terça-feira, 13 de junho de 2017

A Marinha do Brasil no comando da Força-Tarefa Marítima no Libano

O Contra-Almirante Flávio Macedo Brasil compartilhou as experiências vividas no Líbano com militares do Terceiro Distrito Naval da Marinha do Brasil, em Natal, Rio Grande do Norte. (Foto: Marinheiro Leonardo Félix Silva de Lima, Marinha do Brasil)
Por: Redação OD
A Força-Tarefa Marítima (FTM) da Força Interina das Nações Unidas no Líbano (UNIFIL) é comandada pelo Brasil desde 2011. O Contra-Almirante Flávio Macedo Brasil esteve na liderança da missão em 2015, quando comandou cerca de 1.000 militares oriundos de seis países: Brasil, Grécia, Turquia, Alemanha, Bangladesh e Indonésia. A FTM-UNIFIL é a única missão de paz da ONU em ambiente marítimo. Em entrevista, o C Alte Brasil disse que comandar uma tropa transnacional representou um dos grandes desafios da missão. “Foi importante considerar os aspectos culturais, religiosos e operacionais.

A maneira como as marinhas se comportam é muito semelhante, mas há diferenças que devem ser respeitadas”, explicou. O C Alte Brasil destacou ainda que a missão propiciou levar a cultura de marinha para as outras tropas presentes no Líbano. “Éramos um contingente total de 11 mil militares no Líbano, considerando os das forças de paz terrestres e marítimas”, lembrou. O principal objetivo da FTM-UNIFIL é o de evitar um conflito entre Israel e o Líbano. 
Além disso, a força marítima realiza a patrulha nas águas territoriais do Líbano e adjacências. “Nossa função é combater a entrada de armas, munição e materiais correlatos vindos pelo mar”, contou. Segundo o C Alte Brasil, o procedimento utilizado era acompanhar de perto o movimento de entrada e saída dos navios. “Todos eram detectados, interrogados e, se necessário, a tropa realizava uma abordagem e inspeção desses navios”, disse.
A UNIFIL também realiza o treinamento das Forças Armadas do Líbano, para que possam, no futuro, assumir a responsabilidade da segurança do seu próprio país. “A missão de paz tem o caráter passageiro de dar o suporte numa situação de crise, enquanto o país se prepara e se fortalece”, explicou o C Alte Brasil. Mas, segundo ele, para uma autonomia na proteção e defesa é necessário treinamento, material e recursos financeiros. “Isso é uma dificuldade no Líbano. Eles ainda precisam do suporte da ONU”, contou.
Preparo para a missão
O Contra Almirante Flávio Brasil recebendo a função de comandante da FTM-UNIFIL do Almirante Walter Bombarda em cerimônia no porto de Beirute no ano de 2015. (Foto: UNIFIL)

“Eu estudei muito para comandar a FTM-UNIFIL. Durante os cinco meses que antecederam minha ida, li todos os documentos da ONU relacionados com o tipo de missão e busquei conhecer o cenário e a cultura local”, revelou o C Alte Brasil. Para ele, o entendimento dos costumes e dos contextos geopolítico e religioso facilitou sua atuação na UNIFIL. “Participamos também de exercícios de treinamento no Brasil, embasados na experiência de quem já esteve na missão. 
Durante o curso foram apresentadas as dificuldades vivenciadas pelos contingentes anteriores e foi possível ter uma noção dos desafios que iríamos enfrentar”, lembrou. Ele explicou que os militares da Marinha do Brasil passam por dois tipos de treinamentos, um direcionado à tripulação, e outro ao Estado-Maior, responsável pelo comando da missão. “O da tripulação é muito específico para as tarefas operacionais e táticas que serão desempenhadas lá. O do Estado-Maior inclui também o estudo da cultura e da língua”, acrescentou.
Aproximadamente três mil militares brasileiros já participaram da Força Tarefa Marítima no Líbano. (Foto: Marinha do Brasil)
Segundo informações do Ministério da Defesa do Brasil, os militares da Marinha participam de estágios em centros especializados localizados no Rio de Janeiro. O treinamento acontece no Comando-em-Chefe da Esquadra, unidade responsável por planejar as operações navais e aeronavais da esquadra brasileira, no Centro de Instrução Almirante Sylvio de Camargo, que capacita os fuzileiros navais, e no Centro Conjunto de Operações de Paz do Brasil, unidade do Exército Brasileiro especializada no treinamento de militares, policiais e civis brasileiros e de nações amigas para missões de paz. 
O preparo do navio é realizado com a assessoria do Centro de Adestramento Almirante Marques de Leão, unidade sediada também no Rio de Janeiro. Para o C Alte Brasil foi uma honra comandar a FTM-UNIFIL por um ano. “A missão traz um senso de utilidade para nós como militares, um ganho pessoal e profissional fantástico”, enfatizou. Ele acrescentou que é relevante para o Brasil contribuir nas missões de paz da ONU. “Entendemos a importância que esse tipo de operação tem para a paz no Oriente Médio, algo que acaba traspassando para todo o mundo”, disse.
O Brasil na UNIFIL
Desde 15 de março, a Fragata União, com aproximadamente 250 militares, está atuando como navio-capitânia na FTM-UNIFIL. Esse é o 13º contingente brasileiro. O Contra Almirante Sergio Fernando de Amaral Chaves Junior, comandante da operação, é- responsável por uma FTM composta por sete navios pertencentes à Alemanha, Bangladesh (2), Grécia, Indonésia e Turquia, além da fragata brasileira. Segundo o Capitão-de-Fragata Ricardo Barillo Cruz, coordenador de operações da seção de emprego operacional da subchefia de operações de paz, cerca de três mil militares brasileiros já participaram da missão no Líbano.
Além dos militares da Fragata União, o Brasil está representado por 13 militares no Estado-Maior da FTM, três militares no Estado-Maior da UNIFIL e sete inseridos na Brigada Espanhola. Segundo o CF Cruz, a troca do contingente acontece em períodos diferentes dos oficiais pertencentes ao Estado-Maior. “A cada seis meses é realizada a troca do navio e do contingente. Já a substituição dos oficiais do Estado-Maior ocorre anualmente”, explicou. “A participação do Brasil na UNIFIL é importante para o preparo e prontidão dos nossos militares em face de seu emprego em situações reais de conflito”, destacou o CF Cruz e acrescentou que estar no comando da única força marítima da ONU no mundo projeta o país no cenário internacional.
A Fragata União, com 250 militares, chegou ao Líbano em março para integrar a FTM-UNIFIL por um período de seis meses. (Foto: Ministério da Defesa do Brasil)
O ministro da Defesa brasileiro Raul Jungmann declarou em entrevista à imprensa que o Brasil poderia ampliar a participação na UNIFIL, após a saída das tropas brasileiras do Haiti, que vai acontecer em outubro. Mas, assumir alguma outra missão depende de um convite da ONU e de uma aprovação do Congresso Nacional. Adriana Erthal Abdenur, especialista em relações internacionais, declarou à Agência de notícias EFE que o destino natural para as tropas brasileiras seria reforçar a UNIFIL. “O Brasil já lidera a FTM desde 2011”, disse. No entanto, lembrou que para o Brasil assumir novas funções no Líbano, existe a necessidade de que outros países deixem a missão, que é bastante visada e estratégica para muitos países, inclusive os europeus.
Segundo o C Alte Brasil, seria ótimo para o país ampliar a participação em missões de paz da ONU. Ele reforça que, optando pelo Líbano, vai ser necessário operar de maneira diferente da utilizada na Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti. “Não tenho dúvidas de que somos capazes, mas o conflito no Líbano exige um treinamento específico e muita preparação”, destacou.
UNIFIL
A UNIFIL foi criada em 1978, durante a Guerra Civil Libanesa – que envolvia também palestinos e israelenses. Em 2006, a missão de paz da ONU teve o reforço da FTM, após a invasão de Israel ao sul do Líbano para combater o grupo Hezbollah. Depois de ser liderada pela Alemanha e por um grupo europeu composto por Portugal, Espanha, França e Itália, a FTM-UNIFIL passou ao comando brasileiro em 2011.
FONTE: Diálogo Américas (Taciana Moury)

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