Grupo de policiais franceses e brasileiros treina no metrô do Rio para possível ataque terrorista durante a Olimpíada - YASUYOSHI CHIBA/AFP |
Por: Redação OD
A 49 dias dos Jogos Olímpicos, a Agência Brasileira de Inteligência (Abin)
confirmou a informação de que pessoas ligadas ao Estado Islâmico criaram um
grupo para trocar mensagens em português, através de um aplicativo de celular.
O órgão emitiu nota afirmando que a abertura dessa nova frente de difusão de
informações, voltadas à doutrinação extremista, “amplia a complexidade do
trabalho de enfrentamento ao terrorismo e representa facilidade adicional à
radicalização de cidadãos brasileiros”. O grupo é chamado Nashir Português, o
mesmo nome do canal criado pelos extremistas há cerca de 15 dias, com o
objetivo de arregimentar brasileiros para a causa jihadista. Uma estratégia
análoga à da Nashir News Agency, usada pelo EI para divulgar manifestos e fazer
propaganda. Os integrantes do grupo, que se comunica em português, já estariam
sendo monitorados pela Abin. Eles têm usado o aplicativo Telegram.
TERRORISTAS BUSCAM SIMPATIZANTES
Segundo informações de uma fonte da área de segurança, as
mensagens têm inclusive um discurso de Abu Muhammad alAdnani, portavoz do Estado
Islâmico. Em nota, a Abin informou que a troca de mensagens pelas redes sociais
tem sido bastante usada pelos jihadistas para arregimentar principalmente
jovens: “O compartilhamento desses conteúdos em grupos de troca de mensagens
instantâneas é uma estratégia utilizada não apenas no Brasil. Organizações
terroristas têm empregado ferramentas modernas de comunicação para ampliar o
alcance de suas mensagens de radicalização direcionadas, em especial, ao
público jovem”. A agência de monitoramento de terrorismo SITE Intelligence
Group assegura que o grupo Nashir Português foi criado em 29 de maio, a partir
de anúncios, nas redes sociais, de que estaria à procura de simpatizantes que
falassem português, para a tradução de seu material de propaganda.
Reunião do secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, em reunião com o Centro Geral de Defesa de Área (CGDA), do Ministério da Defesa - Vera Araújo / O Globo |
A Abin, ainda em seu comunicado, observa que os “conteúdos
relacionados a ideologias extremistas são traduzidos para o português e
reproduzidos nesse aplicativo de mensagens instantâneas”. Nesta quintaf eira,
durante reunião sobre a segurança na Olimpíada do Rio, o secretário de
Segurança, José Mariano Beltrame, negou que o assunto tenha sido discutido com
representantes do Ministério da Defesa e com o superintendente geral da Abin,
Frank Oliveira. O encontro aconteceu no Centro Integrado de Comando e Controle,
na Cidade Nova. — Isso não chegou a nós. Se a Abin tem essa informação, deve
trabalhar para desbaratar esse grupo — disse Beltrame. Durante a reunião, ficou
acertado que 15 mil homens das Forças Armadas vão reforçar a segurança em vias
expressas, terminais rodoviários, aeroportos e no bairro de Deodoro.
Para especialistas brasileiros, a iniciativa do Estado Islâmico de
criar canais em português preocupa, principalmente com relação às ações
isoladas dos chamados “lobos solitários”. Na opinião de Expedito Carlos
Stephani Bastos, pesquisador em assuntos estratégicos da Universidade Federal
de Juiz de Fora, o Brasil não é um alvo natural, porém a realização dos Jogos
Olímpicos na cidade é um atrativo para a propaganda do EI e da AlQaeda: —
Poderia ser uma forma de eles fazerem propaganda, porque é um evento de nível
internacional, haverá muitas representações de países expressivos. Não podemos
prever se vai acontecer algo. O ponto é que devemos estar capacitados para
evitar qualquer tentativa. E eu não sei se a Abin está preparada. Os serviços
internacionais têm falhado, não conseguem prever certas coisas.
RELATÓRIO TRATA DE POSSÍVEL AMEAÇA
Stephani chama atenção para a falta de comunicação entre os
setores de inteligência do país: — Os serviços de inteligência das Forças
Armadas e os das polícias Federal, Militar e Civil não falam entre si. Para o
coronel Diógenes Dantas Filho, consultor de segurança, o monitoramento das
comunicações é imprescindível: — O terrorista é extremamente discreto e só fala
o essencial. Por telefone, valese de códigos e da desinformação. Pouco escreve
e usa a memorização para evitar rastro. Há dois meses, a Abin divulgou um
relatório sobre uma possível ameaça terrorista durante os Jogos. A Polícia
Federal de Santa Catarina chegou a investigar um suspeito, em Chapecó, por ele
ter recebido treinamento na Síria.
FONTE: O GLOBO, Por Vera Araújo
Nenhum comentário:
Postar um comentário