Navio Aeródromo Leve (NAeL) Minas Gerais - A-11 |
Por: Anderson Gabino
Desde que a Marinha do
Brasil, anunciou recentemente o fim das operações do Nae São Paulo (A-12), gerou um mar de
incertezas e especulações onde as quais inundaram as redes sociais, de como será o seu futuro sem um
navio aeródromo em sua flotilha. Com isso, um ar nostálgico nos faz lembrar a época de ouro da nossa Marinha, tendo a chegada de seu primeiro navio
aeródromo ligeiro NAeL Minas Gerais ou simplesmente o “Minas”, que
assim era chamado carinhosamente por seus tripulantes e admiradores, como o grande
auge desta época. O navio serviu em três marinhas de guerra ao longo dos seus
cinquenta e seis anos de serviço ativo, que teve um fim não tão nobre nas
impiedosas praias de Alang (Índia), maior centro de sucateamento de navios,
onde encontrou o seu descanso ao lado de tantos outros guerreiros dos 7 mares.
Nasce um símbolo de
liberdade
HMS Vengeance |
O porta-aviões HMS
Vengeance (R-71) fora projetado e construído pelos Estaleiros Swan
Hunter & Wígham Richardson Ltda., em Wassend on Tyne, sua quilha foi batida
em 16 de novembro de 1942, e fora lançado ao mar em 23 de fevereiro de 1944
sendo incorporado à Marinha Real Britânica no dia 15 de dezembro de 1944, e
finalmente no serviço ativo em 15 de janeiro de 1945. Ele foi concebido
como esforço de guerra para apoiar as tropas aliadas na guerra do pacífico, mas
com o desenrolar da guerra acabou por não chegar a entrar em combate, ele
estava baseado em Sidney (Austrália) quando deu-se o armistício da II Guerra
Mundial. Foi dele a honra de ser o primeiro navio britânico a entrar em Hong
Kong após o final da guerra, servindo de base aliada para a reconstrução da
cidade, e foi a bordo dele que os japoneses assinaram sua rendição.
Na Austrália: Um substituto temporário
HMAS em uso pela Marinha Real Australiana |
Com sua curta carreira na Marinha Real Britânica, o porta-aviões
no ano de 1952, foi “cedido” à Marinha Real Australiana pois o Governo
Australiano tinha efetuado a compra de um porta-aviões Britânico, cuja a sua
construção encontrava-se bastante atrasada, e valendo-se do final da guerra o
Governo Britânico meio que arrendou o Vengeance aos australiano e com uma frase
“vai usando esse aí enquanto o seu não fica pronto”, o navio navegou por lá
durante 4 anos. Agora sobre o nome HMAS (Her Majesty’s Australian
Ship), o Vengeance de novo quase entrou em combate, na Guerra da
Coréia, onde chegou a ser preparado mas acabou com o envio de outro navio
australiano para a região de conflito.
No Brasil: O orgulho da frota e uma nova história
HMS Vengeance |
Após 4 anos de serviço
na Marinha Real Australiana, o HMAS, foi devolvido ao Reino Unido em uma época
de vacas magras e cortes orçamentários, sendo assim o HMS Vengeance
(voltou ao nome original) foi decomissionado e o Brasil, viu uma grande
oportunidade. O país vivia uma época de euforia, estávamos construindo uma nova
capital e agora chegava a notícia que poderíamos comprar um porta-aviões, ele
seria o primeiro de uma Marinha latino-americana. Adquirido pela Marinha
do Brasil em 13 de dezembro de 1956, teve sua modernização iniciada em 17 de
julho de 1957 e terminada em 25 de novembro de 1960, pelos estaleiros VEROLME,
na Holanda sendo incorporado à Armada em 06 de dezembro de 1960, pelo Aviso
Ministerial n° 1.763.
Rebatizado como Navio-Aeródromo
Ligeiro (NAeL) Minas Gerais (A-11), teve a fortuna de ser o segundo navio a ganhar o nome, em homenagem ao Estado de mesma grafia. Sendo assim foi escolhido para ser o
navio capitânia da Esquadra (ou seja, o navio mais importante) Brasileira, e assim entrávamos de vez em um seletíssimo grupo de países
utilizadores de porta-aviões, um grupo que até hoje inclui somente nove
membros. Durante esta reforma, o navio sofreu importantes alterações
estruturais no convés de vôo e na ilha, bem como nos sistemas de aviação e
eletrônica.
Os serviços
estenderam-se até o final de 1960, com a realização das provas de cais e mar,
registrando-se, no dia 14 de outubro, o primeiro pouso a bordo realizado por
uma aeronave da Marinha do Brasil, o helicóptero S-55 Whirlwind. Ocorria em
dezembro de 1960 na cidade de Rozemburg (Holanda) a mostra mundial de
Armamentos, e lá nesta ocasião tão especial o navio foi recebido e incorporado
à Marinha do Brasil, e finalmente em 1° de fevereiro de 1961, o NAeL MINAS
GERAIS chegou ao Rio de Janeiro, ostentando o pavilhão do Comandante em Chefe
da Esquadra Almirante Silvio Monteiro Moutinho.
Vindo da Holanda onde fora reformado, entrando na baia da Guanabara em 1960, o A11 Minas Gerais, ex-HMS Vengeance da marinha britânica. |
A Ordem do Dia alusiva
ao fato, assinada pelo então Almirante de Esquadra Jorge dá Silva Leite, Chefe
do Estado Maior da Armada, assim se referia ao primeiro navio-aeródromo da
nossa Marinha "...representa a posse pela nossa Esquadra do elemento básico
e fundamental do Grupo de Caça e Destruição, que constitui hoje a única força
naval capaz de se opor, com êxito, ao principal adversário marítimo dos tempos
atuais: o Submarino.... O navio-aeródromo, com seu grupo de contratorpedeiros e
submarinos e seus aviões e helicópteros constitui o núcleo, a peça
"mater", em torno da qual se compõem e se movem, se entendem e se
ajudam aquelas unidades combatentes, dotadas de um mesmo impulso, possuídas de
um só espírito, governadas por uma única força, comandadas por um só chefe, sem
o que seria o desarranjo, o desencontro, o desequilíbrio, a confusão, a
anarquia, a derrota..."
Porta-aviões A-11 Minas Gerais escoltado pelo contratorpedeiro D27 Pará |
À época de sua
incorporação o NAeL MINAS GERAIS possuía as seguintes características: casco,
conveses, anteparas e todas as partes estruturais de aço macio espessura máxima
das chapas do costado de l9mm e das chapas das anteparas longitudinais de
17,5mm, cavernas numeradas de proa a popa, comprimento total de 214,10m e entre
perpendiculares de 191,992m, boca na linha d'água de 24,46m, boca moldada de
24,384m e boca extrema de 15,857m, calado máximo de 7,5m, deslocamento normal
de 16.700t, deslocamento leve de 13.320t e deslocamento carregado de 19.211t.
Estava equipado com um convés de pistas oblíquas, catapulta a vapor BS-4
(inglesa), aparelho de parada com três unidades MK-12 (inglês), espelho de
pouso MK-4 (fabricação americana), podendo operar com qualquer tipo de avião
A/S conhecido à época, bem como qualquer helicóptero, além de aviões a jato de
porte e comparáveis ao FJ-4 "Fury", de origem americana, e menores.
Aeronvaes T-28R da Força Aeronaval no convoo do A-11 |
Suas máquinas eram
compostas por dois grupos propulsores (turbinas Parsons), tendo uma potência
máxima de 4O.OOOHP. Possuía ainda, como defesa antiaérea, dois reparos
quádruplos de 40mm, Bofors, na ilha, e um duplo, em plataforma bombordo AR, à
altura do convés da galeria. Era dotado com aviões bimotores S2F e helicópteros
HSSI, podendo embarcar 16 desses aviões. Como armamento de defesa imediata
existiam dois reparos quádruplos de 40mm e um reparo duplo de 40mm, sendo os
canhões dirigidos por três diretoras: uma l51 e duas MK-63. Em 1963, com a
criação da Força Aeronaval, passou o navio a ser subordinado àquela Força,
tendo operado aviões e helicópteros, até o final de 1964. Em 26 de janeiro
de 1965, o Decreto-Lei do Presidente da República reorientou o emprego das
aeronaves embarcadas, passando a Aeronáutica a operar a bordo os Grumman (S2-A) P-16 Tracker, cabendo à Marinha a operação dos helicópteros
antissubmarino.
Grumman (S2-A) P-16 Tracker, matrícula nº 7036 operando a bordo do Minas |
Nesse perfil de
operação, que se estendeu por 28 anos, em clima de perfeita integração dos
militares das duas Forças, foram realizados cerca de 3.000 catapultagens e
17.000 pousos. No período de 1974 a 1979 sofreu reformas de grande
extensão, sofrendo modificações em suas características. Retomando suas
atividades normais em 1979, realizou diversas comissões de instrução e
adestramento, além das Operações UNITAS XXII, KATRAPO I, KATRAPO II, KATRAPO
III, DRAGÃO XVII e DRAGÃO XVIII. De 1991 a 1993, deu-se atenção
especial à eletrônica, aos sistemas de computação, de comunicações e
transmissão de dados, que foram modernizados e integrados aos dos demais navios
da Esquadra. Nessa ocasião, foi instalado a bordo o sistema de controle Tático
de projeto nacional, o SICONTA. Ao final de 1993, a aeronáutica
deixou de operar a bordo, propiciando à Marinha a oportunidade de emprego de
suas próprias aeronaves de asa fixa, o que foi autorizado pelo Decreto
Presidencial, de 08 de abril de 1998.
Quando ocorreu a
aquisição de 23 unidades do caça A-4 KU Skyhawk dos Emirados Árabes Unidos
(EAU), iniciou-se o preparo de toda a sua infraestrutura de bordo para a
operação daquelas aeronaves, efetuando-se extenso programa de revisão da
catapulta e do aparelho de parada, bem como a instalação de novo aparelho de
pouso. Em setembro de 2000, voltava o navio a receber no seu convés de vôo,
aeronaves de asa fixa da Marinha do Brasil, tendo sido realizados vários toques
e arremetidas que permitiram a ajustagem final dos sistemas de bordo.
Finalmente, em janeiro de 2001, tiveram lugar os primeiros pousos com gancho e
as primeiras catapultagens de um AF-1.
Nae São Paulo (A-12) navegando ao lado do NAeL Minas Gerais (A-11) em seu último deslocamento |
E como todo início tem
seu fim, a Portaria no 237 de 21 de setembro de 2001 determinou
a baixa do navio com Mostra de Desarmamento em 09 de outubro de 2001 (Ordem do
Dia no 8), de seus 40 anos de serviço ativo na Marinha do
Brasil, neste período o NAeL MINAS GERAIS navegou 285.972 milhas, levando
o nome da Marinha e do Brasil aos quatro cantos do mundo por onde o “Minas”
passou, deixando saudade em várias gerações de Homens do mar e aos cardeais, que a bordo
dele presenciaram muitas histórias e o nascimento de diversas lendas... Mas isso já é tema para uma outra
matéria breve.
"Minas Gerais - A melhor maneira de dizer Marinha"
Westland-Sikorsky WS-55 Whirlwind HU-2W no convoo do Minas
Contratorpedeiro D17 Baependi sendo reabastecido pelo porta-aviões Minas Gerais A11
General Motors Avenger TBM da Aviação Naval no convés do Alfa11
General Motors TBM-3 Avenger nº 2 no elevador do A-11, O nº 2 seria rematriculado N502 e seria perdido em acidente no mar.
O Fim!!! |
Referências
Bibliográficas e Fotográficas:
Diretoria de Patrimônio Histórico e Documentação
da Marinha; Site História Militar Online;
Fotos: Acervo Facebook José Alvarenga.
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