Senta a Púa, a História do 1°GAvCa na 2a Guerra Mundial - O Documentário

Por: Yam Wanders.

Quando comecei a me aventurar a escrever artigos sobre aviação e temas militares em geral a algum tempo atrás, obviamente um dos temas que na época me fascinava era a campanha do 1°GAvCa na 2a Guerra Mundial, e portanto para começar algo assim obviamente seria necessário uma grande pesquisa mesmo que a matéria fosse pequena. Não tinha a pretensão de escrever um livro mas também não queria algo medíocre. 

A capa do DVD, que na época, foi considerada uma excelente "Aviation Art" digital, uma variedade da ilustração gráfica ainda novidade no Brasil em uma internet que estava engatinhando. Imagem via BSB Filmes.

E ao pesquisar algo que estivesse além dos livros da FAB e de outras matérias similares, procurei alguns amigos que me fizeram a ponte com integrantes ainda vivos do 1°GAvCa no Rio de Janeiro e acabei sendo convidado para a festa do encontro anual dos integrantes do lendário esquadrão da FAB no Clube da Aeronáutica nas dependências do Aeroporto Santos=Dumont, e lá fui apresentando pelos amigos da FAB à um outro jovem, que como eu também estava fazendo um trabalho sobre a campanha do 1°GAvCa na 2a Guerra. 

Um dos raros documentários de guerra que pode contar com depoimentos de ex-combatentes ainda vivos na época. 

Na foto, o Major-Brigadeiro do Ar José Rebelo Meira de Vasconcelos, que morreu em 2013 aos 90 anos.

 Imagem via BSB Filmes.

Foi nesse momento que me deparei com o real sentido da palavra humildade e modéstia em torno de um trabalho sem igual no meio dos documentários para a época e que perdura até hoje, pois eu estava no momento sendo apresentado a ninguém menos que o cineasta "Erik de Castro", que estava recém acabando o documentário "Senta a Pua" da BSB Filmes em 1999. Ao ver na época (1999, a internet ainda era bem fraca no Brasil) o site sobre o projeto, que era completíssimo e muito bem feito, e, ao  assitir o documentário, tive certeza que deveria procurar outros assuntos para escrever, pois muito dificilmente algum outro trabalho poderia superar a obra de Erik de Castro naquele momento ou em um futuro próximo, e, realmente até hoje não tenho conhecimento de nenhum outro trabalho tão minucioso, detalhado e bem feito que se aproxime do mesmo.

Na época em 1999, o site www.sentaapua.com.br era o mais completo e melhor ilustrado sobre a saga do 1°GAvCa na Campanha da Itália. Imagem via BSB Filmes.

O documentário "Senta a Pua!" era um sonho que o diretor Erik de Castro, que com 29 anos na época do lançamento, acalentava desde os 15 anos fazer algo sobre essa história da Aviação de Caça da FAB, quando revirando coisas na biblioteca do pai, achou o livro homônimo, escrito por um dos 49 pilotos que participaram da missão brasileira na Itália durante a Segunda Guerra, o brigadeiro Rui Moreira Lima. Mas Castro ainda quer mais: transformar a história em um longa-metragem de ficção e em uma série para a TV.

"Pode ser daqui a cinco ou daqui a 15 anos, mas eu vou fazer. É um projeto de vida", diz o diretor, que, para garantir sua idéia, comprou os direitos de filmagem do livro do brigadeiro e de outras três obras escritas por ex-pilotos que serviram de base para o documentário: o romance "Missão 60", de Fernando Pereyron Mocellin, além de "Missão de Guerra" e de "Avestruzes nos Céus da Itália", de Luís Felipe Perdigão.

A maior dificuldade foi encontrar imagens dos combates, que tiveram de ser garimpadas no Arquivo Nacional de Washington, nos EUA.

"A preservação histórica é uma coisa complicada no Brasil", critica o diretor. "Tanto que há uma movimentação dos pilotos para fazer cópias desses filmes que estão nos EUA, porque há mais imagens sobre a ação dos pilotos brasileiros lá do que aqui."

Mais do que nas imagens, o documentário está centrado basicamente nos depoimentos dos 11 pilotos ainda vivos quando  da realização dos trabalhos, e dois deles morreram em 1997, quando o filme começou a ser rodado. Alguns são tocantes, como a história do aviador Danilo Moura, que saltou de pára-quedas ao ser atingido e cruzou a Itália a pé para voltar à base.

Outros são polêmicos, como o do brigadeiro José Rebelo Meira, que rejeita a versão corrente de que os prisioneiros de guerra eram maltratados pelos alemães. "Esse foi um momento que surpreendeu todo mundo", conta o diretor. "Mas como questionar? Ele não falou sobre algo que tinha lido, e sim do que vivenciou, do que ouviu de seu melhor amigo quando foi aprisionado."

O documentário ganhou os seguintes prêmios: melhor filme de 2001 pelo site voto popular no site da GloboNews; melhor filme e melhor montagem no XII Festival de Cinema de Natal; melhor filme (júris popular e oficial), no I Festival de Cinema e Vídeo da Amazônia; Melhor documentário no 53º Festival de Cinema de Salerno, na Itália; Troféu Brasília 40 anos, concedido pela Câmara Legislativa do Distrito Federal; menção por "Excelência Criativa", no 33º Festival de Cinema e Vídeo dos Estados Unidos, em Chicago.

O documentário ainda pode ser encontrado à venda em DVD em vários sites especializados na internet e também para visualização no youtube e outros sites especializados.

Sobre Erik de Castro

Natural de Brasília, e nascido em 1971, Erik começou a se dedicar ao cinema ainda na adolescência, quando, aos dezoito anos, criou em parceria com Heber Moura o programa de rádio Sábado à Noite no Cinema.

Logo depois foi estudar na Los Angeles City College, entre 1992 e 1994. Em 1995, fundou em Brasília, com o irmão Christian de Castro, a BSB Cinema Produções. Foi também um dos fundadores dos Estúdios Millenium, de Brasília.

Em 1996 produziu, co-escreveu e co-dirigiu com Heber Moura o média-metragem Razão para Crer, agraciado com o prêmio Excelência Criativa no 30º Festival de Filme e Vídeo de Chicago.

Erik estreou na direção de longa-metragens somente em 1999, justamente com o documentário "Senta a Pua!". 

Erik de Castro, que também já fez documentários sobre a Marinha do Brasil na 2a Guerra e sobre a FEB.

 Na foto junto com o Almirante Moura Neto no lançamento oficial do documentário "O Brasil na batalha do Atlântico". Imagem via Portal FEB.

Abaixo, o link no Youtube para o documentário completo:

Referências bibliográficas: Site do filme e material fornecido na época pela BSB Filmes via Erick de Castro em pessoa.