Por Cap QCO Marcello Fernandes de Berredo Guimarães, da DEN
A atuação das Forças Armadas
nos dias atuais tem ocorrido em um contexto cada vez mais complexo, decorrente
da globalização e evolução tecnológica, marcado pela rápida circulação de
informações, transformações constantes e desafios que precisam ser enfrentados
através de enfoques múltiplos e inter-relacionados. Estes fenômenos determinam
novas demandas educacionais, que venham a dar conta destas realidades. O
Exército Brasileiro, já em 1995, vislumbrando esta situação, propôs um novo
perfil para os seus militares, ratificado, anos depois, pela Estratégia
Nacional de Defesa (END). Esta percepção desencadeou o Processo de Modernização
de Ensino (PME), iniciado a partir de 1996, que sinalizou a necessidade de uma
mudança no foco do ensino, dos conteúdos para as competências, do trabalho
disciplinar para a interdisciplinaridade.
Nesta perspectiva, as
diretrizes atuais do Comandante da Força e do Chefe do Departamento de Educação
e Cultura do Exército (DECEx) representam uma retomada das concepções
supracitadas, na medida em que determinam a implantação do ensino por
competências em todo o Sistema de Ensino do Exército, que longe de representar
uma ruptura e abandono das práticas escolares consagradas da Força, constitui
um avanço e aprimoramento do seu PME. Ao DECEx coube a missão de implantar o
ensino por competências nas Linhas de Ensino Militar Bélico, de Saúde e
Complementar, além do ensino preparatório e assistencial. Esta significativa
tarefa implica em grandes desafios relacionados à sensibilização, infra-estrutura
escolar, legislação de ensino e sistema de capacitação de instrutores e
docentes.
A
partir do V Encontro de Itaipava, realizado
em março de 2012, foi criado um Comitê Técnico, que ficou responsável pela
operacionalização das ações necessárias para esta grande transformação no
ensino. Este comitê, composto por representantes do Departamento, Diretorias
subordinadas, Centro de Estudos de Pessoal e Forte Duque de Caxias (CEP/FDC),
dentre outros, tem também a missão de acompanhar e orientar a implantação do
ensino por competências em todos os Estabelecimentos de Ensino (Estb Ens), em
conformidade com um cronograma pré-estabelecido.
Em virtude dos trabalhos
supracitados, o DECEx tem produzido a normatização básica para ensino por
competências, englobando as áreas atitudinal, de currículo, avaliação e
didática (esta, em caráter experimental). A partir do final do ano de 2013, o
DECEx transferiu a tarefa de implantação do ensino por competências para a
Diretoria de Educação Superior Militar (DESMil), Diretoria de Educação Técnica
Militar (DETMil) e para o Centro de Capacitação Física do Exército (CCFEx), no
âmbito dos seus respectivos Estabelecimentos de Ensino. O DECEx estima
finalizar os trabalhos de implantação do ensino por competências no ano de 2018.
Diante do exposto, talvez paire
a dúvida: afinal de contas, o que muda?
- O foco do ensino desloca-se dos conteúdos para as competências, do trabalho disciplinar para o interdisciplinar. Esta transformação não implica na supressão dos conteúdos e das disciplinas, mas na alteração de seus papéis, tornando-os instrumentos do fazer complexo, presente na solução de problemas na realidade;
- A implementação dos módulos de ensino, (agrupamento de disciplinas) que favorecem a simulação da realidade profissional, caracterizada pela complexidade, onde a solução dos problemas demanda a integração de saberes;
- O fornecimento de uma visão global das competências profissionais inerentes aos vários cursos e estágios gerais por meio da criação do Mapa Funcional, o que facilita a determinação dos conteúdos escolares e a gestão de competências;
- O aprimoramento dos procedimentos didáticos pela otimização da pedagogia de projetos (metodologia de resolução de problemas interdisciplinares, relacionadas às atividades da profissão militar), sistematização e emprego amplo e sistematizado das situações problemas e de ferramentas desconhecidas no ensino militar, como o Mapa Conceitual (instrumento que possibilita a diagramação de uma rede de conceitos). Além disto, trará a introdução dos tipos de conteúdos de aprendizagem (conceitual, factual, procedimental e atitudinal), que demandam estratégias e ferramentas didáticas específicas para o ensino dos mesmos;
- Maior precisão para a determinação do CORE (parte essencial dos conteúdos de um curso ou estágio), a partir dos Elementos de Competências (ações que realizo para fazer algo). Não é mais o saber pelo saber. É um saber funcional, ou seja, é um saber para fazer, é um saber subordinado ao fazer;
- Sistematização da interdisciplinaridade, com a criação do Plano Integrado de Disciplinas (PLANID) e a introdução das Situações Integradoras, com carga horária distinta das disciplinas, otimizando e ampliando as possibilidades de integração já existentes no sistema, por intermédio dos projetos interdisciplinares;
- Operacionalização dos fundamentos preconizados pela modernização de ensino, como a sistematização do trabalho interdisciplinar, etc;
- Melhoria da sistemática de avaliação, pela introdução de padrões de desempenho e a introdução da avaliação integrada, em complemento à avaliação disciplinar. A avaliação integrada permite a verificação do desempenho dos discentes em situações complexas, como acontece na realidade, onde os problemas são resolvidos pela inter-relação de saberes. Serão inseridos novos instrumentos e ferramentas de avaliação, relacionados e adequados aos tipos de conteúdos de aprendizagem; e
- Nova ordenação para o planejamento do ensino, onde primeiramente será ministrado e avaliado o ensino disciplinar e após o integrado/interdisciplinar, em cada módulo
O Centro de Instrução de
Aviação do Exército (CIAvEx), Organização Militar (OM) vinculada
técnico-pedagogicamente à DETMil, iniciou seus trabalhos de elaboração
curricular por competências, com o Curso de Formação de Sargentos de Aviação
Manutenção (CFS Av Mnt) no ano de 2014. Ao longo de 2015, o referido
estabelecimento de ensino estará concluindo a elaboração da documentação
curricular dos seus cursos de especialização, extensão e dos seus estágios
gerais, bem como a elaboração das suas normas internas, relacionadas com o
ensino por competências.
No mês de novembro de 2015, o CIAvEx
realizará uma capacitação em Didática e Avaliação da Aprendizagem com todo o
seu corpo docente e seus especialistas de ensino. Em 2016, alguns cursos do
Centro passarão a funcionar de acordo com a abordagem de ensino por
competências, dentre os quais pode-se destacar o CFS Av Mnt, o Curso de Piloto
de Aeronaves (CPA) e os Cursos de Busca e Salvamento da Aviação do Exército
(SAR) para oficiais e sargentos.
Desde seu início, a implantação
do ensino por competências no CIAvEx tem fomentado a otimização, reorganização
e o aprimoramentos dos cursos e estágios do Centro. O Mapeamento das
competências dos seus diversos cursos e estágios, além de atender às demandas
de ensino, servirá para facilitar a gestão de recursos humanos no âmbito da
Aviação do Exército (AvEx), por intermédio da clareza que fornece sobre a
esfera de atuação dos concluintes de cada um dos seus cursos e estágios gerais.
♣
Fonte: Revista Pegasus (CIAvEx)
O Autor Marcello Fernandes de Berredo Guimarães é Capitão do Quadro
Complementar de Oficiais e controlador de tráfego aéreo formado pela
Força Aérea Brasileira, pedagogo e está participando diretamente no Processo de
Modernização do Ensino no EB e, em particular, no CIAvEx. Atualmente, é
integrante da Seção Técnica de Ensino desse Estabelecimento de Ensino militar.
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