Soldados americanos se divertem em praia em Natal durante a Segunda Guerra Mundial IVAN DMITRI/MICHAEL OCHS ARCHIVES / GETTY IMAGES |
Por: Redação OD
Após
ocupar o Leste Europeu, os soviéticos agora avançam pelo Hemisfério
Sul. As tropas comunistas invadem a Austrália, ocupam a África e de
lá partem para a conquista do território de onde lançarão a
ofensiva final contra os Estados Unidos: o Nordeste do Brasil. O
cenário hipotético é narrado em um relatório da CIA (agência de
inteligência dos EUA) divulgado nesta semana, entre cerca de 800 mil
documentos que vieram à tona após uma longo processo movido por
defensores do livre acesso à informação.
Intitulado
"O fortalecimento econômico-militar do Brasil: fator de
importância central para a segurança dos EUA e do mundo
democrático", o documento de 33 páginas destaca o papel que o
Nordeste poderia ter em um eventual confronto entre os Estados Unidos
e a União Soviética na Guerra Fria. Separada
da costa africana por apenas 3 mil quilômetros, a região é
descrita no relatório como sujeita a conflitos sociais e um
"potencial centro de agitação e disseminação de ideais
comunistas", mas considerada crucial para a defesa do
Atlântico-Sul e dos Estados Unidos em caso de um ataque russo a
partir da África.
Contrapropaganda
e modernização
O
documento defendia duas linhas de ação para aproximar Brasil e
Estados Unidos e impedir a infiltração comunista em terras
brasileiras. No
campo ideológico, a CIA sugeria a criação de um órgão de
contrapropaganda para combater a influência soviética e a
"eliminação ou neutralização" de grupos comunistas
presentes em "todo o país e em diferentes esferas do governo". Na
economia, defendia sanar os problemas que impediam o desenvolvimento
do Brasil e que poderiam facilitar a disseminação do comunismo no
país, como o "atraso cultural", a pobreza e a "politização
das massas por agentes comunistas".
CIA considerava essencial modernizar a agricultura brasileira, difundir a energia hidrelétrica e ampliar a produção de combustíveis fósseis IVAN DMITRI/MICHAEL OCHS ARCHIVES / GETTY IMAGES |
Entre
as ações que a agência considerava essenciais estavam modernizar a
agricultura brasileira, difundir a energia hidrelétrica e ampliar a
produção de combustíveis fósseis. Se
recebesse o apoio militar devido, diz a CIA, o Brasil poderia assumir
integralmente a defesa do Nordeste, do Atlântico-Sul e até
participar de batalhas contra os soviéticos na Europa. "Com
uma população de cerca de 53 milhões de habitantes, o Brasil está
em posição de mobilizar, num tempo razoável, entre 20 e 25
divisões de infantaria (de 400 e 500 mil homens), sem afetar muito
sua economia interna", calculava o órgão. Se,
porém, os dois países não se aproximassem voluntariamente, o
relatório diz que "isso obviamente levaria a uma intervenção
dos EUA no território brasileiro em caso de um conflito com a
Rússia".
Intervenções
e Segunda Guerra
Os
Estados Unidos passam a considerar o Brasil e a América Latina como
parte de sua zona de segurança com a Doutrina Monroe, de 1823, que
buscava restringir a ação de potências europeias nas Américas. Outro
passo foi dado em 1904 com o Corolário Roosevelt e a política do
"Big Stick" (grande porrete, em português), com os quais
os EUA passaram a justificar intervenções militares para preservar
seus interesses na região. Poupado
de interferências mais agudas como as experimentadas por alguns
vizinhos, o Brasil estreitou os laços com os Estados Unidos na
Segunda Guerra Mundial (1939-1945) ao se unir aos Aliados contra
Alemanha, Itália e Japão.
Soldados
brasileiros são enviados à Itália, e o Brasil passa a abastecer a
indústria bélica dos EUA com borracha e outras matérias-primas. No
início dos anos 1940, Natal se torna a mais movimentada base aérea
dos EUA no exterior, ponto de apoio para operações na Ásia, África
e Europa. A
parceria deixou uma impressão tão boa nos EUA que, anos após o fim
da guerra, a CIA defendeu repeti-la diante da ameaça soviética. No
fim do relatório, a agência afirma que Brasil e EUA "devem
representar os últimos bastiões da liberdade, reafirmando a
tradição histórica de aliados leais e sinceros". "Acreditamos
na sobrevivência das forças espirituais, do poder da fé e da
doutrina cristã, e é por essa razão que nos devotamos a esta nova
cruzada, que irá, certamente, confirmar uma vez mais o triunfo das
forças da cultura e da civilização sobre as forças materialistas (soviéticas)", conclui o documento.
FONTE: BBC Brasil
Nenhum comentário:
Postar um comentário