Por: Daniel Longhi Canéppele
Em 2017 se comemora o centenário da Batalha de Cambrai, um dos principais confrontos com a utilização de blindados durante a Primeira Guerra Mundial (1ª GM), que se estendeu do dia 20 de novembro ao dia 7 de dezembro de 1917. A batalha foi parte da campanha britânica para destruir um importante ponto de abastecimento alemão protegido pela Linha Hindelburg, situada no passo norte da Calais (Nord-Pas-de-Calais). A estratégia inicial seria um ataque surpresa à linha de trincheiras alemã com artilharia e infantaria. Contudo, um oficial britânico da Royal Tanks Corps, J.C.Fuller, queria uma oportunidade para utilizar seus tanks como unidade de ataque e não apoio. O comando do 3º Exército Britânico decidiu, então, incorporar os tanks Mark IV de Fuller ao ataque à Calais.
Como a posição alemã era, até então, relativamente tranquila, houve tempo suficiente para prepará-la com fortificações e arame farpado, proporcionando muito boas defesas. A Linha Hindelburg tinha 64 km de extensão e grande profundidade. Foi uma das melhores posições defensivas já construídas e era considerada praticamente intransponível. O ataque britânico se iniciou na manhã do dia 20 de novembro, com mais de 1000 peças de artilharia disparando sobre os alemães. Os fogos proporcionaram a cobertura para o avanço de 474 tanks, seguidos da infantaria. Sob o comando do General Haig, os carros atravessaram o campo de batalha e os alemães assistiram, impotentes, o arame farpado da Linha Hindelburg ser esmagado pelas lagartas.
O sucesso inicial do ataque foi restrito. Atrás da linha, o General alemão Von Der Marwitz ordenou que fossem cavadas trincheiras profundas e com mais de 4 metros de largura. Esses obstáculos detiveram o avanço inglês. Para solucionar o problema, foram lançados feixes de madeira, preenchendo as trincheiras e permitindo que os tanks cruzassem
com relativa facilidade. A Linha Hindelburg havia sido transposta,
surpreendendo até mesmo os aliados. Em contrapartida, este sucesso
acarretou problemas logísticos às tropas, uma vez que os britânicos
não poderiam supri-las além da linha. O grande avanço causou
também problemas nas comunicações entre o front e
as posições mais à retaguarda. Depois de superada a Linha Hindelburg, o próximo passo era capturar Cambrai. Para tanto, os britânicos se dividiram em duas frentes, uma ao norte, em direção a Bourlon e outra a leste, em direção à Marcoing/Masnieres.
O objetivo era conquistar as principais pontes e, com isso, abrir caminho para a cavalaria atacar Cambrai. Na frente Marcoing/Masnieres, as pontes estratégicas foram capturadas no início da tarde, mas quando o primeiro tank tentou
atravessá-la, ela cedeu devido ao excessivo peso. O Gen Von Der
Marwitz aproveitou a oportunidade para, do outro lado do canal,
posicionar metralhadoras e impedir que a cavalaria britânica
avançasse nesta frente.O avanço lento dos ingleses possibilitou
também a Von Der Marwitz tempo suficiente para requisitar apoio e
arma extras. Munidos de armamento de calibre 77 mm, capazes de
perfurar a blindagem dos Mark IV, os alemães posicionaram suas armas
em cima de caminhões e carretas, destruindo os blindados à medida
em que progrediam colina acima.
A
despeito da massiva perda de tanks,
o primeiro dia de combate havia sido um sucesso para os britânicos.
Mesmo com a perda de 4000 homens e 179 carros, conseguiram avançar
mais de 6 km dentro das linhas inimigas, capturando 8000 inimigos e
chegando à apenas 3 km de Cambrai. Para os padrões da época,
representava uma conquista de terreno impressionante. No
dia seguinte, Von Der Marwitz reuniu todas as tropas disponíveis e
armamento antitanque existente em Cambrai e determinou que
defendessem Bourlon. A balança começou a mudar em favor dos
alemães. Os britânicos estavam exaustos, sem comunicações e sem o
elemento surpresa.
No dia 30 de novembro, os alemães lançaram um poderoso contra-ataque para fazer os britânicos recuarem, tentando restabelecer a Linha Hindelburg. Para isso utilizaram aviões, gás venenoso, explosivos e a tropa de assalto Sturmtruppen.
Infiltrando-se na retaguarda inglesa, a tropa de assalto alemã
causou grande confusão aos britânicos e com isso começou a
recuperar o terreno perdido. Nesse momento, o Gen Haig contava apenas
com 67tanks.
A solução encontrada foi realizar um contra-ataque com a cavalaria
desmontada, atuando como infantaria. O plano ousado de Haig funcionou
e retardou a reconquista alemã mas, ciente de que tinha esgotado
todos os recursos e receoso de perder toda a vantagem obtida, Haig
determinou o retraimento das tropas. No dia 7 de dezembro, a retirada britânica foi completada. Os ingleses mantiveram 4 km do território conquistado.
Naquela noite, uma tempestade de neve começou a cair e forçou ambos os lados a retroceder, o inverno havia chegado. A tempestade transformou o campo de batalha em um verdadeiro pântano. A lama, o frio e a neve possibilitou que alemães e ingleses se retirassem. Embora Cambrai permanecesse em posse dos alemães, os combates marcaram o início de sua derrota. O rompimento da Linha Hindelburg foi um duro golpe na estratégia alemã e mostrou aos britânicos que uma ação daquela natureza poderia ser novamente realizada e em escala muito maior. Ficou claro que até mesmo a posição de trincheiras e arame farpado mais bem preparada, podia ser ultrapassada combinando-se um ataque em massa de carros de combate com infantaria e artilharia. O sucesso obtido pelo Gen Haig poderia não ter sido alcançado sem o emprego dos tanks.
Estas poderosas máquinas mais uma vez provaram seu valor no campo de
batalha e mudaram não só o rumo da 1ª GM, mas também a face de
todas as guerras dali em diante.
AÇO,
BOINA PRETA, BRASIL!
Daniel
Longhi Canéppele –
Maj
Instrutor do CI Bld
Ádamo Luiz Colombo da Silveira – Cel
Comandante do Centro de Instrução de Blindados
Instrutor do CI Bld
Ádamo Luiz Colombo da Silveira – Cel
Comandante do Centro de Instrução de Blindados
Nenhum comentário:
Postar um comentário