Por: Eduarda Hamann
Bogaland
é um país fictício que vive uma gravíssima crise de segurança e
convive com dificuldades encontradas, hoje, nos mais complexos
conflitos armados da África e do Oriente Médio: grupos fortemente
armados, crianças-soldado, refugiados e desalojados, feridas étnicas
e religiosas exploradas por líderes demagogos, e outros problemas
que assolam, na vida real, milhares de pessoas nesse início de
século XXI. No
momento, o país hospeda uma missão da OTAN em todo o seu território
e, em uma das províncias, há um setor da ONU ocupado por uma
brigada multinacional. O estado final desejado é fazer, em todo o
país, o hand-over completo
da OTAN para a ONU, ou seja, a transferência da autoridade.
Não é
uma tarefa militar simples, diante da complexidade das condições do
terreno e, mais, diante das diferentes naturezas entre uma missão da
OTAN e uma missão da ONU que, mesmo robusta, geralmente segue regras
de engajamento mais restritivas do que as da OTAN, além de dispor de
menos meios militares (humanos, financeiros e de equipamento). Além
do componente militar, a missão da ONU em Bogaland também conta com
o apoio dos componentes policial e civil, em uma típica estrutura de
operação multidimensional. A
situação faz parte da oitava edição de um mega-exercício de
simulação criado em 1999 pela Suécia e pelos EUA. Pela primeira
vez é realizado também em um local remoto fora da Europa, o Brasil.
Além dos desafios profissionais inerentes a qualquer simulação ou
jogo de guerra, as maiores dificuldades, até o momento, incluíram
problemas técnicos nos primeiros dias e a questão do fuso horário
para os militares localizados no Brasil, que começam a jogar às 5h
da manhã já que toda a plataforma lógica é ativada para apoiar o
funcionamento do exercício em sintonia com os jogadores que estão
na Europa. Na
divisão das responsabilidades da missão fictícia da ONU, o Brasil
ficou com o prestigiado cargo de comandante das tropas (o papel
de Force Commander foi
assumido pelo General Montenegro, que está na Suécia) e também com
o comando de um dos setores da missão, hoje localizado no sudoeste
de Bogaland (a cargo do General Vendramin, que está no Brasil).
O
VIKING18 conta com a participação de aproximadamente 2500 pessoas
(jogadores, observadores e apoiadores), de 60 nacionalidades,
representando cerca de 80 instituições. São centenas de
computadores ligados a um único sistema, que simula a situação no
terreno por meio, por exemplo, da criação de inúmeros incidentes
diários, que provocam uma ação por parte dos jogadores. Tal reação
não necessariamente envolve, ao mesmo tempo, militares, policiais e
civis. Mas,
sempre que necessário, uma ação integrada deve ser almejada e
adotada, o que exige, por exemplo, um bom fluxo de informações
entre os diferentes jogadores de cada componente e, principalmente,
dos componentes entre si. Para fomentar a troca, os organizadores
entregam informações sobre um incidente para um componente que não
necessariamente seria o responsável pela resposta, por não ter
mandato ou por não dispor de meios.
Para tanto, os componentes são
encorajados a reunirem-se duas vezes ao dia, para conversar sobre a
situação a partir de seus respectivos pontos de vista, e para
compartilhar não só suas necessidades e desafios, mas também os
meios disponíveis para apoiar os outros componentes no cumprimento
da missão. Com
efeito, um dos objetivos do jogo é fomentar o espírito de parceria,
o que se dá não apenas entre países, mas também entre militares,
policiais e civis. Isso passa por um delicado processo de construção
de confiança – tanto no jogo como na vida real. Assim, e em última
instância, a metodologia e os objetivos contribuem para aproximar
pessoas de culturas nacionais e institucionais diferentes que, uma
vez no terreno, enfrentarão desafios parecidos ou ainda mais
complexos. Os jogadores terminam os 10 dias de simulação mais
preparados e em melhores condições de assessorar ou de participar,
com mais efetividade, de futuras missões da ONU.
Fonte: Instituto Igarapé / Nota: Eduarda Hamann, pesquisadora do Igarapé, fora uma das observadoras do Exercício Viking18, a qual esteve a convite do CCOPAB.
Nota
da Redação: Tivemos a oportunidade de conversar com militares que fizeram
parte do evento, e com isso pudemos fazer uma análise do que fora o
exercício e assim, colocarmos alguns tópicos que se fazem
necessário descrever, pois a atividade em si, foi um grande salto de
qualidade para o Brasil. Vamos as colocações, que ressaltam este
salto:
-
Fomos inseridos num Exercçio Internacional combinado, com Forças da
OTAN e ONU (nessa ultima q estávamos inseridos);
-
O Brasil até a gora foi o único local remoto FORA DA EUROPA,
operando num sistema virtual ÚNICO, com todos desafios de TI e
Comunicações envolvidos;
-
A participação dos Militares brasileiros se deram em TODOS níveis
do Exercício, onde os nosso militares foram integrados com os
militares de vários outros países;
-
Um Gen do Exército Brasileiro foi o Forcer Commander (FC), no QG lá
na Suécia, junto com mais alguns Oficiais no se Staff
(Estado-Maior), em conjunto com Oficiais oriundos de outros países;
-
Um Gen do Exército brasileiro foi o Sector Cmdr (Comandante de
Setor) de uma Brigada Multinacional, com seu Staff composto de
militares de varios países da América Latina, América do Norte
(EUA e Canadá), Europa (França e Turquia) e da China;
- Unidades do Uruguai (Batalhões de Infantaria) e do Brasil (Companhia de Engenharia e Unidade Aérea da Força Aérea Brasileira), com estado maior constituído, além de 2 Btl Inf Brasileiros figurados);
-
Participação de representantes de Polícias Militares e Agências
da ONU, atuando como elementos dos componentes Policiais e Civis em
uma Missão da ONU, integrando sua ação no contexto do exercício,
contribuindo para melhor entendimento das capacidades e
possibilidades de cada um dos componentes e para atuação conjunta e
integrada nas missões multidimensional implementadas na atualidade;
-
Construção e reforço de relações institucionais, diplomáticas
e pessoais entre todas as organizações, países e participantes
envolvidos.
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