Por: Thales Ferreira da Silva
O emprego de blindados em área humanizada está
inserido no contexto atual de operações de amplo espectro no manual de campanha
EB 20 – MF 10.103 (Operações). O manual destaca a participação da tropa
blindada em operações ofensivas, defensivas e de estabilização. A análise dos tipos de operações com
blindados em área humanizada é muito abrangente, carecendo de uma limitação
teórica. Limita-se pois o estudo nas viaturas blindadas de combate fuzileiro
(VBC Fuz) ou blindadas de transporte de pessoal (VBTP) em área humanizada.
Na análise das VBC Fuz e das VBTP, destaca-se as
limitações impostas pelo material ao emprego tático da fração e as capacidades
destacadas do pelotão nesse tipo de operação, particularmente no combate
desembarcado, limpeza de instalações e reduções das posições de armas anticarro
furtivas e para destruição de viaturas blindadas leves. A seguir, será analisado o emprego de
blindados dentro do escopo da função de combate movimento e manobra, nas
operações ofensivas em área humanizada, destacando os principais meios
blindados empregados nesse contexto operativo.
DESENVOLVIMENTO
O largo emprego de tropas de fuzileiros no combate
confinado da localidade é uma premissa quase universal aos planejadores
militares nos dias atuais. No conflito da Segunda Grande Guerra os combatentes
deslocavam-se pelas ruas, muitas vezes sob a proteção oferecida pelos carros de
combate, num conflito onde ainda não se tinha popularizado o emprego das armas
anticarro. O pós 2ª Guerra
Mundial foi marcado pela escalada armamentista e pelo desenvolvimento de novas
tecnologias, onde pode-se reforçar o surgimento e desenvolvimento de potentes
armas anticarro para fazer face aos blindados. Essa tecnologia revolucionou a
tática de combate na localidade, exigindo das tropas blindadas uma maior
proteção contra essa ameaça.
As tropas de fuzileiros, particularmente nos
conflitos árabe-israelenses, como o do Líbano em 1982, utilizaram-se de
viaturas blindadas de transporte de pessoal – VBTP M113 – para prover uma maior
mobilidade e proteção às suas tropas no interior das localidades. Essa proteção
era dada essencialmente contra disparos de armas de pequeno calibre, não sendo
suficiente contra a nova ameaça anticarro dos mísseis e lança-rojões. As vulnerabilidades das VBTP, como baixa
blindagem e poder de fogo limitado a metralhadoras como armamento principal,
ficaram evidentes principalmente quando as VBTP eram dissociadas dos carros de
combate (CC), faltando-lhe um maior apoio de fogo para a manobra dos fuzileiros
dentro das cidades.
Nesse contexto, surgiram principalmente no final
dos anos 70 e 80 do século passado, as viaturas blindadas de combate de
fuzileiros. Normalmente dotadas de um canhão de grande cadência de tiro de
calibre superior a 20mm, sistemas optrônicos de direção e controle de tiro e
blindagem maior que as VBTP da geração anterior, incrementaram o poder de
combate das tropas de fuzileiros. Aliadas
aos CC, as VBC Fuz alteraram a balança do poder relativo de combate, já que
agora as tropas de fuzileiros podiam combater a maior parte do tempo embarcadas
sob a proteção da viatura.
Para contrabalançar essa inovação, as tropas
regulares e insurgentes passaram a incrementar seu poder de defesa anticarro
(AC), aprimorando principalmente as táticas de combate. Tornou-se comum, como
foi verificado no conflito da Chechênia em 1994, a realização de tiros de
emboscada dos pontos mais elevados, largo uso de obstáculos nas vias de acesso
para barrar o avanço das viaturas. Nos
conflitos mais recentes, como no Iraque, Afeganistão e Síria, essa tática de
combate de emboscada AC sofreu o incremento do emprego de dispositivos
explosivos improvisados com alto poder de destruição, mesmo para as viaturas
blindadas agora dotadas de maior proteção.
Para minimizar os efeitos anteriormente mencionados,
verifica-se a necessidade de empregar as VBTP / VBC Fuz em estreita coordenação
com os CC. As viaturas blindadas devem ser os elementos de apoio, emassando os
fogos em prováveis postos de tiro e posições fortificadas do inimigo, além de
combater viaturas blindadas inimigas no interior da localidade. Esse apoio cerrado irá proporcionar a
cobertura necessária aos fuzileiros blindados para as ações de limpeza das
instalações no combate ofensivo. Em contrapartida, os fuzileiros desembarcados
realizam a limpeza de posições de armas anticarro e a designação desses alvos
para eliminar essa ameaça aos blindados.
CONCLUSÃO
O combate moderno, particularmente em área
edificada, exigiu uma rápida evolução dos meios e também das táticas de combate
com blindados. Nesse cenário, surgiram as VBTP/VBC Fuz, dotados de maior
blindagem, grande poder de fogo, potentes optrônicos para detecção e
engajamento de alvos e, sistemas de comando, controle e comunicações flexíveis. Essas viaturas blindadas com maior poder de
fogo, blindagem e mobilidade, fizeram surgir armas anticarro mais potentes e a
adoção de novas táticas de combate defensivo em localidade, como o emprego
combinado de obstáculos e dispositivos explosivos improvisados.
Aos comandantes militares, impõem-se a adoção de uma tática agressiva e de
iniciativas que visem suplantar essas ameaças. Assim, o emprego combinado de
fuzileiros desembarcados apoiados pelas VBTP/VBC Fuz e coordenados até o nível
pequena fração, fará com que as tropas atacantes de uma localidade obtenham
sucesso no combate ofensivo.
O ambiente de combate em localidade é
complexo e de múltiplas ameaças para a tropa blindada. Somente o emprego
coordenado de todas as potencialidades das viaturas blindadas com seus
fuzileiros desembarcados, farão com que a tropa atacante de uma localidade
obtenha sucesso na conquista de seus objetivos. Nesse sentido, conclui-se que o
Centro de Instrução de Blindados (CI Bld), é peça fundamental na difusão e
padronização do conhecimento tático para as pequenas frações da tropa blindada,
através de seus estágios táticos.
FONTE: Centro de Instrução de Blindados
NOTA DA REDAÇÃO: O autor do texto, Srº Thales Ferreira da Silva é Capitão da Armada de Cavalaria e Instrutor da SEOB do CI Bld e o Srº Ádamo Luiz Colombo da Silveira – Tenente Coronel da Arma de Cavalaria é Comandante do Centro de Instrução de Blindados.
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