sexta-feira, 10 de junho de 2016

10 de Junho - Dia da Artilharia



Por: Anderson Gabino
No princípio foram onagros, balistas e catapultas. Depois, com o advento da pólvora, vieram as bombardas e os canhões rudimentares. Mais tarde, com os avanços da Física e os estudos de Balística, veio a alma raiada e, assim, aumentou-se o alcance e a precisão dos canhões e obuseiros. Nos dias de hoje, munições especiais com as mais variadas características e mísseis guiados por satélite mantêm a Artilharia como o mais eficiente meio de apoio de fogo da Força Terrestre. A engenhosidade das máquinas, no entanto, de nada adiantaria se não fosse a genialidade dos homens. O mundo, então, conheceu Gustavo Adolfo, Frederico II, “O Grande”, e Napoleão, o “Imperador Artilheiro”, que transformaram a Artilharia verdadeiramente no “Último Argumento dos Reis”. 

O Brasil também teve seus heróis. Nos primeiros anos da colonização, eram apenas anônimos sentinelas a soar o alarme e a guarnecer as peças frente a navios inimigos, invasores ou corsários. Posteriormente, com a consolidação das fronteiras e o desenvolvimento da identidade nacional, surgiram nomes como o do Capitão Salomão da Rocha, herói da campanha de Canudos, a quem é dedicada a última estrofe da canção da Artilharia; o consolidador da República, Floriano Peixoto, o “Marechal de Ferro”, o Marechal Mascarenhas de Moraes, comandante da Força Expedicionária Brasileira na Segunda Guerra Mundial e, dentre tantos outros, o mais importante de todos, o Marechal Emílio Luís Mallet, o Patrono da Artilharia.
Nasce o seu Patrono

Émile Louis Mallet, mais conhecido como Marechal Emílio Mallet, o Barão de Itapevi (Dunquerque, 10 de junho de 1801  Rio de Janeiro, 2 de janeiro de 1886), foi um militar brasileiro nascido na França. Homem de grande porte físico, com 2,01 metros de altura e 120 quilogramas de peso. Aos 18 anos, chega ao Brasil com excepcional bagagem cultural: Matemática na escola na Escola Militar de Saint-Cyr, França, e Humanidades, na Bélgica. D. Pedro I convida-o a alistar-se nas fileiras do Exército Nacional, em vias de organização. Matriculado na Academia Militar do Império, no Curso de Artilharia, jura a Constituição Imperial, adquirindo a nacionalidade brasileira.
Foi em terras sulinas que viveu o maior período de sua vida militar. Na Campanha Cisplatina, entrou em combate. Seu batismo de fogo aconteceu na Batalha do Passo do Rosário, em 1827, quando se revelou um guerreiro dotado de extrema coragem e notável liderança. Nesse episódio, ao assumir o comando de quatro baterias, substituindo seus comandantes feridos, o Tenente Mallet galgou ao posto de capitão por sua iniciativa e atuação enérgica. A inesperada crise política de 1831, ocorrida na Corte, rende-lhe a primeira injustiça. Com a abdicação de D. Pedro I, é demitido do serviço militar por não ser brasileiro nato, com base em lei votada sete anos após ter escolhido o Brasil para ser sua Pátria e lutado sob sua Bandeira. Eclode o Movimento Farroupilha e, apesar de tudo, oferece-se para integrar as forças legais, o que é aceito pelo governo imperial.
No calor das batalhas Mallet se torna um exemplo

Apaziguado o conflito, é novamente afastado da tropa. Somente em 1851, quando participou como voluntário das lutas contra o restabelecimento do Vice-Reinado do Prata, é reintegrado ao Exército no posto de major, em ato de justiça e reconhecimento. Por sua atuação em Monte Caseros e, posteriormente, em Paissandu, onde sua artilharia bombardeou o inimigo durante 52 horas ininterruptas, fator decisivo para a rendição daquela praça de guerra, Mallet recebeu a Medalha de Ouro da Campanha do Estado Oriental do Uruguai e de Oficial da Ordem Imperial da Rosa. O homem, o soldado, o comandante tornava-se um mito para seus comandados e um exemplo para seus pares e comandantes. 
Ao lado de Caxias, Osorio, Sampaio, Cabrita e tantos outros, peleja arduamente nos sítios da Guerra da Tríplice Aliança, restabelecendo e reafirmando nossa soberania. Em Tuiuti, no comando do 1º Regimento de Artilharia a Cavalo, sobressaiu-se por sua inesgotável energia e capacidade profissional.

Ante surpreendente carga de cavalaria inimiga contra as posições aliadas e a impossibilidade de reação adequada pelos elementos avançados, a artilharia responde com uma impressionante cadência de tiro – a artilharia revólver de Mallet – que, apoiada em um profundo poço de proteção construído à frente das posições, sustou oito vagas de assalto dos adestrados esquadrões inimigos. “Eles que venham... por aqui não passarão!” E não passaram. Mais uma vez evidencia-se sua reconhecida capacidade profissional.
Aos 65 anos, promovido a coronel, por bravura, recebe o comando da Brigada de Artilharia, à frente da qual palmilha quase todo o território paraguaio. Durante a guerra da Tríplice Aliança, à frente do 1º R A Cav, teve participação fundamental na vitória de nossas tropas. Dentre as várias batalhas de que participa, destacam-se: Passo da Pátria, Estero Bellaco e Tuiuti. Nesta, diante do seu fosso intransponível, comandando as bocas de fogo que, ao final da batalha, receberiam o batismo de "artilharia-revólver" tal a precisão e rapidez de seus tiros. Ainda nessa campanha, assume o comando da 1ª Brigada de Artilharia e continua apoiando as ações da Tríplice Aliança, participando das batalhas de Humaitá, Piquiciri, Angustura, Lomas Valentinas, Ascurra e Campo Grande.
Um “Gran Finale” para um Grande Militar

Desde a estóica Travessia do Chaco e a ocupação de Assunção, às vitórias de Itororó, Avaí, Lomas Valentinas, Angustura e Peribebuí, a Artilharia de Mallet constituiu fator indispensável para a vitória. Quando a guerra entrou em sua última fase, Mallet é alçado ao Comando Geral da artilharia para conduzi-la na vitoriosa e decisiva Campanha da Cordilheira. É promovido a Brigadeiro e agraciado com a Medalha do Mérito Militar e a Medalha Geral da Campanha do Paraguai. Encerrava-se, em campanha, uma brilhante carreira de soldado. Terminado o conflito, permanece no serviço ativo até 1885. Em 2 de janeiro de 1886, na capital do Império, falece Mallet, aos 84 anos, dos quais 63 dedicados ao Exército e à gloriosa Artilharia Brasileira.
Admirado e respeitado por todos, incorporava as grandes virtudes de chefe militar. O extremo cuidado com seus subordinados e rigoroso zelo com o material – “com a mão enluvada em pelica branca, inspecionava a culatra das peças da artilharia” – personificaram em Mallet o espírito dos artilheiros de todas as gerações. Fidalgo em Dunquerque, entrou para a nobiliarquia brasileira com o título de Barão de Itapevi. Seu brasão contém o símbolo glorioso da artilharia, de chama ardente e viva, tal qual o invicto Patrono acendeu no coração e na alma de seus subordinados e que, hoje, inspira seus discípulos de arma. Em 1932, por seu amor e dedicação ao Brasil e à nossa Arma, lhe foi conferido, por meio de decreto nº 21.196, o reconhecimento da Pátria consagrando-o como Patrono da Artilharia Brasileira. Desde então, no dia 10 de junho, dia de seu aniversário, comemora-se o Dia da Artilharia.


"MA FORCE D'EN HAUT!"

Minha força vem do alto!





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