segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Marinha do Brasil na Ilha da Trindade & Martins Vaz, o posto avançado da Amazônia Azul


Por: Yam Wanders. 

Conhecer mais das atividades da Marinha do Brasil na nossa Amazônia Azul é um paradigma para os brasileiros, acostumados apenas a ouvir falar dos constantes empenhos do Exército e da Força Aérea na manutenção da vigilância de nossas fronteiras terrestres devido ao constante contato com as populações dos países latino americanos e suas históricas disputas geopolíticas, que, causaram já diversos atritos e incidentes ao longo dos séculos e ainda hoje são motivo de preocupações para a pacífica estabilidade desejada para o século 21.


Porém, sabemos bem que o mar é um precioso meio provedor de riquezas energéticas, alimentícias e via de comércio internacional, indispensável para o progresso de qualquer nação civilizada, e sendo assim somente a presença constante dá a salvaguarda da soberania e garante a segurança do tráfego marítimo internacional seja para o salvamento em caso de naufrágios ou no fenômeno da moderna pirataria marítima que tem se alastrado pelos mares nos últimos anos.
A Marinha do Brasil, efetuando a manutenção da presença na Ilha da Trindade assim como outras ilhas oceânicas brasileiras, garante todo esse estado de segurança para nossos interesses nacionais bem como para a tranquilidade da navegação marítima que passa nas proximidades da Ilha da Trindade e outras.
Essa primeira parte da matéria descreverá um pouco sobre a história da ilha e na próxima abordaremos as atividades científicas desenvolvidas por pesquisadores civis de várias universidades brasileiras, com pesquisas que interessam para nossa a elaboração de nossas estratégias de defesa nacional bem como para a saúde da humanidade em diversos aspectos.



Trindade e Martim Vaz é um arquipélago brasileiro localizado no Oceano Atlântico, sendo um território pertencente à União,   localizada a 1.200 quilômetros da cidade de Vitória no estado do Espírito Santo e a 1.600 kilometros do Rio de Janeiro. De todas as ilhas do arquipélago, apenas a Ilha da Trindade é habitada, sendo que a única localidade existente na ilha é o Posto Oceanográfico da Ilha da Trindade (POIT), que é uma guarnição militar mantida pela Marinha do Brasil. O POIT, é o local habitado mais remoto do Brasil, estando situado a 1.025 km de distância da localidade mais próxima, que é a guarnição mantida pela Marinha na Ilha de Santa Bárbara, no Arquipélago dos Abrolhos. As Ilhas de Martim Vaz, são conhecidas por serem o ponto extremo leste de todo o território brasileiro, sendo, juntamente com o arquipélago de São Pedro e São Paulo, um dos dois primeiros lugares onde acontecem o nascer e o pôr do Sol no Brasil.
O arquipélago é constituído por duas ilhas principais (Trindade e Martim Vaz), separadas por aproximadamente 50 kilômetros, que somam uma área total de 10,4 km². As ilhas são consideradas, pelos navegadores, como um imenso paredão no meio do Atlântico. 



 O surgimento da Ilha da Trindade e do Arquipélago de Martim Vaz no meio do Atlântico Sul ocidental, se deu pelo movimento das placas tectônicas que formam a superfície terrestre. A crosta do planeta Terra é formada por várias placas e na junção delas existem zonas de intenso movimento e vulcanismo. Por conta dessa dinâmica, ocorreu uma imensa fratura na placa sul-americana, que se estende de Vitória até cerca de mil quilômetros a leste do Arquipélago de Martim Vaz, chegando a alcançar o limite sul da Bacia do Cuanza, ao largo da costa africana, já no Atlântico Sul oriental.



 Essa fratura no leito oceânico fez com que o magma extravasasse em escala colossal. Para se converter em ilha, precisou emitir magma numa razão de aproximadamente cem quilômetros cúbicos, por um milhão de anos. Foram necessários aproximadamente 10 milhões de anos para atingir a superfície do mar. Diversos pontos dessa fratura liberaram mais magma que outros. Assim, imensas colunas foram galgando o fundo oceânico rumo à superfície. O que encontramos hoje, defronte ao Estado do Espírito Santo, é uma antiga cadeia de grandes vulcões submarinos extintos, submersos a poucas dezenas de metros da superfície do mar, denominada Cadeia Vitória-Trindade. Alguns desses vulcões oceânicos são conhecidos como bancos pesqueiros, sendo muito procurado por embarcações de pesca comercial. Da costa do Espírito Santo, mergulhando em direção à África, encontram-se os bancos Vitória, Eclaireur, Montague, Jaseur, Davis, Dogaressa e Colúmbia. 


 As bases desses vulcões estão no leito oceânico, em profundidades abissais, entre 3 mil e 5,5 mil metros e a cerca de 1,1 mil quilômetros da costa do Espírito Santo surgem os únicos pontos emersos dessa cadeia de vulcões: pequenos rochedos que formam o Arquipélago de Martim Vaz e a imponente Ilha da Trindade.
 A atividade vulcânica em Trindade perdurou até cerca de 5 mil anos atrás e ocorreu na extremidade oriental da ilha, onde se formou uma cratera de mais de 200 metros de raio. Atualmente resta apenas uma pequena parte do arco dessa cratera.
Pesquisas recentes dão conta que quatro vulcões formaram Trindade (Vulcão do Vaiado, Vulcão do Desejado, Vulcão do Morro Vermelho e Vulcão do Paredão). Trindade é hoje uma sucessão de colunas e paredes de um imenso edifício vulcânico em ruínas, com uma beleza cênica singular, ao mesmo tempo agressiva e agradável. 




TRINDADE: COBIÇADA DESDE O INÍCIO DAS GRANDES NAVEGAÇÕES

  A história humana na ilha começou juntamente com o início das Grandes Navegações e seu descobrimento é, até hoje, motivo de dúvida. Alguns historiadores creditam o descobrimento de Trindade ao navegador espanhol João da Nova, que viajava a serviço de Portugal e teria descoberto Trindade em março de 1501. Contudo, outros historiadores afirmam que o português Estevão da Gama, durante a segunda viagem de Vasco da Gama às Índias, teria descoberto Trindade em 1502. Nessa ocasião a ilha foi batizada de Ilha da Santíssima Trindade.



  Quase dois séculos depois, durante uma expedição para realizar medições magnéticas no Atlântico para o governo inglês, a bordo do navio H. M. S. Panorame, o famoso astrônomo inglês Edmund Halley, teria tomado a ilha, desconsiderando a posse de Portugal. Naquele momento, em abril de 1700, como prática usual entre os navegadores da época, foram soltos diversos animais na ilha, dentre eles várias cabras e porcos, para servir de alimento a possíveis náufragos ou aos ingleses que fossem iniciar a ocupação britânica num futuro próximo. Mais tarde, aquele simples ato desencadearia drásticas alterações na flora da ilha, com consequências extremas na perda do solo e na descaracterização geral da cobertura vegetal.



Rochedo sem cobertura vegetal na Ilha da Trindade

  Oitenta e um anos após a visita de Edmund Halley, a Inglaterra ocupou a ilha com tropas militares. Sabendo da ocupação, Portugal protestou em Londres. Enquanto o assunto tramitava lentamente nos meios diplomáticos, em 1783, o vice-rei do Brasil, Luís de Vasconcelos, enviou 150 pessoas, entre militares e civis, para a ilha, a bordo da nau Nossa Senhora dos Prazeres, sob o comando do Capitão José de Mello Brayner, para de lá expulsar os ingleses. Porém, quando os militares portugueses chegaram, os ingleses já haviam deixado Trindade.
  Depois da retirada inglesa, Portugal resolveu colonizar a ilha, deixando militares e seis casais de açorianos no local. Municiados de sementes e animais, os açorianos promoveram a derrubada do restante da vegetação arbórea da ilha, que havia resistido à voracidade do rebanho de cabras, para dar lugar aos platôs agricultáveis. A madeira retirada da Colubrina glandulosa, árvore confundida com o pau-brasil, era muito apreciada para a confecção de móveis, graças à sua resistência e belíssima cor avermelhada.

Essa matéria continua em breve...
































































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Referências bibliográficas:
- A fantástica Ilha da Trindade - Willis de Faria.
- PROTRINDADE Marinha do Brasil

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