domingo, 28 de maio de 2017

"Minas Gerais - A melhor maneira de dizer Marinha", A história do primeiro Navio Aeródromo da Marinha do Brasil

Navio Aeródromo Leve (NAeL) Minas Gerais - A-11

Por: Anderson Gabino

Desde que a Marinha do Brasil, anunciou recentemente o fim das operações do Nae São Paulo (A-12), gerou um mar de incertezas e especulações onde as quais inundaram as redes sociais, de como será o seu futuro sem um navio aeródromo em sua flotilha. Com isso, um ar nostálgico nos faz lembrar a época de ouro da nossa Marinha, tendo a chegada de seu primeiro navio aeródromo ligeiro NAeL Minas Gerais ou simplesmente o “Minas”, que assim era chamado carinhosamente por seus tripulantes e admiradores, como o grande auge desta época. O navio serviu em três marinhas de guerra ao longo dos seus cinquenta e seis anos de serviço ativo, que teve um fim não tão nobre nas impiedosas praias de Alang (Índia), maior centro de sucateamento de navios, onde encontrou o seu descanso ao lado de tantos outros guerreiros dos 7 mares.

Nasce um símbolo de liberdade

HMS Vengeance

O porta-aviões HMS Vengeance (R-71) fora projetado e construído pelos Estaleiros Swan Hunter & Wígham Richardson Ltda., em Wassend on Tyne, sua quilha foi batida em 16 de novembro de 1942, e fora lançado ao mar em 23 de fevereiro de 1944 sendo incorporado à Marinha Real Britânica no dia 15 de dezembro de 1944, e finalmente no serviço ativo em 15 de janeiro de 1945. Ele foi concebido como esforço de guerra para apoiar as tropas aliadas na guerra do pacífico, mas com o desenrolar da guerra acabou por não chegar a entrar em combate, ele estava baseado em Sidney (Austrália) quando deu-se o armistício da II Guerra Mundial. Foi dele a honra de ser o primeiro navio britânico a entrar em Hong Kong após o final da guerra, servindo de base aliada para a reconstrução da cidade, e foi a bordo dele que os japoneses assinaram sua rendição.
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HMAS em uso pela Marinha Real Australiana

Com sua curta carreira na Marinha Real Britânica, o porta-aviões no ano de 1952, foi “cedido” à Marinha Real Australiana pois o Governo Australiano tinha efetuado a compra de um porta-aviões Britânico, cuja a sua construção encontrava-se bastante atrasada, e valendo-se do final da guerra o Governo Britânico meio que arrendou o Vengeance aos australiano e com uma frase “vai usando esse aí enquanto o seu não fica pronto”, o navio navegou por lá durante 4 anos. Agora sobre o nome HMAS (Her Majesty’s Australian Ship), o Vengeance de novo quase entrou em combate, na Guerra da Coréia, onde chegou a ser preparado mas acabou com o envio de outro navio australiano para a região de conflito.
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HMS Vengeance

Após 4 anos de serviço na Marinha Real Australiana, o HMAS, foi devolvido ao Reino Unido em uma época de vacas magras e cortes orçamentários, sendo assim o HMS Vengeance (voltou ao nome original) foi decomissionado e o Brasil, viu uma grande oportunidade. O país vivia uma época de euforia, estávamos construindo uma nova capital e agora chegava a notícia que poderíamos comprar um porta-aviões, ele seria o primeiro de uma Marinha latino-americana. Adquirido pela Marinha do Brasil em 13 de dezembro de 1956, teve sua modernização iniciada em 17 de julho de 1957 e terminada em 25 de novembro de 1960, pelos estaleiros VEROLME, na Holanda sendo incorporado à Armada em 06 de dezembro de 1960, pelo Aviso Ministerial n° 1.763.


Rebatizado como Navio-Aeródromo Ligeiro (NAeL) Minas Gerais (A-11), teve a fortuna de ser o segundo navio a ganhar o nome, em homenagem ao Estado de mesma grafia. Sendo assim foi escolhido para ser o navio capitânia da Esquadra (ou seja, o navio mais importante) Brasileira, e assim entrávamos de vez em um seletíssimo grupo de países utilizadores de porta-aviões, um grupo que até hoje inclui somente nove membros. Durante esta reforma, o navio sofreu importantes alterações estruturais no convés de vôo e na ilha, bem como nos sistemas de aviação e eletrônica.


Os serviços estenderam-se até o final de 1960, com a realização das provas de cais e mar, registrando-se, no dia 14 de outubro, o primeiro pouso a bordo realizado por uma aeronave da Marinha do Brasil, o helicóptero S-55 Whirlwind. Ocorria em dezembro de 1960 na cidade de Rozemburg (Holanda) a mostra mundial de Armamentos, e lá nesta ocasião tão especial o navio foi recebido e incorporado à Marinha do Brasil, e finalmente em 1° de fevereiro de 1961, o NAeL MINAS GERAIS chegou ao Rio de Janeiro, ostentando o pavilhão do Comandante em Chefe da Esquadra Almirante Silvio Monteiro Moutinho.

Vindo da Holanda onde fora reformado, entrando na baia da Guanabara em 1960, o A11 Minas Gerais, ex-HMS Vengeance da marinha britânica.

A Ordem do Dia alusiva ao fato, assinada pelo então Almirante de Esquadra Jorge dá Silva Leite, Chefe do Estado Maior da Armada, assim se referia ao primeiro navio-aeródromo da nossa Marinha "...representa a posse pela nossa Esquadra do elemento básico e fundamental do Grupo de Caça e Destruição, que constitui hoje a única força naval capaz de se opor, com êxito, ao principal adversário marítimo dos tempos atuais: o Submarino.... O navio-aeródromo, com seu grupo de contratorpedeiros e submarinos e seus aviões e helicópteros constitui o núcleo, a peça "mater", em torno da qual se compõem e se movem, se entendem e se ajudam aquelas unidades combatentes, dotadas de um mesmo impulso, possuídas de um só espírito, governadas por uma única força, comandadas por um só chefe, sem o que seria o desarranjo, o desencontro, o desequilíbrio, a confusão, a anarquia, a derrota..."

Porta-aviões A-11 Minas Gerais escoltado pelo contratorpedeiro D27 Pará

À época de sua incorporação o NAeL MINAS GERAIS possuía as seguintes características: casco, conveses, anteparas e todas as partes estruturais de aço macio espessura máxima das chapas do costado de l9mm e das chapas das anteparas longitudinais de 17,5mm, cavernas numeradas de proa a popa, comprimento total de 214,10m e entre perpendiculares de 191,992m, boca na linha d'água de 24,46m, boca moldada de 24,384m e boca extrema de 15,857m, calado máximo de 7,5m, deslocamento normal de 16.700t, deslocamento leve de 13.320t e deslocamento carregado de 19.211t. Estava equipado com um convés de pistas oblíquas, catapulta a vapor BS-4 (inglesa), aparelho de parada com três unidades MK-12 (inglês), espelho de pouso MK-4 (fabricação americana), podendo operar com qualquer tipo de avião A/S conhecido à época, bem como qualquer helicóptero, além de aviões a jato de porte e comparáveis ao FJ-4 "Fury", de origem americana, e menores.

Aeronvaes T-28R da Força Aeronaval no convoo do A-11

Suas máquinas eram compostas por dois grupos propulsores (turbinas Parsons), tendo uma potência máxima de 4O.OOOHP. Possuía ainda, como defesa antiaérea, dois reparos quádruplos de 40mm, Bofors, na ilha, e um duplo, em plataforma bombordo AR, à altura do convés da galeria. Era dotado com aviões bimotores S2F e helicópteros HSSI, podendo embarcar 16 desses aviões. Como armamento de defesa imediata existiam dois reparos quádruplos de 40mm e um reparo duplo de 40mm, sendo os canhões dirigidos por três diretoras: uma l51 e duas MK-63. Em 1963, com a criação da Força Aeronaval, passou o navio a ser subordinado àquela Força, tendo operado aviões e helicópteros, até o final de 1964. Em 26 de janeiro de 1965, o Decreto-Lei do Presidente da República reorientou o emprego das aeronaves embarcadas, passando a Aeronáutica a operar a bordo os Grumman (S2-A) P-16 Tracker, cabendo à Marinha a operação dos helicópteros antissubmarino. 

Grumman (S2-A) P-16 Tracker, matrícula nº 7036 operando a bordo do Minas

Nesse perfil de operação, que se estendeu por 28 anos, em clima de perfeita integração dos militares das duas Forças, foram realizados cerca de 3.000 catapultagens e 17.000 pousos. No período de 1974 a 1979 sofreu reformas de grande extensão, sofrendo modificações em suas características. Retomando suas atividades normais em 1979, realizou diversas comissões de instrução e adestramento, além das Operações UNITAS XXII, KATRAPO I, KATRAPO II, KATRAPO III, DRAGÃO XVII e DRAGÃO XVIII. De 1991 a 1993, deu-se atenção especial à eletrônica, aos sistemas de computação, de comunicações e transmissão de dados, que foram modernizados e integrados aos dos demais navios da Esquadra. Nessa ocasião, foi instalado a bordo o sistema de controle Tático de projeto nacional, o SICONTA. Ao final de 1993, a aeronáutica deixou de operar a bordo, propiciando à Marinha a oportunidade de emprego de suas próprias aeronaves de asa fixa, o que foi autorizado pelo Decreto Presidencial, de 08 de abril de 1998.


Quando ocorreu a aquisição de 23 unidades do caça A-4 KU Skyhawk dos Emirados Árabes Unidos (EAU), iniciou-se o preparo de toda a sua infraestrutura de bordo para a operação daquelas aeronaves, efetuando-se extenso programa de revisão da catapulta e do aparelho de parada, bem como a instalação de novo aparelho de pouso. Em setembro de 2000, voltava o navio a receber no seu convés de vôo, aeronaves de asa fixa da Marinha do Brasil, tendo sido realizados vários toques e arremetidas que permitiram a ajustagem final dos sistemas de bordo. Finalmente, em janeiro de 2001, tiveram lugar os primeiros pousos com gancho e as primeiras catapultagens de um AF-1. 

Nae São Paulo (A-12) navegando ao lado do NAeL Minas Gerais (A-11) em seu último deslocamento

E como todo início tem seu fim, a Portaria n237 de 21 de setembro de 2001 determinou a baixa do navio com Mostra de Desarmamento em 09 de outubro de 2001 (Ordem do Dia no 8), de seus 40 anos de serviço ativo na Marinha do Brasil, neste período o NAeL MINAS GERAIS navegou 285.972 milhas, levando o nome da Marinha e do Brasil aos quatro cantos do mundo por onde o “Minas” passou, deixando saudade em várias gerações de Homens do mar e aos cardeais, que a bordo dele presenciaram muitas histórias e o nascimento de diversas lendas... Mas isso já é tema para uma outra matéria breve. 

"Minas Gerais - A melhor maneira de dizer Marinha"

Westland-Sikorsky WS-55 Whirlwind HU-2W no convoo do Minas

Contratorpedeiro D17 Baependi sendo reabastecido pelo porta-aviões Minas Gerais A11

    General Motors Avenger TBM da Aviação Naval no convés do Alfa11 

General Motors TBM-3 Avenger nº 2 no elevador do A-11, O nº 2 seria rematriculado N502 e seria perdido em acidente no mar.







O Fim!!!


Referências Bibliográficas e Fotográficas: 

Diretoria de Patrimônio Histórico e Documentação da Marinha; Site História Militar Online;

Fotos: Acervo Facebook José Alvarenga.

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