 peças de
artilharia e duas baterias à "Congreve" com 1.200
atiradores do exército paraguaio que estavam posicionados em terra,
comandados pelo Tenente-Coronel José María Bruguez. Dois outros
navios da esquadra paraguaia não participaram do combate e ficaram
fundeados águas acima do rio em razão de avarias, o Vapor Paraná,
comandante Gutierres e o Vapor Yberá, sob comando do Tenente Pedro
Victorino Gill, teve problemas mecânicos e atrasou a chegada da
frota paraguaia ao campo de batalha.
A
Batalha
Às
9h25min,
a esquadra brasileira está na formação em escarpa voltada águas
acima. Barroso iça o sinal, e
grita aos seus comandados: “O
Brasil espera que cada um cumpra o seu dever”, seguido de outro
grito
com instruções de combate: Atacar e destruir o inimigo o mais de
perto que puder. Os paraguaios descem o rio, perfilham-se com a
esquadra brasileira, trocam-se tiros, duas chatas paraguaias são
afundadas e um terceira avariada; o Jejuy, também atingido e
seriamente avariado, vai abrigar-se na beira do Riachuelo para
reparos. A esquadra paraguaia desce o rio, faz a volta um pouco
abaixo do Riachuelo, torna águas acima e encosta-se na curva do
Riachuelo a jusante das suas baterias de terra; as chatas, fundeadas
e preparadas, aguardam a resposta brasileira. Descendo, a frota
paraguaia se estira ao longo e perto da margem esquerda do Paraná,
entre a boca do Riachuelo e a saliência do Rincão de La Graña, a
jusante dos 22 canhões inimigos assestados em terra.
O Parnaíba sofre o choque de três vapores paraguaios (Le Monde illustré, nº 436, 19/08/1865). |
Às
10h50min, a esquadra brasileira começa a se mover águas abaixo na
direção dos paraguaios, a Fragata Amazonas repete o sinal: “Atacar
e destruir o inimigo o mais perto que puder”. A Corveta Belmonte
vai a frente e abre fogo às 11h20min, mas sofre com o fogo combinado
dos navios e das baterias de terra, e é fortemente fustigada, vindo
a fazer água que lhe invade o porão. O seu comandante comunica à
capitânia que as bombas não dão vazão e faz contramarcha,
dirige-se ao banco mais próximo, na ilha Cabral e aí encalha para
não ir a pique e se recuperar. Às
11h25min,
a
Fragata Amazonas
investe
na vanguarda de
combate, abre
fogo contra as baterias inimigas e recebe respostas
dos
tiros de
metralha. Segue-lhe a Beberibe, que
às
11h40min
abre
fogo.
Seguem-lhe
a Mearim pelo canal e a Araguari, esta repele uma tentativa de
abordagem dos inimigos Taquari, Marquês de Olinda e Paraguari. Às
11h50min,
a Ipiranga
investe pelo canal trocando tiros com a linha inimiga e consegue
atravessar. Às 12h10min
a esquadra brasileira conseguia concluir a primeira passagem.
De 12h10min
até
às 13h, a
Jequitinhonha,
segundo maior navio da esquadra do Brasil, encalha antes de passar
pelo canal, a pouca distância das baterias de terra do Cel. Bruguez,
e
é
atacada com vigor pela artilharia das barrancas e responde a altura
com os canhões de bombordo, mas sem
poder-se
mover ainda assim consegue repelir a tentativa paraguaia de abordagem
simultânea pela Taquari, do Marques de Olinda e da Paraguari. A
Parnaíba deixa a formação e vai águas acima em socorro da
Jequitinhonha, mas
bate
com
o
leme em
um
banco e depois é atingida no leme; o comandante tenta governá-la só
com as velas, mas vêm em sua direção o vapor Paraguari pela proa,
o Taquari por bombordo e o Salto por estibordo. A situação da
esquadra brasileira nesta hora é crítica: A Belmonte e a
Jequitinhonha encalhadas fora de combate e a Parnaíba sofre a
abordagem e a bandeira brasileira no navio é arriada.
Momento decisivo: o Amazonas põe a pique o vapor paraguaio Jejuy(aquarela do Almirante Trajano Augusto de Carvalho) |
Deu-se
voz de preparar para abordagem, o comandante mandou tocar a máquina
a toda força e foi sobre o Paraguari, este abriu-se quase ao meio, e
viu-se
perdido só tendo
tempo de buscar a praia e a sua
tripulação
o abandonou. No entanto a capitânia Taquari, o Salto e logo depois
pela popa o Marques de Olinda, realizaram a abordagem. Os paraguaios
em luta corpo a corpo tomam o navio desde a popa até o mastro
grande, nesta luta sobressaem do lado dos brasileiros o
Guarda-Marinha João
Guilherme Greenhalgh,
o Imperial Marinheiro Marcílio
Dias,
o Capitão do 9º Batalhão de Infantaria Pedro
Afonso Ferreira e
o Tenente do mesmo batalhão Feliciano
Inácio Andrade Maia, mortos
na defesa da embarcação e da bandeira. A bandeira brasileira é
arriada pelos paraguaios. São 575 os atacantes e contra
263
dos
defensores. O comandante da Parnaíba dá ordens de incendiar o paiol
de pólvora
para
que a embarcação não caia em mãos do inimigo. A luta dura uma
hora, a esquadra brasileira, a Araguari e a Beberibe fazem água,
neste
momento os navios paraguaios abandonam o costado da Parnaíba.
A Força Naval Brasileira, na Batalha naval do Riachuelo |
14h:
A batalha está na fase mais crítica e indecisa. A Amazonas,
tendo descido o rio e completado a volta, investe águas acima e
sinaliza “sustentar o fogo que vitória é nossa” e, por ordens
de Barroso, joga a proa contra o casco do Jejuí e o põe ao fundo, a
seguir joga a proa contra uma das Chatas paraguaias e a afunda. Livre
da abordagem, a Parnaíba iça novamente a bandeira brasileira. A
Amazonas avistando o Salto parado repetiu a manobra afundando-o, a
manobra se repete mais uma vez contra o Marques de Olinda que
atingido pela proa da Amazonas desce o rio desgovernado à deriva
para encalhar mais abaixo. A esquadra paraguaia perde 4 embarcações
e 4 chatas, o restante surpreendido pela manobra foge em retirada rio
acima perseguida pela Beberibe e pela Araguari que os fustiga com os
seus canhões até se distanciarem. Às 17h30min,
a batalha está terminada, com clara vitória da esquadra comandada
por Barroso, a
Belmonte
se acha alagada e inutilizada e a Jequitinhonha encalhada. A
vitória foi decisiva para a Tríplice
Aliança,
que passou a controlar, a partir de então, os rios da bacia platina
até à fronteira com o Paraguai, garantindo todo o apoio logístico
às forças de terra e bloqueando qualquer ajuda ou contato de Solano López com o exterior.
*Com informações da Wikipédia e Marinha do Brasil
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