Por: Redação OD
A Força-Tarefa Marítima (FTM) da Força
Interina das Nações Unidas no Líbano (UNIFIL) é comandada pelo Brasil desde
2011. O Contra-Almirante Flávio Macedo Brasil esteve na liderança da missão em
2015, quando comandou cerca de 1.000 militares oriundos de seis países: Brasil,
Grécia, Turquia, Alemanha, Bangladesh e Indonésia. A FTM-UNIFIL é a única
missão de paz da ONU em ambiente marítimo. Em entrevista, o
C Alte Brasil disse que comandar uma tropa transnacional representou um dos
grandes desafios da missão. “Foi importante considerar os aspectos culturais,
religiosos e operacionais.
A maneira como as marinhas se comportam é muito
semelhante, mas há diferenças que devem ser respeitadas”, explicou. O C Alte
Brasil destacou ainda que a missão propiciou levar a cultura de marinha para as
outras tropas presentes no Líbano. “Éramos um contingente total de 11 mil
militares no Líbano, considerando os das forças de paz terrestres e marítimas”,
lembrou. O principal objetivo da FTM-UNIFIL é o
de evitar um conflito entre Israel e o Líbano.
Além disso, a força marítima
realiza a patrulha nas águas territoriais do Líbano e adjacências. “Nossa
função é combater a entrada de armas, munição e materiais correlatos vindos
pelo mar”, contou. Segundo o C Alte Brasil, o procedimento utilizado era
acompanhar de perto o movimento de entrada e saída dos navios. “Todos eram
detectados, interrogados e, se necessário, a tropa realizava uma abordagem e
inspeção desses navios”, disse.
A UNIFIL também realiza o treinamento
das Forças Armadas do Líbano, para que possam, no futuro, assumir a
responsabilidade da segurança do seu próprio país. “A missão de paz tem o
caráter passageiro de dar o suporte numa situação de crise, enquanto o país se
prepara e se fortalece”, explicou o C Alte Brasil. Mas, segundo ele, para uma
autonomia na proteção e defesa é necessário treinamento, material e recursos
financeiros. “Isso é uma dificuldade no Líbano. Eles ainda precisam do suporte
da ONU”, contou.
Preparo para a missão
O Contra Almirante Flávio Brasil recebendo a função de comandante da FTM-UNIFIL do Almirante Walter Bombarda em cerimônia no porto de Beirute no ano de 2015. (Foto: UNIFIL) |
“Eu estudei muito para comandar a
FTM-UNIFIL. Durante os cinco meses que antecederam minha ida, li todos os
documentos da ONU relacionados com o tipo de missão e busquei conhecer o cenário
e a cultura local”, revelou o C Alte Brasil. Para ele, o entendimento dos
costumes e dos contextos geopolítico e religioso facilitou sua atuação na
UNIFIL. “Participamos também de exercícios de treinamento no Brasil, embasados
na experiência de quem já esteve na missão.
Durante o curso foram apresentadas
as dificuldades vivenciadas pelos contingentes anteriores e foi possível ter
uma noção dos desafios que iríamos enfrentar”, lembrou. Ele explicou que os militares da
Marinha do Brasil passam por dois tipos de treinamentos, um direcionado à
tripulação, e outro ao Estado-Maior, responsável pelo comando da missão. “O da
tripulação é muito específico para as tarefas operacionais e táticas que serão
desempenhadas lá. O do Estado-Maior inclui também o estudo da cultura e da
língua”, acrescentou.
Aproximadamente três mil militares brasileiros já participaram da Força Tarefa Marítima no Líbano. (Foto: Marinha do Brasil) |
Segundo informações do Ministério da
Defesa do Brasil, os militares da Marinha participam de estágios em centros
especializados localizados no Rio de Janeiro. O treinamento acontece no
Comando-em-Chefe da Esquadra, unidade responsável por planejar as operações
navais e aeronavais da esquadra brasileira, no Centro de Instrução Almirante
Sylvio de Camargo, que capacita os fuzileiros navais, e no Centro Conjunto de
Operações de Paz do Brasil, unidade do Exército Brasileiro especializada no
treinamento de militares, policiais e civis brasileiros e de nações amigas para
missões de paz.
O preparo do navio é realizado com a assessoria do Centro de
Adestramento Almirante Marques de Leão, unidade sediada também no Rio de
Janeiro. Para o C Alte Brasil foi uma honra
comandar a FTM-UNIFIL por um ano. “A missão traz um senso de utilidade para nós
como militares, um ganho pessoal e profissional fantástico”, enfatizou. Ele
acrescentou que é relevante para o Brasil contribuir nas missões de paz da ONU.
“Entendemos a importância que esse tipo de operação tem para a paz no Oriente
Médio, algo que acaba traspassando para todo o mundo”, disse.
O Brasil na UNIFIL
Desde 15 de março, a Fragata União, com
aproximadamente 250 militares, está atuando como navio-capitânia na FTM-UNIFIL.
Esse é o 13º contingente brasileiro. O Contra Almirante Sergio Fernando de
Amaral Chaves Junior, comandante da operação, é- responsável por uma FTM
composta por sete navios pertencentes à Alemanha, Bangladesh (2), Grécia,
Indonésia e Turquia, além da fragata brasileira. Segundo o Capitão-de-Fragata
Ricardo Barillo Cruz, coordenador de operações da seção de emprego operacional
da subchefia de operações de paz, cerca de três mil militares brasileiros já
participaram da missão no Líbano.
Além dos militares da Fragata União, o
Brasil está representado por 13 militares no Estado-Maior da FTM, três
militares no Estado-Maior da UNIFIL e sete inseridos na Brigada Espanhola.
Segundo o CF Cruz, a troca do contingente acontece em períodos diferentes dos
oficiais pertencentes ao Estado-Maior. “A cada seis meses é realizada a troca
do navio e do contingente. Já a substituição dos oficiais do Estado-Maior
ocorre anualmente”, explicou. “A participação do Brasil na UNIFIL é
importante para o preparo e prontidão dos nossos militares em face de seu
emprego em situações reais de conflito”, destacou o CF Cruz e acrescentou que
estar no comando da única força marítima da ONU no mundo projeta o país no
cenário internacional.
A Fragata União, com 250 militares, chegou ao Líbano em março para integrar a FTM-UNIFIL por um período de seis meses. (Foto: Ministério da Defesa do Brasil) |
O ministro da Defesa brasileiro Raul
Jungmann declarou em entrevista à imprensa que o Brasil poderia ampliar a
participação na UNIFIL, após a saída das tropas brasileiras do Haiti, que vai
acontecer em outubro. Mas, assumir alguma outra missão depende de um convite da
ONU e de uma aprovação do Congresso Nacional. Adriana Erthal Abdenur, especialista em
relações internacionais, declarou à Agência de notícias EFE que o destino
natural para as tropas brasileiras seria reforçar a UNIFIL. “O Brasil já lidera
a FTM desde 2011”, disse. No entanto, lembrou que para o Brasil assumir novas
funções no Líbano, existe a necessidade de que outros países deixem a missão,
que é bastante visada e estratégica para muitos países, inclusive os europeus.
Segundo o C Alte Brasil, seria ótimo
para o país ampliar a participação em missões de paz da ONU. Ele reforça que,
optando pelo Líbano, vai ser necessário operar de maneira diferente da
utilizada na Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti. “Não tenho
dúvidas de que somos capazes, mas o conflito no Líbano exige um treinamento
específico e muita preparação”, destacou.
UNIFIL
A UNIFIL foi criada em 1978, durante a
Guerra Civil Libanesa – que envolvia também palestinos e israelenses. Em 2006,
a missão de paz da ONU teve o reforço da FTM, após a invasão de Israel ao sul
do Líbano para combater o grupo Hezbollah. Depois de ser liderada pela Alemanha
e por um grupo europeu composto por Portugal, Espanha, França e Itália, a
FTM-UNIFIL passou ao comando brasileiro em 2011.
FONTE: Diálogo Américas (Taciana Moury)
Nenhum comentário:
Postar um comentário